OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

O ESPÍRITO DO GUERREIRO

"Embora tenhamos sido levados a acreditar que se abrirmos mão acabaremos sem nada, a própria vida revela seguidamente o contrário: o desapego é a senda para a verdadeira liberdade. 

Exatamente como os rochedos da orla do mar que açoitados pelas ondas não sofrem dano mas são esculpidos e erodidos em belas formas, nossas personalidades podem ser modeladas e nossas arestas mais rudes atenuadas por mudanças. Podemos aprender com mudanças desgastantes a desenvolver uma suave mas inabalável tranquilidade. Nossa autoconfiança cresce e fica tão maior, que a bondade e a compaixão começam a irradiar de nós naturalmente e a trazer felicidade aos outros. Essa bondade é o que sobrevive à morte, uma bondade fundamental que existe em cada um de nós. Nossa vida toda é um ensinamento sobre como revelar essa profunda bondade, e um treino para realizá-la.

Desse modo, cada vez que as perdas e decepções da vida nos ensinam alguma coisa sobre a impermanência, elas nos trazem mais perto da verdade. Quando você despenca de uma grande altura, só há um lugar possível para aterrisar: o solo; o solo da verdade. E se você possui o entendimento que deriva da prática espiritual, essa queda de modo algum é um desastre, mas a descoberta de um refúgio interno. 

Dificuldades e obstáculos, se adequadamente compreendidos e usados, podem muitas vezes tornar-se uma fonte inesperada de energia. Nas biografias dos mestres, você verificará uma e outra vez que se eles não tivessem enfrentado dificuldades e obstáculos não teriam descoberto a força de que precisavam para superá-los. Isso aconteceu, por exemplo, com Gesar, o grande rei guerreiro do Tibete, cujas aventuras compõem o maior épico da literatura tibetana. Gesar significa 'indomável', alguém que nunca pode ser derrotado. Desde o momento em que Gesar nasceu, Trotung, seu tio mau, tentou matá-lo de todas as maneiras. Mas a cada tentativa Gesar tornava-se mais forte. De fato, foi graças aos esforços de Trotung que Gesar se tornou tão grande. Isto deu origem a um provérbio tibetano: Trotung tro ma tung na, Gesar ge mi sar, o que quer dizer: 'Se Trotung não tivesse sido tão mai e intrigante, Gesar nunca teria se erguido tão alto'.

Para aos tibetanos, Gesar não é somente um guerreiro marcial mas também um guerreiro espiritual. Ser um guerreiro espiritual significa desenvolver um tipo especial de coragem que é, desde a sua origem, inteligente, bondosa e destemida. Os guerreiros espirituais podem ainda ter medo, mas mesmo assim eles são corajosos o bastante para experimentar o sofrimento, para relacionar-se de maneira franca com seu medo fundamental e, sem fugir, extrair lições das dificuldades. Como nos disse Chögyam Trungpa Rinpoche, tornar-se um guerreiro significa que 'podemos trocar nosso mesquinho desejo de segurança por uma visão muito mais vasta - a do destemor, abertura e heroísmo genuínos...' Penetrar no campo transformador dessa visão muito mais vasta é aprender a se sentir em casa em plena mudança, e a fazer da impermanência um amigo."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 60/61


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

SER MÃE NUM MUNDO EM TRANSIÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Fala-se muito da terceirização da educação, como se as pessoas não tivessem mais disposição para educar seus filhos. Porém, o modo como nossa sociedade está estruturada leva a essa terceirização na maioria das atividades: deixamos de cozinhar para comer na rua; deixamos de limpar nossa casa e pagamos uma faxineira; deixamos de examinar nossa vida e vamos ao médico ou ao psicólogo para saber o que está acontecendo conosco. Ou seja, há um processo contínuo de desvinculação de nós mesmos com atividades que, a rigor, deveríamos exercer.

Com a materinidade e a paternidade não poderia ser diferente. Tenho acompanhado alguns movimentos de resgate do contato de pais com filhos, que começa desde a gestação, abrange o parto e culmina na criação das crianças com a devida interação. Uma mãe em sintonia com seu filho e com seu companheiro é uma fortaleza poderosoa frente aos estímulos constantes que tendem a nos preocupar: Como ficar rico? Como ser belo? Como ter a saúde perfeita? Como ser um profissional bem-sucedido?

É como se estivéssemos participando de uma corrida; quem chega primeiro é vitorioso. Contudo, será que precisamos correr? Será que o melhor não é justamente desacelerar? Cuidar intensamente de um filho requer um grande desapego de muitos ideais que nos foram impostos; requer doação, paciência, flexibilidade. Esses valores não costumam ser divulgados nos canais de TV e nem ensinados na escola. Por isso, ser mãe é um renascimento. É um resgate de virtudes que fazem muita diferença na nossa vida, principalmente para as pessoas com que convivemos.

O amor por um filho é algo sublime, na medida em que é livre de expectativas, por não requerer nada em troca. É como um portal, onde o amor cresce em nossos corações e todos aqueles que nos rodeiam são beneficiados. Estar atento para esse processo é de suma importância, e é na convivência intensa com seres que são pura pulsão existencial que descobrimos esse universo de amor e doação de que o mundo tanto precisa."

(Samira Santana de Almeida - Ser mãe num mundo em transição - Revista Sophia, Ano 15, nº 67 - p. 29)

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

O VERDADEIRO OCULTISTA

"O verdadeiro Ocultista, ao mesmo que tempo que para si mesmo é o mais severo dos juizes, o mais rígido dos feitores, é para todos ao seu redor o mais compreensivo dos amigos, o mais gentil dos auxiliares. Conseguir esta gentileza e poder de simpatia deveria, assim, ser o desejo de cada um de nós, e isso só pode ser obtido pela incansável prática desta gentileza e simpatia para com tudo, sem exceção, que nos rodeia. Cada futuro Ocultista deveria ser a pessoa, em sua própria casa e círculo, para quem todos mais prontamente acorrem quando na tristeza, na ansiedade, no pecado - certos que estão da sua simpatia, e de sua ajuda. A pessoa mais desinteressante, a mais bruta, a mais estúpida, a mais repelente, deveriam ver nele pelo menos um amigo. Todo anseio em busca de uma vida melhor, cada desejo nascente em direção ao serviço altruísta, toda vontade recém-formada de viver mais nobremente, deveria encontrar nele alguém pronto a encorajar e fortalecer, de modo que todo germe de bem possa começar a crescer sob a calorosa e estimulante presença de sua natureza amorosa. 

Atingir tal poder de serviço é uma questão de autotreinamento na vida diária. Primeiro precisamos reconhecer que o EU em todos é um só, de modo que em cada pessoa com quem entramos em contato devemos ignorar tudo o que é desagradável na casca exterior, e reconhecer o EU entronizado no coração. A próxima coisa a notar - em sentimento, não só em teoria - é que o EU está tentando se expressar através dos invólucros que o obstruem, e que a natureza interna é toda adorável, e é distorcida para nós pelos envoltórios que a contêm. Então deveríamos nos identificar com aquele EU, que na verdade é nós mesmos em sua essência, e cooperar com ele em sua luta contra os elementos inferiores que sufocam sua expressão. E uma vez que temos de agir para com nosso irmão através de nossa própria natureza inferior, o único caminho de ajudar eficazmente é ver as coisas como aquele irmão as vê, com suas limitações, seus preconceitos, sua visão distorcida; e vendo-as assim, e sendo afetados por elas em nossa natureza inferior, ajudá-lo do seu modo e não do nosso, pois só assim se pode prestar um auxílio real. Aqui entra o treinamento Oculto. Nós aprendemos a nos retirar de nossa natureza inferior, a sentir seus sentimentos sem sermos afetados por eles, e deste modo, ao mesmo tempo que experimentamos emocionalmente, julgamos com o intelecto. 

Devemos usar este método quando ajudarmos nosso irmão, e ao mesmo tempo que sentimos como ele sente, como uma corda afinada ecoa a nota de sua vizinha, devemos usar nosso 'eu' desapegado para julgar, para aconselhar, para estimular, mas sempre usando-o de modo que nosso irmão esteja consciente de que é a sua própria natureza superior que está expressando a si mesma através de nossos lábios. Devemos desejar compartilhar o nosso melhor; a vida do Espírito não é guardar, mas dar. Frequentemente o nosso 'melhor' seria indesejável para aquele a quem tentamos ajudar, assim como a poesia refinada não é atraente para a criança pequena; então devemos dar o melhor que ele possa assimilar, guardando o restante, não porque somos ciumentos, mas porque ele ainda não o requer. (...)" 

(Annie Besant - A Doutrina do Coração - Ed. Teosófica, Brasília - p. 2/3


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

SIMPLICIDADE

"Simplicidade não significa mero ajustamento a um padrão. Requer-se muita inteligência para sermos simples, e não apenas que nos ajustemos a determinado padrão, por mais nobre que ele se nos afigure, exteriormente. A maioria de nós, infelizmente, começa a ser simples nas coisas exteriores, é bem fácil ter escassas posses e estar satisfeito com poucas coisas; contentar-se com pouco e talvez dividir este pouco com outros. Porém, uma simples manifestação exterior de simplicidade, nas coisas, nas posses, não implica, por certo, simplicidade interior. Porque, nas condições atuais do mundo, estão-nos sendo impostas cada vez mais coisas, exteriormente. A vida se está tornando cada vez mais complexa. Para fugir de tal situação, procuramos renunciar às coisas ou desapegar-nos delas — de automóveis, casas, organizações, cinemas, e das inumeráveis circunstâncias que nos assaltam do exterior. Pensamos que, pela renúncia, seremos simples. Já houve muitos santos e muitos instrutores que renunciaram ao mundo; parece-me, no entanto, que tal renúncia, por parte de qualquer de nós, não resolve o problema. A simplicidade fundamental, real, só pode vir à existência interiormente, e daí manifestar-se, exteriormente, como expressão. Como ser simples — eis o problema: porque a simplicidade nos torna mais e mais sensíveis. A mente sensível, o coração sensível, é essencial, porque capaz de rápido percebimento, rápida receptividade.

Sem dúvida, só podemos ser interiormente simples, quando compreendemos os inumeráveis empecilhos, apegos, temores, em que estamos aprisionados. Entretanto, de modo geral, gostamos de estar presos a pessoas, posses, ideias. Gostamos de ser prisioneiros. Interiormente, somos prisioneiros, embora exteriormente pareçamos muito simples. Interiormente somos prisioneiros dos nossos desejos, das nossas necessidades, de nossos ideais, de inumeráveis impulsos. A simplicidade não pode ser achada, se não somos livres interiormente. Por conseguinte, ela deve começar de dentro, e não de fora."

(Krishnamurti, A Primeira e Última Liberdade, Ed. Cultrix, São Paulo - p. 75/76)


terça-feira, 8 de agosto de 2017

DISCIPLINA ESPIRITUAL

"'Pureza, contentamento, simplicidade, autoestudo e aspiração são as regras da observância' (sutra 32). A disciplina espiritual requer energia e um corpo saudável, mas o foco principal é a mente. Uma mente pura é livre de memórias, preocupações com o futuro e qualquer conteúdo não necessário à situação presente.

A disciplina mental é a vigilância necessária para manter a mente 'fresca' e serena, além, é claro, da meditação, que Patañjali indica em outros sutras. O sutra 40 lembra que a pureza requer um retiro, de tempos em tempos, para 'esvaziar a cabeça'.

Aceitação e contentamento não significam passividade nem resignação, mas ver as coisas como elas são e agir objetivamente. Passividade e resignação são associadas ao ressentimento, que prejudica a percepção e impede que se chegue a uma solução correta de problemas.

A simplicidade, ou austeridade, é o desapego ao supérfluo, não apenas em relação aos bens materiais, mas também à própria personalidade. Ser simples, nesse sentido, é ter a mente livre de complicações desnecessárias.

O autoestudo é a observação de nós mesmos, de forma honesta, sem máscaras ou justificativas que nos impeçam de ver nossas próprias motivações. A aspiração é a direção correta, que no yoga significa a união com Deus, a autorrealização, a iluminação.

As observâncias, assim como as abstinências, não são práticas isoladas. Só podemos saber se estamos na direção correta se nos observarmos. Só podemos nos observar corretamente se a nossa mente for simples. A mente só pode ser simples se há contentamento, isto é, se as coisas são vistas como são. Para ver as coisas como são é preciso que a mente seja pura, que não esteja sobrecarregada."

(Cristina Szynwelski - O yoga e a moral espiritual - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 33)


segunda-feira, 7 de agosto de 2017

ABSTINÊNCIA E COMPREENSÃO

"As abstinências devem ser praticadas por meio da percepção e compreensão da nossa conduta e das nossas motivações. A não falsidade representa, além da eliminação de toda espécie de dissimulação, a capacidade de ver as coisas como elas são, e não como nós as projetamos. Mehta afirma que as projeções surgem de um passado mal resolvido; as frustrações das experiências passadas se projetam em situações novas e nos impedem de viver livremente cada momento da vida.

Não roubar abrange todas as formas de imitação, ainda que sutis. Quando estamos insatisfeitos com o que temos ou somos, passamos a desejar ou a imitar a condição de outras pessoas. Esse comportamento vem do sentimento de estarmos psicologicamente incompletos. Quando não desejamos ter o que não é nosso ou ser o que não somos, experimentamos um estado de preenchimento psicológico, de satisfação pela vida.

A não indulgência representa o abandono da busca de prazer. Isso não significa negar o prazer, mas parar de correr atrás dele. O prazer do paladar, por exemplo, não é nenhum mal em si; entretanto, ficar o tempo inteiro pensando em comida é ruim, pois gera uma distorção na mente que a impede de viver o momento presente. A não indulgência é viver o prazer quando ele acontece, e depois esquecê-lo.

A não possessividade é o desapego de todos os tipos de objetos. Isso não significa ser um mendigo, mas possuir as coisas sabendo que elas são transitórias e amanhã podem não estar mais conosco. Por objetos entendemos não apenas os bens materiais, mas todas as nossas condições de vida, que podem mudar a qualquer momento. Viver em função de memórias de fatos passados também é uma espécie de apego; é ficar preso a um conteúdo da mente."

(Cristina Szynwelski - O yoga e a moral espiritual - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 32)


quarta-feira, 26 de julho de 2017

O CORAÇÃO NA MEDITAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Bom no Começo nasce da consciência de que nós e todos os seres sencientes temos como nossa essência mais profunda a natureza búdica, e do entendimento de que realizá-la é ficar livre da ignorância e acabar com o sofrimento. (...)

Bom no Meio é a atitude da mente com que entramos no coração da prática, inspirada na realização da natureza da mente, de onde surge uma disposição para o desapego livre de toda e qualquer referência conceitual, e surge também a consciência de que todas as coisas são inerentemente 'vazias', ilusórias e semelhantes ao sonho. 

Bom no Fim é o modo com que trazemos nossa meditação até o final, dedicando todo o mérito dela obtido e orando com real fervor: 'Possa qualquer mérito vindo desta prática conduzir à iluminação de todos os seres: possa tornar-se uma gota no oceano da atividade de todos os budas em seu incansável trabalho pela liberação de todos os seres'. Mérito é o poder positivo e benéfico, a paz e a felicidade que irradiam da sua prática. Você dedica esse mérito ao benefício supremo e a longo prazo de todos os seres, à sua iluminação. Num nível mais imediato, você o dedica a que haja paz no mundo, a que todos possam ser inteiramente livres do desejo e da doença, e possam experimentar total bem-estar e felicidade duradoura. Então, compreendendo a natureza de sonho e ilusão da realidade, você reflete sobre o fato de que, no sentido mais profundo, você que está dedicando a prática, aqueles a quem você a dedica, e mesmo o próprio ato de dedicação são todos inerentemente 'vazios' e ilusórios. Diz-se nos ensinamentos que isso fecha a meditação e assegura que nenhum dos seus poderes puros perca-se ou escape, e que nenhum dos méritos da prática jamais se desperdice. 

Esses três princípios sagrados - a motivação hábil, a atitude de despendimento que protege a prática e a dedicação que a fecha - são os que torna sua meditação verdadeiramente iluminadora e poderosa. Eles foram descritos com beleza pelo grande mestre tibetano, Longchenpa, como 'o coração, o olho e a força vital da verdadeira prática'. Ou como Nyoshul Khenpo diz: 'Para obter a completa iluminação, mais do que isso não é necessário; porém menos que isso é insuficiente'."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 89/91)

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

AÇÃO SEM APEGO (2ª PARTE)

"(...) Os Grandes Seres dizem-nos que, quando somos apegados a alguma coisa, sempre há ira, ganância, ilusão, medo, competição, inveja, gostos e aversões, dor etc. Todas essas coisas são atributos do egoísmo, que é a causa principal do sofrimento. Tal é o quadro do mundo hoje em dia.

O Mahachoham em sua carta a A.P. Sinnett deu o seguinte conselho: 'Ensinar as pessoas a verem que a vida nesta terra, mesmo a mais feliz, é apenas um fardo e uma ilusão [...]'. Esse ensinamento nos dá uma mensagem de completo desapego.

Ser capaz de ensinar às pessoas o que é dito acima não é uma coisa fácil de ser feita. Se tomarmos estas palavras com seriedade, então é óbvio que, antes que possamos ensinar aos outros essa verdade, ela deve ser primeiramente apreendida por nós próprios. Devemos compreender que, neste belo planeta, somos convidados. Chegamos, e, depois de um certo tempo, partimos. Mas nesse meio termo vivemos nossas vidas como se fôssemos ficar aqui para sempre. Apegamo-nos muito às coisas terrestres e nosso grande mestre é o desejo, o anelo. Tornamo-nos prisioneiros de nossos desejos e realmente não estamos perceptivos desse fato. Todo desejo pelo fruto da ação é como um novo carcereiro, uma nova joia de Mâra (como diriam os budistas) com sua falsa combinação de luz. Cada desejo traz um novo apego e um novo tipo de temor e desapontamento. (...)"

(Duzan Zagar - Ação sem apego - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 35/36)
http://www.sociedadeteosofica.org.br/

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

VIAGEM DA ANIMALIDADE PARA A DIVINDADE

"A segunda parte da afirmação passa pela compreensão do processo de desapego, que é uma viagem da Sala da Ignorância para a Sala da Aprendizagem e desta para a Sala da Sabedoria, como aparece em Voz do Silêncio, de H. P. Blavatsky. Na Sala da Aprendizagem o homem aprende a pensar e a refletir, passo a passo, e aprofunda a sua compreensão acerca da vida, de certas afirmações importantes e caminha em direção a uma maior sabedoria. Consideremos a afirmação de J. Krishnamurti 'vós sois o mundo', que não é uma afirmação matemática, mas o insight de uma pessoa sábia. Há muitas formas para compreender aquela afirmação. Se se fizer uma abordagem literal de 'vós sois o mundo', então a palavra 'mundo' é um substantivo sem qualquer conteúdo atrás de si. Krishna ou Jesus são nomes, mas os indivíduos por detrás desses nomes são uma realidade. De igual modo, a palavra 'mundo' é o nome mas nós somos a realidade. Este é o primeiro passo para a compreensão do significado da palavra 'mundo' como um coletivo de indivíduos. O segundo passo consiste também em compreender a nossa contribuição enquanto indivíduos. Se formos feios, contribuímos para a fealdade do mundo. Se o mundo estiver cheio de corrupção, ódio, inveja, ira, ganância, ambição, etc., então o estudante aceita, com este novo passo, que ele contribuiu para isso. Não pode atirar a responsabilidade para qualquer outro. Sempre que condena alguém, ele compreende que está condenando a si mesmo. Assim, alcança uma visão holística do mundo, vendo-o como um todo integrado e não como um conjunto dissociado de partes.

Com o terceiro passo ele compreende o real significado da palavra 'mundo'; pergunta-se como é que podemos ser considerados responsáveis quando só temos bons pensamentos, sentimentos de boa vontade e agimos corretamente? Ele reflete, profunda e honestamente, e verifica que ele próprio não é sempre o mesmo, porque algumas vezes está agitado e utiliza palavras ásperas. Ele compreende que esta é a sua contribuição para o estado de fealdade do mundo e aceita, assim, a responsabilidade e compreende o verdadeiro valor da frase 'vós sois o mundo'. E então compreende que ser humano é viver num estado de responsabilidade. Passa a ser a sua própria descoberta que ele não é apenas uma parte do mundo, mas que é o mundo. Como já foi dito, a responsabilidade é a qualidade que forma a sua natureza psíquica, refletindo-se na sua conduta.

Utiliza os seus dons como um bem que está sob a sua proteção e não posse. O seu tempo, capacidades e posses são os seus dons e ele os utiliza em benefício da humanidade. Com essa qualidade magnânima eleva-se acima da futilidade e torna-se sábio. Dessa forma eleva-se do ego pessoal para o ego espiritual. Nesse sentido é o seu salto quântico - da animalidade para a Divindade. Então possui verdadeiro conhecimento, o qual acarreta naturalmente magnanimidade e contentamento. A luta que pertence à personalidade perde o seu poder. Annie Besant diz que existem encarnações de diferença entre um homem ingnorante e um homem sábio.

Quantos de nós seremos capazes de reconhecer um santo? Para se reconhecer tal pessoa, tem de haver algo dentro de nós que ressoe e esteja sintonizado com a sua natureza, que vibre em harmonia com ela. É uma lei que, se a pessoa criar harmonia dentro de si, então a harmonia divina manifesta-se por meio dela tornando-a santa ou sábia. O antídoto para o apego é o desapego ou 'abrir mão'." 

(C.A. Shinde - Nos sábios não existe apego - TheoSophia - Ano 101 - Janeiro/Fevereiro/Março de 2012 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 15/16


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

SERVIÇO E RENÚNCIA

"Todas as coisas na criação estão sujeitas à lei da mudança, portanto, o homem também. Este deve usá-la para o progresso e não para decair na escala. A Inteligência Átmica conduz o homem ao caminho da renúncia e do serviço, porque somente serviço e renúncia produzem avanço espiritual. A Inteligência Átmica reconhece a Unidade da Criação como o fio que enfia cada flor da grinalda do Brahmasutra¹. Quando você ganhar o Amor de Deus, a compaixão d'Ele fluirá através de você. Vyasa resumiu os dezoito Puranas² em singelo dístico que cabe numa linha: 'Fazer o bem aos outros é o único ato meritório; fazer o mal, o mais nefando pecado.' Quando você sentir que não pode fazer o bem, pelo menos evite fazer o mal. 

Os que estão cruzando o oceano de samsara (a cadeia de nascimentos e mortes) precisam cultivar a arte de nadar através do Bhagavatha-chinthana (Meditação sobre Deus). Não importa o quanto eruditos sejamos, se não treinamos natação, vamos afundar. A vida é um barco que nos capacita a cruzar o oceano da samsara, com a ajuda da meditação sobre Deus. Vairagyam ou desapego não implica romper os laços familiais e mergulhar na floresta. Significa descartar o sentimento de que as coisas são permanentes e capacitadas a propiciar-nos a suprema alegria."

¹ Brahmasutra - sutra o fio que enfia um colar; Brahman - Deus Uno. Brahmasutra é a presença de Deus, que, através de todos, forma um glorioso colar, uma grinalda divina. Brahmasutra é também o nome de uma das mais importantes escrituras do Hinduísmo.
² Purunas - são textos sagrados da Índia contendo as histórias legendárias da criação, destruição e renovação do Universo, a genealogia dos deuses e patricarcas... São as informações historicamente mais antigas da cultura hindu, ou seja, do Sanathana Dharma.

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 81)


sexta-feira, 15 de julho de 2016

ABRINDO MÃO (1ª PARTE)

"Uma das coisas mais importantes que o ensinamento budista traz ao mundo, embora o mundo não lhe preste muita atenção, diz respeito à impermanência. A maioria das coisas não dura neste mundo; contudo, às pessoas sentem que há outras coisas a fazer e que nelas devem persistir.

No livrinho Luz no Caminho, há uma breve referência à Senda Verdadeira, que a pessoa pode trilhar logo que tenha deixado para trás o apego a tudo neste mundo. Isso significa desprender-se de cada pensamento, sentimento e preferência, até que a mente esteja completamente livre de apegos.

Só se pode ter apego a coisas que conhecemos; e só se pode adentrar o campo do desconhecido quando o conhecido deixa de existir. O desconhecido pode incluir elementos dos quais não fazemos qualquer ideia atualmente, mas nos aferramos a algo ou a outras pessoas na esperança de que sejam substitutos. Podem ser membros da família ou amigos com quem temos íntimo relecionamento. Numa certa parte do nosso cérebro, sabemos que é por isso que continua a existir o luto por pessoas que não mais existem. Esse apego é uma das sérias doenças enfrentadas pelos seres humanos, e as encarnações se passam antes que o desapego seja sequer considerado uma virtude.

Segundo se diz, J. Krishnamurti era muito apegado a seu irmão. A doutora Besant era como uma mãe para ele, mas havia também seu irmão mais novo que devia auxiliá-lo em sua obra. O irmão morreu na Califórnia quando Krishnamurti nem mesmo estava presente; durante duas ou três noites, ele teve que lutar, não com o fato, mas consigo mesmo. Dessa experiência saiu uma nova pessoa, pois entendera todo o problema do apego. O fato de que ele parecia não precisar de companhia foi um fato desconcertante a seu respeito. Isso pode acontecer a qualquer um de nós, mas não queremos abrir mão. As pessoas acham difícil aceitar a verdade da impermanência. Nada dura neste mundo. Quando chegamos a essa conclusão - de que tudo no mundo perece - perguntamos: haverá um Eu que transcende esta regra? (...)"

(Radha Burnier - O desafio da mudança - Revista Theosophia, Ano 101, Julho/Agosto/Setembro 2012 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 9) 


sábado, 9 de julho de 2016

EVOLUÇÃO ESPIRITUAL

"O diretor (de uma escola) é um bom exemplo da atitude que você deve desenvolver. A qualquer momento ele sabe que as cadeiras, as mesas e os bancos não são seus, não obstante, sabe também que é dever seu cuidar que nenhum item da mobília ou equipamento se perca ou se deteriore. Sabe também que tudo deve estar intacto quando ele sair. Mantém-se, portanto, em vigilância, embora desapegado. Os sentidos, a inteligência, o coração e a mente são como um mobiliário posto sob sua responsabilidade. Com desvelo, não se descuide. Se algum 'móvel' foi danificado por descuido, assinale no inventário e explique as circunstâncias, e busque a Graça de Deus.

Descubra, por si mesmo, seu estágio de evolução espiritual e para qual série da escola você está preparado. Depois determine-se a prosseguir para a série imediatamente mais elevada. Dê o melhor de seu esforço, e obterá a Graça de Deus. Não barganhe e nem se desespere. Um passo de cada vez é o bastante, desde que seja dado em direção à meta e não se desviando. Fique alerta quanto ao orgulho baseado em riqueza, erudição e status, que puxaria você para o egoísmo. Não fareje os erros dos outros, mas procure conhecer os seus. Sinta-se feliz com a prosperidade dos demais. Compartilhe com os outros sua alegria."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 151 e 154)


domingo, 8 de maio de 2016

O DESAFIO DOS RELACIONAMENTOS (PARTE FINAL)

"(...)  Você deve praticar o desapego se quiser criar relacionamentos duradouros e harmoniosos. Ser espiritualmente desapegado significa ser capaz de abrir mão de nossas necessidades e preferências. Sem esse desapego você não consegue evitar manipular as outras pessoas, o que cria conflito em seus relacionamentos.

A paz surge da prática contínua do desapego - em casa, no trabalho, com amigos e parentes, e especialmente com pessoas difíceis. A pessoa espiritualmente desapegada não deixa o relacionamento se degenerar até se transformar em um jogo de estímulo e resposta. O teste é simples: mesmo que você esteja chateado ou zangado comigo, eu consigo permanecer calmo, amoroso e gentil com você e lhe ajudar a vencer a raiva? Se você persistir em continuar zangado comigo, consigo ainda ser amoroso com você?

A aversão pelas pessoas é na verdade um reflexo de nós, não daqueles de quem não gostamos. Tendemos a ver os outros não como realmente são, mas como somos. Nossos relacionamentos são sempre espelhos, refletindo algum aspecto de nós mesmos. Esse é o modo do espírito dizer: 'Olhe para o que podemos aprender a respeito de nós mesmos.'

Preste muita atenção quando um padrão ou um comportamento particular se refletir em você vindo de três ou mais pessoas diferentes, pois então você pode ter certeza de que aí está algo que é preciso verificar. Para uma pessoa zangada, todo mundo parece zangado e cheio de hostilidade. Para uma pessoa desconfiada, todo mundo parece suspeito. Para uma pessoa amorosa e terna, todo mundo merece amor, toda ocasião é uma oportunidade para oferecer perdão e ver o melhor nas outras pessoas." 

(Susan Smith Jones - O desafio dos relacionamentos - Revista Sophia, Ano 9, nº 36 - p. 33)


sábado, 7 de maio de 2016

O DESAFIO DOS RELACIONAMENTOS (1ª PARTE)

"Uma das maiores alegrias da vida vem dos nossos relacionamentos com os outros. Ao mesmo tempo, os relacionamentos podem também apresentar nossos maiores desafios, oferecendo inúmeras maneiras de crescer e de nos conhecer melhor. Para experienciar harmonia em nossos relacionamentos, devemos aprender a ver e amar o divino nos outros, e a compreender que relacionamentos duradouros resultam de se ser a pessoa certa, e não de se encontrar a pessoa certa.

Um princípio espiritual básico é o de que a unidade é a única coisa que existe. Somos todos um com todos os outros e com tudo que encontramos. Em vez de tentar mudar ou 'consertar' alguém a quem vemos como fonte de nossos problemas e dificuldades, podemos lembrar o que essa pessoa realmente é. Em vez de focar na aparência e no comportamento - peculiaridades, idiossincrasias, roupas, estilo de cabelo - podemos olhar para o outro com o seguinte pensamento: 'Esta é uma alma, filha de Deus. Este ser humano é uma expressão do infinito'.

Ao fazer isso, adquirimos maior compreensão e uma perspectiva desapegada: 'Esta pessoa possui sentimentos, assim como eu. Ela tem pensamentos e opiniões, aspirações e sonhos que são tão importantes para ela quanto os meus são para mim. A força viva de Deus nessa pessoa está se manifestando em sua personalidade e nos serviços que ele executa - nas coisas que ela faz por mim, na maneira como trata os outros, em seu modo de ser. Porque eu sei quem sou: um divino filho de Deus que já possui tudo, e portanto posso aceitar e ver a divindade nos outros.'

À medida que absorvemos essa imagem superior de quem somos, seguem-se inúmeros benefícios. Quando você parte da percepção de que é um ser espiritual, já não se relaciona mais consigo mesmo como uma criatura cujas satisfações vêm somente dos prazeres físicos. Você para de se relacionar com os outros em termos da aparência física que eles têm. Como sabe que seu valor deriva do ser eterno dentro de você, e como percebe de que esse mesmo ser vive nos corações de todos, você se relaciona com todos com respeito, gentileza e amor, não importa as circunstâncias. 

Essa mudança de atitude a respeito dos relacionamentos é um dos mais agradáveis benefícios da experiência espiritual, embora traga enormes responsabilidades. A fim de vermos a nós mesmos em tudo, devemos nos desapegar de nosso próprio ego; caso contrário, nós nos envolveremos emocionalmente nos problemas das outras pessoas e perderemos de vista nossa unidade com o espírito. (...)"

(Susan Smith Jones - O desafio dos relacionamentos - Revista Sophia, Ano 9, nº 36 - p. 33)

segunda-feira, 4 de abril de 2016

AUSÊNCIA DE DESEJOS

"'Se eu não tivesse desejos', perguntou um membro da congregação, 'será que eu perderia toda a minha motivação? Será que eu não acabaria me tornando uma espécie de autômato humano?'

'Muitas pessoas pensam assim', replicou Yogananda. 'Elas pensam que não teriam mais interesse na vida. Entretanto, não é isso o que acontece. Em vez disso, você haveria de achar todas as coisas na vida infinitamente mais interessantes.

'Pense no aspecto negativo do desejo. Ele faz com que você fique sempre receoso. 'E se isso acontecer?', você pensa; ou: 'E se isso não acontecer?'; você vive num estado de contínua ansiedade quanto ao futuro, ou de pesar com relação ao passado.

'O desapego, por outro lado, o ajuda a viver constantemente num estado de liberdade e de felicidade. Quando você puder ser feliz no presente, você estará apto a encontrar Deus.

'Livrar-se dos desejos não lhe tira nenhuma motivação. Longe disso! Quanto mais você vive em Deus, mais profunda é a alegria que você sente ao servi-Lo.'"

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda, A Essência da Autorrealização - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 94)


sábado, 16 de janeiro de 2016

O CONTROLE DOS SENTIDOS

"(3:7) Mas o êxito absoluto, ó Arjuna, espera aquele que disciplina seus sentidos por um esforço da mente, permanece no íntimo sem apegos e usa os órgãos da ação em atividades que nos lembram Deus.

Consideremos isto: que são 'atividades que nos lembram Deus'? Elas incluem todo ato ou pensamento que direciona a mente para a supraconsciência. Simples pietismo expresso em orações na igreja, templo ou sinagoga; sentimentos meramente 'sagrados', exibidos para impressionar os outros (ou proclamados com fervor para 'impressionar' Deus) - em suma, toda mostra de religiosidade só é aceitável se, por dentro, formos sinceros. A ânsia de impressionar trai o desejo de colher resultados, nunca a sinceridade dos sentimentos.

A expressão de Krishna '...disciplina seus sentidos por um esforço da mente' revela a importância de não se adotarem apenas meios exteriores de autodisciplina: por exemplo, ficar de pé ou sentado com a mão erguida até que ela se atrofie pelo desuso; nunca se sentar nem deitar como forma de penitência; estirar-se numa cama eriçada de pregos; isso, mais os jejuns intermináveis, a privação do sono e outras formas de embotamento dos sentidos adotadas para obter o autocontrole, sem a contrapartida de um discernimento inteligente, não é o que Krishna recomenda aqui. Austeridade do mesmo tipo, em outras religiões, incluem autoflagelação, inanição e outras que lembram muito as empregadas na Índia. Mencioná-las todas seria inútil, pois todas se destinam a subjugar os sentidos sem o uso adequado da vontade. Esta tem de dar seu consentimento ativo para a libertação interior: de nada vale mortificar o corpo para obrigá-lo à submissão.

Controlar os sentidos não é tiranizá-los. O que se tem a fazer é retirar deles a energia, porquanto a vontade age diretamente sobre ela. Yogananda declarou: 'Quanto mais forte a vontade, mais abundante o fluxo de energia.' A direção desse fluxo pode ser tanto para dentro quanto para fora, tanto para cima quanto para baixo.

Por isso Krishna fala também em desapego interior. Privar-se de coisas materiais pode, e frequentemente o faz, alimentar o fogo dos vínculos ocultos! Nenhuma atividade voltada para impressionar os semelhantes (ou até Deus) dará, no fim, frutos divinos. A evolução espiritual se consegue, acima de tudo, desejando-a intensamente, não infligindo disciplina violenta ao corpo.

Com boa vontade, alegria e devoção, é possível encontrar Deus. Sem o pleno consentimento da vontade e da consciência total da pessoa, este que é o mais nobre dos objetivos - a consciência pura da Bem-aventurança - não será nunca atingido."

((A Essência do Bhagavad Gita - Explicado por Paramhansa Yogananda - Evocado por seu discípulo Swami Kriyananda - Ed. Pensamento, São Paulo, 2006 - p. 143/144)


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

REALIZAÇÃO MERITÓRIA

"Os Indriyas ou sentidos têm de ser controlados por viveka (discernimento) e vairagya (desapego), os talentos gêmeos que foram dados exclusivamente ao homem. Viveka o instrui sobre como escolher ocupações e companhias; diz-lhe da importância relativa de objetos e ideais. Vairagya o salva de muito apego, e injeta uma sensação de alívio nos momentos de alegria ou desespero. Viveka e vairagya são as duas asas que soltam o pássaro no ar. Mantêm diante de você a impermanência do mundo e a permanência da Bem-aventurança da Realidade. Preparam-no para dirigir a vida através do sadhana e para a infalível contemplação da Glória do Senhor. 

Não é necessário retirar-se para a floresta a fim de superar ressentimento e ódio. A virtude não pode ser praticada num vazio. Se você vive numa atmosfera de ódio e ainda assim é capaz de se controlar, sua conquista é meritória. Mas, se vive numa floresta onde não resta oportunidade para o ódio e diz que controlou seu ódio, sua afirmação não tem sentido. Você deve, portanto, deixar-se ficar nos ambientes do mundo, ainda que haja ampla oportunidade para o surgimento de emoções de raiva e ódio; aí, então, aprenda a controlá-los. Esta sim será uma realização meritória."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 116/117)


sábado, 10 de outubro de 2015

A AÇÃO E SUA RECOMPENSA

Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles: do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está nos céus.
Quando, pois, deres esmola, não toques uma trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam sua recompensa.
Mas, quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita;
Que a tua esmola seja dada em segredo: e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente.

Jesus fala aqui da ação e da sua recompensa, fala de causa e efeito, que no Vedanta é anunciado como a lei do karma. Afirma a lei do karma que, se eu fizer uma boa ação para alguém, receberei minha recompensa. Pouco importa se esse alguém me dê ou não essa recompensa. Se eu fizer o bem, receberei o bem em troca. Se fizer algo de mal, o mal voltará para mim. Essa é a lei. (São Paulo diz na Epístola aos Gálatas: '... tudo o que o homem semear, isso também colherá.') Mas, para que possamos alcançar a perfeição precisamos libertar-nos de todos os apegos, de todo o desejo pelos frutos da ação. Precisamos libertar a mente de todo tipo de impressão e tendência - boa ou má, porque as boas ações também geram karma. Se quisermos transcender o karma, ensina-nos o Gita, carecemos de aprender a oferecer os frutos de nosso trabalho a Deus. Isto é karma ioga - a via de união com Deus através da ação dedicada a Deus. 

Na karma ioga, a vida toda do devoto se converte num ritual contínuo, já que cada ação é executada, não com a esperança de ganho ou de vantagem pessoal, mas como uma adoração. Dedicar os frutos do trabalho a Deus é trabalhar sem apegos. Importa que não demos azo ao orgulho e à vaidade, se os resultados de nosso trabalho forem favoráveis e ganharem elogio público. Por outro lado, havendo feito o melhor, não nos devemos desesperar, caso nosso trabalho produza resultados decepcionantes, ou seja criticado asperamente, ou totalmente desprezado. Muitos homens e mulheres talvez empenhem o melhor de suas qualificações, e com a maior das dedicações; mas, se o seu ideal carece da união com Deus, ser-lhes-á quase impossível não caírem no desespero, caso percebam perdida a sua causa, e que toda a sua vida resultou em nada. Só o devoto de Deus não precisa jamais desesperar-se por haver renunciado aos frutos da ação. Ele tem a sua recompensa - o próprio Deus. 

Para muitas pessoas, desapego significa indiferença, preguiça, fatalismo. Na verdade, desapego é o extremo oposto da indiferença. É uma virtude positiva, nascida do apego a Deus. De fato, o seguidor da karma ioga precisa estar intensamente apegado ao seu trabalho enquanto o executa. Toda a sua mente precisa estar concentrada em cumpri-lo perfeitamente, uma vez que ele há de ser oferecido como adoração. Entretanto, ele precisa estar apto a desapegar-se a qualquer momento. Pela prática do desapego e do serviço desinteressado, o devoto se liberta da roda da causa e efeito, da ação e recompensa - e ganha o Infinito."

(Swami Prabhavananda - O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 84/86)

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A FONTE DA ALEGRIA INTERIOR

"O segredo é descobrir a fonte da alegria interior, que nunca falha, que é sempre farta e fresca porque brota de Deus. O que é o corpo? É o Atma revestido por cinco envoltórios: o annamaya, composto de alimentos, o pranamaya, constituído de vitalidade; o manomaya, formado pelos pensamentos; o vijnanamaya, composto de inteligência; e o anandamaya, composto de felicidade. Por um constante contemplar tais envoltórios (kosas), o sadhaka (aquele que pratica o sadhana) atinge a necessária discriminação para escapar do externo para voltar-se ao interno, que é mais real. Assim, passo a passo, abandonando um kosa após outro, torna-se capaz de desfazer-se de todos eles a fim de lograr a consciência de que ele é uno com Brahman (o Ser Supremo).

Passo a passo, tem-se de praticar o desapego, sem o que a ambição e a miséria dominarão a natureza mais sutil do ser humano. Essa natureza é divina, pois que sua verdadeira Substância é Deus, e desta Substância o homem não é mais que um nome e uma forma. Para que se alcance tão preciosa constatação, indispensável é desenvolver o sadhana chamado chatushtaya, que consta dos seguintes componentes:

(1) Nithyanithya viveka  (discriminação entre o imutável e o mutável, entre o perene e o temporário), que consiste em dar-se conta de que o universo (jagat) está sempre sujeito a transformações e mudanças, mas Brahman não muda;
(2) Thamurthra-phala-bhoga-viraaga, que implica o desapego aos prazeres, mesmo aos do próprio Céu, depois de alcançada a convicção de que estes também são evanescentes e seguidos pela aflição;
(3) Samadamaadi-shatka-sampaththi, que é constituído pelas virtudes desejáveis, isto é, o controle dos sentidos externos e internos e das sugestões sensoriais; a fortaleza dentro da angústia e da dor, da alegria e da vitória; a supressão de todas as atividades de consequências escravizantes; fé inabalável no Mestre e nos textos que ele expõe; e a imperturbável contemplação sobre o básico Brahman, sem se deixar perturbar por outras ondas de pensamento.

Embora o leite esteja em formação através do corpo da vaca, você tem de recorrer às tetas a fim de o obter; de igual maneira, estes sadhanas (ou tetas) têm de ser 'pressionados' (na prestação de serviço, se você pretende alcançar a Sabedoria (jnana).

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 45/46)


segunda-feira, 6 de julho de 2015

O BOM PLANTIO

"Exatamente no começo tome precaução bastante para assegurar-se de que a semente é boa e isenta de defeitos. Não inicie qualquer trabalho com o mau propósito de pompa, autopromoção, competição ou desafio. Não transfira a Deus as frustrações decorrentes de seus próprios deslizes e erros. Ore, antes, durante e depois, para que o câncer do egoísmo não possa estragar o esforço. O búfalo tem chifres, o elefante tem presas... Mas, que diferença! As presas são muito mais valiosas. O homem que tem fé e o que não tem, ambos são homens. Mas, que diferença! Com fé ele é muito mais eficiente, corajoso e sábio.

Hoje em dia você pode subornar seu método para obter sucesso em todas as esferas. Deus, no entanto, não pode ser alcançado por truques ou através de atalhos. Somente pelo método difícil da luta, do desapego e da rígida disciplina, podemos alcançá-lo. Anseie desesperadamente (sic) por Ele. Sature sua mente com Sua forma, Sua majestade, Sua glória e Sua graça. O homem é divino por nascimento. Isso chega automaticamente à sua consciência. A cortina de maya¹ entretanto impede esse vibrante contato, essa revelação iluminadora. Maya é também um divino artifício; é o veículo ou upadhi do Senhor."

¹ Maya - é o seu véu que vela a contemplação da Realidade.

(Sathya Sai Baba - Sadhana: O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 215/216)