OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

A MEMÓRIA NÃO TEM VIDA PRÓPRIA

"O que entendemos por pensamento? Quando pensamos? Obviamente, o pensamento é o resultado de uma resposta, neurológica ou psicológica, não é? E a resposta imediata dos sentidos a uma sensação, ou é psicológica, a resposta da memória armazenada. Há a resposta imediata dos nervos a uma sensação, e há a resposta psicológica da memória armazenada, da
influência raça, grupo, guru, família, tradição etc. - tudo ao que chamamos de pensamento. Portanto, o processo do pensamento é a resposta da memória, não é? Não teríamos pensamentos se tivéssemos memória, e a resposta da memória a determinada experiência põe em ação o processo do pensamento.

O que, então, é a memória? Se você observar sua própria memória e a maneira como a coleta, vai perceber que ela é factual, relacionada com a informação, a engenharia, a matemática, a física etc. - ou é o resíduo de uma experiência inacabada, incompleta, não é? Observe a sua memória e verá. Quando você termina uma experiência, não há memória dela no sentido de um resíduo psicológico. Só há resíduo quando uma experiência não é totalmente entendida; então não há entendimento da experiência, porque olhamos para a cada experiência por meio das lembranças passadas, e por isso nunca encontramos o novo como o novo, mas sempre através da tela do velho. Por isso, está claro que a nossa resposta às experiências é condicionada sempre limitada."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., 2016, São Paulo - p. 287)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 19 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - V

"Quando parece que o fim foi alcançado, o desígnio logrado e que o homem não tem já nada mais que fazer, então justamente, quando parece que o melhor para ele é comer, beber e viver à larga como as bestas e sumido no mortal ceticismo, então, de fato, se olhar quisesse tão só, as Portas de Ouro que ante ele estão. Com a cultura do século em seu interior e tendo perfeitamente assimilado que ele é uma encarnação da mesma, então está em disposição de intentar o grande passo que, apesar de ser absolutamente possível, é intentado por tão poucos, mesmo entre aqueles que podem fazê-lo. É intentado tão raras vezes, em parte devido às profundas dificuldades que o rodeiam, mas muito mais influi no mesmo, não se convencer o homem de que esta é a direção, na atualidade, na qual a satisfação e o prazer têm que ser obtidos. 

Cada indivíduo se sente atraído por certos prazeres; cada um dos homens conhece que numa ou noutra espécie de sensação encontra suas maiores delícias. E, naturalmente, durante sua vida, a ela de um modo sistemático se dirige, não de outra maneira, o girassol na direção do sol se volta e o lírio sobre a água se inclina. Porém, está lutando continuamente com o fato terrível que oprime sua alma, ou seja que tão depressa como obteve seu prazer, o perde, e uma vez mais tem que andar em sua busca. Mais do que isto jamais na atualidade alcança, porque no momento final lhe escapa. Acontece-lhe isto, porque procura colher o que é impalpável a satisfazer a sede da sua alma com a sensação, por intermédio do contato dos objetos externos. Como pode o que é exterior satisfazer, ou tão somente agradar, ao homem interno, que é o que reina no interior e que não tem olhos para a matéria, nem mãos para tocar os objetos, nem sentidos com os quais se informar do que fora das suas mágicas paredes existe? Aqueles encantadas barreiras que o rodeiam carecem de limites, porque está em todas as partes; deve ser descoberto em todas as coisas viventes e não se pode conceber sem ele nenhuma parte do universo, se este é considerado como um todo coerente. Se desde o começo não se concede o anterior, é completamente inútil considerar a questão da vida. Na verdade, a vida precisa de significação, a menos de ser universal e coerente e a menos que sustenhamos nossa existência devido ao fato de que somos uma parte daquilo que é; não pela razão da nossa própria existência.    

Este é um dos mais importantes fatores do desenvolvimento do homem, o reconhecer o profundo e completo reconhecimento da lei de universal unidade e coerência. A separação existe entre os indivíduos, entre os mundos, entre os diverso polos do universo e da fantasia mental e física chamado espaço, é um pesadelo da imaginação humana. Que os pesadelos existem e que existem só para atormentar, não há criança que não o saiba e o que necessitamos é a faculdade de distinguir entre a fantasmagoria do cérebro que a nós unicamente concerne e a fantasmagoria da vida diária, na qual outros também estão interessados. Esta regra se aplica também ao caso mais amplo. A ninguém importa mais que a nós mesmos que vivamos no meio de um pesadelo de horror ilusório e que nos imaginemos sós no universo e capazes de ação independente, durante tão longo tempo, como nossos associados são só aqueles que constituem uma parte do sonho. Mas quando desejamos falar com aqueles que chegaram às Portas de ouro e, empurrando-as, as abriram, é então inteiramente necessário, de fato é essencial, distinguir e não levar à nossa vida as confusões do nosso sonho. Se isto fazemos, somos considerados loucos e nos aprofundamos nas trevas onde não existe outro amigo que o caos. Este caos tem vindo em continuação de cada um dos esforços do homem que a história registra; depois que a civilização reinou, a flor cai e morre, o inverno e a obscuridade a destroem. Enquanto o homem recusa fazer o esforço de distinção que lhe permitiria distinguir entre as formas noturnas e as ativas figuras do dia, deve isto acontecer inevitavelmente. 

Mas se o homem tem coragem para resistir a esta tendência reacionária e permanecendo firme na altura à qual chegou, adiante seu pé para dar outro passo, porque não há de poder encontrar o que busca? Nada existe que nos dê motivos para supor que a senda termina em um certo ponto, exceto a tradição que assim o tem dito e que os homens tem aceitado e abraçado como uma justificação para sua indolência."

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 22/24)  


quinta-feira, 7 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - II

"É indubitável que muitos mais que aqueles que o fazem, o recorreriam ao suicídio com o fim de se livrar do fardo da vida, se pudessem convencer-se que daquele modo se pode lograr o olvido. Porém, aquele que duvida antes de esgotar o veneno, por ter medo de mudar unicamente de modo de existência e de se encontrar o sujeito a uma forma talvez mais ativa de miséria, é um homem de mais conhecimento que as almas temerárias que, de um modo selvagem, se atiram no seio do desconhecido, esperando seus favores. As águas do esquecimento são um tanto completamente diferentes das águas da morte e a raça humana não pode se extinguir pela morte, enquanto a lei do nascimento acione. O homem volta à vida física, do mesmo modo que o bebedor volta ao frasco de vinho; ele não sabe porque, sabe unicamente que deseja a sensação produzida pela vida, como o bebedor deseja a sensação pelo vinho originada. As verdadeiras águas do esquecimento existem longe, atrás da nossa consciência, e podem unicamente ser alcançadas, deixando de existir naquela consciência, fazendo cessar o exercício da vontade, que nos enche de sentidos e de sensibilidade.

Porque não volta a criatura-homem àquela grande e silenciosa matriz, da qual veio e permanece nela em paz, como o menino não nascido que goza da mesma antes que os impulsos da vida o tenham alcançado? Não o faz porque sua sede pelo prazer e a dor, pela alegria e a tristeza, pelo amor e a cólera lhe impedem. O homem desgraçado susterá que não tem o menor apego à vida; e, apesar disso, prova a falsidade das suas palavras, vivendo. Ninguém o obriga a viver; o galeote pode permanecer encadeado ao seu remo, porém sua vida não pode ser encadeada ao seu corpo. O soberbo mecanismo do corpo humano é tão inútil como uma máquina cujos fogos estão apagados, se a vontade de viver cessa; vontade que mantemos firme e continuadamente e que nos conduz às coisas, que, de outro modo, verificá-las nos encheriam de desalento, como, por exemplo, o momento da inspiração e da expiração. Esforços hercúleos, tais como estes, suportarmos sem lamentações e, na verdade, com prazer, com tanto que possamos existir no meio de sensações inúmeras.

E mais ainda: a maior parte de nós, nos contentamos com ir para diante sem objetivo, sem desígnio, sem a menor ideia de um motivo, sem compreender que caminho é que estamos investigando. Quando, pela primeira vez, o homem reconhece esta falta absoluta de objetivo e se convence profundamente de que está trabalhando com grandes e constantes esforços e sem nenhuma ideia a respeito do fim, na direção do qual sem esforço se dirige, então desce sobre ele a miséria do século dezenove, a miséria intelectual. Encontra-se perdido, desencaminhado e para ele não há esperança. Converte-se em cético, a desilusão e o aborrecimento apoderam-se dele e faz a pergunta em aparência incontestável: se, depois de tudo, merece a pena se tomar o trabalho de respirar, perante tais resultados desconhecidos e incognoscíveis, ao parecer. Porém, são incognoscíveis semelhantes resultados? Pelo menos, para perguntar algo de menor importância, é impossível fazer uma conjetura a respeito da direção na qual nosso fim existe?"

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 16/18)


terça-feira, 5 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - I

"Todos conhecemos aquele algo misterioso e severo, ao qual chamamos miséria, que ao homem persegue e de um modo bastante estranho, como a primeira vista parece; não o persegue vaga e incertamente, mas com pertinácia positiva e inquebrantável. Sua presença não é absolutamente contínua, pois de outro modo deixaria o homem de viver; porém sua pertinácia não cessa de modo algum. O sombrio fantasma da desesperação permanece por trás do homem, pronto para tocá-lo com seu dedo terrível, tão depressa como se tivesse sido demasiado tempo feliz. Quem deu a este horrível espectro o direito de vagar ao nosso redor desde que nascemos até que morremos? Quem lhe deu o direito de permanecer sempre à nossa porta, conservando-a entreaberta com sua mão invisível, mas não obstante horrível, pronta a entrar no momento oportuno? O maior filósofo de todos os que viveram sucumbe, afinal ante o mesmo; e unicamente é filósofo, no verdadeiro sentido da palavra, aquele que reconhece o fato de que é irresistível e sabe que, como todos os demais homens, deve sofrer cedo ou tarde. A dor e a miséria constituem uma parte da herança dos homens e aquele que julga que nada poderá fazê-lo sofrer, o que faz é revestir-se de um egoísmo frio e profundo. Esta vestidura poderá protegê-lo contra a dor; mas também o separará do prazer. Se a paz pode ser encontrada sobre a terra, ou alguma alegria existe na vida, não pode ser fechando as portas do sentimento, que nos admitem a porção mais elevada e mais vivida da nossa existência. A sensação, tal como a obtemos por intermédio do corpo físico nos proporciona tudo aquilo que nos induz a viver daquela forma. É inconcebível que nenhum homem se quisesse dar ao trabalho de respirar, a não ser que o ato levasse consigo um sentimento de satisfação. O mesmo acontece com relação a cada uma das ações em todos os instantes da nossa vida: vivemos porque até na mesma sensação da dor existe o prazer. Sensação é o que nós desejamos. De outro modo experimentaríamos de comum acordo as águas profundas do esquecimento e extinguir-se-ia a raça humana. Se isto acontece com a vida física, o mesmo se realiza com a vida das emoções, a imaginação, a sensibilidade, com todas aquelas esquisitas e delicadas formações que, com o maravilhoso mecanismo registrador do cérebro, constituem o sutil homem interno. Para eles o prazer reside na sensação; e uma série infinita de sensações, é para eles a vida. Destrua-se a sensação que faz que desejem perseverar na experiência da vida e nada se terá adiantado. Por esta razão, o homem que intenta obliterar a sensação da dor e que se propõe manter-se no mesmo estado, quando sofre como quando goza, fere a raiz da vida mesmo e destrói o objeto da sua própria existência. Deve-se aplicar isto o mais completamente que nossos poderes atuais, raciocinadores e intuitivos, nos permitam, em cada estado, até naquele do Nirvana ensinado pelos Orientais. Esta condição pode ser unicamente uma, dotada de sensações infinitamente mais sutis e esquisitas, se é, depois de tudo, um estado e não aniquilação: e em harmonia com a experiência da vida, da qual somos, na atualidade capazes de julgar, aumento na sutileza da sensação significa vitalidade acrescentada; como, por exemplo, um homem sensível e de imaginação, sente mais por causa da infidelidade ou fidelidade de um amigo, do que um homem da mais grosseira natureza física, por meio dos sentidos. Claro é, portanto, que o filósofo que recusa sentir, não se reserva lugar algum de refúgio; nem sequer o distante e inacessível Nirvana. Pode unicamente negar-se a si mesmo sua herança de vida, que é, em outras palavras, o direito de sensação. Se prefere sacrificar tudo aquilo que faz dele um homem, deve-se contentar com uma mera indolência de consciência, o que é uma condição que, comparada à vida da ostra, é esta uma vida ativa.

Porém, nenhum homem é capaz de efetuar tal fato. Sua existência continuada prova plenamente que ele ainda deseja sensação, e a deseja tão positiva e ativamente, que o desejo deve ser concedido na vida física. Seria mais prático não se enganar a si mesmo com a falsidade do estoicismo, não tentar renunciar aquilo do qual nada o induza separar-se. Não seria um conduta muito mais intrépida, um modo de resolver o grande enigma da existência, abraçar-se a ele, retê-lo com firmeza, e perguntar-lhe o mistério de si mesmo? Se os homens quisessem tão só deter-se e considerar as lições que o prazer e a dor lhes ensinaram, muito se poderia conjeturar daquela coisa estranha que causa estes efeitos. Mas os homens se apressam em se afastar de tudo quanto os possa conduzir ao estudo de si mesmos ou de qualquer minuciosa análise da natureza humana. Apesar de tudo, deve existir uma ciência de vida tão inteligível como qualquer dos métodos que nas escolas se empregam; a ciência é desconhecida, é verdadeira e sua existência é meramente suspeitada por um ou dois de nossos mais avançados pensadores. O desenvolvimento de uma ciência é unicamente o descobrimento daquilo que já existe; e tão mágica e inacreditável é na atualidade, a química para o moço lavrador, como é a ciência da vida para o homem de ordinárias percepções. Apesar de tudo, pode e deve existir um iluminado que perceba o crescimento da nova ciência, do mesmo modo que os primeiros e torpes experimentadores nos trabalhos de laboratório, veem o sistema dos conhecimentos na atualidade obtidos, desenvolvendo-se por si mesmos do seio da natureza, para o uso e benefício do homem."  

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 13/16)


quinta-feira, 14 de maio de 2020

CORPOS INFANTIS

Erotização infantil pode afetar desenvolvimento das crianças ..."Os corpos infantis são muito sensíveis às influências suprafísicas, e durante os primeiros anos de sua vida nos mundos inferiores o homem pode modificá-los notavelmente, sobretudo o astral e físico na primeira infância. Na generalidade das crianças não está o homem verdadeiro ou ego em íntimo contato com seus corpos até os sete anos de idade, e a frequente observação de que raras vezes se manifesta o raciocínio mental antes da referida idade conduziu à crença de que a educação das crianças não deve começar antes dos sete anos. 

De fato, durante a primeira infância está o ego revestindo-se de seus corpos inferiores e sua consciência não toma plena posse deles antes do sétimo ano de vida terrena. Notáveis alterações vão se efetuando no cérebro físico. As células ou neuromas que têm de servir de órgãos à faculdade raciocinal, lançam umas raízes chamadas 'dentritas', as quais formam uma rede, e se atraem por seus extremos sem se tocarem, porém constituindo condutos de franca comunicação intercelular. O desenvolvimento das 'dentritas' está estimulado pelo enlace das sensações da criança com os objetos externos que as produzem, e pela recordação deste enlace. A criança sente fome e o corpo reclama alimento. A mãe lhe acalma a fome dando-lhe de mamar; e depois de muitas experiências, a criança relaciona a presença de uma mulher com a sensação da fome e da sua inquietude, até que por último relaciona esta sensação com a presença de uma mulher determinada, sua mãe, a quem reconhece então e prefere às demais mulheres. O mundo da criança está constituído por aparições e desaparições, presenças e ausências, igualmente incompreensíveis para ela, que vão e vêm sem fixidez. Não pode segui-las; porém, ao cabo de muitas experiências, reconhece que, embora não as podendo ver, pode invocar a aparição do objeto desejado em seu limitado mundo por meio do pranto, estabelecendo assim outra relação entre si mesma e o estranho mundo exterior. Por haver tido análogas experiências em muitas vidas precedentes, o ego utiliza seu infantil corpo físico com alguma habilidade e ajuda-o a estabelecer mui rapidamente suas primeiras relações; porém as crianças diferem muito no que as mães e as preceptoras chamam 'fazer caso' de algo, pois isto depende em grande parte da idade do ego e da classe de corpo que lhe foi determinado como mais apropriado para extinguir seu karma em períodos. O estabelecimento da relação entre a consciência operante no corpo infantil e os objetos externos é a base de todo pensamento. Uma sensação e o reconhecimento do objeto externo relacionado com ela, já lhe preceda, já lhe siga, pode considerar como alfabeto do pensamento.

O resultado prático disto na educação da criança é que se lhe deve induzir a observar, chamando-lhe a atenção o enlace entre suas sensações e os objetos, para o qual deve exercitar sua memória. Durante a infância os sentidos são mais agudos e convém aproveitar esta vantagem para educá-lo. Entretanto, não se lhe deve incitar o raciocínio, no significado lógico desta palavra, porque seu cérebro não está apto, todavia, para este esforço, e os educadores ignorantes classificam de distração ou estupidez a natural incapacidade de inferir uma conclusão geral de observações similares. Não é distração nem estupidez, e sim prematuridade física." 

(Annie Besant - A Vida do Homem em Três Mundos - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 49/51)

segunda-feira, 23 de abril de 2018

DEVEMOS MORRER PARA TODAS AS NOSSAS EMOÇÕES

"O que entendemos por emoção? É uma sensação, uma reação, uma resposta dos sentidos? O ódio, a devoção, o sentimento de amor ou a solidariedade por outra pessoa - todos são emoções. Alguns, como o amor e a solidariedade, chamamos de positivos; já outros, como o ódio, chamamos de negativos e queremos nos livrar deles. O amor é o oposto do ódio? É uma emoção, uma sensação, um feeling que é prolongado através da memória?

...Então, o que entendemos por amor? Certamente, o amor não é memória. É muito difícil entender isso, porque para a maioria de nós o amor é, sim, memória. Quando você diz que ama o seu cônjuge, o que quer dizer com isso? Você ama aquilo que lhe dá prazer? Você ama aquilo com que se identificou e que reconhece como pertencente a você? Por favor, isso são fatos. Não estou inventando nada, por isso não fique horrorizado.

...É a imagem, o símbolo do cônjuge que amamos (ou achamos que amamos), não o próprio indivíduo. Eu absolutamente não conheço o meu cônjuge; e nunca poderei conhecer essa pessoa enquanto 'conhecer' significar 'reconhecimento'. Porque o reconhecimento é baseado na memória - a memória do prazer e do sofrimento, a memória das coisas pelas quais tenho vivido, agonizado, as coisas que possuo e às quais sou ligado. Como posso amar quando existe medo, mágoa, solidão, a sombra do desespero? Como um homem ambicioso pode amar? E somos todos muito ambiciosos, embora de forma honrosa.

Portanto, para descobrir realmente o que é o amor, precisamos morrer para o passado, para todas as emoções - o bom e o ruim. Morrer sem esforço, como morreríamos para uma coisa venenosa, porque a entendemos."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 151


sexta-feira, 13 de abril de 2018

ENQUANTO POSSUIRMOS, JAMAIS AMAREMOS

"Conhecemos o amor como sensação, não é? Quando dizemos que amamos, conhecemos o ciúme, o medo, a ansiedade. Quando você diz que ama alguém, tudo isso está implícito: a inveja, o desejo de possuir, de ser dono, de dominar, o medo da perda e assim por diante. Tudo isso, nós chamamos de amor. E não conhecemos o amor sem medo, inveja, possessão; simplesmente verbalizamos esse estado de amor que existe sem medo, o chamamos de impessoal, puro, divino ou sabe lá Deus o que mais. O fato, no entanto, é que somos ciumentos, dominadores, possessivos. Só conheceremos esse estado de amor quando o ciúme, a inveja, a possessividade, a dominação tiverem um fim, e enquanto possuirmos, jamais amaremos...

Em que momento você pensa na pessoa amada? Você pensa nela quando ela parte, quando está distante, quando deixou você... Então, você sente falta da pessoa a quem diz amar só quando está perturbado, sofrendo. Ou seja, enquanto você possui essa pessoa, não tem de pensar nela, porque na posse não há perturbação...

O pensamento surge quando estamos perturbados - e estamos propensos a ficar perturbados enquanto nosso pensamento for aquilo que chamamos de amor. Certamente, o amor não é uma coisa da mente; e, como as coisas da mente encheram nossos corações, não temos amor. As coisas da mente são o ciúme, a inveja, a ambição, o desejo de ser alguém, conseguir sucesso. Essas coisas da mente enchem o coração, e então dizemos estar amando. Mas como podemos amar quando há todos esses elementos confusos dentro da gente? Se há fumaça, como pode haver uma chama pura?"

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 125)


terça-feira, 3 de abril de 2018

AS MANIFESTAÇÕES DA PRESENÇA DE DEUS

"'Ao sair de casa, tente sentir que todas as coisas ao seu redor fazem parte da sua própria percepção desenvolvida.

'Observe as folhas balançando nas árvores e tente captar-lhes o movimento. Imagine nesse movimento que Deus está expressando Seus pensamentos e inspirações.

'Observe a grama dos prados à medida que ondula ao vento. Imagine a brisa como o hálito de Deus soprando sobre o mundo, inspirando todos os seres e dando-lhes a vida.

'Ouça os pássaros cantando. Imagine que Deus, mediante o canto dos pássaros, está tentando chegar até você por meio dessa sensação de satisfação divina.

'Esteja consciente dos raios do sol na sua pele. Penso no calor que você sente como se ele fosse a energia de Deus. Permita que ele encha o seu corpo com vitalidade e força. Imagine a energia divina dando força às criaturas em todos os cantos da terra por meio da luz solar.'"

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda, A Essência da Autorrealização - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 173)


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

NÃO UMA VONTADE FRACA, MAS UMA IMAGINAÇÃO INDISCIPLINADA

"Compreenderemos isso melhor se analisarmos alguns exemplos em que, segundo dizemos em linguagem corrente, não é suficientemente forte a nossa vontade. Imaginemos que decidimos nos levantar às seis horas da manhã. Quando chega a hora e despertamos, nos sentimos naturalmente sonolentos e preguiçosos. Se então empregássemos corretamente a vontade, não haveria dificuldade em nos levantar, porque manteríamos esse pensamento único, excluindo qualquer outra coisa, e não haveria conflito. Mas o que realmente fazemos é consentir que nossa imaginação criativa se entretenha com o problema de levantar-nos. Começamos a considerar, por um lado, a incômoda sensação de frio ao sairmos de nossa cama aquecida e o quanto será desconfortável nos vestirmos sem a luz do dia; e, por outro lado, imaginamos quão agradável seria permanecermos um pouco mais na cama e voltarmos a dormir.

Assim, criamos imagens que tendem naturalmente a se concretizarem em ato, fazendo-nos permanecer na cama. Quando começamos a resistir, a resistência é muito débil. E mesmo se formos vencedores, teremos colocado diante de nós próprios uma luta inteiramente desnecessária, consumindo vitalidade, e que teria sido facilmente evitada se houvéssemos compreendido a verdadeira função da vontade. Ao não levantarmos, teremos demonstrado sinais não de uma vontade fraca, mas de uma imaginação indisciplinada. O reto uso da vontade seria o de manter o pensamento criativo, ou imaginação, centrado, focalizado em uma única ideia: de levantar-nos da cama, com exclusão de qualquer outro pensamento. Dessa maneira, não permitiríamos que a imaginação jogasse com tais pensamentos, como o incômodo de nos levantar e a comodidade de permanecer na cama, e assim não encontraríamos nenhuma dificuldade em nos levantar imediatamente.

Por certo, Hamlet expressou uma profunda verdade psicológica quando disse que 'o matiz nativo da resolução se descolora com a pálida influência do pensamento'. É a força da vontade interior, para manter a consciência focada em um único ponto de interesse e excluir qualquer ideia, sentimento, pessoa ou influência, que irá intervir e não permitir a tentação ao desvio.

Citemos outro exemplo. Muitos de nós conhecemos, por experiência, a desagradável sensação que nos surpreende quando estamos a ponto de nos atirar à água de grande altura. Determinamo-nos a saltar, mas no momento crítico titubeamos e necessitamos de algum tempo para nos armarmos de valor e nos lançarmos à água. O que realmente ocorreu é que permitimos que a imaginação criasse uma imagem aterrorizante do mergulho que estamos para fazer e da conveniência de não o fazermos. Tendo criado a imagem, nos vemos naturalmente impedidos por ela, e o salto na água começa a nos trazer terror, ao passo que antes nos parecia tão atrativo. O meio de evitar a vacilação é novamente manter focalizada a vontade no lançamento à água e excluir todo pensamento, sentimento ou influência que possam impedi-lo Então descobrimos que não há dificuldade em simplesmente realizar nosso propósito."

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 47/48)





sábado, 10 de fevereiro de 2018

DEVEMOS IR FUNDO PARA CONHECER O PRAZER

"São poucos os que desfrutam de alguma coisa. Sentimos pouquíssima alegria ao ver um pôr do sol, uma lua cheia, uma pessoa bonita, uma árvore encantadora, um pássaro voando ou uma dança. Na verdade, não desfrutamos de nada. Olhamos para uma coisa, ficamos superficialmente entretidos por ela e temos a sensação do que chamamos de alegria. Mas o prazer é algo muito mais profundo, que deve ser entendido e profundamente desfrutado.

Quando ficamos mais velhos, embora queiramos sentir prazer nas coisas, as melhores já estão fora do nosso alcance. Queremos desfrutar de outros tipos de sensações - paixões, desejo sexual, poder, status. Todas essas são coisas normais da vida. Embora superficiais, não devem ser condenadas, justificadas, mas entendidas e colocadas em seu devido lugar. Se as condenarmos como sem importancia, sensacionalistas, tolas ou não espirituais, destruiremos todo o processo da vida. 

Para conhecer a alegria devemos ir muito mais fundo: a alegria não é a mera sensação. Ela requer um refinamento extraordinário da mente, mas não o refinamento do self, que colhe cada vez mais para si. Esse self, esse homem, nunca poderá entender o estado de alegria em que o apreciador não está presente. É preciso entender essa coisa extraordinária. Do contrário, a vida se torna muito pequena, insignificante, superficial - torna-se apenas nascer, aprender algumas coisas, sofrer, gerar filhos, ter responsabilidades, ganhar dinheiro, ter um pouco de diversão intelectual e morrer."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 213)


sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

ILUSÃO (PARTE FINAL)

"(...) Como se pode saber que uma experiência, num dado momento, é verdadeira? Isso é uma parte da questão. Por que desejais saber se é verdadeira? Um fato é um fato, nem verdadeiro, nem falso. E só quando quero traduzir um fato de acordo com minha sensação, com minha 'ideação', é só então que entro na ilusão. Quando estou encolerizado, isso é um fato, não há ilusão alguma. Quando sou lascivo, quando sou ávido, quando estou irritado, cada uma dessas coisas é um fato; é só depois que começo a justificá-lo, a procurar explicações para ele, a traduzi-lo de acordo com meus preconceitos, isto é, a meu favor, ou quando o evito só então é que pergunto: 'Que é a verdade?'. Isto é, no momento em que examinamos um fato emocionalmente, sentimentalmente, elaborando ideias a respeito do mesmo, nesse momento penetramos no mundo da ilusão e da autodecepção. Para se encarar um fato, livre de tudo isso, requer-se uma extraordinária vigilância. Por essa razão, é de suma importância que descubramos por nós mesmos, se não estamos na ilusão, ou se estamos enganando a nós mesmos, mas se estamos livres do desejo de identificar, do desejo de ter uma sensação, que chamamos experiência, do desejo de possuir, de repetir, ou de voltar a uma experiência. Afinal de contas, de momento em momento, podeis conhecer a vós mesmos, tais como sois, 'realmente', e não através da cortina das ideias, que são sensação. Para conhecerdes a vós mesmos, não tendes necessidade de saber o que é a verdade ou o que não é a verdade. Para vos mirardes no espelho e verdes que sois feio ou belo, realmente, e não romanticamente, para isso não se requer a verdade. Mas a dificuldade da maioria de nós está em que, ao vermos a imagem, a expressão, queremos logo fazer alguma coisa, queremos alterá-la, dar-lhe um nome diferente; se ela é deleitável, identificamo-nos com ela: se dolorosa, evitamo-la. Nesse processo, por certo, reside a ilusão, e com ele estais mais ou menos familiarizados. Assim procedem os políticos; assim procedem os sacerdotes, ao falarem de Deus, em nome da religião; e assim procedemos também nós, quando ficamos entregues à sensação de ideias, e persistimos nisso. Isto é verdadeiro, isto é falso, o Mestre existe, ou não existe - tudo isso é tão absurdo, imaturo, infantil. Mas, para se descobrir o que é 'fatual', necessita-se uma vigilância extraordinária, uma percepção na qual não há condenação nem justificação.

Nessas condições, pode dizer-se que um indivíduo engana a si mesmo, que há ilusão, quando ele se identifica com um país, uma crença, uma ideia, uma pessoa, etc; ou quando tem o desejo de repetir uma experiência, isto é, a sensação da experiência; ou quando um indivíduo volta à meninice e deseja a repetição das experiências da infância, o deleite, a proximidade, a sensibilidade; ou quando um indivíduo deseja ser alguma coisa. É extremamente difícil vivermos sem estarmos enganados, quer por nós mesmos, quer por outra pessoa; e a ilusão só desaparece quando já não existe o desejo de ser alguma coisa. A mente é então capaz de olhar as coisas tais como são, de ver a significação daquilo 'que é'; não há então batalha entre o falso e o verdadeiro; não há então a procura da verdade, como coisa separada do falso. O que importa, pois, é que se compreenda o processo da mente; e essa compreensão é 'fatual' e não teórica, nem sentimental, nem romântica; não requer que nos tranquemos num quarto escuro, a meditar, a ver imagens, tendo visões. Tudo isso nada tem que ver com a realidade. E como, na maioria, nós somos românticos, sentimentais, desejosos de sensação, ficamos presos às ideias; e as ideias não são 'o que é'. Assim sendo, a mente que está livre das ideias, das sensações, essa mente está livre da ilusão." 

(Krishnamurti - A Conquista da Serenidade - p. 12/14)
Fontehttp://www.lojadharma.org.br/


quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

ILUSÃO (1ª PARTE)

"PERGUNTA: Como se pode conhecer e sentir de maneira inequívoca a realidade, a significação exata e imutável de uma experiência que é a verdade? Toda vez que tenho o percebimento de uma realidade e sinto ser Verdadeira essa experiência, diz-me alguém, se lha comunica, que estou iludindo a mim mesmo. Sempre que penso haver compreendido, vem alguém dizer-me que estou na ilusão. Haverá uma maneira de saber o que é verdadeiro, em mim, sem ilusão nem engano?

KRISHNAMURTI: Toda forma de identificação conduz necessariamente à ilusão. Existem a ilusão psiquiátrica e a ilusão psicológica. Quanto à ilusão psiquiátrica, sabemos as providências que se devem tomar. Quando um indivíduo se julga Napoleão ou um grande santo, sabeis a maneira de se atender ao caso. Mas a identificação e ilusão de natureza psicológica é coisa de todo diferente. O indivíduo político ou religioso identifica-se com a nação ou com Deus. Ele é a nação, e, se tem talento, torna-se um pesadelo para o resto do mundo, quer pacífica, quer violentamente. Há várias formas de identificação: a identificação com a autoridade, com a nação, com uma ideia; a identificação com uma crença, que nos leva a fazer toda espécie de coisas; com um ideal, pelo qual estamos prontos a sacrificar tudo e todo o mundo, inclusive a nós mesmos e a nação, com o fim de alcançar o que desejamos; identificação com uma Utopia, pela qual forçais outras pessoas a se moldarem por um determinado padrão; e, por fim, a identificação do ator, que desempenha papéis diferentes. E a maioria de nós está na situação do ator, desempenhando os nossos papéis consciente ou inconscientemente.

Nossa dificuldade, pois, está em que nos identificamos com a nação, com um partido político, com a propaganda, com uma crença, com uma ideologia, com um chefe. Tudo isso é uma só espécie de identificação.

E temos, ainda, a identificação com nossas próprias experiências. Tive uma experiência, algo que me fez vibrar; e quanto mais eu me demoro nela, tanto mais intensa, tanto mais romântica, sentimental, tanto mais adulterada ela se torna; e a essa experiência dou o nome de Deus — vós bem sabeis por quantas maneiras sabemos enganar a nós mesmos. Por certo, a ilusão surge sempre que me apego a alguma coisa. Se eu tive uma experiência, agora acabada, terminada, e retorno a ela, estou na ilusão. Se desejo que uma coisa se repita, se persisto na repetição de uma experiência, isso inevitavelmente me conduzirá à ilusão. Assim, pois, a base da ilusão é a identificação — identificação com uma imagem, com uma ideia de Deus, com uma voz, e com experiências a que nos apegamos ardorosamente. Não é à experiência que nos apegamos, mas, sim, à sensação da experiência, a qual sensação tivemos no momento de 'experimentar'. Um homem que se cercou de vários métodos de identificação, está vivendo na ilusão. Um homem que crê, por causa de uma sensação, por causa de uma ideia a que se apega, vive necessariamente na ilusão, a enganar a si próprio. Assim sendo, qualquer experiência que se passa em vós e à qual voltais, ou que rejeitais, não pode deixar de conduzir à ilusão. Só se extingue uma ilusão, quando compreendeis uma experiência e não ficais apegado a ela. Esse desejo de possuir é a base da ilusão, da arte de enganar a si mesmo. Vós desejais ser alguma coisa; e esse desejo de ser alguma coisa precisa ser compreendido para que se compreenda o processo da ilusão, do enganar-nos a nós mesmos. Se penso que serei um grande instrutor, um grande Mestre, ou Buda, ou X, Y, Z, na minha próxima vida, ou se penso que o sou atualmente e me apego a essa ideia, devo certamente estar numa ilusão; porque estou vivendo de uma sensação, que é uma ideia, e a minha mente se nutre de idéias, tanto verdadeiras, como falsas. (...)"

(Krishnamurti - A Conquista da Serenidade - p. 10/12)
Fontehttp://www.lojadharma.org.br/


quinta-feira, 28 de setembro de 2017

IMAGEM DA ETERNIDADE

"A Teoria da Relatividade surgiu depois da época de Helena Blavatsky. Mas ela já considerava o tempo multidimensional, com muitos aspectos que dependem da nossa observação. Nossas ideias sobre o tempo, originadas das nossas sensações, estão 'inelutavelmente vinculadas à relatividade do conhecimento humano.' e vão se desvanecer quando evoluirmos ao ponto de ver além da existência fenomênica.

Segundo Blavatsky, a duração ilimitada, ou atemporalidade, além da relatividade, é o 'tempo incondicionalmente eterno e universal', o númeno do tempo, não condicionado pelos fenômenos que surgem e desaparecem periodicamente. A duração é 'eterna e, portanto, imóvel, sem começo, sem fim, além do tempo dividido e além do espaço'.

É esse aspecto da realidade que produz o tempo como 'a imagem móvel da eternidade', nas palavras de Platão. Os ciclos de manifestação ocorrem dentro da duração infinita, à medida que o atemporal dá origem ao tempo. Assim como ocorre com o espaço e o movimento, nosso mundo familiar de tempo 'dividido' é gerado a partir desse reino indiviso e informe.

A duração abarca tudo simultaneamente, enquanto o tempo que experimentamos precisa se adaptar à visão sequencial: uma coisa de cada vez. É difícil imaginar a realidade como um todo presente simultaneamente na duração, porque nossa mente é parte do processo do tempo. A atemporalidade nos escapa.

Blavatsky explica que aquilo que é visto em um momento específico é a soma de todas as suas diferentes condições, desde o seu surgimento em forma material até o seu desaparecimento da Terra. Ela compara esse somatório com uma barra de metal lançada ao mar. O momento presente de uma pessoa é representado pela seção transversal da barra, no ponto em que o oceano e o ar se encontram. Ninguém diria que a barra surgiu no momento em que deixou o ar ou que desapareceu quanto entrou na água. Da mesma forma, surgimos do passado para mergulhar no futuro, apresentando, momentaneamente, uma faceta de nós mesmos no presente."

(Tempo e atemporalidade - Do livro Sabedoria Antiga e Visão Moderna, Shirleu Nicholson, Ed. Teosófica - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 17)
www.revistasophia.com.br


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

UMA PROPRIEDADE DA MENTE (PARTE FINAL)

"(...) As crianças ficam à vontade com o tempo não linear; ao brincar, parecem abolir o relógio. Nós também podemos modificar nossas sensações sobre  o tempo e torná-lo mais lento. Com isso, os processos biológicos também ficam mais lentos e saudáveis. A 'doença da pressa' pode ser revertida através das chamadas 'terapias do tempo', de acordo com Dossey. Isso pode ser feito por meio de técnicas como biofeedback, meditação, hipnose, jogos criativos e visualização de fantasias.

Nessas experiências, passado, presente e futuro se fundem, o que libera as pressões do tempo e quebra momentaneamente o seu domínio sobre nossa vida. Essas práticas também tendem a modificar nosso conceito linear do tempo como algo que avança inexoravelmente para a frente. Podemos aprender a sair dessa prisão e viver um 'presente em fluxo eterno', sentindo a atemporalidade da duração.

Quando não estamos mais dominados pelo tempo linear, vivemos em harmonia os aspectos cíclicos do tempo. Para as pessoas que vivem mais próximas à natureza, os ciclos das estações, do dia e da noite, as fases da lua, o plantio e a colheita - e nossos ciclos internos, como vigília e sono, respiração, menstruação - desempenham um papel importante. O tempo, para essas pessoas, é moldado por eventos recorrentes; a vida se ordena de acordo com ritmos naturais, em vez da segmentação artificial dos relógios.

Para essas pessoas, o tempo é um processo dinâmico e interminável, que retorna continuamente - uma espiral, em vez de um rio. O ritmo do viver representa a preservação do princípio dos ciclos, que a teosofia e a filosofia oriental traduzem como uma espécie de movimento circular por toda a realidade manifestada. Viver em harmonia com os ciclos é estar em harmonia com o universo."

(Tempo e atemporalidade - Do livro Sabedoria Antiga e Visão Moderna, Shirleu Nicholson, Ed. Teosófica - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 16/17)


sábado, 16 de setembro de 2017

QUEM SOU EU?

"(4:27) Alguns, guiados pelo discernimento, oferecem as atividades de seus sentidos e a energia nelas contida ao fogo do autocontrole. (Perguntam a si mesmos: 'Quem está vendo? Quem está ouvindo? Que força me motiva a experimentar essas sensações?')

O método de oferecer a consciência egóica à expansão cósmica acaba por suscitar a pergunta: 'Quem sou eu?' Primeiro, a pessoa quer saber: 'Quem está comendo?', 'Quem anda quando meu corpo se desloca?', 'Quem, de fato, respira?', 'Quem pensa?', 'Quem reage com pensamentos positivos ou negativos?', Quem está fazendo estas perguntas?'

E, rematando tantas indagações, de novo: 'Quem sou eu?'

Essa é a abordagem do Gyana Yoga (o caminho do discernimento), que todos deveriam adotar em sua sadhana (prática espiritual). Examine-se enquanto come, anda, respira, conversa, pensa. Faça um esforço mental para distanciar-se de seu corpo e mente. Torne-se o observador silencioso de seu próprio eu. Aos poucos, irá se sentir interiormente desapegado e aceitará seu ser como uma outra realidade: a alma divina que apenas sonha tudo aquilo que acontece fora dela."

(A Essência do Bhagavad Gita - Explicado por Paramhansa Yogananda - Evocado por seu discípulo Swami Kriyananda - Ed. Pensamento, São Paulo, 2006 - p. 199


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

POSSO CONFIAR NA MINHA EXPERIÊNCIA?

"A maioria de nós está satisfeita com a autoridade porque ela nos proporciona uma continuidade, uma certeza, uma sensação de proteção. Mas aquele que entendesse as implicações dessa profunda revolução psicológica deveria estar livre da autoridade, não é? Não se pode buscar nenhuma autoridade, seja de criação própria ou imposta por outra pessoa. Isso é possível? É possível para não confiar na autoridade da própria experiência?

Mesmo tendo rejeitado todas as expressões externas da autoridade - livros, professores, sacerdotes, igrejas, crenças -, ainda tenho a sensação de que pelo menos posso confiar no meu próprio julgamento, em minhas próprias experiências, minha própria análise. Mas será que eu posso confiar na minha experiência, no meu julgamento, na minha análise? Minha experiência é o resultado do meu condicionamento, assim como o de qualquer pessoa, não é? Posso ter sido criado como muçulmano, budista ou hindu, e minha experiência vai depender dos meus antecedentes cultural, econômico, social e religioso. Eu posso confiar nisso? Posso confiar na orientação, na esperança, na visão que me dará fé no meu próprio julgamento, que mais uma vez é o resultado de lembranças acumuladas, experiências, o condicionamento do passado encontrando o presente?... Ora, quando eu coloco todas essas questões para mim mesmo e estou consciente do problema, vejo que pode haver apenas um estado em que a realidade e a novidade podem ser geradas, o que provoca uma revolução. Nesse estado a mente está completamente vazia do passado, não há analista, experiência, julgamento nem qualquer tipo de autoridade."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 35)


segunda-feira, 10 de abril de 2017

NÓS TORNAMOS O SEXO UM PROBLEMA

"Por que qualquer coisa que tocamos se transforma em um problema?... Por que o sexo se torna um problema? Por que nos submetemos a viver com problemas, por que não pomos um fim neles? Por que não morremos para os nossos problemas, em vez de carregá-los dia após dia, ano após ano? Certamente, o sexo é uma questão relevante, que eu devo responder presentemente, mas resta a questão primária: por que transformamos a vida em um problema? O trabalho, o sexo, ganhar dinheiro, pensar, sentir, experienciar, todas as atividades da vida - por que são um problema? Será, essencialmente, porque sempre pensamos de um ponto de vista particular, determinado?

Estamos pensando sempre do centro para fora, mas a parte periférica é o centro da maioria de nós, e por isso qualquer coisa que tocamos é superficial. Mas a vida não é superficial, ela demanda viver completamente, e como só estamos vivendo superficialmente, só conhecemos a reação superficial. Qualquer coisa que façamos na parte periférica deve inevitavelmente criar um problema, e essa é a nossa vida - vivemos no superificial e ali ficamos contentes em viver com todos os problemas. Portanto, os problemas existem enquanto vivemos no superficial, na periferia do 'eu' e suas sensações, que podem ser exteriorizadas ou tornadas subjetivas, ser identificadas com o universo, o país ou alguma outra coisa criada pela mente. Por isso, enquanto vivermos dentro do campo da mente, deverá haver complicações, problemas, e isso é tudo o que conhecemos."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 123)


domingo, 19 de março de 2017

SEXO E AMOR (2ª PARTE)

"(...) Um dos empecilhos ao viver criativo é o medo e a responsabilidade, que é uma manifestação desse medo. Os indivíduos 'respeitáveis', moralmente agrilhoados, não conhecem o integral e verdadeiro significado da vida. Estão presos entre os muros de sua virtude, nada podendo exergar além deles. Sua 'moralidade de vidraças coloridas', com base em ideias e crenças religiosas, nada tem em comum com a realidade; quando se abrigam por trás dela, estão vivendo no mundo de suas próprias ilusões.

O medo resultante do desejo de estar em segurança nos leva a um ajuste ao domínio externo, impedindo o viver criativo. Viver de forma criativa é viver em liberdade e sem medo. Só pode haver estado de criação se a mente não se achar presa às redes do desejo e da satisfação do desejo. Só ao observarmos o coração e a mente com atenção poderemos descobrir os movimentos ocultos do desejo. Quanto mais atenciosos e afetuosos somos, menos o desejo domina a mente.

Só quando não há amor as sensações se tornam um problema obsessivo. As sensações se tornaram tão significativas porque valorizamos demais os sentidos. Por meio de livros, anúncios, TV, cinema e de muitas outras maneiras, estamos sempre exaltando as sensações. As pompas religiosas e políticas, a diversão, tudo nos convida a buscar estímulos em diferentes níveis do nosso ser. Ao mesmo tempo em que estimulamos a sensualidade, nós pregamos a castidade. O estranho é que essa contradição é estimulante. 

A busca de sensações é uma das principais atividades da mente. É apenas quando a compreendemos que o prazer, a excitação e a violência deixam de ser uma preocupação dominante. Porque não amamos, o sexo e a busca de sensações transformam-se num problema absorvente. Havendo amor, há castidade; quem se esforça para ser casto não consegue ser. A virtude vem com a liberdade e com a compreensão. 

Na juventude, temos fortes impulsos sexuais; em geral, procuramos submeter esses desejos a um certo controle e disciplina, pensando que, se não conseguirmos refreá-los, nos tornaremos irreprimivelmente lascivos. (...)"

(J. Krishnamurti - Sexo e amor - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 24)

sexta-feira, 22 de abril de 2016

EVOLUÇÃO A PARTIR DE CIMA (2ª PARTE)

"(...) O verdadeiro, o bom e o belo são sempre um estudo apropriado para nós. O problema do mal e do sofrimento é muito mais difícil de solucionar.

Vejamos primeiramente aquelas sendas simples e diretas para o céu das ideias divinas que são os reflexos aqui embaixo daquelas ideias que percebemos ser totalmente belas e sagradas em sua natureza. Comecemos, por exemplo, a partir de fragrâncias puras como a rosa, o jasmim, o sândalo. Elas têm suas correspondências celestes. Conseguiremos reproduzir a irradiação espiritual, da qual uma bela fragrância física seja a correspondência ou contraparte? Por meio da imaginação poderíamos tentar pelo menos sentir sua natureza a partir do estímulo ou influência que a fragrância particular produz em nós.

Cada Adepto, que por sua própria definição vivificou sua natureza material com a espiritual, tem sua própria fragrância particular, não porque ele a seleciona como uma mulher elegante poderia selecionar uma para seus propósitos, mas porque é uma manifestação de sua influência, como apreendida por um de nossos órgãos dos sentidos, que é afetado talvez mais prontamente de que os outros.

Cada um de nós possui certos órgãos dos sentidos que transformam os efeitos de estímulos particulares ou efeitos vibratórios, no que chamamos de sensações. Não é inconcebível - e é muito provável - que o alcance de nossa resposta - mesmo a resposta física - será grandemente ampliado no tempo devido, mas existem potencialidades de impressões sensoriais diferentes daquelas que conhecemos, através de órgãos que não existem atualmente; em outras palavras, de novas pontes entre os mundos objetivo e subjetivo com as quais sequer sonhamos atualmente. (...)"

(N. Sri Ram - O Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 101)


sábado, 2 de abril de 2016

SÍNTESE DA EVOLUÇÃO HUMANA (2ª PARTE)

"(...) O homem repete as experiências como o escolar repete o ano quando não estuda convenientemente, ou como o escultor que faz e desfaz sua obra, até consegui-la perfeita.

O corpo causal transmite à alma todas as vibrações que recebe, mas ele só se desenvolve à custa das vibrações delicadas, proporcionadas pelo Bem, pelo Belo e pelo Verdadeiro. As vibrações grosseiras só contribuem para o desenvolvimento dos corpos inferiores.

O mal, ou antes, o que é contrário à evolução, provoca o desenvolvimento dos mais materializados, porém esse mal é transitório, porque só atinge o que é inferior e perecível. O Bem é permanente, porque afeta o corpo causal, imperecível.

Examinando-se melhor os fatos, verifica-se que o Mal e o Bem são relativos. Assim, as sensações grosseiras, que desenvolvem o corpo astral do homem primitivo, contribuem para a evolução, nesta fase. Aí elas são um bem. Posteriormente, esse corpo tende a ser afinado, isto é, tende a se tornar delicado, para o que só concorrem as sensações refinadas. Nesta fase da evolução, as sensações grosseiras são um mal. Como este, muitos exemplos análogos podem ser citados.

A alma ao se revestir de corpos sutis para reencarnar-se, irá, de acordo com as afinidades boas ou más desses corpos, e de conformidade com os laços cármicos contraídos em vidas anteriores, buscar o corpo físico numa família que lhe permita manifestar as qualidades necessárias e satisfazer aqueles laços. No decorrer dessa evolução da alma e do corpo, o ideal é atingir a perfeição dos veículos e a perfeição intelectual e moral.

O homem deve ter por alvo a perfeição física, intelectual e moral. O corpo deve ser bem tratado, pois é o tabernáculo do espírito; e o intelecto não deve ser desprezado sob pretexto de que só as qualidades morais, o altruísmo, a caridade, é que contribuem para a 'salvação'. (...)

(Alberto Lira - O ensinamento dos mahatmas - IBRASA, São Paulo, 1977 - p. 196/197)
www.ibrasa.com.br