OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 23 de janeiro de 2024

"Como foi dito, Aquele que escolhe o Seu povo é também escolhido por ele. Como os homens O escolheram? O que eles fazem em retribuição pela aliança de Deus com Seu povo escolhido, na qual Ele promete protegê-los e conduzi-los? A resposta inequívoca, dada por toda a tradição judaico-cristã, pode ser resumida em uma única palavra: . Fé é a adesão convicta à mensagem das revelações de Deus, quer seja o Torá, as alocuções proféticas ou o próprio Jesus Cristo. A fé é o doar-se de si mesmo para ser controlado e refeito por aquilo que exige confiança e devoção. A fé consiste na total entrega de si mesmo aos cuidados de Deus que 'nem cochila nem dorme'. A fé é uma abertura radical à plenitude do ser, personalizada de modo característico em Deus que diz 'Eu sou aquele que é'.¹⁵  Na fé o homem compreende sua natureza de criatura e sua culpa, e entrega toda a sua 'ostentação', todo o desejo de viver por seus próprios recursos. A fé é uma resposta incondicional à graça de Deus. É através da fé que o homem é salvo. 'Pois tudo o que não procede de boa fé é pecado', diz São Paulo.¹⁶ A característica distintiva das religiões bíblicas não é conhecimento mas fé.¹⁷

Acima de tudo, o homem-criatura deve compreender o seu nada comparado à majestade de Deus. Muito embora, de acordo com a narrativa bíblica, o homem tenha sido criado à imagem de Deus, ele logo foi expulso do Jardim do Éden por sua desobediência no ato de comer o fruto proibido da árvore do conhecimento. Depois disse Iahweh Deus: 'Se o homem já é como um de nós, versado no bem e no mal, que agora ele não estenda a mão e colha também da árvore da vida, e coma e viva para sempre!' E Iahweh Deus expulsou-o - do Jardim do Éden para cultivar o solo de onde foi tirado. Ele baniu o homem...'.¹⁸ O Deus do julgamento puniu, e puniria, todos aqueles que O desobedecessem. A desobediência é uma quebra de fé, pois o significado primeiro da fé, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, é obediência.¹⁹ 'Fim do discurso. Tudo foi ouvido. Teme a Deus e observa seus mandamentos, porque este é o dever de todo homem. Porque Deus julgará toda obra, até mesmo a que está escondida, para ver se é boa ou má.'²⁰"

¹⁵  Êxodo 3:14.
¹⁶  Romanos 14:23.
¹⁷  Com referência ao Cristianismo, ver Bultmann, op. cit., p. 239.
¹⁸  Gênesis 3: 22-24.
¹⁹  Pelo menos assim é com Paulo; ver Bultmann, op. cit., nota de rodapé na p. 239.
²⁰  Eclesiastes 12: 13-14.

Extraído do livro "Sussurros da Outra Margem, de Ravi Ravindra, Ed. Teosófica, Brasília, p. 77/78.
Imagem: Pinterest.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

DEUS MANIFESTANDO-SE COMO VONTADE

"Somos sempre inclinados a chegar aos extremos. É muito mais fácil ir aos extremos do que mantermo-nos firmemente no centro do caminho, e eu penso que é por isso que encontramos tão amplamente, de um lado, grandes arrebatamentos de devoção, e, de outro lado, as terríveis trevas do sentimento de abandono. Isso é marcado, em sua realidade, como uma das grandes experiências pelas quais todo Místico deve passar - e que é chamada a Crucificação do Cristo, quando as trevas vieram durante três horas, e através da escuridão vibrou o grito angustiado do Cristo na Cruz: 'Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?' Isso não durou muito. Não podia durar. Mas, às vezes, pensamos que a sombra daquela aparente e terrível deserção deixou algo sombrio sobre o Cristianismo, de forma que mesmo as palavras finais, mostrando que não havia abandono: 'Pai! Em tuas mãos entrego o meu Espírito!' aparentemente não foram válidas para fazer lembrar ao santo que, embora o Filho do Homem se esteja tornando o Filho de Deus, ele pode perder, por um momento, o contato consciente com o Deus interior, e com isso, naturalmente, o contato com o Deus exterior. Essa é uma experiência nos mais elevados pontos do Caminho, quando tudo desaparece, mesmo a crença de que há um Eu Superior. E o discípulo, nas trevas, simplesmente detém-se, recusando-se a mover-se para não tombar no vazio, sabendo, em sua mais profunda natureza, que aquilo é apenas uma tentativa de Mãyã para iludi-lo, para arrebatar aquilo sem o que ele não pode viver, no corpo ou fora dele, para não falar no Eterno. Essa é uma experiência que parece ser necessária, a fim de que um homem possa aprender a ficar absolutamente a sós. (...)

Tentem, então, levar através de seus estudos esta Luz da Teosofia, a Sabedoria Divina, que encontraremos talvez, mais completa, no estudo cuidadoso dos Upanisads. Quando chegarem às vidas dos grandes Místicos, vidas que estudarão, tentem ver nelas o que podemos chamar seus sucessos e seus fracassos. Observem as diferenças, e, ainda assim, a identidade. Irão encontrar um grande Discípulo, por exemplo em Sir Thomas More, cuja Utopia não é o devaneio de um sonhador, mas a visão de alguém que se estava aproximando da Liberação. Poderão ver isso na República de Platão, desembaraçando-a das circunstâncias da época, e vendo a grande meta que ele tem em mira, a Sociedade Perfeita. Poderão ver isso, com dificuldade maior, em Jacob Boehme, o sapateiro remendão - e compará-lo com o do grande Ministro de Henrique VIII - repleto de iluminação, velando sua sabedoria com as fórmulas e simbologias mais abstrusas, usando a alquimia e a astrologia como formas com as quais poderia velar seu significado, por causa da perseguição a que estava exposto e dos desprezo dos Governantes de sua própria cidade, que não mereciam sequer tocar-lhe os pés. Mas o sapateiro remendão vive, enquanto os Governantes estão todos esquecidos, e é um marco na grande Senda Mística. Então, irão conhecer os Místicos de Cambridge, com seus primorosos lampejos de visão, de vez em quando, e os Místicos da Igreja de Roma, como São João da Cruz, como Santa Tereza, como Molinos, o Místico espanhol, para chegar, talvez, na Escola Quietista da França, com Madame Guyon, tateando em busca do verdadeiro Misticismo.

Devem estudá-los, a todos, e aprender com todos eles, pois há muito a aprender dos diferentes ângulos de observação, a partir dos quais, eles olham para Deus e para o mundo. Cultivem o espírito do aluno, que enquanto estuda não desafia as exposições entre as quais está pesquisando a verdade que elas contêm. Para encontrar a verdade em qualquer escritor, devem tentar o contato com a sua vida, mais do que com as suas palavras, e isso pede mais simpatia do que análise. Tentem desenvolver essa simpatia com o pensamento que os levará ao contato com o escritor, e fará com que compreendam o que ele se está esforçando para expressar, por muito que lhe faleçam as formas de expressão. E, se dessa maneira podem acompanhar o pensamento profundo, o conhecimento superior, se algo em seu interior os convida ao esforço, embora possa haver demora na obtenção do que esperam conseguir, então nada desdenhem por parecer pequeno, porque, ali, pode haver algo que os auxilie. E lembrem-se de que ajudam mais a si mesmos quando estão ajudando aos outros. Ofereçam livremente algum conhecimento que tenham obtido, de forma que qualquer alma sedenta de água do conhecimento possa, por seu intermédio, receber uma ou duas gotas dessa água. Porque a gota que derem a outro torna-se o seu manancial de Vida, a que está por trás do véu.

Não temam as trevas. Muitos passaram por elas antes de vocês. Não temam que elas escondam seja o que for que possa atingi-los, pois vocês são eternos, embora encarnados num corpo. O que estão procurando não é o conhecimento exterior, mas a compreensão do interior, a compreensão do seu próprio Eu superior, que é um com a Vida Universal. Esse é o apogeu da Ioga. Nos momentos mais sombrios, lembrem-se da Luz. Nos momentos em que o irreal os estiver cegando, lembrem-se do Real. E, se através do irreal puderem agarrar-se ao Real, se através da escuridão jamais perderem a fé de que a Luz está ali, irão encontrar o Mestre que os guiará da morte para a imortalidade, e saberão, com uma convicção que nada poderá abalar, que Deus os fez à imagem de Sua própria Eternidade."

(Annie Besant - Brahmavidyã, Sabedoria Divina - Ed. Pensamento Ltda, São Paulo - p. 22/25)


quinta-feira, 27 de maio de 2021

A BUSCA DA VERDADE - exertos 5 e 6

"5.  Aqueles que, verdadeiramente, buscam o caminho da Iluminação devem controlar a mente e prosseguir com firme determinação. Mesmo se forem abusados por uns e desprezados por outros, devem seguir em frente, com a mente imperturbável. Devem ser pacientes e não ficar irritados se forem atacados com punhos, pedras ou espadas.

Mesmo que seus inimigos lhes cortem as cabeças, suas mentes devem permanecer inabaláveis. Se deixarem que suas mentes se anuviem com as coisas que sofrerem, eles não estarão seguindo o ensinamento de Buda. Devem determinar-se, não importando o que lhes possa acontecer, a permanecer firmes, imutáveis, irradiando sempre pensamentos de compaixão e boa vontade. Diante do abuso e diante do infortúnio, deve-se permanecer inabalável, com a mente tranquila, irradiando o ensinamento de Buda.

Para a colimação da Iluminação, tentarei realizar o impossível, suportarei o insuportável. Darei tudo que tenho para isso. Se, para alcançar a Iluminação, tiver que restringir meu alimento a um único grão de arroz por dia, comerei apenas isso. Se o caminho da Iluminação me conduzir através do fogo, não vacilarei, irei em frente.

Entretanto, não se deve fazer estas coisas, visando outros propósitos. Deve-se fazê-las apenas porque são sensatas e corretas. Deve-se fazê-las sem a mente da autocompaixão, como uma mãe que tudo faz a um filho doente, não medindo esforços nem visando o próprio conforto.

6.  Havia, certa vez, um rei que amava seu povo e país, governando-os com sabedoria e bondade, mantendo, desta forma, o país próspero e tranquilo. Dedicava-se sempre à procura de maior sabedoria e esclarecimento, oferecendo recompensas a todo aquele que lhe pudesse trazer bons ensinamentos.

Sua devoção e sabedoria, um dia, chegaram ao conhecimento dos deuses, que resolveram pô-lo à prova. Um deus, disfarçando-se em demônio, apareceu diante dos portões do palácio real e solicitou fosse levado à presença do rei, pois tinha um sagrado ensinamento a lhe dar.

O rei que estava contente em ouvir esta mensagem, recebeu cortesmente o demônio e lhe pediu instruções. O demônio, assumindo uma forma aterrorizadora, pediu-lhe alimento, dizendo que não podia ensiná-lo antes de ter o alimento preferido. Seletos alimentos lhe foram oferecidos, mas o demônio insistia em ter uma fresca e sanguinolenta carne humana. O príncipe herdeiro e a rainha lhe deram seus corpos, mas, ainda assim, não se tinha saciado e pediu o corpo do rei.

O rei anuiu em lhe dar seu corpo, mas quis primeiro ouvir o ensinamento antes de lho oferecer. O deus então pronunciou este ensinamento: 'A lamentação e o temor surgem da luxúria. Aqueles que se afastam da concupiscência não têm lamentação nem temor.' De repente, o deus reassumiu a sua verdadeira forma e o príncipe e a rainha reapareceram com seus corpos originais."

(A Doutrina de Buda, Bukkyo Dendo Kyobai, Terceira edição revista, 1982, p. 309/313)


quinta-feira, 30 de abril de 2020

O CORPO DOS DESEJOS

Arquivo para corpo de desejos - Gnosis Online"Emprego aqui a palavra desejo em seu significado geral, muito embora se possa aplicar à atração ou repulsão de múltiplos objetos. A consciência procura desfrutar o prazer e evitar a dor, motivo por que propende para os objetos de prazer, recusando os dolorosos. O prazer pode elevar o homem a um supremo êxtase de amor, devoção e sacrifício, ou atirá-lo ao mais profundo plano de luxúria bestial, ou dizendo melhor, infrabestial, pois raramente se constata dor ou prazer no reino animal. Do mesmo modo como o homem pode se elevar acima do bruto, também pode se depravar até muito abaixo dele. Sempre que o desejo de prazer busque um objeto prazeroso, a consciência tem de dispor de um centro sensorial para a tentação e de um órgão também sensorial para a atividade.

Os centros sensoriais estão no corpo dos desejos ou corpo astral, e os órgãos sensoriais no corpo de ação ou corpo físico. Os sutilíssimos desejos em que intervém poderosamente o pensamento se chamam emoções, e a matéria de que estão formados os centros sensoriais é do grau mais sutil do mundo astral, muito embora também se encontre nele matéria mental interfundida com o astral, da mesma sorte que o éter interpenetre os sólidos, líquidos e gasosos do nosso corpo físico. A matéria astral de grau mais denso e grosseiro serve para expressão dos desejos ignóbeis e maus.

Quando o homem, ajudado pelo seu deva ou anjo custódio, chega a certo ponto na construção do seu corpo mental, vivifica o núcleo de matéria astral que consigo reteve latente e inativo durante sua larga permanência no mundo celeste.¹³ As Escrituras hinduístas dizem que este núcleo de matéria astral se oferece a Parjanya, o deva da chuva ou da água. Em todas as religiões a matéria astral está simbolizada pela água, e portanto na citada frase se usa a água como símbolo do corpo astral ou segunda roupagem do homem. É o corpo instrumental da consciência Svapna ou superfísica que atua durante o sono comum do corpo físico, e o homem o conserva até sua passagem do mundo astral para o mundo mental depois da morte física. Está o novo corpo astral construído em congruência com o mental já parcialmente formado, pois deve ser formado logo em seguida, da mesma forma que se ajustam em um mesmo tom os bordões e primas de um violino. Se existe discordância embora passageira, dela resultará muitas aflições. 

Também esta segunda roupagem intercepta ou eclipsa algumas faculdades da consciência, que não encontram na matéria astral a plasticidade suficiente para todas as suas manifestações mentais. Os apetites, concupiscências, desejos, paixões, vícios e emoções têm no corpo astral seu campo de manifestação, e suas violentas vibrações afetam o corpo físico até o ponto de ocasionar fenômenos de que trataremos mais adiante."

¹³. Em termilogia teosófica chamam-se átomos permanentes os núcleos de matéria mental, astral e física que o verdadeiro homem retém consigo de uma a outra vida.

(Annie Besant - A Vida do Homem em Três Mundos - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 35/37)

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

PERCEBER DEUS EXIGE ESFORÇO EM AUTODISCIPLINA

Resultado de imagem para campos floridos lindos"De vez em quando, encontro alguém em quem vejo um pouquinho de devoção autêntica pelo Senhor. Mas a realização divina é muito mais que isso! O devoto que reconhece Deus às vezes vê o mundo inteiro permeado pela luz divina - uma experiência maravilhosa. Mas não vai ocorrer de uma hora para outra. Ter a real percepção de Deus exige longa perseverança na prática dos métodos que levam à Autorrealização.

O desejo de felicidade é o mais forte de todos. A verdadeira e duradoura felicidade é encontrada em Deus. Ao descobri-Lo, uma alegria imensa o inundará, uma alegria que você não encontrará em nada mais. Sri Yukteswarji me disse: 'Quando sua alegria na meditação e na comunhão for maior que qualquer outra, você terá encontrado Deus.⁶ Se o mundo inteiro lhe fosse dado, você não saberia o que fazer com ele; apenas se sentiria sobrecarregado, preocupado com tudo. Estude as vidas dos príncipes e homens do mundo; veja como estavam atormentados.' Somos como marionetes nas mãos do destino; mas quem se uniu à Luz do mundo, quem nada possui e, não obstante, tem tudo, é um homem feliz. Quem se uniu a Deus nada teme, nem a destruição do corpo. Jesus disse: 'Destruí este templo, e em três dias o reerguerei".⁷

A igreja tornou-se uma pedinte. Ironicamente, dinheiro é necessário para a execução de todas as boas obras, inclusive as realizadas pela igreja. O dinheiro em si não possui cérebro; pode servir tanto a planos bons quanto a maus. Buscar dinheiro para divulgar a obra de Deus é uma ação correta; o dinheiro assim empregado está promovendo o bem. E quanto mais alguém se sacrifica a serviço de Deus, maior será sua recompensa."

⁶ 'Só o iogue que possui Bem-aventurança interna, que repousa no Alicerce interior, que está unido à Luz interna, unifica-se ao Espírito. Ele alcança a liberação completa no Espírito (mesmo enquanto vive no corpo)' (Bhagavad Gita V:24).
⁷ João 2:19.

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 115/116)


terça-feira, 25 de junho de 2019

O MOMENTO DA MORTE

"Lembre-se de que todos os hábitos e tendências acumulados na base da nossa mente ordinária estão prontos para ser ativados por qualquer influência. Sabemos que basta a menor provocação para trazer as nossas reações instintivas e habituais à superfície. Isso é especialmente verdadeiro no momento da morte. O Dalai Lama explica:

No momento da morte, as atitudes com que temos familiaridade há muito tempo impõem-se e determinam o renascimento. Por essa mesma razão, o eu gera um forte apego, já que tememos que esse eu esteja se tornando inexistente. Tal apego serve como elo de conexão com o estado intermediário entre as vidas, enquanto o desejo de um corpo age por sua vez como causa que estabelece o corpo do ser que está no estado intermediário (bardo).

Desse modo, o estado da nossa mente no instante da morte é absolutamente importante. Se morremos com a mente estruturada de maneira positiva podemos melhorar nosso próximo nascimento, apesar do nosso carma negativo. E se estamos aborrecidos e angustiados, isso exerce um efeito prejudicial, mesmo que tenhamos vivido bem nossa vida. Isso significa que o último pensamento ou emoção que temos antes de morrer tem um efeito determinante e extremamente poderoso no nosso futuro imediato. Assim como a mente de um louco está quase sempre ocupada por uma obsessão que volta de tempo em tempo, no instante da morte também nossa mente está totalmente vulnerável e exposta a quaisquer pensamentos que então nos preocupem. Esse último pensamento ou emoção que tempos pode ser ampliado além de toda proporção e impregnar toda nossa percepção. É por isso que os mestres afirmam que a qualidade da atmosfera que nos cerca quando morremos é crucial. Com os nossos amigos e parentes devemos fazer tudo o que estiver ao alcance para inspirar emoções positivas e sentimentos sagrados como amor, compaixão e devoção, e igualmente ajudá-los a 'abandonar toda possessividade, anseio e apego'."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2.000 - p. 286/287)


terça-feira, 13 de março de 2018

BEATITUDE

"(4:38) Seguramente, nada há neste mundo que santifique tanto quanto a sabedoria. No devido tempo, todo devoto bem-sucedido em suas práticas perceberá, no próprio Eu, a verdade do que acabo de dizer.
(4.39) O devoto imerso no infinito, com os sentidos sob controle, alcança a sabedoria e obtém aquilo que sabe, desde logo, ser a paz perfeita.

Os devotos que supõem um conflito entre amor religioso, autocontrole yóguico e sabedoria verdadeira (em oposição à intelectual) não logram perceber que todos esses caminhos (devoção, prática, yóguica e calmo discernimento) são meros aspectos de uma mesma verdade que resultam na mesma conquista.

A palavra para devoção neste sloka é shraddha, geralmente traduzida por 'fé'. Refere-se ao tipo de devoção que não mantém Deus a distância implorando-Lhe favores, mas que, à semelhança de uma seta, voa direto para o alvo de Seu amor divino como tendência natural do coração a buscar sua Fonte verdadeira, intuitivamente percebida.

O objetivo supremo, o alvo principal do enfoque religioso não é o amor e sim a beatitude. O amor em si é digno de elogios, mas tem de ter uma motivação pura - e essa motivação, ou objetivo, é Satchidananda. Convém, sem dúvida, buscar Deus por Seu amor; entretanto, a finalidade suprema de tudo é a Beatitude sempre consciente, sempre existente e sempre nova. Sem isso por objetivo, mesmo o amor, se alguém o busca como finalidade suprema, encerra o perigo de suscitar o desejo de afeto pessoal. Decerto, o amor perfeito é sempre impessoal, abrangente e infinito. Não tem outro alvo senão a Bem-aventurança."

(A Essência do Bhagavad Gita - Explicado por Paramhansa Yogananda - Evocado por seu discípulo Swami Kriyananda - Ed. Pensamento, São Paulo, 2006 - p. 213/214)


quarta-feira, 7 de março de 2018

O EGO NO CAMINHO ESPIRITUAL (PARTE FINAL)

"(...) À medida que o ego nos vê jubilosamente ficar mais e mais enredados em sua teia, chegará ao ponto de culpar o ensinamento e até mesmo o professor por toda a dor, solidão e dificuldades pelas quais passamos ao nos conhecer: 'Esses gurus não se importam nada com você e com o que está atravessando, e no fundo só querem explorá-lo. Usam palavras como 'compaixão' e 'devoção' para pôr você sob seus poderes'.

O ego é tão esperto que pode até distorcer os ensinamentos para atender seus propósitos; afinal, 'o diabo pode citar as escrituras para seus próprios fins'. A arma final do ego é apontar hipocritamente seu dedo para o professor e seus seguidores, dizendo: 'Ninguém por aqui parece estar à altura da verdade dos ensinamentos!' Ele posa então como o árbitro justo de toda conduta: a posição mais astuta de todas para sabotar sua fé e destruir qualquer tipo de devoção e compromisso que você possa ter em relação à mudança espiritual.

Mas seja qual for a força com que o ego tenta sabotar seu caminho espiritual, se você prossegue nele e trabalha profundamente com a prática da meditação, começará a perceber como tem sido enganado pelas promessas do ego: falsas esperanças e falsos medos. Devagar você começa a compreender que tanto a esperança quanto o medo são inimigos da sua paz de espírito; as esperanças o decepcionam, deixando-o vazio e desapontado, e os temores o paralisam na cela estreita da sua falsa identidade. Você começa a ver também como foi poderosa a influência do ego sobre sua mente, e no espaço de liberdade aberto pela meditação - em que você está momentaneamente livre da avidez - você vislumbra a estimulante amplitude da sua verdadeira natureza. Entende que o seu ego, como um artista louco e trapaceiro, enganou você durante anos com esquemas, planos e promessas que nunca foram reais e só o levaram à falência interior. Quando você percebe isso na equanimidade da meditação, sem qualquer consolação ou desejo de esconder o que descobriu, todos os planos e esquemas se revelam vazios e começam a desmoronar.

Esse não é um processo puramente destrutivo, porque junto com uma compreensão extremamente precisa e às vezes dolorosa da fraudulência e virtual criminalidade do seu ego, e do de todos os demais, cresce uma sensação de expansão interna, um conhecimento direto daquela 'ausência de ego' e interdependência de todas as coisas, dessa viva e generosa disposição de espírito que é a marca que autentica a liberdade.

Porque aprendeu pela disciplina a simplificar sua vida, reduzindo as oportunidades do ego de seduzi-lo, e porque praticou a presença mental da meditação e minimizou o poder da agressão, do apego e da negatividade de todo seu ser, a sabedoria do insight pode emergir lentamento. E na claridade reveladora desse sol aquela percepção pode mostrar a você, distinta e diretamente, os mais sutis movimentos de sua própria mente e a natureza da realidade."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 162/163)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

TANTO QUANTO EU VOS AMEI

"Jesus presenteou seus discípulos com outra gema de sabedoria espiritual a fim de ajudá-los a palmilhar o caminho do coração. Ofereceu-se a eles como exemplo de amor ao próximo, dizendo simplesmente: 'Amai-vos uns aos outros tanto quanto e vos amei'.

Jesus era sem dúvida um ser humano cheio de amor, que quase nunca encolerizava, sempre oferecia a outra face, era paciente e gentil, compassivo e compreensivo com relação aos pensamentos e sentimentos dos que o cercavam. No entanto, quando examinamos acuradamente o modo como amava as pessoas, vemos que ele não conduzia sua vida de forma a minimizar-lhes o sofrimento emocional. Evitava tomar conta dos sentimentos delas. Não era isso o que considerava amor. 

Para ele, amar era acima de tudo manter o coração aberto o tempo todo para o centro espiritual do seu próprio ser. Nesse constante estado de devoção meditativa, ele parece ter vivido, não ocupado em manipular e maquinar com sua mente lógica, mas em seguir a sabedoria e os ditames do coração a cada momento.

Para Jesus, o importante era amar a Deus de todo o coração, mente e alma, e realizar a tarefa que tinha pela frente de maneira expontânea. Por exemplo, ele ensinou aos discípulos que, quando fossem levados à presença das autoridades, não preparassem de antemão o que diriam - antes, permitissem que o Espírito falasse por intermédio deles enquanto mantinham o coração puro e harmonizado com a sabedoria, a orientação espiritual.

Em outras palavras, em vez de viver uma vida prescrita por 'deves' e 'não deves', Jesus se submetia à realidade e era sempre fiel ao chamamento interior, independentemente do que os outros pensassem de seus atos ou do grau em que estes afetassem os sentimentos alheios. Pelo que sabemos, em tudo o que fez, ele viveu o caminho amoroso da entrega absoluta ao momento espiritual.

Jesus deixou claro que não veio nem para obedecer às leis de sua cultura nem para derrogá-las. Veio para completá-las com outras novas, qualitativamente mais confiáveis - a saber, amar ao próximo como a nós mesmos, e com a mesma impávida honestidade e dedicação à verdade que ele demonstrou em tudo."

(John Selby - Sete Mestres, Um Caminho - Ed. Pensamento-Cultrix Ltda., São Paulo, 2004 - p. 122/123)

domingo, 14 de janeiro de 2018

LIBERTAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) O Ocultista - o homem ou a mulher que almeja a perfeita aptidão espiritual - deve transcender o anelo de qualquer que seja o tipo, toda fraqueza que exija autoindulgência, e atingir um estado de autodomínio espiritual. Seu amor é doação de si mesmo em abundância, de si mesmo em sua pura natureza, na realidade nada mais possuindo. É a neutralização do veneno do senso de eu e a libertação do prisioneiro movimento de vida de suas limitações de tempo na eternidade.

Os direitos de posse, de asserção de si próprio e de ilimitada autoindulgência são em toda parte os mais desmedidos fenômenos da vida moderna e aos quais se devem a maioria de nossas dificuldades. Nenhuma pessoa sensível pode esperar uma perfeição impossível no atual estágio, nem fará bem algum pregar o ideal do sannyasi - renunciante indiano - ao homem do mundo. Não existe disciplina modeladora, não existe uma vida verdadeiramente espiritual nos dias de hoje que possa ser praticada pelo homem do mundo. O mérito dos ashramas (estágios de vida), na Índia antiga, era que os deveres designados para cada estágio - juventude, virilidade, maturidade e o período anterior à temporária libertação do corpo - eram calculados para preparar o indivíduo para os estágios seguintes e torná-lo cônscio o tempo todo de um propósito profundamente espiritual na vida. 

O ideal do amor, na vida prática do dia a dia, deve significar o serviço de cada um a tudo dentro de sua esfera, consideração dos direitos dos outros, autocontrole, e particularmente cessação de crueldade e luxúria. Pode haver uma medida de liberdade espiritual para cada um se as condições de vida forem organizadas com base nisso. 

Cada um deve descobrir em si próprio aquilo que é capaz de uma bela expansão, que será uma proteção e uma bênção aos outros e o meio de libertar a luz em si próprio. Nessa luz e expansão está a mais pura felicidade.

Há momentos, que raramente nos ocorrem, quando sentimos a bem-aventurança de um temporário autoesquecimento, seja através da devoção, do amor humano, ou do auxílio altruísta ao outro, e nesses momentos atingimos uma certa centelha que pode transformar-se numa chama brilhante. Quando esse estado for atingido, seremos homens e mulheres libertos."

(N. Sri Ram – O Interesse Humano – Ed. Teosófica, Brasília, 2015 – p. 39/40


sábado, 13 de janeiro de 2018

LIBERTAÇÃO (2ª PARTE)

"(...) A libertação pode ser vista tanto como um fim quanto como um processo. A compreensão do processo no qual estamos envolvidos abrirá uma visão quanto ao fim.

O processo é contínuo, é a senda descrita na filosofia indiana como a senda do retorno. A senda na qual o homem não anseia por mais experiência do tipo provido pelo mundo, mas, tendo chegado a um ponto de saturação, busca conhecer o valor e significado de tudo isso, e ao compreender, descobrir a si mesmo. Ele então atinge o estágio de descobrir o que está sendo limitado e o que o limita. 

Aquilo que deve ser liberado na realidade somos nós mesmos, como somos profundamente dentro de nós, e não como normalmente sentimos que somos. O puro fluir de nossa consciência tornou-se dividido e estreitado, e coloriu-se de apegos, repulsões, ganância, medo, convencionalismos e hábitos.

Libertação é essencialmente se libertar do carcereiro do egoísmo frio e venenoso do qual todo mal que vemos é apenas o resultado monstruoso. Nossa experiência diária pode ensinar-nos que o amor, como uma emoção ou força abnegada, é o único e supremo libertador de nosso egocentrismo.

Infelizmente, nos dias de hoje, a palavra amor assumiu uma importância aviltada. Passou a conotar excitação sexual física, sua indulgência e um estado de possessividade baseado na ânsia por tal excitação. Não é o amor de São Paulo em sua carta aos Coríntios ou bhakti (devoção com autoentrega) do verdadeiro devoto. 

O principal meio de libertação em relação ao nosso próximo só pode ser amor expresso em serviço, ação na qual o eu é esquecido e através da qual um Eu Superior é manifestado, resultando na criação de beleza e felicidade. (...)"

(N. Sri Ram – O Interesse Humano – Ed. Teosófica, Brasília, 2015 – p. 38/39


domingo, 24 de dezembro de 2017

RESPONDA AO CHAMADO DE CRISTO!

"A concepção de Cristo não foi comum, mas imaculada. Portanto, a comemoração de seu aniversário é um dia muito especial, sabendo-se e sentindo que, na concepção imaculada de Jesus, o Pai Celestial preparou o nascimento de um ser perfeito.¹ A verdadeira comemoração do Natal é sentir, na própria consciência, o nascimento da Consciência Crística.

Eliminem todos os pensamentos errantes e unam-se ao espírito de Cristo. Eu invoco o Espírito de Jesus e dos Mestres a ele unidos no Espírito, para que o ser perfeito que nasceu na Terra há mil e novecentos anos possa manifestar agora a sua consciência em vocês. Para isso oro profundamente hoje, com todo o ardente fervor da minha alma. Tudo é possível pela oração. Jesus disse: 'Por isso vos digo que tudo o que pedirdes orando, crede que o recebereis, e tê-lo-eis."² Acreditem que está sendo atendida a oração para que Jesus venha a vocês, e assim será. O amor de Cristo manifesta-se em vocês não somente através da paz mental nem sequer por um fervor ardente, mas também na vontade tranquila e devocional de alcançar a perfeição. 'Ó Cristo, vem a nós! Manifesta-te a nós! Bons ou maus, somos teus. Livra-nos dos grilhões da inquietude e recebe-nos como somos.'

Que todos os que estejam em sintonia conosco hoje (cujos pensamentos sinto virem a mim)³ sejam abençoados com a presença e a consciência de Cristo. 'Pai Celestial, Tu atendes as orações que brotam do nosso coração; e esta é minha prece do coração: que todos nós aqui recebamos a visita de Tua presença, de Tua gloriosa presença. Ó Luz Infinita! Todas as velas de nossa devoção estão ardendo! Vem a nós!'

O amor de Deus é indescritível. Mas pode ser sentido à medida que o coração é purificado e adquire constância. Quando a mente e os sentimentos se interiorizam, começamos a sentir a alegria divina. Os prazeres sensoriais não duram; mas a alegria de Deus dura eternamente. É incomparável! (...)"

¹ Na passagem IV:7-8 do Bhagavad Gita, o Senhor fala da vinda da Consciência Divina à Terra na forma dos Grandes Mestres: 'Ó Bharata (Arjuna), sempre que a dirtude (dharma) declina e o vício (adharma) predomina, Eu Me encarno (como Avatar)! Apareço em forma visível, era após era, para proteger os virtuosos e destruir a prática do mal, a fim de restabelecer a justiça.'
² Marcos 11:24.
³ Refere-se aos estudantes da SRF do mundo todo que faziam a meditação longa de Natal naquele dia de 1939.

(Paramahansa Yogananda - O Romance com Deus - Self-Realization Fellowship - p. 432/433)


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O EFEITO DA PROVAÇÃO

"Há leis morais fixas, assim como há leis físicas uniformes. Estas leis morais podem ser violadas pelo homem, dotado como é de sua individualidade e da liberdade que isso envolve. Cada violação se torna uma força moral na direção oposta àquela em que a evolução está seguindo, e é inerente ao plano moral. E pela lei de reação cada qual tem a tendência de evocar a operação da lei correta. Mas quando estas forças opositoras se acumulam e adquirem uma dimensão gigantesca, a força reacional necessariamente se torna violenta e resulta em revoluções morais e espirituais, em guerras santas, em cruzadas religiosas, e coisas assim. Expanda esta teoria, e você entenderá a necessidade do aparecimento de Avataras (encarnações divinas - NT) sobre a Terra. Quão fáceis se tornam as coisas quando os olhos da pessoa se abrem; mas quão incompreensíveis elas parecem quando a visão espiritual está fechada, ou é apenas vaga e primitiva. A Natureza, em sua infinita generosidade, providenciou para o homem, nos planos externos, símiles exatos de suas funções internas, e verdadeiramente aqueles que têm olhos para ver podem ver, e aqueles que têm ouvidos para ouvir podem ouvir. 

Quão intenso é o anelo de levar ajuda para a Alma sofredora, em suas horas de extrema provação e de treva acabrunhante. Mas a experiência mostra aqueles que passaram por ordálios semelhantes, e que é bom que eles não tenham, naqueles momentos, percebido a ajuda que não obstante é dada sempre, e que é bom que eles tenham sido oprimidos com um triste senso de solidão e de serem totalmente abandonados. Se fosse de outra forma, metade do efeito da prova seria perdido, e a força e conhecimento que seguem cada ordálio destes teriam de ser adquiridos através de anos de tentativas e tropeços. A Lei de Ação e Reação age em toda parte... Alguém que seja completamente devoto, isto é, alguém que em atos e pensamentos consagra todas as suas energias e todas as suas posses à Suprema Deidade, e percebe sua própria insignificância bem como a falsidade da ideia da separatividade - só para esta pessoa não se permite que os poderes das trevas se aproximem, e é protegida de todo perigo para sua Alma. A passagem no Gita em que você deve estar pensando deve ser interpretada como que ninguém que tenha o sentimento de devoção uma vez desperto em si pode falhar para sempre. Mas não há garantias para ele contra desvios temporários. Pois de certo modo todo ser vivo, desde o Anjo mais exaltado até o menor protozoário, está sob a proteção do Logos de seu sistema, e é levado através dos vários estágios e modos de existência de volta ao Seu seio, para lá desfrutar da beatitude de Moksha (libertação, extinção; equivale a Nirvana - NT) durante uma eternidade. (...)

(Annie Besant - A Doutrina do Coração - Ed. Teosófica, Brasília - p. 14/15)
Fontehttp://www.lojadharma.org.br/


sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A MUDANÇA NO CORPO EMOCIONAL (1ª PARTE)

"Quando mudamos nossa atitude a respeito do corpo físico, lhe retiramos o centro da consciência. É claro que não a retiramos inteiramente, porque senão ficaríamos adormecidos ou em estado de transe. Mas já não a temos no corpo físico; mantemos nossa consciência a um nível superior e atuamos por meio do corpo físico, o que é muito diferente.

Depois de assim proceder, temos que promover a mesma mudança realizada, com relação ao corpo físico, em nosso corpo astral ou emocional⁷. Novamente encontramos a mesma dificuldade. Geralmente consentimos que nosso corpo emocional pertença ao mundo emocional; permitimos que esse mundo defina nosso corpo emocional, e deixamos que desejos e emoções sejam formados em nosso corpo emocional por influências externas. Por certo, nem sempre somos conscientes disso, pois ainda não fazemos distinção entre o 'eu' e o 'não eu', com referência ao que chamamos mundos 'interiores' - o mundo das emoções e o mundo dos pensamentos - e, em consequência, nos parece que as emoções e pensamentos 'surgem de nosso interior', quando, em realidade, provêm de fora, ou pelo menos os excita o mundo exterior.

Visto pela clarividência, o resultado é que o corpo emocional oferece diversas manchas de cor irregularmente distribuídas, que se alteram facilmente por ação de influências externas. Devemos perceber nosso corpo emocional e considerá-lo como nosso veículo no mundo astral. Temos de submetê-lo firmemente ao domínio do Ego e efetuar nele a mesma mudança que levamos a cabo no corpo físico. Temos de vitalizar o corpo emocional a partir do interior, e enviar através dele as emoções que nos determinamos a ter.

Procuremos experimentar essa mudança em nós mesmos. Tentemos perceber nosso corpo astral livre do todos aqueles desejos mesquinhos e daquelas emoções que são tão perturbadoras, e determinemos quais as emoções que nós próprios - o Ser divino - havemos de consentir nesse corpo. Sintamos essas emoções e as irradiemos consientemente. Inicialmente, sintamos amor; não o amor que deseja possuir, mas o amor que se expande livremente a todos os seres e a todas as coisas. Depois, sintamos devoção - devoção pelo Mestre, pela magna Obra, pelo mais elevado que possamos conceber - e enchamos nosso corpo emocional dessa devoção. Ainda, compadeçamo-nos dos que sofrem; sintamos que nosso coração transborda de piedade por quantos sofrem no vasto mundo. E, finalmente, busquemos aspiração espiritual; sintamos-nos intensamente inspirados pelo superior, e percebamos a verdadeira espiritualidade irradiando de nosso corpo emocional. (...)"

Corpo emocional ou astral é o veículo de nossos bons ou maus sentimentos, como o corpo físico o é de nossas boas ou más ações, e o corpo mental, de nossos bons ou maus pensamentos. Assim como podemos e devemos disciplinar o corpo físico para a prática exclusiva de boas ações e aquisição de bons hábitos e costumes, também podemos e devemos disciplinar nossos corpos emocional e mental para que só alimentem e exteriorizem elevados sentimentos e pensamentos. (N. T.)

(J. J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 25/27)


sexta-feira, 30 de junho de 2017

A PROMESSA DE ILUMINAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Pelo fato de que em nossa cultura supervalorizamos o intelecto, imaginamos que tornar-se iluminado exige uma inteligência excepcional. Na realidade, vários tipos de agilidade mental não são mais do que obscurecimentos ainda maiores. Há um provérbio tibetano que diz: 'Se você é muito esperto, pode deixar de ver inteiramente o ponto básico'. Como disse Patrul Rinpoche: 'A mente lógica parece interessante, mas ela é a semente do engano e da ilusão'. As pessoas podem ficar obcecadas com as suas próprias teorias e deixar de ver o ponto básico de tudo. Dizemos, no Tibete: 'As teorias são como remendos num casaco, um dia se desfazem'. Deixe-me contar-lhe uma história animadora:

Um grande mestre do século passado tinha um discípulo que era muito obtuso. O mestre ensinou-lhe as mesmas coisas muitas e muitas vezes, tentando introduzi-lo à natureza da sua mente, mas foi inútil. Afinal, o mestre ficou furioso e lhe disse: 'Olhe, quero que leve esse saco de cevada até o alto daquela montanha ali. Mas você não deve parar para descansar. Continue simplesmente subindo até chegar ao alto'. O discípulo era um homem simples, mas possuía uma inabalável devoção e confiança em seu mestre, de modo que fez exatamente como lhe foi recomendado. O saco era pesado; pegando-o, partiu montanha acima, não ousando parar. Simplesmente seguiu e seguiu. O saco foi ficando cada vez mais pesado. Demorou um tempão. Por fim, ao chegar ao alto da montanha ele jogou o saco no chão. Atirou-se no chão, dominado pela exaustão mas profundamente relaxado. Sentia o ar fresco da montanha em seu rosto. Toda sua resistência se dissolvera, e com ela sua mente ordinária. Tudo parecia ter parado. Naquele exato instante ele, de súbito, obteve a realização da natureza de sua mente. 'Ah, era isso que meu mestre esteve me mostrando todo o tempo', pensou. Desceu correndo a montanha e, contrariando todas as convenções, invadiu o quarto do mestre.
- Acho que agora pesquei... Pesquei mesmo!'
Seu mestre lhe sorriu como quem sabe das coisas: 'Então a subida da montanha foi interessante, não foi?'

Você também, seja quem for, pode ter a experiência que o discípulo teve no alto da montanha e é essa experiência que lhe dará a coragem para transpor a vida e a morte. Mas qual é a melhor, mais rápida e mais eficiente maneira de chegar a isso? O primeiro passo é a prática da meditação. É a meditação que lentamente purifica a mente ordinária, desmascarando e exaurindo seus hábitos e ilusões, de maneira que possamos, no momento certo, reconhecer quem de fato somos."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 83/84

terça-feira, 6 de junho de 2017

A COMUNHÃO DOS SANTOS (1ª PARTE)

"Santos houve em todos os tempos, entre todos os povos e crenças. O santo é alguém em quem floresceu o germe da divindade ou Cristandade, oculto em cada um de nós. Essa divindade revela-se como bondade e perfeição; uma vez que a perfeição humana engloba todas as virtudes e graças, existem santos de muitos tipos, alguns se sobressaindo em devoção a Deus, outros em conhecimento da verdade, e outros ainda em ação altruística de acordo com a vontade de Deus. Todas essas sendas são igualmente sendas que levam ao ponto mais elevado. Deus, devemos compreender aqui, não é a imagem artificial, mas o supremo poder que tem sede no coração do próprio homem e também em todas as outras coisas, visíveis e invisíveis.

Houve grandes homens e mulheres que devem ter sido amados por Deus, embora não reconhecidos pelos homens; deve ter havido alguns, entre os assim chamados santos, sobre quem o halo foi lançado, por assim dizer, em antecipação, por seus ardentes seguidores. A grandeza nem sempre é reconhecida no seu tempo, nem sempre consiste no que parece ser.

Esses santos, embora possam não estar encarnados, ainda são presenças espirituais - como todos os homens - naquele aspecto de suas naturezas que está sempre voltado para Deus, só que ainda mais. Assim, eles estão unidos a nós de maneiras sutis, misteriosas. No reino do Espírito todas as suas manifestações formam uma unidade.

A ideia de que os santos, do passado e do presente, constituem uma comunhão ou associação é bela e consagra uma verdade maravilhosa. Mesmo em nosso mundo inferior, semelhante atrai semelhante. Muito mais ocorre naquele reino onde cada vida ou centro pulsa com magnetismo e poder. Deve haver perfeita concórdia onde existe perfeita compreensão e unidade de objetivo, que é a realização do plano de Deus. (...)"

(N. Sri Ram - o Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 60/61)


terça-feira, 16 de maio de 2017

AMAR É CONHECER (1ª PARTE)

"O Oriente preocupa-se profundamento com a questão da liberdade do ser humano. Diferentemente de muitos povos modernos, os orientais não identificam a liberdade com dinheiro, compras, viagens etc. Eles se concentram em libertar-se das compulsões que surgem do interior. O homem moderno está obcecado pela ideia de se libertar de coisas externas supostamente desagradáveis, enquanto os Upanixades, os venerados textos hindus, proclamam que tanto a liberdade quanto a escravidão são interiores. A mente cria grilhões e depois imagina que eles são externos. Só quando compreende que os problemas que enfrenta são criados por ela mesma é que se torna livre.

Não há sinônimos exatos para liberdade no Oriente, mas é fácil ver o quanto os orientais pensam e falam a respeito desse assunto. Certas escolas de pensamento orientais, que têm como foco central algo que poderia ser descrito como autoentrega, têm em mente a liberdade como seu maior objetivo. Autoentrega pode significar, para algumas pessoas, uma devoção sentimental a alguma imagem, física ou criada pela mente. Mas na verdade autoentrega é abrir mão de si próprio, libertar-se dos grilhões interiores, como caminho para a realização espiritual.

Segundo o pensamento budista, a inteligência espiritual, que é inteligência da mais elevada ordem, não existe sem compaixão. Os budistas acreditam que compaixão e inteligência constituem a sabedoria. Se não há compaixão, então a inteligência não é espiritual, mas apenas intelectual; às vezes nada mais é que um tipo de esperteza. 

Annie Besant disse, numa de suas palestras, que o amor é uma forma de conhecer. Quando existe amor verdadeiro, não um apego passageiro, existe a possibilidade de se conhecer algo além do intelecto. O conhecimento está unido ao amor. (...)"

(Radha Burnier - Amar é conhecer - Revista Sophia, Ano 8, nº 31 - p. 25)


sábado, 29 de abril de 2017

PASSOS NO CAMINHO (1ª PARTE)

"O curso normal da evolução humana leva o homem para o alto, estágio por estágio. Entretanto, uma distância imensa separa até os gênios e os santos do homem que 'está no limiar da divindade' – e ainda mais daquele que cumpriu a ordem de Cristo: 'Sede perfeitos, como Vosso Pai do Céu é perfeito.' Há alguns passos que levam à subida para a Passagem, da qual está escrito: 'Estreita é a porta e árduo o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram.' Quem são 'os perfeitos', dos quais fala Paulo, o Apóstolo?

Na verdade, há passos que levam a esse Portal, e poucos são os que palmilham o seu caminho árduo. A Porta é a da Iniciação, o segundo nascimento, o batismo do Espírito Santo e do Fogo, o Caminho que leva ao conhecimento de Deus, que é a Vida do Eterno.

No mundo ocidental, os estágios, ou passos, foram chamados de Purgação, Iluminação, União; por esses estágios, o Místico – o que é levado à visão Beatífica pela devoção – designa o Caminho. No mundo oriental, o Ocultista – o Conhecedor ou Gnóstico – vê os passos de uma forma um tanto diferente, e divide o caminho em dois grandes estágios: o Probatório e o Caminho propriamente dito; o Probatório representa a Purgação do Místico, enquanto o Caminho propriamente dito é a Iluminação do Místico. Ele procura, ainda, desenvolver em si próprio, quando no Caminho Probatório, certas 'qualificações' definidas, preparando-se para passar através do Portal que marca o fim do Caminho, enquanto no Caminho propriamente dito ele deve descartar por inteiro dez 'grilhões' que o impedem de atingir a Libertação ou Salvação Final. E terá de passar através de quatro Portais ou Iniciações.

Cada uma das qualificações deve ser desenvolvida até certo ponto, embora não completamente, antes que o primeiro Portal possa ser cruzado. São os seguintes, esses Portais:

• Discernimento: o poder de distinguir entre o real e o irreal, entre o eterno e o transitório – a visão aguda que vê o que é Verdadeiro e reconhece o que é Falso sob todos os disfarces.

• Imparcialidade ou Ausência de Desejo: estar acima do desejo de possuir objetos que dão prazer ou afastar objetos que causam dor, pelo domínio absoluto da natureza inferior e pela transcendência da personalidade.

• Os Seis Dons ou Boa Conduta: controle da mente, controle do corpo – em palavras e em ações –, tolerância, resignação ou boa disposição, equilíbrio ou determinação, confiança. (...)"

(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento)


quinta-feira, 13 de abril de 2017

RUMO À TRANSFORMAÇÃO (2ª PARTE)

"(...) As pessoas religiosas também descobrem isso desistindo do conceito limitado de Deus em favor de um conceito mais amplo, até que alcançam aquilo que tudo abarca. É isso também que descobrem as pessoas ativas quando desistem de ações em benefício próprio em favor do serviço aos outros. Todos esses caminhos levam ao autoesquecimento e, portanto, ao novo - um novo dia, novas praias. Mas essa renúncia deve ser voluntária e espontânea; deve ocorrer somente quando o momento for propício. 

Não devemos nos restringir a um único caminho, pois nosso ser comporta diferentes possibilidades: ação, emoção, pensamento.

'O caminho não é encontrado apenas pela devoção, apenas pela contemplação religiosa, pelo progresso ardente, pelo trabalho autossacrificante, pela observação cuidadosa da vida. Nenhum desses, sozinho, pode levar o discípulo mais do que um degrau adiante. Todos os degraus são necessários para compor a escada' (Luz do Caminho).

Qualquer que seja o caminho pelo qual nos aproximemos das novas praias, o que lá encontrarmos não pode ser concebido nem descrito. São João da Cruz disse que 'aqueles que O conhecem mais perfeitamente percebem com muito mais clareza que Ele é infinitamente incompreensível.'

Mas os místicos, os verdadeiros sábios e os santos de todas as tradições afirmaram que as praias longínquas, os horizontes além de todos os horizontes não estão tão distantes: estão no aqui e agora, em nós, em nossas vidas. Compreender isso já é transformação. (...)"

(Mary Anderson - Para alcançar um novo dia - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 30)

quarta-feira, 12 de abril de 2017

RUMO À TRANSFORMAÇÃO (1ª PARTE)

"As transformações no nosso conceito do divino são como uma viagem de um horizonte a outro, uma jornada que sempre nos leva além. Dionísio, o Aeropagita, afirmou: 'É mais apropriado louvá-lo retirando do que atribuindo, pois imputamos-lhe atributos quando partimos dos universais e descemos através do intermediário até os particulares. Mas aqui retiramos-lhe todas as coisas subindo dos particulares para os universais, para que possamos conhecer abertamente o incognoscível, que está oculto no interior e sob todas as coisas que podem ser conhecidas. E observamos essas trevas além da manifestação, ocultas sob toda luz natural' (A Filosofia Perene, A. Huxley).

Helena Blavatsky chama aquilo que está além da luz e das trevas de As Grandes Trevas. Lemos em Luz no Caminho: 'Aferra-te àquilo que não tem substância nem existência./Ouve apenas a voz que não tem som./Considera apenas aquilo que é invisível/tanto para o sentimento interno quanto para o externo.'

Essa é a mais elevada forma de devoção. O caminho das negações livra-nos de todas as limitações e leva à transformação. Ele implica também a negação de nós mesmos, como nos conhecemos atualmente. Só desistindo do menor é que o maior pode emergir. Desistamos de nós mesmos como somos agora. Isso significa sacrifício - uma palavra da qual muitas pessoas não gostam, porque a associam a sofrimento. Mas somente nesse sacrifício há felicidade.

Aqueles que trilham o caminho da sabedoria descobrem isso. Eles desistem dos conceitos menores e superficiais. Somente então surgem os conceitos maiores, mais profundos, que, no final das contas, levam ao sem forma. (...)"

(Mary Anderson - Para alcançar um novo dia - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 30)
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