OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

EXPLOSÃO DE SENTIMENTOS

"Às vezes é melhor convivermos com o possível,
entendendo nossas limitações, sem querermos além do que nos podem oferecer. E sem nos esquecer de que o que damos nem sempre é o bastante ou entendido como o melhor que podemos ofertar naquele instante. 

Sofremos pressões de vários lados e podemos de vez em quando estourar. É um aprendizado de humildade, de aceitação, de gratidão.

Às vezes falamos coisas que não gostaríamos de dizer, porque deixamos acumular sentimentos que não conseguimos expressar naturalmente, achando que eram 'feios'. 

Não devemos esconder quem somos, mas agir com ética e dignidade. Acolher nossas limitações, olhar para elas com amorosidade. 

Já passamos por tantas coisas! Há tantos resquícios ainda não identificados em nós. Sonhamos com tantas melhorias. Mas há tanto por fazer e viver com nossas parcerias!

Vamos continuar tentando, pois também somos um poço de amor. Saibamos explorá-lo.

Não vamos deixar o orgulho, a vaidade e o egoísmo tomarem conta de nós. É nosso dever reconhecermos nossas qualidades e colocá-las em prática, de acordo com o propósito maior de nossa vida. 

Paciência, perseverança, aceitação, compreensão. E, compaixão - por que não?!

Tenhamos sempre um gesto de carinho com o outro... e para conosco.

Merecemos, podemos.

Vamos!"

Fernando Mansur, A Alma em Fragmentos, Teosofia em Gotas, p. 47.
Imagem: Pinterest.
 

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

EGOÍSMO

"EGOÍSMO, primogênito da Ignorância e fruto do ensinamento que afirma que para cada recém-nascido é 'criada' uma alma nova, separada e distinta da Alma do Universo - este Egoísmo é o muro intransponível entre o Eu pessoal e a Verdade. É a mãe prolífica de todos os vícios humanos, a Mentira que nasce da necessidade de simular, e a Hipocrisia do desejo de mascarar a Mentira. É o fungo que cresce e se fortalece com o tempo no coração de cada ser humano, do qual devorou todos os melhores sentimentos. O egoísmo mata todo impulso nobre em nossa natureza, e é a deidade única que não teme a deslealdade nem a deserção de seus devotos. Daí, vemos ele reinar supremo no mundo e na assim chamada sociedade elegante. Como resultado, vivemos. nos movemos e levamos nossa existência nessa deusa das sombras, sob seu trinitário aspecto da Hipocrisia, Fraude e Falsidade, chamada RESPEITABILIDADE."

É isto Verdade e Fato ou calúnia? Volte-se para onde quer que seja e verá, do alto até a parte mais baixa da escala social, engano e hipocrisia em funcionamento para o bem do querido Eu, em todas as nações, bem como em todo indivíduo. Mas as nações decidiram, por tácito acordo, que motivos egoístas na política devem ser chamados de 'nobres aspirações nacionais, patriotismo', etc.; e o cidadão vê isso em seu círculo familiar como 'virtude doméstica'. Não obstante, o Egoísmo, seja quando ele desperta desejo por engrandecimento de território ou competição no comércio às expensas do semelhante, jamais pode ser considerado uma virtude. (...)"

Coletânea de Textos de Helena Petrovna Blavatsky, Volume I, Ed. Teosófica, Brasília, 2022, p. 25/26.
Imagem: Pinterest.
   

terça-feira, 8 de novembro de 2022

O DESMONTE DO EU

"Jiddu Krishnamurti diz que somos todos indivíduos programados, condicionados. Quando crianças, aos assumirmos a consciência, por volta dos sete anos de idade, apresentam-nos um Deus a quem devemos adorar e render culto. Por termos nascido no Brasil, dentro de uma cultura cristã, aprendemos a amar e a adorar Jesus Cristo. Se tivéssemos nascido em algum país islâmico, adoraríamos a Alá e cresceríamos nos ritos do Islamismo. Inculcam, em nossas mentes, valores como família (pai, mãe, avós, tios, primos), a quem devemos prestigiar e respeitar profundamente; pátria e nação, à qual devemos adorar e amar como nossa torrão natal - mal sabemos que, neste culto egoísta de origem, está a raiz de todas as guerras.

Nesse processo 'educacional' está embutido o esforço de nossa modelagem segundo o padrão aceitável pela sociedade. Se não respondermos positivamente a esses padrões, corremos o risco de ser marginalizados. Desta forma, nossa mente incorpora procedimentos e 'verdades', que formam o conjunto que passamos a encarar como nosso verdadeiro eu.

Esta não é a natureza original com que nascemos, mas uma segunda natureza adquirida e modelada pela sociedade. Aí vem a pergunta: e o que isso nos torna? Torna-nos alienados de nós mesmos, de nossa verdadeira essência. Perdemos a nossa liberdade de ser. Passamos a ser autômatos responsivos, em comportamento, a padrões implantados em nossa mente. Prosseguimos a 'farsa de ser', alimentando conflitos, medos e frustrações.

Diplomados na 'educação para a vitória' pois desde crianças ensinam-nos a colocar a vitória como objetivo, em todos os nossos empreendimentos, tornamo-nos competitivos, os membros ideais para o sistema onde fomos educados e onde vivemos. Ora, se vencemos, que é o objetivo da educação, tem que haver pelo menos um vencido, não é? Se tem que existir um vencido, que não seja eu, mas que seja o outro, pois a palavra que passamos mais a repelir em nossas concepções chama-se 'fracasso'. Alimentamos, o tempo todo, o desejo animal em nós, e surpreendemo-nos, como sociedade organizada, quando esse animal sai do controle e mostra a sua cara.

Segundo Rohit Mehta, a nossa mente livre transita naturalmente por três estados (que são qualidades da matéria): Tamas, Rajas e Sattva (nomes em sânscrito). Tamas é aquele estado passivo e receptivo da mente, onde ela se coloca em posição de receber; Rajas é aquele ativo, dinâmico, onde ela é enérgica e agente; e Sattva é aquele estado de harmonia mental, onde a mente se realiza, se acalma.

O trânsito da mente por esses estados é um fluxo normal de energia, que flui livremente ao sabor das impressões que os sentidos captam do ambiente. Por força, entretanto, desses padrões existentes, que a educação inculca na mente, surge, no curso desse fluxo, vórtices de energia que interferem na corrente normal. Esses vórtices são, segundo Mehta, os Centros de Reação da mente, que aparecem em função de uma figura que nasce nessa troca do eu com o ambiente. Essa figura chama-se interpretador. O interpretador desfigura a impressão natural, e passamos a perceber as coisas objetivas não como elas são, mas como o interpretador quer que seja. É assim que nasce e incorpora-se, ao eu, a natureza objetiva do ser. Essa é a natureza responsável por todos os conflitos e desencontros humanos, por todos os medos, pelas dores, angústias e sofrimentos.

Na realidade, em função dela, não 'somos'; passamos a ser o que querem que sejamos."

(Ernani Eustáquio de Oliveira - O desmonte do eu - Revista Sophia, Ano 19, nº 92 - p.15)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 19 de julho de 2022

A ACEITAÇÃO DA NOSSA NATUREZA HUMANA IMPERFEITA

"Ser humano é ter defeitos e imperfeições. Todos nós cometemos erros, às vezes magoamos as pessoas que nos são mais próximas, e às vezes nos comportamos muito mal. No entanto, essa simples verdade parece-nos muito difícil de aceitar. 

Quando me conscientizo de que magoei minha filha por causa de um diálogo descuidado, eu me encolho por dentro, como que tentando me defender da dor que é parte inevitável da consciência de meus atos. Temos uma relutância ainda maior em aceitar as mensagens sobre os nossos defeitos vindas de outras pessoas. Imediatamente erguemos defesas, como se estivéssemos sendo fisicamente atacados. Na verdade, a reação fisiológica de defesa lutar/fugir, adequada a situções nas quais existe uma ameaça imediata de dano corporal direto, é usada para proteger a autoimagem idealizada, que precisa ter a aparênciade certa e boa, e não de errada e má. Esquivamo-nos de encarar nossos erros e defeitos porque eles são uma parte dolorosa, embora inevitável, de quem somos. Somente quando contenho o perfeccionismo é que consigo sentir a simples tristeza de ter magoado minha filha. Respiro profundamente afrouxo as defesas automáticas e sinto a simples dor. Somente assim consigo perdoar. Atinjo um nível mais profundo de autoaceitação.

Quando negamos nossos defeitos, nosso egoísmo, ficamos enredados na tentativa de parecer melhores do que somos e afastar a culpa pelas nossas dificuldades. 'Não foi culpa minha' é a primeira coisa que a criança em nós grita sempre que confrontamos com nossos erros. Quando acontece alguma coisa desagradável, respondemos internamente como a criancinha que ouve a voz da mãe chamando por ela depois que um terremoto abalou a casa. Sua primeira resposta é: 'Não fui eu, mamãe.' A criança dentro de nós tem medo de reconhecer que possuir qualidades más ou imperfeitas signifiquem que ela é unicamente má, ou que, sendo tremendamente má, ela será julgada ou rejeitada pelos 'outros' pais que, imaginamos, são responsáveis pelo nosso bem-estar. 

Por medo do eu imperfeito, criamos um eu máscara, um eu idealizado, o eu que pensamos que deveríamos ser, em vez de admitir que somos seres humanos imperfeitos. Todos nós respondemos prontamente 'vou bem' quando nos cumprimentam, por maior que seja a nossa depressão, por causa da crítica que o chefe acabou de nos fazer, ou a alegria por um recente sucesso profissional. Asseguramos prontamente a nós mesmos e aos outros que 'eu estou bem, sou competente, posso dar um jeito', por maiores que sejam a carência ou a infelicidade verdadeiras. Fui uma criança de desempenho acima do normal, ansiosa por parecer sempre inteligente e competente, conquistar o amor e garantir a aprovação de meu pai. Essa máscara continua aparecendo na adulta que sou sempre que me vejo 'agindo corretamente' e, portando, sendo melhor que os outros; por exemplo, quando cato o lixo que os outros jogam na estrada. 

Seja qual for a máscara criada - o bom menino, a boa menina, a mulher ou o homem poderoso, o aluno aplicado ou o professor confiante, a criança carente ou o adulto competente, o pesquisador ingênuo ou o cético experiente - ela é uma tentativa de nos colocarmos num plano acima dos defeitos e da dor, de negar nossa mediocridade e pequenez. Criamos uma máscara sempre que tentamos nos apresentar como pessoa mais amorosa ou poderosa, mais competentes ou carentes, mais compassivas ou céticas do que realmente somos naquele momento.

A fuga à experiência verdadeira do momento representa um enorme desperdício de energia que pode ser recuperada pelo simples ato de decidir aceitar-nos como realmente somos, em cada momento. Essa autoaceitação implica a compreensão da necessidade da máscara, criada para que a criança dentro de nós pudesse formar uma persona aceitável quando a autoestima parecia estar frágil ou ameaçada. 

À medida que aprofundamos o compromisso de ser honestos com nós mesmos e com os outros, criamos uma base mais sólida para a autoestima. Fazer um bom conceito de si mesmo passa a não depender mais de atender às exigências irrealistas de uma máscara perfeccionista; ao contrário, seu fundamento é a coragem de encarar a realidade humana imperfeita atual. O imenso potencial humano que temos só pode ser realmente nosso depois que ousamos ser exatamente e exclusivamente quem somos em cada momento, por mais mesquinha ou assustadora, grandiosa ou sagrada que seja a realidade temporária.

'Se você não aspirar a ser mais do que é, jamais ousará ser tudo o que você é.' Essas palavras, que me foram ditas há anos pelo Guia do Pathwork, continuam a me orientar."

(Susan Thesenga - O Eu Sem Defesas - Ed. Pensamento-Cultrix, São Paulo, 2015 - p. 25/26)
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quinta-feira, 7 de abril de 2022

A MENTE APRENDIZ

"Toda ação pode ser realizada de maneira egoísta ou não. O ego não está na ação, mas na maneira como a abordamos. Minha casa não cria o ego em mim; minha abordagem a ela, sim. Estou criando o ego de momento a momento, e devo perguntar se está claro que o ego é o maior inimigo do homem, um fator de discórdia na vida. A busca religiosa, ou o caminho, significa observar a operação do ego na consciência, assim como suas consequências. Quando vejo o perigo, ele termina. Não tenho que acabar com ele, assim como não tenho que resistir ao desejo de colocar a mão no fogo. Não há conflito quando o perigo é percebido com clareza, mas nós não compreendemos o perigo do egocentrismo. Acreditamos que o egoísmo nos benefici
ará, quando na verdade ele destrói a alegria em nossa vida.

Toda virtude pode se transformar num vício, se o ego se aliar a ela. O amor com ego torna-se possessividade; um inocente anseio torna-se compulsão; a humildade torna-se servilismo. Nosso verdadeiro inimigo é o ego.  Mas, exatamente porque o criamos, temos a possibilidade de 'descriá-lo'. Podemos parar de criar ilusões em nossa mente. Por isso existe a busca religiosa, a filosofia da libertação da mente.

Os Upanishades falam de dois pássaros numa árvore: o primeiro belisca e prova o fruto, representando o ego que experimenta prazer e dor. O segundo apenas observa o que o outro faz. A consciência humana é esses dois pássaros em um. O primeiro está no plano do esforço, da luta, da frustração, do conhecimento. A verdadeira transformação da consciência, a percepção da verdade, está no outro plano: observação, atenção, reflexão, percepção. Permanecer atento, sem jamais bloquear a energia do segundo plano, é a exigência do caminho. A investigação religiosa deve ser livre do ego. E o fim do ego não está no final da estrado - está no início. 'Quando o ego não está, o amor está', disse Krishnamurti. 

Às vezes, quando abordamos as coisas de modo não egoísta, o ego não está presente; não o estamos criando o tempo todo. Ele não pode desaparecer pelo esforço, porque esforço implica realização, e essa é a essência do ego. Se estou praticando yoga ou meditação através de esforço, o ego está preso a isso. Ele pode gostar de seguir adiante no caminho. Portanto, não há caminho para pôr fim ao ego. Somente a percepção acabará com ele, e isso requer uma mente aprendiz. 

A mente aprendiz sabe que não sabe. Se ela pensa que já sabe e que deve convencer os outros de seu ponto de vista, ela não está aprendendo, está ocupada ensinando. Pode não haver algo como ensino ou guru nesse campo. Pode haver apenas aprendizado. A humildade que surge da percepção de que 'eu não sei' é parte essencial da mente aprendiz, que ouve, observa e reflete, porque está ansiosa por aprender. Portanto, o caminho tem origem no terreno do não saber. Não é um caminho rumo a uma meta fixa, porque eu não conheço a meta. Ele leva ao desconhecido. Devo apenas limpar as teias de aranha, eliminar as distorções da mente e ver a verdade. 

A questão não é se existe um caminho ou não. Uma opinião sobre isso apenas nos dividirá. Devemos compreender por nós mesmos quais são as implicações, as nuances, as sutilezas, a verdade. Devemos permanecer com essa questão para aprender com ela, sem formar opiniões. Talvez haja um caminho, se eu o compreendo de maneira correta; contudo, talvez não haja, se eu o defino de maneira superficial, como algo a ser trilhado no tempo, como uma meta a ser atingida.

O problema não é no que eu acredito ou não; isso é superficialidade. O problema não é alguém ser budista, cristão ou hindu, ser superficialmente budista, hindu ou teosofista. Um dos objetivos da Sociedade Teosófica é a fraternidade universal - será isso apenas uma nobre ideia, uma crença, ou a verdade? Estará a divisão entre os seres humanos surgindo da ilusão? Crenças e ideais não são fato. A fraternidade universal não é um ideal a ser atingido, e um fato a ser percebido. Enquanto não o percebermos por nós mesmos, decidir ser fraternos torna-se hipocrisia. É como decidir amar; não é questão de escolha. Você não consegue transformar sua consciência através da volição; portanto, não existe um caminho mecânico que você pode decidir trilhar. A não ser que a mente seja uma mente aprendiz, não  base para o caminho.  

O caminho é muito sutil, e aí reside também a sua beleza - um desafio para o ser humano. O animal não é capaz de atingi-lo, nem o caminho exige isso, mas na consciência humana há enorme potencial para ser egoísta e destrutivo. É por isso que toda a questão do que é o correto viver e do que é moral ou imoral surge apenas para os seres humanos. A busca religiosa, significa descobrir o estado de harmonia com a ordem da natureza. Somos parte dela, que tem uma ordem tremenda. Essa ordem deve ampliar dentro de nossa consciência; devemos aprender a dar fim à desordem na consciência. Então haverá uma ordem que não é criada por mim - a ordem da natureza."

(P. Krishna - Um caminho para a verdade - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 24/25)
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terça-feira, 22 de março de 2022

O SER NADA QUER

"Muitas das análises divulgadas a respeito do estado em que se encontra o mundo frequentemente apontam para certos fatores predominantes, como a flutuação da economia dos países ricos, a instabilidade política em muitos países pobres, o crescimento do fundamentalismo religioso, os riscos ambientais de todo tipo e os conflitos armados que desalojaram centenas de milhares de pessoas de seus lares e de seus países. 

Isso certamente seria interpretado como invulgar, para dizer o mínimo, se quiséssemos sugerir aos mesmos analistas que a principal causa subjacente aos problemas enfrentados pelo mundo é a falta de autoconhecimento, tanto no indivíduo quanto no nível social, uma vez que o autoconhecimento não é uma categoria mensurável capaz de ser analisada. Mas as mensagens dos grandes instrutores espirituais do mundo em todas as idades parecem indicar que a falta de autoconhecimento é verdadeiramente a causa de muitas dores, tanto para os seres humanos individuais quanto para a humanidade como um todo.

É a falta de autoconhecimento que cria na mente falsas necessidades e expectativas de todos os tipos - o desejo de reconhecimento, de afeto, de subjugar e dominar os outros, de exercer controle sobre uma situação ou pessoa, para mencionar apenas algumas. Em outras palavras, a falta de autoconhecimento gera uma das principais causas de problemas no mundo: o egoísmo, que em alguns livros de instrução espiritual é comparado a uma gigantesca erva daninha que impede o desabrochar e o florescimento de nossa natureza mais profunda e verdadeira - a alma espiritual que reside profundamente dentro de nossa consciência, cuja essência é genuína felicidade e sabedoria. 

O egoísmo está sempre impelindo a mente a buscar, a querer e alcançar algo sem necessariamente fazer com que a mente se certifique se os objetos buscados correspondem a necessidades reais ou imaginárias. Por exemplo, administrar os próprios recursos financeiros de maneira sábia é um das mais importantes necessidades na vida. Mas estar sempre procurando a melhor maneira de aumentar a própria riqueza é certamente uma necessidade imaginária. Há coisas mais importantes do que acumular riqueza, mas muitas pessoas passam a maior parte de suas vidas fazendo isso, porque é o que dita o autointeresse. 

Buda, um dos grandes instrutores espirituais do mundo, conseguiu ver isso com a máxima clareza e consequentemente compreendeu o fato de que a causa do sofrimento é tanhâ, sede, desejo, avidez, anelo. A palavra sede é importante porque denota uma busca contínua de experiências e sensações, nenhuma das quais é verdadeiramente satisfatória e completa, pois após cada contato e experiência a sede reaparece, às vezes até mesmo mais forte do que antes. O falecido Walpola Rahula, eminente estudioso budista do Sri Lanka, em seu livro What the Buddha Taught, fez uma afirmação bastante aguçada sobre isso: 'Essa sede tem como centro a falsa ideia do eu elevando-se para fora da ignorância.' A mente, sob a oscilação do interesse próprio, cria para si um falso senso de identidade - um falso eu - que perpetua tanto o sofrimento quanto a ignorância." 

(Pedro Oliveira - O ser nada quer - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 15/16)
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quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

COMPAIXÃO PARA UMA VIDA MELHOR

"Nós fazemos o melhor possível para viver num mundo baseado em gentileza e compaixão. No entanto, às vezes, o que eu pessoalmente gostaria torna-se mais importante do que aquilo que é bom para a comunidade.

Na religião, na filosofia, na ciência ou na política, onde quer que haja uma sociedade humana, ela manifesta sabedoria e compaixão. Porém, devido à nossa tendência ao egoísmo, a valorizar nossos gostos e aversões, nós nos isolamos dos outros. Não permitimos que a abertura entre seres humanos se expresse por causa de duas coisas fundamentais: esperança e medo. Todos nós queremos a felicidade e ninguém deseja sofrer. Assim, cada ação é motivada pela esperança de ser feliz e de evitar a dor; desenvolvemos uma atitude muito egoísta. 

Todas as filosofias e religiões do mundo almejam pôr abaixo a muralha do autoisolamento, para que possamos trabalhar uns com os outros com verdadeiro cuidado e compaixão. Do ponto de vista budista, examinamos a nós mesmos cuidadosamente - não para nos culpar por criar divisão, mas como um modo de trabalhar a principal causa do problema. 

O problema não está no mundo, ou nos outros, mas em nós. A sabedoria é inata em nós, mas nosso envolvimento com o ambiente e a distração de nossas emoções causa um obscurecimento que impede a auto-observação. Não nos damos tempo e espaço suficientes para usar nossa sabedoria e nos observamos antes de agir. 

No entanto, por meio da meditação ou da autoanálise, a sabedoria pode surgir no nosso interior. Meditação é um processo de olhar para dentro, de refrear a tendência dualista de prestar mais atenção às questões externas do que às internas, com as quais não queremos lidar.

Uma sociedade baseada na paz, na harmonia, na sabedoria e na compaixão não vai surgir a não ser que cada pessoa comece consigo mesma. Com nosso fracasso em usar a sabedoria inata, damos desculpas para não começar com nós mesmos. A maior desculpa é que precisamos que a outra pessoa mude primeiro. Se as coisas não acontecem de maneira como eu quero, a culpa é do outro. 

As percepções do mundo externo têm muito a ver com nossa atitude interior. A mente cria desculpas que refletem o que sentimos. Quando vemos uma pessoa e ela faz algo de que gostamos, então ela é uma boa pessoa. Mas se a mesma pessoa faz algo de que não gostamos, ela é uma pessoa ruim. Portanto, a transformação do mundo externo deve começar com a transformação interior. Somente quando o eu é subjugado, e quando uma boa percepção surge, é que temos força para nos relacionar da maneira apropriada com os outros.

O coração é basicamente bom, generoso e compassivo, mas não necessariamente atua com sabedoria. Temos muitas pessoas prontas para agir em prol de um mundo melhor, mas que ainda veem a filosofia, a religião e a política segundo o que elas gostam e querem. 

A realização da sabedoria interior em cada ser humano deve começar com o treinamento do eu. A ignorância não é algo que vem dos outros; ela vem da projeção do eu. Na filosofia budista falamos muito a respeito de ilusão - como a mente cria fenômenos externos que passamos a ver como sólidos e permanentes. Na meditação nós avaliamos a natureza onírica dos fenômenos externos. O primeiro passo é entender como surge a ilusão - como a mente atua para criar e solidificar o mundo. Se pudermos abrir mão de apego à ilusão, estaremos livres da dor, das expectativas, das esperanças e dos medos."

(Khandro Rinpoche - Compaixão para uma vida melhor - Revista Sophia, Ano 15, nª 70 - p. 9)
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quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A MORTE NO MUNDO MODERNO (1ª Parte)

"Quando vim pela primeira vez ao Ocidente, fiquei chocado com o contraste entre as atitudes em relação à morte com que eu havia sido criado e as que então encontrei. Apesar de todas as suas conquistas tecnológicas, a sociedade ocidental moderna não tem uma compreensão real da morte ou do que acontece durante ou depois dela.

Aprendi que as pessoas hoje são ensinadas a negar a morte e a crer que ela nada significa, a não ser aniquilação e perda. Isso quer dizer que a maior parte do mundo vive negando a morte ou aterrorizado por ela. Até falar da morte é considerado mórbido, e muitos acham que fazer uma simples menção a ela pode atraí-la sobre si. 

Outros olham a morte de modo ingênuo, com uma jovialidade irrefletida, achando que por alguma razão desconhecida vão se sair bem ao passar por ela, não havendo motivo para preocupação. Quando penso neles lembro-me do que diz um mestre tibetano: 'As pessoas frequentemente cometem o erro de ser frívolas em relação à morte e pensam: 'Ora a morte chega para todo mundo. Não é nada de mais, é apenas natural. Tudo irá bem para mim'. Essa é uma bela teoria, até que se esteja morrendo'.²

Dessas duas atitudes diante da morte, uma a vê como algo de que se deve fugir correndo, outra como um fato que simplesmente irá cuidar de si próprio. Como ambas estão distantes da compreensão do seu verdadeiro significado!

Todas as grandes tradições espirituais do mundo, inclusive, é claro, o cristianismo, dizem explicitamente que a morte não é o fim. Todas falam em algum tipo de vida futura, o que infunde em nossa vida atual um sentido sagrado. Mas, não obstante esses ensinamentos, a sociedade moderna é em larga escala um deserto espiritual em que a maioria imagina que esta vida é tudo o que existe. Sem qualquer fé autêntica numa vida futura, a maioria das pessoas vive toda a sua existência destituída de um sentido supremo.

Cheguei a conclusão de que os efeitos desastrosos da negação da morte vão muito além da esfera individual; eles afetam o planeta inteiro. Crendo basicamente que esta vida é a única, as pessoas do mundo moderno não desenvolveram uma visão a longo prazo. Assim, nada as refreia de saquear o planeta em que vivem para atingir suas metas imediatas, e agem com um egoísmo que pode tornar-se fatal no futuro. (...)"

². Chagdud Tulku Rinpoche. Life in Relation to Death (Cottage Grove, OR: Padma Publishing, 1987), 7. [Traduzido para o português sob o título Vida e Morte no Budismo Tibetano (Porto Alegre: Paramita, 1994).]

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 24/25


quinta-feira, 1 de abril de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 4a (PARTE FINAL)

"(...) Poucos têm a coragem, ainda que lentamente, de enfrentar a grande desolação que se encontra fora deles mesmos, e lá repousar, enquanto apegam-se à pessoa que representam, o 'eu' que para eles é o centro do mundo, a causa de toda a vida. Em seu anseio por um deus, eles encontram a razão da existência de um; no desejo por um corpo sensorial e um mundo para desfrutar, a causa do Universo existe para eles. Essas crenças podem estar ocultas muito abaixo da superfície e, de fato, de difícil acesso; mas a razão pela qual o ser humano se mantém em pé, está no fato de que as crenças lá se encontram. Ele é, para si mesmo, o infinito e o deus; sustenta o oceano em uma taça. Nesta ilusão ele nutre o egoísmo que torna a vida prazerosa e a dor agradável. Nesse profundo egoísmo está a causa e a fonte da existência do prazer e da dor, pois a menos que o indivíduo vacilasse entre estes dois, e incessantemente lembrasse a si mesmo, pela sensação, de que o egoísmo existe, ele o esqueceria. E, nesse fato, está toda a resposta à pergunta: 'Por que o homem cria dor para seu próprio desconforto?'

O fato estranho e misterioso permanece, até então, inexplicável; ao se iludir, o ser humano meramente interpreta a Natureza ao contrário e atribui a significação da vida às palavras de morte. Para aquele indivíduo que realmente segura o infinito dentro de si, e que o oceano realmente está na taça, é uma verdade incontestável; mas unicamente é assim, porque a taça é absolutamente inexistente. É meramente uma experiência do infinito, impermanente, sujeita a ser destroçada a qualquer instante.

É na reivindicação da realidade e da permanência dos quatro muros de sua personalidade que o ser humano comete o grande erro, mergulhando numa série prolongada de incidentes infelizes e intensificando continuamente a existência de suas formas favoritas de sensação. Prazer e dor se tornam para ele mais reais do que o grande oceano do qual ele faz parte e onde encontra seu lar; perpétua e dolorosamente bate contra esse muros, nos quais sente, e seu eu mesquinho oscila dentro de sua prisão escolhida." 

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 102/104)
www.editorateosofica.com.br 


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O QUE É RETA AÇÃO?


"Os budistas, de um ponto de vista puramente técnico, não podem pertencer a nenhum exército. O exército é liderado por pessoas com seus próprios motivos para criar uma guerra ou para produzir tensão. Os oficiais, soldados e quem quer que esteja preso nisso faz o que lhe é ordenado, sem questionar os objetivos. Por isso, uma pessoa que quer viver a vida espiritual, ou um correto tipo de vida, não entraria para o exército.

Muitas pessoas dirão que não é assim. O Bhagavad-Gita, por exemplo, diz: 'Continue a lutar, Arjuna.' Mas essas palavras se referem a lutar no nível físico, ou será que todo o Gita tem um significado diferente?

Milhões de pessoas estão engajadas em negócios ligados à guerra. A fabricação de armas é apenas um deles. Há mais cientistas trabalhando nesse comércio do que em propósitos pacíficos. Isso deve ser levado em consideração por todo aquele que queira trilhar o caminho espiritual: será que você quer se engajar em atividades que prejudicam os outros?

É bastante comum encontrar pessoas bebendo álcool. Isso quer dizer que muitas outras pessoas estão engajadas neste negócio, preparando a bebida e vendendo-a. Muitas coisas são produzidas sem levar em consideração o fato de que afetam a vida dos outros. Quando compramos algo de uma loja, o produto pode parecer bom, mas a história por trás de alguns produtos pode não ser boa. Animais são usados para experimentos cientifícos e para testar produtos de beleza. Será que nós somos cuidadosos a respeito daquilo que compramos? Ou compramos coisas que afetam as vidas inocentes de outras criaturas?

Os Estados Unidos cuidam para que nenhum dano seja causado aos seres humanos, mas, para garantir isso, atos horríveis são praticados contra outras criaturas vivas. Felizmente, na Inglaterra e em outros países europeus muitos experimentos com animais foram abandonados e substituídos por métodos mais humanitários. É possível descobrir se uma droga ou outro produto é útil ou não por meios que não causem danos aos animais, sem maltratar milhares de criaturas em nome do que chamamos de 'progresso'.

Se formos verdadeiros e éticos, usando nosso desenvolvimento interior, podemos compreender o que é útil e o que não é. Obviamente matar ou maltratar não são corretos meios de ganhar a vida. Mentir também não. A reta conduta não é fácil, mas um dos primeiros passos nesse caminho é jamais se envolver em más ações. Conforme Buda ensinou, quanto menos dano é causado, melhor.

A conduta está ligada à ideia do que é certo e errado. Muitas pessoas que praticam crueldades não são más, mas foram colocadas em situações em que sentem que precisam sacrificar os escrúpulos. Se o ser humano é superior às outras criaturas é uma questão importante sobre a qual cada um de nós deve ter clareza. Todas as coisas estão crescendo, e mais cedo ou mais tarde alcançarão o estágio humano.

Nossas vidas verdadeiramente afetam a vida dos outros seres. Eles também são ajudados pelo modo como nós nos comportamos. Ser mais atencioso, gentil e compassivo e menos egoísta pode produzir uma mudança em direção a uma sociedade menos brutal."

(Radha Burnier - O que é reta ação? - Revista Sophia, Ano 16, mº 73 - p. 43)


terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

PEREGRINOS NO CAMINHO

Resultado de imagem para peregrino no caminho"'Dá  luz e conforto ao cansado peregrino, e procura aquele que sabe ainda menos do que tu.' Com estas palavras A Voz do Silêncio instrui o aprendiz na senda espiritual a agir positivamente em auxílio de seus irmãos e irmãs. Todos somos peregrinos, movendo-nos consciente ou inconscientemente rumo à meta da vida unificada. Mas aos poucos, aqueles que estão despertos para o seu próprio desenvolvimento e o da humanidade, nesta peregrinação, têm tanto o privilégio quanto a responsabilidade da obediência a uma regra mais exigente. 

'Dá luz...'  Para consegui-lo, devemos ter luz para dar. A Tradição-Sabedoria afirma que a luz está no interior, seu brilho aguardando apenas a remoção dos obscurecedores véus da ignorância e do egoísmo. Como eles são dissolvidos lentamente pelo conhecimento e o aumento do altruísmo, a luz começa a se mostrar na ação compassiva, num vivo interesse nas crenças, necessidades e interesses dos outros, no compartilhamento de nossos modestos insights quanto a verdade. 

'Se tu sabes, é teu dever ajudar outros a saberem.' Mas ouve-se a reclamação: não sei o suficiente. Aqui está um daqueles termos incompletos ignorado pelo especialista em lógica por ser destituído de significado genuíno. Suficiente para quê? A instrução diz: 'Procura aquele que sabe ainda menos do que tu', e, para isso, não há quem não saiba o suficiente. 

A vontade de ajudar, de aprender para ajudar, o amor que libera a vontade, tudo isso nos permite dar nossa pequena luz àqueles que têm ainda menos. Estamos cercados de pessoas que não compreendem o propósito da vida, a grande lei que leva à retidão, a oportunidade perene e a certeza da realização última, o significado da imortalidade e o fenômeno recorrente do nascimento e da morte. Mas nós devemos estudar para compreender essas coisas, se quisermos ajudar os outros a também compreender.

'...e conforto...'  Uma lanterna em frente aos olhos traz uma luz dolorosa. Em vez de mostrar o caminho, ela impossibilita vê-lo. A mesma luz, projetada e direcionada para a senda à frente, parece muito menos clara, mas permite um avanço firme. O mesmo se dá com a luz da Tradição-Sabedoria. Lançada imprudentemente no rosto do peregrino que ainda está tateando no caminho rumo à verdade, torna-se um motivo de tropeços e um obstáculo ao progresso.

Acompanhando a insistência sobre o dever de compartilhar o conhecimento, o estudante teosófico encontra forte oposição ao proselitismo ou qualquer tentativa para controlar os pensamentos dos outros pela alegação de autoridade. A luz deve ser oferecida, não imposta, e deve ser modificada a tal ponto que auxilie o viajente ao longo de seu próprio caminho. Oferecer-lhe a luz que seus olhos podem ver exige que o pretenso ajudante penetre compreensivamente a experiência do outro, busque compreender suas necessidades e o tipo de inspiração à qual ele consegue responder. Paulo, em sua sabedoiria, tornou-se todas as coisas para todos os homens, para que eles pudessem encontrar, em seus próprios caminhos, em seus próprios eus, a luz que ilumina cada homem."

(Ianthe Hoskins - Peregrino no caminho - Revista Sophia, Ano 16, nº 76 - p. 9)


terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A LÍNGUA DOS HOMENS

Resultado de imagem para A LÍNGUA DOS HOMENS"De uma maneira geral, pode-se dizer que existem três diferentes formas de amor. Cada uma representa um diferente momento na evolução das pessoas desde a infância até a idade adulta.

O amor infantil é um amor carente. O bebê ama seus pais, ou aqueles que dele cuidam porque deles recebe os cuidados que necessita. Esta forma de amor, que podemos chamar de amor egoísta, é a única ao alcance das crianças e também daqueles que ainda não evoluíram de uma situação emocional infantil.

A partir da adolescência já é possível desenvolver uma forma de amor que se manifesta sob uma perspectiva de troca. Assim, não apenas amamos a quem nos ama, mas nos tornamos capazes de oferecer à pessoa amada uma retribuição de amor. Do amor egoísta, o jovem evolui para a possibilidade de também ser capaz de dar.

Mas é o amor desinteressado, aquele que geralmente surge quando nascem os filhos, que culmina o desenvolvimento do sentimento de amor. É quando se ama independentemente da retribuição a ser recebida, quando a recompensa do amor vem do próprio prazer do sentimento generoso se desenvolvendo dentro de nós. E o elemento fundamental para o crescimento da capacidade de amar é a autoestima, pois é a partir dela que encontramos o alicerce para praticar o preceito de amar ao próximo 'como a si mesmo'.

A evolução da capacidade de amar é uma medida bastante precisa do desenvolvimento espiritual de  uma pessoa. Podemos observar se este comportamento se caracteriza pelo egoísmo, ou pela proposta de troca, pela generosidade desinteressada.

Nosso desenvolvimento espiritual depende de nossa capacidade de amar desinteressada e generosamente, pois apenas assim podemos praticar a caridade, sem a qual nada somos, nada valemos. Como disse São Paulo, na 'Primeira Epístola aos Coríntios', talvez o mais belo texto escrito sobre a caridade: 'Ainda que eu não fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver caridade não serei mais que bronze que soa ou címbalo que retine (...) se não tiver caridade, nada disse me aproveitará.'"

(Luiz Alberto Py - Olhar Acima do Horizonte - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2002 - p. 11/12)


quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A CRIANÇA QUER AMOR EXCLUSIVO

Resultado de imagem para A CRIANÇA QUER felicidade"A criança entra em contato com um ambiente mais ou menos imperfeito que traz à tona os seus problemas interiores. A criança em sua ignorância anseia por um amor exclusivo que não é humanamente possível. O amor que ela quer é egoísta; ela não quer dividir amor com outros, com irmãos e irmãs ou mesmo com um dos pais. A criança com frequência tem ciúmes de ambos os pais. Contudo, se os pais não se amam, a criança sofre ainda mais.

Assim, o primeiro conflito surge de dois desejos opostos. Por um lado, a criança deseja o amor de ambos os pais exclusivamente; por outro lado, ela sofre se os pais não se amam. Uma vez que a capacidade de amor de qualquer pai ou mãe é imperfeita, a criança não compreende que apesar da imperfeição a maioria dos pais é ainda assim plenamente capaz de amar mais de uma pessoa. Todavia, a criança se sente rejeitada e excluída se o pai ou a mãe também amam a outros. Em resumo, os anseios da criança jamais podem ser satisfeitos. Ademais, sempre que esta é impedida de ter as coisas à sua maneira, ela toma esse fato como uma 'prova' adicional de que não é amada suficientemente.

Essa frustração faz com que a crinaça sinta-se rejeitada, o que, por sua vez, causa ódio, ressentimento, hostilidade e agressão. Essa é a segunda parte do círculo vicioso. A necessidade de amor que não pode ser satisfeita gera ódio e hostilidade em relação às mesmas pessoas a quem mais se ama. Falando de modo geral, esse é o segundo conflito do ser humano em crescimento. Se a criança odiasse alguém a quem ela não amasse ao mesmo tempo, se ela amasse à sua própria maneira e não desejasse amor em retorno, tal conflito não poderia surgir.

O fato de existir ódio pela própria pessoa que se ama muito cria um importante conflito na psique humana. É óbvio que a criança sente-se envergonhada dessas emoções negativas e portanto coloca esse conflito no inconsciente, onde ele se torna como que uma infecção. O ódio causa culpa porque a criança é ensinada desde cedo que é mau, errado e pecaminoso odiar, particularmente os próprios pais, a quem se deve amar e honrar. É essa culpa, vivendo sempre no inconsciente, que na personalidade adulta causa toda a sorte de conflitos internos e externos. Além do mais, as pessoas não têm consciência das raízes desses conflitos até que decidam descobrir o que está oculto no seu subconsciente."

(Eva Pierrakos e Donovan Thesenga - Não Temas o Mal, Ed. Pensamento-Cultrix Ltda., São Paulo, 2006 - p.63/64)


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

DEUS NÃO É INJUSTO

Resultado de imagem para flores de deus"Se, para achar os seus defeitos, vocês fazem metade do esforço que comumente despendem achando os defeitos dos outros, vocês verão a ligação com a lei de causa e efeito e só isso os libertará, mostrando a vocês mesmos que não existe injustiça. Só isso lhes será a prova de que não é Deus, nem o destino, tampouco uma ordem injusta no mundo em que vocês tem de sofrer as consequências das limitações das outras pessoas, mas a ignorância, o medo, o orgulho e o egoísmo de vocês que direta ou indiretamente causarão aquilo que pareceu, até aqui, entrar no caminho de vocês sem que vocês nada fizessem para tanto. Descubram esse elo oculto e verão a verdade. Então compreenderão que vocês não são vítimas das circunstâncias nem da imperfeição dos outros, mas são realmente os que criam a própria vida. As emoções são forças criativas de grande efeito, porque o inconsciente de vocês afeta o da outra pessoa. Essa verdade talvez seja a mais importante para a descoberta de como vocês provocam os acontecimentos, quer bons, quer maus, favoráveis ou desfavoráveis da vida.

Depois que vocês passam por essa experiência, podem acabar com a imagem que têm de Deus independentemente de vocês terem medo de Deus, porque acreditam que vivem num mundo de injustiça e receiam tornar-se vítima das circunstâncias sobre as quais não têm controle, ou de rejeitarem a responsabilidade e ficarem à espera de um Deus flexível que os mime, que lhes oriente a vida, tome decisões por vocês, os poupem de dificuldades que vocês mesmos criam. A compreensão de como vocês são a causa dos efeitos da vida de vocês acabará com essa imagem de Deus. Isso constitui um dos momentos decisivos da vida de vocês.

Só esse momento lhes facultará o reconhecimento de que vocês não são vítimas; de que têm poder sobre a vida; de que são livres e de que essas leis de Deus são infinitamente boas, sábias, amáveis e seguras! Elas não visam transformá-los em fantoches, mas fazer de vocês pessoas totalmente livres e independentes."

(Eva Pierrakos, Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 2010 - p. 53/54)

terça-feira, 24 de setembro de 2019

DEUS NÃO É INJUSTO

"Se, para achar os seus defeitos, vocês fazem metade do esforço que comumente despendem achando os defeitos dos outros, vocês verão a ligação com a lei de causa e efeito e só isso os libertará, mostrando a vocês mesmos que não existe injustiça.  Só isso lhes será a prova de que não é Deus, nem o destino, tampouco uma ordem injusta no mundo em que vocês tem de sofrer as consequências das limitações das outras pessoas, mas a ignorância, o medo, o orgulho e o egoísmo de vocês que direta ou indiretamente causarão aquilo que pareceu, até aqui, entrar no caminho de vocês sem que vocês nada fizessem para tanto. Descubram esse elo oculto e verão a verdade. Então compreenderão que vocês não são vítimas das circunstâncias nem da imperfeição dos outros, mas são realmente os que criaram a própria vida. As emoções são forças criativas de grande efeito, porque o inconsciente de vocês afeta o da outra pessoa. Essa verdade talvez seja a mais importante para a descoberta  de como vocês provocam os acontecimentos, quer bons, quer maus, favoráveis ou desfavoráveis da vida. 

Depois que vocês passam por essa experiência, podem acabar com a imagem que têm de Deus independentemente de vocês terem medo de Deus, porque acreditam que vivem num mundo de injustiça e receiam tornar-se vítima das circunstâncias sobre as quais não têm controle, ou de rejeitarem a responsabilidade e ficarem à espera de um Deus flexível que os mime, que lhes oriente a vida, tome decisões por vocês, os poupem de dificuldades que vocês mesmos criam. A compreensão de como vocês são a causa dos efeitos da vida de vocês acabará com essas imagens de Deus. Isso constitui um dos momentos decisivos na vida de vocês. 

Só esse momento lhes facultará o reconhecimento de que vocês não são vítimas; de que têm poder sobre a vida; de que são livres e de que essas leis de Deus são infinitamente boas, sábias, amáveis e seguras! Elas não visam transformá-los em fantoches, mas fazer de vocês pessoas totalmente livres e independentes."

(Eva Pierrakos/Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 1997 - p,54/55)


quinta-feira, 22 de agosto de 2019

EGOÍSMO

"É nosso ego ofendido, ferido, ressentido que nos faz curtir dias, semanas, meses e anos, a vida inteira, neuroticamente padecendo, remoendo, carregando cargas tóxicas de pensamentos e desejos de vingança, que nos envenenam e nos tornam incapazes para viver em paz, alegres, sadios e felizes.

É nosso ego frustrado que nos acorrenta às costas imensas cargas de amarguras e ódio...

Não são bem as outras pessoas ou as circunstâncias que nos machucam e esmagam, mas nós mesmos, isto é, nosso ego ressentido.

Nosso inimigo maior é nosso ego.

Que Tua Luz vença as trevas que me acorrentam ao eu."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Record, Rio de Janeiro, 1995 - p. 50)


sexta-feira, 20 de abril de 2018

USANDO TODA NOSSA NATUREZA

"Cada aspecto de nossa natureza, tanto o bem quanto o mal, é exigido para a tarefa à nossa frente. Tal como o redirecionamento da energia, todos os elementos dentro de nós devem ser transformados. Tanto os vícios quanto as virtudes, dizem-nos, são 'passos (que) compõem a escada' por meio da qual ascendemos ao mais elevado. Como diz o comentário: 'Toda a natureza do homem deve ser usada sabiamente por aquele que deseja entrar no caminho'.

Um comentário assim deve ajudar-nos a compreender que não devemos reprimir ou suprimir qualquer aspecto de nossa natureza que possa ser indesejável. Pelo contrário, devemos trazer toda nossa natureza, inclusive o complexo psicofísico, a personalidade, sob uma certa condição. Não podemos negligenciar qualquer aspecto de nós mesmos sem, de alguma maneira, ferir o todo. É toda a natureza que deve ser usada, e usada sabiamente para o propósito que temos em vista. A repressão desses aspectos, particularmente de pensamentos e sentimentos que não queremos reconhecer como pertencentes a nós, só pode resultar em feridas dolorosas nos reinos kama-manásico, ou mental-emocional, ou psicodinâmico. E chagas purulentas conseguem apenas eclodir em violentos surtos de doença psíquica e até mesmo física. 

Temos de perguntar a nós mesmos como podemos usar cada aspecto nosso na busca do caminho. Demos a esse caminho o nome de caminho para a iluminação, ou para a autorrealização, para a libertação da roda de nascimentos e mortes; mas, mesmo definir o caminho, que nos mandam buscar, poderia indicar algum vestígio de autointeresse, um laivo de egoísmo em nossa busca. Nossa meta pode muito bem estar além da denominação, ou daquilo que imaginamos ser iluminação. Como podemos definir com palavras uma condição de consciência com a qual estamos, no nosso atual estágio, totalmente desfamiliarizados? Talvez isso possa ser melhor expresso nas palavras da anotação: devemos 'tentar aliviar um pouco o pesado karma do mundo', dando nossa 'ajuda aos poucos braços fortes que evitam que os poderes das trevas obtenham vitória completa'."

(Joy Mills - Buscai o caminho - TheoSophia, Ano 100, Julho/Agosto/Setembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 46/47)

quarta-feira, 18 de abril de 2018

O QUE É BUSCAR O CAMINHO?

"Precisamos avaliar onde estamos, o que aprendemos, que trabalho foi efetuado, se realmente aprendemos e pelo menos começamos a agir com base nas regras iniciais, e, o que é mais importante, talvez, quais possam ser nossos motivos para buscar a iluminação, a autorrealização, ou a sabedoria espiritual. Por que queremos entrar no Caminho Sagrado?

As regras iniciais primeiramente dirigiram nossa atenção para a eliminação dos elementos em nossa personalidade que enevoam nossa visão, elementos que aumentam nosso senso de egoísmo e separatividade. Depois nossa atenção foi dirigida para a obtenção, mediante o uso correto do desejo, daquelas faculdades e capacidades que, como nos diz o comentário,  'pertencem apenas à alma pura', capacidades que são adquiridas 'para o espírito unido da vida que é o seu único e verdadeiro eu'.

Tal trabalho preparatório não é suficiente: agora deve ocorrer uma genuína transformação. Mais uma vez São Paulo diz, na citação acima, que não devemos conformar-nos com este mundo, mas 'ser transformados pela renovação de nossa mente'. No livro Ocultismo Prático, Blavatsky escreveu sobre a transformação que 'atira aquele que a pratica (isto é, o modo de vida indicado pelos dois primeiros conjuntos de regras do nosso texto) completamente para fora do cálculo das fileiras dos vivos'. Agora tudo está mudado. Não há retorno possível. Não temos alternativa senão 'buscar o caminho' e prosseguir. Uma 'senda ulterior' deve ser descoberta. Assim a nota continua, afirmando que agora se abre perante nós o mistério do novo caminho - uma senda que leva para fora de toda experiência humana. [...] É necessário ter a certeza de que o caminho é escolhido por amor ao caminho.

Assim, voltando mais uma vez a fazer referência à admoestação de São Paulo, podemos 'provar o que é essa vontade boa, aceitável e perfeito' do Supremo.

O próprio processo de examinar as obstruções psicológicas que existem dentro de nós e que não nos permitem 'a verdadeira busca' resulta numa tremenda liberação de energia que deve agora ser usada de maneira apropriada. É como se toda reserva de energia que foi liberada pelo processo de purificação devesse ser trazida para o foco num único empreendimento: 'Buscar o caminho'."

(Joy Mills - Buscai o caminho - TheoSophia, Ano 100, Julho/Agosto/Setembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 44/45)

domingo, 15 de abril de 2018

A IMPORTÂNCIA DA MUDANÇA SOCIAL (1ª PARTE)

"Enquanto as pessoas no mundo inteiro creem que a eficiência está aumentando, ou que deve aumentar, o lugar da ética na vida está sendo empurrado para baixo. As crianças estão sendo educadas para conseguir bons empregos, e tornar o esforço um sucesso independentemente de se o que fazem é certo ou errado. A questão do que é certo, ou do que é muito diferente do que é certo, pouco importa. Num artigo sobre o assunto impresso no Guardian Weekly, falam-nos de algumas perguntas que são feitas a alunos da oitava série. As crianças viam as questões em grande parte em termos de como conseguir um emprego, que é a verdadeira razão por que sentem que devem adquirir habilidades sociais. Quando se perguntou se era esse o único pormenor, a maioria disse: 'Sim, o que mais existe?'. Se essa é a atitude de pessoas supostamente educadas, o que podemos esperar das pessoas como um todo? Num outro artigo, o autor diz que o altruísmo pode ter sido um mecanismo importante para nossos ancestrais num estágio particular de sua evolução, e pode também ser uma chave para nossa sobrevivência hoje. Assim, isto é o que pensamos do altruísmo - um meio para um fim egoísta.

A ética obteve um lugar importante no estudo da filosofia, mas se tornou meramente teórica. Existe cada vez menos preocupação por uma percepção ética do que acontece no ambiente imediato de alguém, ou no mundo como um todo. A ética, aliás, é considerada sem importância como prática, embora possa ainda ter um lugar no estudo da filosofia.

Na Grécia e na Índia, talvez também em algumas outras civilizações, a ética tinha um lugar diferente. Sem dúvida era parte de um pano de fundo filosófico, porém, mais do que qualquer outra coisa, era a base de se viver de um modo que faz os seres humanos merecer o nome de 'humanos'. Certamente que os animais não precisam praticar a ética, eles têm um código de ética próprio. Mas o ser humano, que possui a habilidade de pensar, tem o direito e o dever de decidir como quer viver; e as filosofias de alguns países, inclusiva aqueles citados acima, mostraram compreensão com referência à questão. (...)"

(Radha Burnier - A importância da mudança social - TheoSophia, Ano 100, Julho/Agosto/Setembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 8)


sábado, 24 de março de 2018

COLABORADORES

"Os Mestres têm colaboradores de todos os graus e de todas as classes, a maioria deles inconscientes deste fato. Ele diz, em algum lugar, que pode facilmente varrer o magnetismo desagradável, causado por sujeira física, mas não pode fazer o mesmo com o magnetismo indesejável nas camadas mais altas da consciência. 

A vaidade espiritual, a ambição e a motivação egoísta são muito mais perigosas do que as pequeninas ambições e desejos dos homens comuns. Ele escreve: 'Autopersonalidade, vaidade e presunção abrigados nos princípios mais elevados são muito mais perigosos do que os mesmos defeitos inerentes apenas à natureza física e inferior do homem.' (C.M.) 'Há pessoas que, sem dar sinais externos de egoísmo, são intensamente egoístas em suas aspirações espirituais internas.' (C.M.) 'Amigo, tome cuidade com o orgulho e o egoísmo, duas das piores armadilhas para os pés daquele que aspira a galgar os altos caminhos do Conhecimento e da Espiritualidade.' (C.M.) Somos todos de certo modo maus juízes da natureza humana, porque vemos tão pouco do homem real. Lembro-me de C.W.L. dizendo-nos, usando a fraseologia caseira que o caracterizava, que algumas pessoas levavam todos os seus bens numa vitrina, enquanto outros dificilmente mostravam qualquer coisa. O Mestre vê o que realmente está lá. (...)"

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios - Ed. Teosófica, Brasília, 1999 - p. 71/72)