OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 26 de dezembro de 2023

AS LEIS DIVINAS FUNCIONAM INFALIVELMENTE

"Uma oração forte e profunda receberá resposta certa de Deus. Mas, se você não fizer um esforço sincero para orar, certamente não sentirá resposta alguma. Em uma época ou outra da vida, todos nós já tivemos algum desejo atendido pela oração. Quando a vontade é muito intensa, toca o Pai, que concede a realização do desejo. Quando 
Ele quer, toda a natureza toma conhecimentoDeus realmente responde quando você ora profundamente, com fé e determinação. Às vezes, responde plantando um pensamento na mente de alguém, que o capacita a realizar seu desejo ou necessidade; esse indivíduo servirá de instrumento divino para produzir o resultado desejado. 

Você nem imagina quão maravilhosamente funciona este grande poder; é matemático, infalível, sem condicionamentos. É isso que a Bíblia chama de fé: a prova das coisas que não se veem. 

Se praticar a presença de Deus, saberá que o que digo é verdade. Volte-se para Deus; ore e clame por Ele, até que Ele revele como funcionam Suas leis e lhe dê orientação. Lembre-se: melhor do que raciocinar um milhão de vezes é sentar-se e meditar em Deus até ficar interiormente calmo. Então, diga ao Senhor: 'Eu não poderia resolver este problema sozinho, mesmo que tivesse um número ilimitado de pensamentos diferentes; mas posso resolvê-lo colocando-o em Tuas mãos, pedindo primeiro Tua orientação e, depois, indo até o fim sem deixar-me desviar ou abater, pensando nos vários ângulos de uma possível solução.' Deus realmente ajuda a quem se ajuda. Quando sua mente estiver calma e cheia de fé, após orar a Deus na meditação, você será capaz de vislumbrar várias respostas para os seus problemas; e como a mente está tranquila, você poderá escolher a melhor solução. Coloque-a em prática e terá êxito. Isto é aplicar a ciência da religião na vida diária."

Texto de Paramahansa Yogananda, extraído do livro "O Romance com Deus", da Self-Realization Fellowship, p. 41/42.
Imagem: Pinterest.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

A MENTE COMPASSIVA

"O propósito da evolução é permitir à consciência alcançar a perfeição na manifestação humana como seres altruístas, com as qualidades de amor e compaixão, à imagem da divina inteligência que é a fonte de toda a vida. O amor dessa inteligência é visível em toda a sua criação, criada com infinita compaixão. Isso fica evidente nas miríades de espécies de vida com as habilidades especiais que lhes foram fornecidas pela natureza para sua sobrevivência.

Mahavira, o grande instrutor e reformador do Jainismo, declarava que não bastava a não violência como credo. Ele estendia esse princípio à solidariedade e ao auxílio a outros seres vivos, para se viver naturalmente, de acordo com as leis da natureza. A Nova Era exige sensibilidade e compaixão, mantendo em mente a interconexão e interdependência da vida em todos os níveis.

No Nobre Caminho Óctuplo de Buda, o primeiro passo, Reta Visão, é considerado de vital importância. Isso significa a compreensão da unidade da vida e das leis que governam o universo, Buda ensinou que trishna, ou desejo, é a causa do sofrimento. Os seres humanos se prendem ao ciclo de vida e morte por meio de desejos incessantes que causam um imenso sofrimento. A ignorância do propósito da vida mantém as pessoas escravizadas.

A mente humana, condicionada por coisas como raça, religião, classe social, etc., está encurralada num modo preconceituoso de considerar o mundo. Para compreender esse condicionamento é necessário sabedoria para descobrir suas causas. Os preconceitos a respeito das pessoas são as causas da divisão que cria conflito e sofrimento. Com a percepção, esse condicionamento pode ser reconhecido e a pessoa pode se libertar dele.

A. P. J. Kaalam, ex-presidente da Índia, falando perante o Parlamento Europeu, citou o antigo poeta tamil Kaniyan Pungudranar: 'Eu sou um cidadão do mundo e todos os cidadãos do mundo são meus parentes e amigos. Onde há retidão no coração há beleza no caráter. Onde há beleza no caráter há harmonia no lar. Onde há harmonia no lar há ordem na nação. Onde há ordem na nação há paz no mundo.'

São necessários, portanto, corretos valores e corretas formas de educação que resultem em indivíduos responsáveis e compassivos. Há muita coisa errada numa sociedade baseada apenas em valores materiais. Não deveria haver sensibilidade e compaixão para compartilhar os limitados recursos do mundo com aqueles que são menos afortunados que nós? A extrema ganancia de políticos, patrões e outros, com suas práticas ardilosas, é responsável por muita iniquidade no mundo.

Essa doença é visível nos níveis individual, social e nacional do mundo. Há muito sofrimento no continente africano, que é explorado por seus recursos naturais e vida selvagem. O tráfico de 'diamantes de sangue' e outras pedras preciosas abastece as indústrias de armamento que fornecem armas para milícias e tribos inimigas. Essas práticas nefastas são responsáveis por assassinatos, estupros e saques.

Em diversas partes do mundo há extrema crueldade contra cães e outros animais, que são cozidos vivos para deleite de pessoas que apreciam esse tipo de culinária. Radha Burnier escreveu: 'Viver de maneira compassiva no mundo moderno dificilmente parece ser um ideal, já que atrapalha grandes e imediatos lucros de negócios e entra em conflito com a procura de novos prazeres e satisfações.'

Outra causa de conflito é a doutrinação religiosa, que cria sociedades intolerantes. No discurso que fez nas Nações Unidas, a jovem Malala Yousufzai enfatizou a necessidade da educação promover um pensamento liberal e a não violência, citando os exemplo de Buda, Cristo, Maomé, Gandhi e Pashtun Badshah Khan..

Para o mundo mudar, o individuo precisa mudar. Uma mente que tenha preocupação compassiva com o bem-estar global deve estar envolvida em ações proativas. Nelson Mandela disse: 'Nosso medo mais profundo não é de sermos inadequados. E de sermos poderosos além da conta. É a luz, e não as trevas que nos assusta. Quem sou eu para ser tão brilhante, talentoso e famoso? Na verdade, quem é você para não ser? Você é um filho de Deus. Brincar de ser pequeno não serve ao mundo... Nascemos para tornar magnifica a glória de Deus que que está dentro de nós.'"

(Bhupendra Vora - A Mente Compassiva - Revista Sophia, Ano 18, nº 87, p. 43)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 19 de maio de 2022

SENSUALIDADE E SUA CORREÇÃO

"A sensualidade (uma dificuldade do segundo, quarto e sexto raio) é a falha mais difícil de suportar. Para quem aspira trilhar a Senda, a condescendência ao excesso, sob qualquer forma, é uma doença insuportável para o coração. Traz em seu bojo uma profunda humilhação, irreverência, desrespeito e remorso. 

Para escapar das agonias desses efeitos posteriores, a princípio tentamos muitas vezes justificar nossa tolerância como liberdade de expressão, o direito de viver como queremos e com nossa emancipação das convenções restritivas. Isso é fundamentalmente um mecanismo de defesa, uma forma de encobrir a verdade sobre nós mesmos. Tal atitude produz uma cegueira mental que nos permite continuar tolerando nossas falhas, desafiando sem a dor ou os autocorretivos valiosos da humilhação, desrespeito e remorso. Com isso, a vida precisa nos levar a lidar conosco pelo método longo e doloroso de tentativa e erro e seus resultados desastrosos para a psique e para o caráter. 

Mas, quando a doença da autoindulgência nos ataca e é vista e aceita pelo que é, o desejo ou falha de conduta tendo sua satisfação negada e a condição da doença suportada incansavelmente, então os corretivos da sensualidade que vasculham a alma podem iniciar sua função de cura. Pois todas essas agonias acabarão ocorrendo, não apenas depois ou durante a condescendência, mas, eventualmente, antes que ela ocorra e, assim, se tornarão um seguro preventivo. Essas agonias são os 'ingredientes' com os quais a força moral e a fibra são incorporadas ao caráter. O pensamento e o forte desejo de pureza devem ser concentrados diariamente e a cada hora, a fim de substituir o desejo por sua virtude oposta. 

Da mesma maneira, outras fraquezas dos Raios podem ser trabalhadas e substituídas pelas maravilhosas virtudes opostas. Pelo princípio de substituir o erro pela virtude oposta, construímos nossa natureza imortal enquanto ainda estamos no corpo."

(Geoffrei Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 147/148)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 17 de maio de 2022

CAIR NA REDE DAS EMOÇÕES É ESQUECER DEUS

"Ser aprisionado pelo temor, pela ira, pela cobiça ou por qualquer outra emoção violenta ou impulsiva é esquecer Deus. Se seus sentidos, que governam as emoções, estão sob controle, você é um santo. Só você mesmo sabe se é senhor ou servo dos sentidos. Lembre-se: tudo o que domine o seu autocontrole leva à destruição do sistema nervoso. O guloso se alimenta e o homem de autocontrole também. O primeiro come demais para gratificar sensualmente seu corpo, mas o segundo come para manter seu bem-estar físico. Se o amor de uma pessoa se concentrar mais em Deus e menos nos sentidos, todo o abuso sensorial será vencido. Quando você for tentado, ore ao Senhor: 'Torna-Te mais tentador que a tentação. Por mais que me testes, Senhor, vou me agarrar a Ti.' O sistema nervoso, quando repleto de pensamentos de amor e paz por Deus, é recarregado pelo poder divino. Krishna disse: 'Quando chitta (o sentimento) fica absolutamente subjugado e tranquilamente estabelecido no Eu (a alma), diz-se que o iogue, desprovido assim de apego a todos os desejos, está unido a Deus'.²

As estrelas de cinema e outros artistas são considerados as pessoas invejáveis dos Estados Unidos. Por que, porém, a vida pessoal delas é tão frequentemente uma confusão de infelicidade e múltiplos divórcios? A maior parte dessas pessoas vive com a excessiva energia nervosa concentrada nos sentidos. Excesso de alimento, sexo promíscuo, intoxicação com bebidas alcoólicas e drogas - tudo isso produz uma contrafração da felicidade. Só em Deus encontramos a alegria sempre-nova, que jamais pode ser obtida por meio de qualquer dos sentidos. Se você está nas garras de qualquer abuso dos sentidos - seja qual for-, afirme continuamente sua liberdade: 'Não sou escravo deste hábito, meu amor por Deus é supremo e maior do que qualquer coisa."

² Bhagavad Gita VI:18.

(Paramahansa Yogananda - Jornada para a Autorrealização - Self-Realization Felowship, 2014 - p. 87/88).


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

DESENVOLVIMENTO DO CARÁTER

"... 'O que um homem pensa ele se torna, pense, portanto, no eterno', diz a escritura hindu. É assim. Estamos construindo o nosso caráter, o tempo todo, pela natureza de nossos pensamentos habituais. Se continuarmos repetindo determinadas linhas de pensamento, formaremos hábitos mentais, pois, em certo sentido, nossa personalidade é gerada por nossos hábitos. Mas a Teosofia diz que podemos mudar nossos hábitos e, quando o fazemos, mudamos a nós mesmos. Nós literalmente nos tornamos novas criaturas. Uma das descobertas mais encorajadoras da psicologia moderna é que a pessoa pode formas novos hábitos em qualquer momento da vida. 

O que um homem pensa, ele se torna, e essa é uma parte importante do caminho para a autorredenção, a autocura, a autocorreção, pelo exercício de seus pensamentos. Consiste em uma operação inversa do mesmo processo pelo qual o hábito original foi formado. Se acharmos que temos um mau hábito, que ele está ficando mais forte, que está nos incomodando e que  é um sinal desagradável no ser humano, então há uma maneira pela qual podemos curá-lo. Se é algo sério, como raiva repentina ou irritabilidade aguda, não se concentre no problema, mas no seu oposto. O contrário da raiva é o amor, o domínio próprio, o equilíbrio. Todos os dias você terá que dedicar um quarto de hora. Você precisa pensar neste caso no amor, um amor completamente impessoal, sem pensamento de retorno, de autodomínio e equilíbrio. 'Amor', você deve pensar. Diga a palavra se quiser. Continue e insista até você se sentir pleno com a palavra que você está usando. Dessa forma, você é modificado pela forma-pensamento que você criou.   

O que acontece fisicamente no cérebro e em nosso sistema nervoso à medida que aprendemos um novo hábito ou quebramos um antigo? Quando realizamos um ato, estabelecemos uma espécie de caminho cerebral ou nervoso, levando aos centros motores e à matéria dos corpos astral e mental. Assim, na próxima vez que o impulso ou o desejo da ideia de realizar o ato nos atingir, uma vez que o caminho já está marcado, um impulso ou desejo mais fraco percorrerá o mesmo caminho, levando-nos a agir, realizar o desejo, ou o impulso, ou a ideia. Isso pode continuar indefinidamente até que, conforme repetimos o processo, as células nervosas e a matéria dos corpos astral e mental se tornam tão bem-organizadas e integradas que o comportamento resultante se torna quase automático. 

Por esses processos e pelo pensamento constante ao longo das linhas desejadas, podemos reconstruir nossas personalidades e adicionar qualidades que até agora não eram aparentes. Você pode mudar a si mesmo. No entanto, gostaria de alertar sobre a preocupação excessiva consigo mesmo, com a introspecção mórbida e o interesse excessivo nos próprios estados mentais e emocionais. Em vez disso, pratique o desinteresse, o esquecimento e o serviço."

(Geoffrey Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 56/57)


terça-feira, 18 de janeiro de 2022

ALTRUÍSMO LIVRE DE APEGO

"Porém, até que esse nível de percepção seja atingido, cada momento de sua vida surge da dependência de outro. Você usa roupas e se senta em cadeiras feitas por outras pessoas. Come alimentos cultivados e cozidos por outras pessoas. Por mais que queira acreditar que alcançou realizações com seus próprios esforços, você está unido a todos os outros seres. 

Essa percepção de nossa interdependência leva diretamente a um senso de responsabilidade e à necessidade de abrir mão do desejo de aquisição. Até que tenhamos atingidos o verdadeiro altruísmo, livre da ignorância, podemos começar devolvendo aquilo que recebemos para beneficiar os outros da melhor maneira possível.

Podemos chamar isso de compaixão, amor, cuidado. O significado é o mesmo: em suas ações, palavras e pensamentos, você considera os outros antes de você mesmo. Alguns de nós praticamos a meditação para alcançar essa compreensão; outros são capazes de entender isso por si sós. Mas não importa falar a respeito da compaixão - o importante é praticá-la.

Você precisa de sabedoria para se olhar internamente e ver que tipo de pessoa você é. Compaixão significa abrir mão da autoidentidade, parar de tentar provar sua identidade o tempo todo. Significa que você trabalha da maneira como o vento trabalha, como o sol trabalha, como o ar trabalha. O ar assume a forma de um aposento. Ele não diz 'vou lhe dar este espaço para respirar, desde que você respire da maneira que eu quero'. o mesmo se dá com o sol; ele não para de brilhar quando há nuvens no céu.

Dessa maneira, o altruísmo livre do apego - a compaixão usada com sabedoria - significa ir além do modo como você quer fazer as coisas. Se você consegue abrir mão de se tornar a pessoa mais importante do mundo, haverá mais capacidade e mais espaço dentro de você para trabalhar com os outros. Você descobrirá mais espaço, tempo e energia dentro de si. Imagine, por exemplo, que você consiga trabalhar como voluntário num hospital, mas descubra que há restrições e que você não pode fazer as coisas da maneira como quer. Você luta contra o sistema, fica exausto e conclui que sua compaixão não está sendo usada da melhor maneira. Mas o que precisa ser compreendido, ao aplicar a sabedoria à sua compaixão, é o quanto de solidez você está trazendo para a situação. Ao insistir em como as coisas deveriam ser, você cria uma frustração que prejudica a criatividade que poderia aplicar à situação.

Quando queremos gerar compaixão, terminamos trabalhando com nossas próprias emoções. Descobrimos que uma situação nos oprime na mesma medida em que nós a solidificamos. Portanto, sem sabedoria, a compaixão não atuará. A sabedoria é o que nos permite ser imparciais em nossas ações. Com sabedoria, não estamos limitados a uma causa ou propósito; fazemos o melhor que podemos numa determinada situação e seguimos em frente. 

Sem sabedoria, frequentemente focamos um único problema ou questão que pensamos ser mais importante. Mas vivemos num mundo que é habitado por seres humanos, e enquanto houver bilhões de humanos não haverá uma única coisa que todos aceitem. Muitas coisas não são feitas da maneira como você gostaria. 

Diferentes filosofias surgiram da compaixão - Cristianismo, Budismo, Islamismo, Hinduísmo. Mas eu acredito que esta é a correta, você acredita que aquela é correta, e uma terceira pessoa acredita em outra. Mesmo um conceito tão universal quanto a compaixão, os budistas chamam de bodhicitta, os hindus chamam de karuna, os cristãos chamam de amor. Nós nos aferramos a nossos próprios termos."

(Khandro Rinpoche - Compaixão para uma vida melhor - Revista Sophia, Ano 15, nª 70 - p. 10)
Imagem: Pinterest


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A FUNÇÃO DO RELACIONAMENTO

"O relacionamento é inevitavelmente doloroso, o que é mostrado na nossa existência cotidiana. Se no relacionamento não houver tensão, ele deixa de ser um relacionamento e se torna apenas um confortável estado de latência, um entorpecente - o que a maioria das pessoas quer e prefere. O conflito se dá entre esse desejo de conforto e o factual, entre a ilusão e a realidade. Se você reconhece a ilusão, então pode, colocando-a de lado, dar sua atenção ao entendimento do relacionamento. Mas se busca segurança no relacionamento, ele se torna um investimento no conforto, na ilusão - e a grandeza do relacionamento é sua própria insegurança. Se sua busca for por segurança no relacionamento, você está impedindo sua função, que é provocar suas próprias ações e infortúnios peculiares. 

Certamente, a função do relacionamento é revelar o estado de bem-estar da pessoa. O relacionamento é um processo de autorrevelação, de autoconhecimento. Essa autorrevelação é dolorosa e exige constante ajustamento, flexibilidade do pensamento e da emoção. É uma luta dolorosa, com períodos de paz iluminada. 

Mas a maioria de nós evita ou põe de lado a tensão no relacionamento, preferindo a calma e o conforto da dependência satisfatória, uma segurança não desafiada, um porto seguro. Então, a família e outros relacionamentos tornam-se um refúgio, o refúgio do imprudente.

Quando a insegurança desliza para a dependência, como inevitavelmente acontece, então esse relacionamento particular é posto de lado e um novo é assumido na esperança de encontrar uma segurança duradoura, Mas não há segurança no relacionamento, e a dependência só gera medo. Sem entender o processo da segurança e do medo, o relacionamento se transforma em um estorvo compulsório, e uma forma de ignorância. Então, toda a existência passa a ser luta e sofrimento, e não há saída para isso exceto no pensamento correto, que surge por meio do autoconhecimento."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 93/94)


terça-feira, 21 de setembro de 2021

UMA CURA PARA O PLANETA

"Segundo a tradição budista, o universo se manifesta por meio da força kármica coletiva e individual de todos os seres sencientes. A força kármica favorável gera formas que estão em sintonia com o processo vital, e o universo vivo cria um universo não vivo em sintonia com ele. Essa força positiva tem o poder de converter formas que não estejam em sintonia com o universo em formas que estejam sintonizadas. 

Durante o surgimento, o crescimento e a vida madura de um planeta existe coesão entre suas formas vivas e sua própria natureza. Isso é chamado de Era de Ouro, ou Satya Yuga. Mas, após um período de tempo específico, essa força kármica positiva gradualmente retrocede e uma forma kármica negativa ganha força. Isso cria conflitos e contradições entre os seres vivos e não vivos, e faz com que esses seres e o próprio planeta fiquem fora de sintonia com o universo, levando a uma total deterioração e aniquilação. Isso é chamado de Kali Yuga, ou Era de Decadência. 

Hoje em dia, nosso pequeno planeta está sofrendo de falta de coesão, o que resulta em conflitos. Os seres sencientes estão sujeitos a medo e a incontáveis misérias. Isso se deve basicamente à forma kármica coletiva dos seres vivos, que não é fácil de ser corrigida. Porém, não podemos esperar pela transformação dessa força coletiva para resolver nossos problemas. Precisamos de uma abordagem individual para regenerar a nós mesmos e ao mundo. 

'Sair da corrente' é a única solução possível para o mundo atual. Um nadador pode não ser capaz de reverter o fluxo de uma corrente marítima, mas pode ter a liberdade e a habilidade de sair da corrente e nadar em direção à praia. Logo que tiver feito isso, poderá ajudar a socorrer muitos outros. Cada um de nós, individualmente deve cair fora da corrente da civilização moderna e compreender sua responsabilidade universal. Dessa maneira, cada indivíduo pode se sintonizar o o universo.

Gandhi disse que nossos problemas são resultado direto da ganância e do materialismo da civilização moderna. Uma ideia semelhante foi expressa pelo cacique norte-americano Seattle, há mais de 150 anos. Hoje, o mundo se depara com cinco grandes desafios:
  • Aumento incontrolável da população, particularmente nos chamados países do Terceiro mundo.
  • Disparidade econômica crescente entre ricos e pobres.
  • Violência, guerras, terrorismo e o medo de armas de destruição em massa.
  • Degradação ambiental, como aquecimento global, os danos à comada de ozônio, a destruição das florestas e a escassez de água.
  • Intolerância cultural e religiosa; a religião, que deveria ser uma fonte de felicidade, passou a causar conflitos e divisão.
Sabemos desses problemas porque os experienciamos todos os dias. Cada um deles é uma ameaça para a paz, a felicidade e o bem-estar dos seres vivos, e pode terminar com a total aniquilação da Terra. Cada desafio tem facetas diversas e inter-relacionadas. A causa última desses problemas podem ser as forças kármicas negativas, coletivas e individuais, mas a condição imediata que facilita seus efeitos negativos é a civilização moderna, ou, mais acuradamente, a descivilização baseada na ciência e na tecnologia. 

A ciência e a tecnologia modernas beneficiaram uma pequena parcela da humanidade com produção de mercadorias supérfluas, ou seja, sem relação com as reais necessidades das pessoas; e monopólio dessa produção sob a forma de capital, ou do chamado know-how tecnológico.

Esses dois fatores permitem que poucos acumulem riqueza e explorem a natureza e os seres vivos de maneira indiscriminada e constante. Gradualmente os povos se tornaram dependentes. A produção industrializada exige consumidores, e a promoção de mercado é sua consequência lógica. Os fabricantes exploram as emoções negativas da humanidade a seu favor, emoções como o desejo de conforto e a miragem do lazer.

A base para infinita multiplicação de apegos e desejos como esses são a educação e a estrutura social de competição, que desde a infância gera ódio de várias formas. Competir significa, na melhor das hipóteses, ser um adversário de outros competidores, e, na pior, ser inimigo de todos. Nas escolas, os estudantes são estimulados a serem os melhores e a derrotar os restantes. E isso é chamado de 'competição saudável'... Na verdade, competição significa 'vitória do eu sobre os outros'; isso é nada mais que egoísmo e falta de consideração. Na perspectiva budista, a competição é uma coisa imoral, um dos piores comportamentos humanos possíveis.

A exploração do desejo, do apego e do ódio é muito fácil porque estamos sob a influência da ignorância. Aqueles que produzem bens de consumo não apenas exploram nossas emoções negativas, como o desejo e o ódio, mas também nos privam completamente da sabedoria e de discernimento. As pessoas perderam o poder de discernir quais são suas reais necessidades, o que é bom e o que é ruim. Aquilo que supostamente é bom para nós é determinado pelo mercado. Assim, um homem pode facilmente ser levado a acreditar que precisa de doze pares de sapatos e de dezesseis ternos para transitar na sociedade moderna e manter o status social."

(Samdhong Rinpoche - Uma cura para o planeta - Revista Sophia, Ano 13, nº 54 - p. 33/34)


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

QUALIDADES DO DEVOTO QUE CATIVAM A DEUS (CAPÍTULO XII)

"Aquele que está livre de ódio a todas as criaturas, é amigável e benevolente para com todos, é desprovido de possessividade e da consciência do 'eu', é equânime no sofrimento e na alegria, tudo perdoa e está sempre contente, que pratica yoga com regularidade, buscando o tempo todo conhecer o Eu e unir-se ao Espírito por meio da yoga, que é dotado de firme determinação, com a mente e o discernimento entregues a Mim, esse é Meu devoto e Me é querido. 13-14

Aquele que não perturba o mundo e que não pode ser perturbado pelo mundo, que está livre de exultação, ciúme, receio e preocupação, ele também Me é querido. 15 

Aquele que está livre de expectativas mundanas, que é puro de corpo e mente, que está sempre pronto para agir, que permanece sem se tornar preocupado ou ser afligido pelas circunstâncias, que abandonou todos os empreendimentos motivados pelo desejo e originado no ego, esse é Meu devoto e Me é querido. 16

Aquele que não sente regozijo nem aversão em relação ao que é alegre ou triste (nos aspectos fenomênicos da vida), que está livre da mágoa e dos desejos, que expulsou a consciência relativa de bem e mal, e que é atentamente devotado, esse Me é querido. 17

Aquele que é igualmente sereno diante de amigos e adversários, em face da adoração e da ofensa e diante das experiências de calor e frio, prazer e sofrimento; que renunciou ao apego, e considera iguais a censura e o elogio; que é calmo e se contenta com facilidade, não é apegado à vida doméstica e tem disposição tranquila e piedosa, esse Me é querido. 18-19

Mas aqueles que se mantêm, com amor e veneração, nesta religião (dharma) imortal, revelada até aqui, impregnados de devoção, supremamente absortos em Mim, tais devotos Me são extremamente queridos." 20

(Paramahansa Yogananda - A Yoga do Bhagavad Gita - Self-Realization Fellowship - p. 140/141)

  

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

ACUSAÇÃO E CRÍTICA - V

"Desconfiamos dos outros? Temos medo da intimidade? Sentimo-nos pouco à vontade quando comunicamos nossos mais profundos pensamentos e desejos? Tememos a rejeição ou tememos ser possuídos por alguém?

Todos nossos temores vêm de uma falta de confiança em nós mesmos e não nos outros. Só podemos temer nos outros o que não vencemos em nós mesmos. Se tememos o controle dos outros é porque não nos sentimos no controle de nossa própria vida. Se tememos a rejeição, é possível que tenhamos rejeitado algo muito querido em nós mesmos. Se desconfiamos dos motivos e ações dos outros, provavelmente duvidamos dos nossos. Se reprovamos a hipocrisia dos outros, talvez estejamos nos condenando por não vivermos à altura de nossos mais altos ideais e expectativas. 

Tomás Kempis, um monge e escritor místico alemão do século 15, escreveu: 'O que está em perfeita paz não desconfia de ninguém, mas o que está descontente e perturbado é sacudido por muitas suspeitas. Ele não fica tranquilo nem permite que outros se tranquilizem'.

Hoje deixe-me lembrar a mim mesmo que não é a desconfiança dos outros que devo temer, mas a desconfiança em mim mesmo.

Assim que você confiar em si mesmo aprenderá a viver.
- GOETHE

(Por Liane Cordes - O Lago da Reflexão, Meditações para o autoconhecimento - Ed. Best Seller, 3ª Edição - p. 88)


terça-feira, 25 de maio de 2021

A BUSCA DA VERDADE - excertos 3 e 4

"3.  O mundo não tem substância própria. É apenas a vasta concordância das causas e condições que tiveram sua origem, única e exclusivamente, nas atividades da mente, estimulada pela ignorância, falsas imaginações, desejos e estultícia. Não é algo externo sobre o qual a mente tenha falsos conceitos: não tem nenhuma substância. Apareceu com os processos da própria mente, manifestando suas próprias delusões. É baseado e construído pelos desejos da mente, sem seus sofrimentos e lutas incidentais à dor causada por suas próprias cobiça, ira e estultícia. Os homens que buscam o caminho da Iluminação devem estar prontos para combater esta mente, para poderem atingir seu objetivo.

4.  Ó mente! Por que pairas incansavelmente assim sobre as cambiantes circunstâncias da vida? Por que me deixas tão confuso e inquieto? Por que me incitas a coligir tantas coisas? És como o arado que se quebra em pedaços antes de começar a arar; és como o leme que se desmantela, no momento em que te aventuravas neste mar da vida e da morte. Para que servem os muitos renascimentos se não fazemos bom uso desta vida?

Ó mente minha! Uma vez me levaste a nascer como rei, e outra, me levaste a nascer como um pária e a mendigar meu alimento. Às vezes me faz nascer em divinas mansões dos deuses e a morar na luxúria e êxtase, depois me atiras nas chamas do inferno. 

Ó minha tola, tola mente! Assim me conduziste por longos e diversos caminhos e sempre te fui obediente e dócil. Mas agora que ouvi os ensinamentos de Buda, não mais me perturbarás ou me causarás sofrimentos. Busquemos juntos a Iluminação, humilde e pacientemente.

Ó mente minha! Se pudesses aprender que tudo é não substancial e transitório; se pudesses aprender a não te apegares às coisas, por elas não ansiares, a não dares vazão à cobiça, ira e tolice, então, poderemos caminhar em paz. Se rompermos os grilhões dos desejos com a espada da sabedoria, se não nos abalarmos com as mutáveis circunstâncias da vida, com a vantagem ou desvantagem, com o bem ou mal, com a perda ou lucro, com o louvor ou o abuso, então, poderemos viver em paz.

Ó mente querida! Foste tu que primeiro despertaste em nós a fé; foste tu que sugeriste a nossa procura da Iluminação. Por que, facilmente, dás lugar à cobiça, ao amor pelo conforto e ao prazer novamente?

Ó minha mente! Por que saltitas para cá e para lá, sem um definido propósito? Cruzemos este bravio mar da delusão. Até aqui agi como desejaste, mas agora deves agir como eu quiser e, juntos, seguiremos o ensinamento de Buda.

Ó mente querida! Estas montanhas, estes rios e mares são inconstantes e fontes do sofrimento. Onde, neste mundo de delusão, poderemos encontrar paz? Sigamos o ensinamento de Buda e atinjamos a outra praia da Iluminação."

(A Doutrina de Buda, Bukkyo Dendo Kyobai, Terceira edição revista, 1982, p. 305/309)


terça-feira, 11 de maio de 2021

EM SUA VIDA: PARTICIPAÇÃO ÍNTIMA (PARTE FINAL)

"(...) Considere cada passo como parte do processo. Quando alguém diz 'É tudo parte do processo', percebe-se um tom de resignação, como se a vida tomasse tempo e paciência, mas se você puder tolerar o aborrecimento por tempo suficiente, o processo acabará sendo eficaz. O processo que estou descrevencdo nada tem de mecânico. Ele é dinâmico, imprevisível, fascinante e em constante mutação. Ser conduzido pelo processo leva à plenitude e à felicidade definitiva. Os grandes mestres espirituais, aqueles que veem a vida pelo aspecto metafísico, frequentemente afirmam que o processo acontece por si próprio. Um conhecido guru indiano foi uma vez indagado:

- Minha evolução pessoal é algo que estou realizando ou algo que está acontecendo comigo? 

A resposta:

- São ambas, mas se tivermos de escolher, é algo que está acontecendo com você.

Por tudo isso, o caminho espiritual não é uma coisa automática. A vida participa aqui e agora, mais pela perspectiva da formiga que pela da águia. Você deve focar em cada minuto; novos desafios aparecem constantemente e não podem ser ignorados. Assim fica bem fácil observar sua vida como uma sequência de momentos, com passos para a frente ou para trás. Muitas pessoas vivem suas vidas exatemente dessa maneira, 'vivendo um dia de cada vez', conforme diz o ditado. Essa perspectiva faria de nós todos sobreviventes. Ela estaria negando a plenitude da vida e, se você não inclui essa fator, uma participação irrestrita torna-se impossível. É claro que você aceitará uma fatia do pão de cada vez se você não souber que o pão inteiro pode ser seu.

Somos forçados a falar por metáforas porque o processo da vida é misterioso. Está acontecendo exatamente agora, esteja você enchendo seu tanque de gasolina, trocando a fralda de um bebê ou sentado na cadeira do dentista. Será que ele chega a uma conclusão gloriosa com data marcada? A mescla do visível com o invisível, do sublime com o aflitivo, é inevitável. A única conclusão viável acaba sendo 'É isso aí'. Algumas vezes 'isso' não significa nada; você não pode esperar que isso termine. Outras vezes 'isso' dá a impressão de que os céus se partiram; você só pode esperar que dure para sempre. Porém, 'isso' é como um pássaro em voo. Você nunca o agarrará. O milagre é que as maiores criações, como o cérebro humano, foram feitas para caçar o pássaro. Nós nos entrelaçamos em um bordado de experiências que fica mais compacto com o passar do tempo, em que cada fio não é nada mais que um fragmento de pensamento, desejo ou sentimento. Cada movimento vivido acrescenta outro ponto de costura e mesmo que você não consiga visualizar como será o padrão final, ajuda saber que o fio é de ouro."

(Deepak Chopra - Reinventando o Corpo, Reanimando a Alma - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2010 - p. 264/265)


quinta-feira, 29 de abril de 2021

EM SUA VIDA: PARTICIPAÇÃO ÍNTIMA (3ª PARTE)

"(...) Fique alerta à mudança e use-a com sabedoria. Você pode usar a natureza transitória da vida em seu benefício. A maioria das pessoas tem medo de mudar; outras não dão importância. Para usar a mudança de modo criativo, tais atitudes não irão funcionar. Nenhuma estratégia de vida funcionará se não for dinâmica e expansiva. A mudança em si é neutra, visto que para cada mudança construtiva haverá uma outra destrutiva. Mas é no princípio da mudança que está a chave, pois ele ensina que seguir o fluxo da vida traz crescimento e criatividade, enquanto tentar congelar acontecimentos, lembranças, prazer e inspiração provoca estagnação. Os momento mais agradáveis e inspiradores de sua vida pedem para ser relembrados e saboreados. Você precisa resistir a essa tentação porque no instante em que tenta se agarrar à experiência ela perde a vitalidade que a tornou especial em primeiro lugar. 
Use o princípio da mudança para manter sua vida fresca e renovada. Assumir que o fluxo da vida é sempre autorrenovador irá ajudá-lo a evitar a estagnação e a ansiedade acerca do futuro. O que torna as pessoas ansiosas sobre o futuro é um medo torturante de que o melhor já passou ou de que a única oportunidade perdida terá sido decisiva. 'A pessoa que se foi' é um tema recorrente de romances fracassados e que se aplica igualmente a carreiras, projetos abandonados e aspirações empobrecidas. Mas, na realidade, 'a pessoa que se foi' representa o apego a uma ideia fixa. Todo o sucesso de uma pessoa criativa é baseado na confiança de que a inspiração é permanente. Quanto mais você cria, mais há para se criar. Em um documentário sobre um famoso maestro que completava oitenta anos de vida, o momento mais pungente foi o de seu último comentário: 'Não tenho o desejo de viver muitos anos a mais, exceto por saber que estou apenas começando a dizer tudo o que quero através de minha música.'

Reúna informações de todas as fontes. O universo é multidimensional, e quando nos referimos ao fluxo da vida, estamos nos referindo a um fluxo multidimensional. Imagine não apenas um rio caudaloso correndo para o mar, mas uma centena de pequenos riachos convergindo, misturando-se, cada um acrescentando sua contribuição única. Para extrarir o melhor da vida, você deve estar consciente de que qualquer coisa pode contribuir para isso. Inspiração vem de todas as direções, tanto de dentro quanto de fora. Você deve permanecer antenado para sentir a continuidade com que sua alma está se comunicando com você. Não é como ficar diante de uma TV a cabo mudando de canal na esperança de achar algum programa interessante. Mais propriamente, na agitação das sensações que bombardeiam o cérebro todos os dias, algumas delas foram feitas para voce - elas carregam um significado que lhe é exclusivo.
Na cultura indiana, diz-se que Deus gasta tanto tempo se escondendo quanto se revelando, o que aponta para uma verdade diária. A próxima coisa que o estimulará está adormecida até que você a acorde. O futuro é um esconderijo a que chamamos de desconhecido. Também o conhecido, que é o aqui e agora, não vem de outro lugar que não o desconhecido. O instinto que diz 'algo aguarda do outro lado' é válido. Você se encontra na linha divisória entre o desconhecido e o conhecido. Sua tarefa é buscar na escuridão a próxima coisa que faça sentido.
Algumas pessoas evitam essa tarefa repetindo o conhecido incessantemente. O que elas não percebem é que o desconhecido nunca é verdadeiramente invisível. Sua alma antecipa aquilo de que você necessita e ela deixa sinais e indícios em seu caminho. Essa é a forma sutil de orientação empregada pela alma. Ela elimina os começos inúteis, sem direção, enganosos e falsos. Se você se sintonizar com atenção, sentirá uma sensação vibrante acerca do que deveria estar fazendo - que é certo, fascinante, tentador, prazeroso, curioso, intrigante e desafiador, tudo de uma só vez. Estar aberto a esses sentimentos, o que é totalmente subjetivo, permite que você recolha os sinais deixados por sua alma. O desconhecido parece obscuro somente para aqueles que não conseguem ver seu brilho oculto."...continua

(Deepak Chopra - Reinventando o Corpo, Reanimando a Alma - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2010 - p. 258/260)


terça-feira, 13 de abril de 2021

AS REGRAS DO JOGO (1ª PARTE)

"O plano para o universo em expansão está bem à nossa frente, mesmo que não consigamos vê-lo. Somos cegos para ele porque o plano somos nós. Ou, para torná-lo pessoal, você é o plano cósmico - ou plano divino, se preferir. Não existem regras fora de sua mente, nenhuma ação fora de seu corpo. Seja o que for que você escolha fazer, o plano se adapta. Quando você tem um novo desejo, o universo muda concomitantemente. Ele não tem escolha porque não existe propósito na criação além de você, exatamente aqui e agora.

Concordo que essa descrição soa como uma hipérbole. Por toda a sua vida você absorveu uma visão de mundo que o coloca sob um poder superior. Se não for o poder de Deus, é o poder de forças naturais. Se não for o poder de autoridades, é o poder da natureza humana e seus impulsos autodestrutivos. Nada disso é verdade - ou, para ser mais preciso, nada disso é verdade uma vez descoberto seu eu real. Em última análise, descobrir seu propósito o conduz à descoberta de quem você realmente é.

O plano cósmico que foi elaborado em seu interior segue certas diretrizes invisíveis:

1. Tudo está consciente. Não existem zonas mortas na criação. A consciência é uma atividade que permeia todo o universo, o que significa que quando você está consciente de alguma coisa, o universo está consciente com você. O que você vê e faz altera todo o esquema. 
2. Tudo se encaixa. Não existem partes frouxas para o universo, nada é postergado. A totalidade mantém cada parte em seu lugar e determina a cada uma sua função. Quando algo parece aleatório, você está testemunhando um padrão se transformando em outro.
3. O esquema todo é auto-organizado. Não é necessário um controlador externo. Uma vez que uma galáxia, uma borboleta, um coração ou uma espécie inteira esteja em movimento, seu funcionamento interno sabe o que fazer.
4. A evolução se desdobra por si mesma. Uma vez que alguma coisa cresce, ela procura a forma mais elevada de si mesma - a melhor estrela, dinossauro, feto ou samambaia. Quando esta se exaure, ela realiza uma transição para uma nova forma que seja mais criativa e interessante.
5. A liberdade é o objetivo final. Você não ganha por ter chegado ao fim, você ganha por encontrar um novo jogo no instante em que o velho acaba. Isso não é liberdade vazia. Você nunca se acha flutuando em um vácuo. Melhor dizendo, essa é a liberdade de possibilidades que nunca chegam ao fim. (...)" 

(Deepak Chopra - Reiventado o Corpo, Reanimando a Alma - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2010 - p. 250/251)


quinta-feira, 1 de abril de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 4a (PARTE FINAL)

"(...) Poucos têm a coragem, ainda que lentamente, de enfrentar a grande desolação que se encontra fora deles mesmos, e lá repousar, enquanto apegam-se à pessoa que representam, o 'eu' que para eles é o centro do mundo, a causa de toda a vida. Em seu anseio por um deus, eles encontram a razão da existência de um; no desejo por um corpo sensorial e um mundo para desfrutar, a causa do Universo existe para eles. Essas crenças podem estar ocultas muito abaixo da superfície e, de fato, de difícil acesso; mas a razão pela qual o ser humano se mantém em pé, está no fato de que as crenças lá se encontram. Ele é, para si mesmo, o infinito e o deus; sustenta o oceano em uma taça. Nesta ilusão ele nutre o egoísmo que torna a vida prazerosa e a dor agradável. Nesse profundo egoísmo está a causa e a fonte da existência do prazer e da dor, pois a menos que o indivíduo vacilasse entre estes dois, e incessantemente lembrasse a si mesmo, pela sensação, de que o egoísmo existe, ele o esqueceria. E, nesse fato, está toda a resposta à pergunta: 'Por que o homem cria dor para seu próprio desconforto?'

O fato estranho e misterioso permanece, até então, inexplicável; ao se iludir, o ser humano meramente interpreta a Natureza ao contrário e atribui a significação da vida às palavras de morte. Para aquele indivíduo que realmente segura o infinito dentro de si, e que o oceano realmente está na taça, é uma verdade incontestável; mas unicamente é assim, porque a taça é absolutamente inexistente. É meramente uma experiência do infinito, impermanente, sujeita a ser destroçada a qualquer instante.

É na reivindicação da realidade e da permanência dos quatro muros de sua personalidade que o ser humano comete o grande erro, mergulhando numa série prolongada de incidentes infelizes e intensificando continuamente a existência de suas formas favoritas de sensação. Prazer e dor se tornam para ele mais reais do que o grande oceano do qual ele faz parte e onde encontra seu lar; perpétua e dolorosamente bate contra esse muros, nos quais sente, e seu eu mesquinho oscila dentro de sua prisão escolhida." 

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 102/104)
www.editorateosofica.com.br 


quinta-feira, 11 de março de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 2

"Se considerarmos cuidadosamente a constituição do ser humano e suas tendências, pareceria haver duas direções definidas nas quais ele cresce. Ele é como uma árvore que cria suas raízes no solo, ao mesmo tempo em que ergue seus novos ramos em direção aos céus. Essas duas linhas que partem de um ponto pessoal e central são claras, definidas e inteligíveis. A uma, ele chama bem, a outra, mal. Mas o indivíduo não é, de acordo com qualquer analogia, observação ou experiência, uma linha reta. Sua vida, seu progresso, seu desenvolvimento, chame-se como queira, não consiste meramente em seguir um caminho reto ou outro, como alegam os filiados às religiões. Toda a questão, o grande problema, seria facilmente resolvido então. Porém, não é tão fácil ir para o inferno como os pregadores declaram ser. É uma tarefa tão difícil quanto encontrar o caminho para o Portal de Ouro.

Um indivíduo pode destruir-se completamente no prazer dos sentidos - ao que parece, pode degradar toda a sua natureza - mas ele falha em tornar-se o diabo perfeito, pois ainda há a centelha da luz divina em seu interior. Ele busca escolher a estrada ampla que leva à destruição, e bravamente entra num impetuoso percurso. Mas logo ele é controlado e surpreendido por uma tendência impulsiva - algumas das muitas outras radiações que saem do centro de si mesmo. Ele sofre, como sofre o corpo quando desenvolve monstruosidades que impedem sua ação saudável. Criou sua dor e tem se encontrado com sua prória criação. Pode parecer que esse argumento é de difícil aplicação em relação à dor física. Não é assim, se o indivíduo é considerado de um ponto de vista mais elevado do que aquele que geralmente ocupamos. Se ele é visto como uma consciência poderosa que forma suas manifestações externas de acordo com seus desejos, então é evidente que a dor física resulta da deformidade desses desejos. Sem dúvida, parecerá a muitas mentes que essa concepção de ser humano é demasiadamente gratuita, e envolve um salto mental muito grande para lugares desconhecidos, onde a prova é inatingível. Mas se a mente está acostumada a encarar a vida deste ponto de vista, muito em breve nenhum outro é aceitável; os fios da existência, que ao observador materialista parecem desesperadamente emaranhados, separam-se e ajustam-se, de modo que uma nova compreensão ilumine o Universo. O criador arbritário e cruel que inflige dor e prazer à vontade então desaparece de cena; e isso é bom, pois ele é realmente um personagem desnecessário, e, pior ainda, é uma mera criatura de palha, que não pode nem mesmo erguer-se sobre as tábuas sem o apoio dos dogmáticos. O ser humano vem a este mundo, certamente, com o mesmo princípio que ele vive em qualquer cidade; em todo caso, se é demais afirmar isso, pode-se perguntar com segurança, por que não é assim? Não existem para isso razões nem pró e nem contra pelas quais os materialistas possam apelar ou que pesariam em um tribunal de justiça; mas eu afirmo isso a favor do argumento - que nenhum indivíduo, tendo uma vez considerado isso seriamente, pode voltar-se às teorias formais dos céticos. Seria o mesmo que se envolver em cueiros, como um recém-nascido. 

Concordando com esse argumento, que o ser humano é uma consciência poderosa, seu próprio criador, seu próprio juiz e que em seu interior reside, potencialmente, toda a vida, até o objetivo final, consideremos, então, as razões pelas quais ele se inflige o sofrimento. (...)" continua... 

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 84/87)


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (9ª PARTE)

"23. O fenômeno observador-observado cria um relacionamento de possuir e de ser possuído.

Aqui as palavras utilizadas são sva-sakti e svãmi-sakti. O sutra indica que cada um tenta satisfazer a si mesmo. Svãmi-sakti é o possuidor e quer possuir, seja um objeto ou um indivíduo. Mas aquilo que o homem busca possuir, por sua vez, quer possuir o possuidor. O relacionamento do possuidor e do possuído é obviamente de uso. É uma estranha lei da vida que aquele que quer possuir deve também estar pronto para ser possuído. Ambos estão comprometidos com svarupa-upalabdhi, que significa tentar satisfazer seu próprio fim. Possuir é ser possuído. Os dois seguem juntos. Ter um sem o outro é uma impossibilidade. Este é o ponto crucial do relacionamento de uso. O explorador e o explorado seguem juntos. A necessidade de ser explorado dá origem ao explorador. No relacionamento de uso vemos a pior forma de exploração do homem pelo homem. Patañjali diz no sutra subsequente que:

24. Este desejo de possuir e de ser possuído é motivado por avidiã ou ignorância.

Certamente tal relacionamento de uso nasce da ignorância. Patañjali tem discutido o problema das aflições. A maior aflição que surge na vida do homem deve-se aos relacionamentos infelizes. Este é o maior problema do homem. Ele seria intensamente feliz se pudesse conhecer o segredo do reto relacionamento. Mas o reto relacionamento pode surgir apenas quando a couraça de avidyã é quebrada. Precisamos nos lembrar de que o relacionamento de uso tem sua origem no desejo de continuidade. A questão de uso pela própria continuidade de si é o que dá origem à rãga e dvesa. Porém este desejo por continuidade não tem valor a menos que conheçamos a entidade que quer ser contínua. O relacionamento de uso é motivado pelo desejo de posse. Contudo, antes que possamos possuir o outro, precisamos possuir a nós mesmos. Mas o Ser⁷ pode ser possuído? Se ele é não nascido, como pode ser possuído? Se aquilo que é vivo está em um estado de fluxo, como pode um fluxo ser possuído? Então, o que é aquilo que possuímos? Certamente, podemos possuir apenas nossa imagem, e é esta imagem que consideramos como nós mesmos, que é asmitã no verdadeiro sentido. Tendo formado uma imagem de nós mesmos, movemo-nos na direção de possuir a imagem do outro. É o que chamamos de relacionamento. Não é de admirar-se que tal relacionamento não leve à alegria e à felicidade. Transformamo-nos em uma imagem, e considerar esta imagem como nós mesmos é a mais elevada forma de ignorância. O relacionamento de uso com sua consequente aflição pode desaparecer apenas quando esta ignorância colossal sobre nós mesmos tiver sido removida. Patañjali diz no próximo sutra: (...)"    

⁷ No original em inglês: Self. (N.E.)

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 98/99)
ww.editorateosofica.com.br


terça-feira, 3 de novembro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (8ª PARTE)

"22. Para aquele que não objetiva realizar-se através da existência do observado, o observado não existe; mas para os demais ele continua a existir.

O homem normalmente estabelece um relacionamento de uso com o mundo em que vive, seja físico ou psicológico. É deste relacionamento que surge o observado. Precisamos nos lembrar de que tal relacionamento jamais poderá estabelecer-se com algo que está vivo, pois a vida é um estado de fluxo e, portanto, não é estática. O uso possível apenas em relação a algo estático ou imóvel. Assim, para ter aquele relacionamento, a vida precisa ser transformada em imagem. O sutra acima diz que, para aquele que tenha ido além do relacionamento de uso,  o observado não existe. Tal indivíduo não tem objetivo a realizar advindo da existência do observado. Daí que o observado desaparece quando cessa este relacionamento de uso. O sutra, contudo, diz que para os demais, o observado continua a existir. A partir disso, fica evidente que o observado não tem existência per se; ele é trazido à existência pelo observador para seu próprio propósito. O relacionamento de imagem à imagem, obviamente, é um relacionamento de uso, no qual há sempre o desejo de ter e de possuir. No seguinte sutra isso está ainda mais claro.(...)"

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 97/98)


terça-feira, 29 de setembro de 2020

ATRAÇÃO E REPULSÃO

 "A natureza da matéria é atração e repulsão. A estrutura atômica se mantém pelo equilíbrio dessas duas forças: o positivo e o negativo. Também no espaço infinito os satélites e planetas formam sistemas sob o comando de uma estrela, graças à atração e repulsão. Na vida da natureza esse jogo está presente, significando harmonia. Somente no reino humano o equilíbrio se desfaz. Por quê? Graças ao livre-arbítrio.

Ao mesmo tempo em que a liberdade para agir eleva o homem na escala da natureza - desenvolvendo poderes divinos dentro dele -, pesa-lhe a condição de sofrer enquanto atuar menos racionalmente que seus próprios irmãos menores, os animais. 

O Budismo refere-se ao 'caminho do meio', que é a opção do equilíbrio, a ser alcançada pelo exercício da moderação em tudo que fazemos. Por essa razão, no texto conhecido como Óctupla Senda, Buda menciona uma das principais fontes de dualidade e sofrimento: o desejo, que é movido por atração e repulsão.

Ao entrar em contato com algo que nos desagrada, o que acontece? Buscamos imediatamente o lado contrário, à semelhança do vaivém do pêndulo de um relógio. Esse impulso se alimenta do desejo (corpo emocional) e também da reatividade (corpo mental), funcionando como 'almas gêmeas' dentro de nossa própria alma. Tudo aquilo que repelimos é o oposto que não queremos ver - mas obviamente continua a existir - e segue nossos passos. Temo algo que aprender ali. 

Fruto da mente em estado de excitação, apego e temor, a reatividade não deixa margem à reflexão. Nossa incapacidade de ouvir começa por aí, especialmente se o argumento do outro contraria a 'verdade' que é simplesmente o nosso interesse. Enquanto fingimos prestar atenção ao que o outro diz, estamos arquitetando a resposta. A grande dificuldade experimentada nos relacionamentos - sob o nome de 'incompatibilidade de gênios' - tem nessa característica mental sua principal origem. 

Quanto ao desejo, sua direção obviamente é o prazer. Nosso movimentos são baseados na expectativa do prazer, seja emocional ou mental - o que acontece no corpo físico é somente um reflexo. Por trás do prazer, no entanto, há o fatalismo da dor, assim como as duas faces de uma moeda: uma não existe sem a outra.

Na questão dos vícios que envolvem atos físicos (alcoolismo, tabagismo), o oposto do prazer é visível no corpo, que reage e adoece ao longo do tempo. O reverso do prazer está ali, mas não conseguimos vê-lo. E se por acaso vemos - mantendo o vício -, naturalmente achamos que o sacrifício compensa, não percebendo a real extensão da dor pelo bloqueio na consciência. Dentro do jogo de atração e repulsão, fechamos os olhos ao sofrimento em gestação, escolhendo o prazer fatídico de agora. 

Em outros tipos de vício, ligados ao pensamento e aos sentimentos, a dificuldade de enxergar o oposto ainda é maior. Sendo ações repetitivas fora de nosso controle, os vícios geram automatismos energéticos impostos à nossa maneira de sentir e de pensar, facilitando o retorno daqueles pensamentos e sentimentos com mais força.

O vício, portanto, não é só uma questão física. Pensamentos repetidos de inveja, maledicência, luxúria e mentira são comportamentos viciosos, cujo prazer tem como oposto a angústia, falta de autoconfiança, o vazio interior e outros reflexos da ausência de amor e de comprometimento em nossa vida. Às vezes chamamos isso de 'má sorte', ignorando que a sorte - seja ela qual for - é criação exclusiva de nossa mente, e está em nossas próprias mãos." 

(Walter S. Barbosa - Atração e repulsão - Revista Sophia, Ano 14, nº 59 - p. 9)


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A NATUREZA HUMANA

A natureza humana | JORGE REIS SA"Há duas espécies de paixões mundanas que corrompem e ocultam a pureza da natureza de Buda.

A primeira é a paixão pela discriminação e discussão, pela qual os homens se confundem nos julgamentos. A segunda é a paixão pela experiência emocional, pela qual os méritos das pessoas se tornam confusos.

As ilusões do raciocínio e as ilusões da prática parecem ser a síntese de todas as falhas humanas, mas, na realidade, há outras duas em suas bases. A primeira é a ignorância, a segunda é o desejo.

As delusões de raciocínio baseiam-se na ignorância e as delusões da prática apoiam-se no desejo, assim, estes dois conjuntos formam, na realidade, apenas um conjunto, e juntos são a fonte de todo o infortúnio.

Se os homens são ignorantes, não podem raciocinar correta e seguramente. Quando se sujeitam ao desejo pela existência o sentimento de posse e o apego a tudo, inevitavelmente, os seguirão. É este constante apego a tudo agradável, visto ou ouvido, que leva os homens à delusão do hábito. Alguns cedem mesmo ao desejo pela morte do corpo.

Destas fontes primárias surgem todas as paixões mundanas da cobiça, ira, tolice, equívoco, ressentimento, ciúme, lisonja, fraude, orgulho, desprezo, embriaguez e egoísmo."

(A Doutrina de Buda - Bukkyo Dendo Kyokai, 3ª edição revista, 1982 - p. 161/163)