OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

DEPENDA MAIS DE DEUS

"Sei que existe uma lei pela qual Deus sustenta diretamente o devoto que só depende Dele. Se uma pessoa vive como renunciante de modo sincero, verá que a lei funciona. O verdadeiro renunciante sabe que tudo vem de Deus e que Ele é o único sustento da vida. Um homem pode ter alimento em abundância, mas se seu coração falhar, a comida não terá valor para ele. o Poder que sustenta os batimentos do seu coração certamente conhece as suas necessidades menores. Se você viver apenas para Deus e tiver fé no poder divino, Ele o ajudará diretamente. 

Por isso alguns devotos renunciam a tudo por amor a Deus, dedicando a vida a buscá-Lo e servi-Lo. Jesus Cristo, o guru do mundo ocidental, foi um exemplo de renúncia, pois disse: "As aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça".⁵ Jesus não tinha casa nem propriedades; não tinha dinheiro para comida ou roupas, mas era mantido por Deus. Por entregar tudo a Deus, tinha tudo. Pôde provar que tinha mais prosperidade do que qualquer pessoa rica, pois alimentou cinco mil pessoas com alguns pães e dois peixes.⁶ Os vários milagres que fez demonstraram sua sintonia com Deus e com o poder Dele sobre toda a vida. 

As pessoas acham que renunciar é negar tudo. Mas, falando relativamente, isso não é verdade. Eu renunciei aos pequenos desejos pelo maior Tesouro do universo. O santo Nagendranath Bhaduri,⁷ que renunciou a riquezas e a confortos materiais para procurar Deus, estava sendo louvado por um de seus seguidores. O mestre respondeu: "Os verdadeiros renunciantes são as pessoas de visão curta, e não eu. Deixei para trás algumas moedas e prazeres temporários para ganhar um império de infinita bem-aventurança e o maior prêmio de todos: Deus."

⁵ Mateus 8:20.
⁶ Mateus 14:17-21.
⁷ Ver Autobiografia de um Iogue, capítulo 7

Paramahansa Yogananda, O Romance Com Deus, Self-Realization Fellowship, p. 235/236.
Imagem: Pinterest.

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terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

CARREGAR SUA CRUZ. QUEM QUISER SALVAR A VIDA, PERDÊ-LA-Á.

"17. Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem e separarem, quando vos tratarem injuriosamente e repelirem como mau o vosso nome, por causa do Filho do Homem. Alegrai-vos nesse dia, e exultai, porque grande recompensa vos está reservada no Céu, visto que era assim que seus pais tratavam os profetas. (LUCAS, 6:22 e 23.)
18. Chamando o povo e os discípulos para perto de si, disse-lhes: 'Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, carregue a sua cruz e siga-me; pois aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e aquele que se perder por amor de mim e do Evangelho se salvará'. - Com efeito, de que serviria a um homem ganhar o mundo todo e perder-se a si mesmo? (MARCOS, 8:34 a 36; LUCAS, 9:23 a 25; MATEUS, 10:38 e 39; JOÃO, 12:25 e 26.)

19. 'Alegrai-vos', diz Jesus, 'quando os homens vos odiarem e perseguirem por minha causa, visto que sereis recompensados no Céu'. Essas palavras podem ser traduzidas assim: Felizes sereis quando os homens, pela má vontade com que tiverem agido convosco, vos propiciem ocasião de provar a sinceridade da vossa fé, porque o mal que vos façam redundará em proveito vosso. Lamentai-lhes a cegueira, e não os amaldiçoeis. 
Depois, acrescenta: 'Aquele que quiser seguir-me, carregue sua cruz', isto é, suporte corajosamente as tribulações que a sua fé acarretar, pois aquele que quiser salvar a vida e seus bens, renunciando a mim, perderá as vantagens do Reino dos céus, ao passo que aqueles que tiverem perdido tudo neste mundo, até mesmo a vida, para que a verdade triunfe, receberão, na vida futura, o prêmio da coragem, da perseverança e da abnegação. Mas, aos que sacrificam os bens celestes nos gozos terrestres, Deus dirá: 'Já recebestes a vossa recompensa'."

Extraído do livro "O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, FEB 2018m Brasília, p. 298/299.
Imagem: Pinterest.
 

quinta-feira, 21 de abril de 2022

O VALOR DAS PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES AO CAMINHO

"A vida dedicada ao Caminho é para poucos e, de fato, para muito poucos. Muitos são atraídos por ela como mariposas ao redor de uma vela, mas muito poucos suportam o 'calor', ou seja, o estresse, as renúncias e as disciplinas implícitas e, em particular, a incerteza da realização. Mesmo assim, a tentativa deles é útil; pois ela marca a entrada numa fase na qual, finalmente, o Caminho será procurado, encontrado e trilhado em um estágio posterior. Tais aspirantes... podem estar sofrendo de uma sensação de fracasso e derrota. Na verdade, eles não foram derrotados, nem falharam, pois o tempo deles ainda não chegou e os rigores do Caminho não são para eles... Nesses casos, os Egos fizeram o melhor possível, progresso foi feito e elos formados, que serão todos úteis e darão frutos mais tarde. 

A esperança de uma rota mais fácil é muito atraente e sua escolha não é anormal nem deve ser condenada. O mundo perde um ajudante e a Fraternidade perde um recruta, o que é lamentável, mas é melhor que a pessoa seja sincera.

Aqueles que não têm dentro de si total coragem e domínio próprio e que ainda não sentiram o chamado às alturas, não se tornarão alpinistas de sucesso. É melhor para eles ficarem em terreno plano e praticar no sopé da montanha, sendo perfeitamente correto e justificável para eles, ou na verdade, muito sábio. Mas, lembre-se, eles não alcançarão o cume da Kailasa e Daqueles que nela habitam. Que eles sigam um caminho que deve ser 'natural' e, portanto, verdadeiro e estudem psicologia, particularmente a psicologia da intuição. Mas a isso pode ser acrescentado: embora um certo grau de percepção intuitiva possa, porventura, ser desenvolvido sem treinamento e domínio da mente, eventualmente esse treinamento terá que ser realizado e aquele domínio atingido. Caso contrário, os frutos da intuição não podem ser totalmente compreendidos, nem, por essa razão, definidos e compartilhados. Em outras palavras, em sua ascensão, nenhum homem pode ignorar a mente.

Não se pode tornar proficiente em nenhuma ciência sem obedecer às regras e dominar as leis por meio de trabalho árduo. Isto é especialmente verdade para a maior de todas as ciências, a da vida mais elevada e sua realização antes da prova."

(Geoffrey Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 60/61)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 25 de novembro de 2021

O MEDO DA ENTREGA (1ª PARTE)

"Além da insegurança criada pelo ego, outra importante razão para não nos entregarmos a Deus é o temor doentio de que talvez Deus não saiba realmente o que precisamos para ser feliz. Esse temor é um corolário de nosso apego à vida deste mundo, na forma de uma racionalização para justificar nossa insistência em fazer o que nossa personalidade quer. Temos uma série de desejos e anseios, na maior parte fantasias de gratificação dos sentidos e também de nos tornarmos importantes e poderosos, incitando a admiração e respeito das pessoas (o sonho do ego). Portanto, ainda estamos presos a este mundo. Por essa razão, nossa mente nos diz (corretamente) que uma possível entrega a Deus nos levará pra longe dos devaneios do ego.

O que significa na prática, nos entregarmos à vontade de Deus? Talvez seja mais proveitoso começarmos perguntando quem se entrega a quem? Essa questão vem recebendo a atenção dos sábios da humanidade desde tempos imemoriais: quem sou eu? Vivemos numa identificação errônea com o corpo e o ego. Num sentido prático, somos dois seres em um: por um lado nosso Ser verdadeiro e eterno, que é divino, é Cristo em nós e, por outro, o nosso ser impermanente e ilusório que é o ego que se identifica com o corpo. Falando sobre a natureza humana, Paulo afirmou em coríntios: Se há um corpo psíquico, há também um corpo espiritual'. Paulo também disse: 'Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?' Por muitos milhares, na verdade, milhões de anos nos identificamos com aquele ser que percebemos com nossos sentidos, o corpo governado pelo ego. 

O processo de entrega é a renúncia a este mundo, em que vivemos para a gratificação dos sentidos e do ego, para nos identificar com o Cristo interior e viver de acordo com a Vontade do Pai Celestial. Mas, qual é a vontade de Deus para conosco? Como somente os verdadeiros devotos têm total certeza sobre a beneficência da vontade de Deus para conosco, temos a tendência a criar fantasias sobre o que pode ser a vontade de Deus dependendo da imagem que temos Dele. 

Nesse ponto, será útil uma definição. Usamos várias vezes o termo 'devoto'. O que significa ser um devoto? É ser inteiramente devotado ou dedicado a um projeto, a uma causa, a uma missão ou a uma figura religiosa. Ele pode ser um místico, um herói nacional, um grande empresário, um verdadeiro artista ou um atleta olímpico. Eles sacrificam tudo por seu ideal. Num sentido, eles são verdadeiros obcecados. Para termos uma ideia da extensão desta 'devoção', o grande campeão de natação, Michael Phelps,  queimava 12.000 kcal/dia²⁹ em seus exercícios, só tirava um dia de folga por ano e treinava cerca de cinco horas por dia na piscina, além dos exercícios de musculação e o estudo dos mínimos detalhes de seu desempenho em vídeos. Portanto, os devotos vivem de acordo com as duas máximas ensinadas por Jesus: 'Ninguém pode servir a dois senhores' e 'Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração'.

A questão da dedicação na vida espiritual é tão importante que um Mestre instruindo um aspirante ao discipulado afirmou:

'Como você sabe, existem certas palavras em nosso vocabulário mais oculto que têm graus de significado em geral de acordo com a pessoa que usa essas palavras e, mais especificamente, a quem são aplicadas. A palavra 'dedicado' é um exemplo. Em seu significado pleno, para todos nós, ser dedicado a um ideal, a realização de uma meta e a seguir um modo de vida apropriado, significa aceitação total e exclusiva do objetivo e de trabalhar e viver para ele; nada mais tem realmente qualquer importância, em comparação. Caso um assunto associado esteja envolvido, então seu significado e o fato de ser desejável ou não seriam imediatamente julgados de acordo com o ideal e, reitero, exclusivamente. Tal, no significado mais elevado da palavra, é dedicação. Porém, as pessoas podem ser dedicadas em vários graus, não é verdade? Ou, o cumprimento que dão ao ideal pode ser somente parcial, hesitante ou algo nesse sentido. Elas também podem ser consideradas como, num sentido menor da palavra, dedicadas e assim respeitadas  por fazerem o melhor que podem, considerando sua evolução, posição espiritual, karma e outros interesses.'³⁰" ...continua

²⁹ Kcal/d é abreviação para quilocaloria por dia. Caloria é uma unidade de medição de energia. A caloria é geralmente usada para definir o valor energético dos alimentos. Os cientistas sugerem que a necessidade energética do ser humano depende do sexo, altura e intensidade de atividade. Por exemplo, um homem com 1,80m, pouco ativo, precisa de 2350 kcal/d, se for ativo de 2900 kcal/d e muito ativo de 3500 kcal/d. 
³⁰ Luz do Santuário - O diário Oculto, op. cit., p. 346.

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 111/113)


terça-feira, 5 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - I

"Todos conhecemos aquele algo misterioso e severo, ao qual chamamos miséria, que ao homem persegue e de um modo bastante estranho, como a primeira vista parece; não o persegue vaga e incertamente, mas com pertinácia positiva e inquebrantável. Sua presença não é absolutamente contínua, pois de outro modo deixaria o homem de viver; porém sua pertinácia não cessa de modo algum. O sombrio fantasma da desesperação permanece por trás do homem, pronto para tocá-lo com seu dedo terrível, tão depressa como se tivesse sido demasiado tempo feliz. Quem deu a este horrível espectro o direito de vagar ao nosso redor desde que nascemos até que morremos? Quem lhe deu o direito de permanecer sempre à nossa porta, conservando-a entreaberta com sua mão invisível, mas não obstante horrível, pronta a entrar no momento oportuno? O maior filósofo de todos os que viveram sucumbe, afinal ante o mesmo; e unicamente é filósofo, no verdadeiro sentido da palavra, aquele que reconhece o fato de que é irresistível e sabe que, como todos os demais homens, deve sofrer cedo ou tarde. A dor e a miséria constituem uma parte da herança dos homens e aquele que julga que nada poderá fazê-lo sofrer, o que faz é revestir-se de um egoísmo frio e profundo. Esta vestidura poderá protegê-lo contra a dor; mas também o separará do prazer. Se a paz pode ser encontrada sobre a terra, ou alguma alegria existe na vida, não pode ser fechando as portas do sentimento, que nos admitem a porção mais elevada e mais vivida da nossa existência. A sensação, tal como a obtemos por intermédio do corpo físico nos proporciona tudo aquilo que nos induz a viver daquela forma. É inconcebível que nenhum homem se quisesse dar ao trabalho de respirar, a não ser que o ato levasse consigo um sentimento de satisfação. O mesmo acontece com relação a cada uma das ações em todos os instantes da nossa vida: vivemos porque até na mesma sensação da dor existe o prazer. Sensação é o que nós desejamos. De outro modo experimentaríamos de comum acordo as águas profundas do esquecimento e extinguir-se-ia a raça humana. Se isto acontece com a vida física, o mesmo se realiza com a vida das emoções, a imaginação, a sensibilidade, com todas aquelas esquisitas e delicadas formações que, com o maravilhoso mecanismo registrador do cérebro, constituem o sutil homem interno. Para eles o prazer reside na sensação; e uma série infinita de sensações, é para eles a vida. Destrua-se a sensação que faz que desejem perseverar na experiência da vida e nada se terá adiantado. Por esta razão, o homem que intenta obliterar a sensação da dor e que se propõe manter-se no mesmo estado, quando sofre como quando goza, fere a raiz da vida mesmo e destrói o objeto da sua própria existência. Deve-se aplicar isto o mais completamente que nossos poderes atuais, raciocinadores e intuitivos, nos permitam, em cada estado, até naquele do Nirvana ensinado pelos Orientais. Esta condição pode ser unicamente uma, dotada de sensações infinitamente mais sutis e esquisitas, se é, depois de tudo, um estado e não aniquilação: e em harmonia com a experiência da vida, da qual somos, na atualidade capazes de julgar, aumento na sutileza da sensação significa vitalidade acrescentada; como, por exemplo, um homem sensível e de imaginação, sente mais por causa da infidelidade ou fidelidade de um amigo, do que um homem da mais grosseira natureza física, por meio dos sentidos. Claro é, portanto, que o filósofo que recusa sentir, não se reserva lugar algum de refúgio; nem sequer o distante e inacessível Nirvana. Pode unicamente negar-se a si mesmo sua herança de vida, que é, em outras palavras, o direito de sensação. Se prefere sacrificar tudo aquilo que faz dele um homem, deve-se contentar com uma mera indolência de consciência, o que é uma condição que, comparada à vida da ostra, é esta uma vida ativa.

Porém, nenhum homem é capaz de efetuar tal fato. Sua existência continuada prova plenamente que ele ainda deseja sensação, e a deseja tão positiva e ativamente, que o desejo deve ser concedido na vida física. Seria mais prático não se enganar a si mesmo com a falsidade do estoicismo, não tentar renunciar aquilo do qual nada o induza separar-se. Não seria um conduta muito mais intrépida, um modo de resolver o grande enigma da existência, abraçar-se a ele, retê-lo com firmeza, e perguntar-lhe o mistério de si mesmo? Se os homens quisessem tão só deter-se e considerar as lições que o prazer e a dor lhes ensinaram, muito se poderia conjeturar daquela coisa estranha que causa estes efeitos. Mas os homens se apressam em se afastar de tudo quanto os possa conduzir ao estudo de si mesmos ou de qualquer minuciosa análise da natureza humana. Apesar de tudo, deve existir uma ciência de vida tão inteligível como qualquer dos métodos que nas escolas se empregam; a ciência é desconhecida, é verdadeira e sua existência é meramente suspeitada por um ou dois de nossos mais avançados pensadores. O desenvolvimento de uma ciência é unicamente o descobrimento daquilo que já existe; e tão mágica e inacreditável é na atualidade, a química para o moço lavrador, como é a ciência da vida para o homem de ordinárias percepções. Apesar de tudo, pode e deve existir um iluminado que perceba o crescimento da nova ciência, do mesmo modo que os primeiros e torpes experimentadores nos trabalhos de laboratório, veem o sistema dos conhecimentos na atualidade obtidos, desenvolvendo-se por si mesmos do seio da natureza, para o uso e benefício do homem."  

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 13/16)


terça-feira, 14 de janeiro de 2020

AS CAUSAS GERADORAS DO CARMA (1ª PARTE)

"Estava, um dia, certo Brâmane sentado no alto de uma colina, em meditação, quando viu passar o rei com sua numerosa escolta de cavaleiros e soldados esplendidamente vestidos. Depois de contemplar toda esta magnificência, o Brâmane, deslumbrado curvou a cabeça e pensou: 'Quanto este príncipe é feliz e poderoso. Vive cercado de felicidade e grandeza! Quando poderei eu alcançar tanta felicidade também?'

E a tristeza da sua condição pesou-lhe fortemente no espírito.

Guardou este desejo no íntimo do coração embora nunca, em sua longa vida, se afastasse do caminho da justiça. Envelheceu e morreu. Ora, após a morte, tornou-se glorioso monarca, senhor de vastos territórios, recebendo embaixadas, dirigindo numerosos exércitos, soberano absoluto de milhares de súditos, construindo fortalezas e cidades. Entretanto este imenso império estava encerrado inteiramente nos limites da imaginação astral do Brâmane ambicioso.

Os nossos desejos, as nossas aspirações criam forma, vivem dentro de nós porque o nosso mental é o criador da ilusão. Tudo que o homem sonhou possuir na Terra, ele o possui no plano astral. O que nos prende é o desejo. A alma é atraída para qualquer objeto, e assim forma-se uma imagem mental que é reforçada pelas vibrações astrais. A tendência é a sua realização na terra. Todos os nossos pensamentos tendem a realizar-se. A ação tem como causa geradora o desejo, que é o elemento principal na formação do karma

Quando o homem trabalha, não pensa senão nos resultados práticos do seu trabalho, no lucro material que pode auferir em bens materiais, em dinheiro...

Trabalhamos com o fito de adquirir alguma coisa.

O homem cava a terra, planta, semeia, colhe para transformar todo esse esforço em metal sonante.

Ele está auxiliando inconscientemente a evolução, cooperando no plano divino; mas vai movido por pensamentos egoístas, apenas pensando na sua pessoa.

'Em torno de nós vemos todos trabalhar par alguma coisa, novidos pelo interesse e pelo desejo, impelidos pela ambição.'

Olhem para as multidões que enchem os templos. É o temor do inferno, é a ânsia de ganharem indulgência, é o desejo de salvação, é a ambição do céu. (...)

É o amor altruísta a verdadeira renúncia, o desprendimento completo das preocupações de recompensa além da morte. (...)

(E. Nicoll, A Lei da Ação e Reação (Karma), Sociedade Teosófica no Brasil, São Paulo, 3ª edição, 1960, pg. 35/37)


sábado, 14 de abril de 2018

APEGO

"Apego é um fator mental que percebe um objeto, considera-o bonito ou agradável, deseja obtê-lo, tocá-lo e possui-lo e não quer se separar dele. O apego funciona de duas maneiras interligadas: desejando obter um objeto atraente que ainda não possui e desejando nunca se separar dele depois de possui-lo. A relação de um casal pode ilustrar esses dois tipos de apego. No começo, os dois parceiros desejam estar juntos - esse é o primeito tipo de apego. Depois, surge o desejo de nunca se separarem um do outro - que é o segundo tipo de apego. O apego também pode surgir em relação a objetos materiais. Sob a influência dessa delusão, nossa mente fica absorta no objeto de desejo do mesmo modo que o óleo fica impregnado num tecido. Assim como é muito difícil separar o óleo do tecido que ele manchou, também é difícil separar a mente do objeto de apego no qual ela ficou absorta.

É por causa do nosso apego que continuamos a vagar no samsara, passando por infinito sofrimento. O pré-requisito para alcançar a libertação ou a plena iluminação ou mesmo para receber uma ordenação como monge ou monja é a mente de renúncia. O apego aos prazeres passageiros deste mundo impede o surgimento dessa mente.

Desde tempos sem-início, temos sido incapazes de nos libertar da prisão do samsara. Apego é o que nos mantém presos nesse cárcere. Se tivermos o desejo sincero de praticar Darma, devemos renunciar ao samsara como um todo, e só poderemos fazer isso reduzindo nosso apego deludido.

Tendo reconhecido nosso apego, haverá duas maneiras de abendoná-lo. Essa delusão pode ser superada temporariamente meditando-se na repugnância e impureza do objeto de desejo e, depois, considerando-se as inúmeras falhas da delusão em si. Se praticarmos continuamente desse modo, com certeza poderemos reduzir nosso apego. (...)

Tal método é apenas um antídoto temporário ao nosso apego. Se quisermos removê-lo por completo, teremos de destruir a causa subjacente do apego e também de todas as outras delusões: o autoagarramento. Só seremos capazes de eliminar definitivamente o autoagarramento se meditarmos na vacuidade (shunyata, em sânscrito). Para alcançar a libertação total do sofrimento, precisamos desenvolver não apenas uma realização da vacuidade, mas também da renúncia, do tranquilo permanecer e da visão superior. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, São Paulo, 2009 - p. 163/164)


quarta-feira, 21 de março de 2018

A VERDADE ETERNA, A META DA IOGA (PARTE FINAL)

"(...) Aqueles que são conhecidos como adeptos renunciam este desaparecimento na forma última para tornarem-se a Hierarquia Oculta deste planeta, desde o Senhor do mundo, passando pelos Mahatmas de todos os Graus, até os Asekhas. Eles fazem esta grande Renúncia em prol de todas as outras Mônadas-Egos em evolução e de outros seres. Isto capacita a Hierarquia em Sua preocupação compassiva e envolvê-los e a 'preservá-los' através da 'noite escura', o Gethsemane do Esquema Planetário que começou nesta Quarta Ronda. 

Ninguém abaixo do nível destes Seres pode estimar a natureza do sacrifício ou a amplitude e a extensão do serviço Deles. Ainda que estes grandes e gloriosos Seres tenham, por assim dizer, atrasado a Autoidentificação com a Verdade última, no entanto, Eles são iluminados por sua Luz e assim capazes de percepção perfeita e vislumbre infalível em todos os princípios e processos da Natureza, desde o físico até os níveis espirituais mais altos.

Admitimos, porém, que este conceito é altamente abstrato, além do alcance e mesmo do interesse da maioria das pessoas. Porém, deveria ser mantido na consciência do discípulo devotado como sua meta durante o desempenho da ioga ao longo de toda a sua vida. A consideração desta meta para a percepção da unidade de toda a vida interior como a meta, e sua aplicação a todas as ações e todos os relacionamentos como o ideal, deveria-se lembrar da meta última, que é a Verdade eterna e sem fim. 

Em circunstâncias normais, a ideia de cada pessoa sobre sua meta espiritual e, em grande parte o resultado do seu Raio.¹⁶ Os homens são obrigados pelas restrições da automanifestação a expressar seus Raios, daí os sete ideais principais dos sete temperamentos humanos: poder, sabedoria, compreensão, beleza, conhecimento e a capacidade para saber, devoção ou consciência de causa e ordem. É correto que cada pessoa em sua aspiração humana e autoexpressão deverá ser levada em direção ao Raio, mas além de todos os Raios está a Unidade ou existência unitária em que todos os objetivos são sintetizados e transcendidos. É esta Existência Una ou Verdade celestial que será finalmente procurada e encontrada.

Ao meditar, a pessoa é aconselhada a seguir sua inclinação natural e procurar um resultado natural, em particular a realização da unidade, lembrando-se porém que uma realização ainda maior aguarda, chama e pode ser alcançada na meditação. Ainda que isto possa estar além da conceituação e da expressão no momento, não será sempre assim. Para ajudar na formulação desta ideia, a pessoa pode proveitosamente pensar sobre a existência da Verdade como estando por trás e além de todas as verdades: o Princípio abstrato sem forma que não pode ter nome e, no entanto, é a síntese de todas as ideias verdadeiras em todos os tempos."

¹⁶ Os Sete Raios ou temperamentos humanos.

(Geoffrey Hodson - A Suprema Realização através da Ioga - Ed. Teosófica, Brasília, 2001 - p. 30/31)


quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

PARADOXOS

"Reconhecemos todos que a proposta de Cristo e de todos os grandes Mestres e Encarnações Divinas são evidentes paradoxos.

Vejamos:

É dando que enriquecemos.

É humildando-nos que realmente crescemos.

Renunciando é que conseguimos alcançar.

Morrendo é que vivemos para a vida eterna.

Quem quer salvar sua vida perdê-la-á.

Ao dar a outra face - igualzinho a Gandhi - é que vencemos a batalha.

Tornando-nos servos do Senhor é que podemos viver a mais perfeita e irrestrita liberdade.

Voltando a ser crianças, alcançamos a plena maturidade.

Quem usa a violência sempre sairá vencido.

Para a horizontalidade da lógica - a tão incensada lógica humana - tudo isto é absurdo.

É com absurdos que Eles preferem acordar os surdos.

Que nos ajude, Senhor, a ter 'ouvidos de ouvir'."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 196/197)


quinta-feira, 30 de novembro de 2017

QUERER O DEVER (PARTE FINAL)

"(...) O ego só conhece prazer, e nada sabe de felicidade; mas o ego integrado no Eu sabe o que é felicidade.

No princípio, esta integração do ego no Eu é 'caminho estreito e porta apertada', é sofrimento e dolorosa renúncia; no fim, é 'jugo suave e peso leve', é suprema felicidade.

O homem integral quer jubilosamente o que deve. O homem integral principia o seu itinerário evolutivo com sofrimento doloroso, mas termina-o com sofrimento glorioso; o seu céu sofrido culmina em céu gozado.

Quando a horizontal do querer é cortada pela vertical do dever, então ocorre um cruzamento, uma crucificação, que pode ser representada pela cruz telúrica, símbolo do sofrimento mas, quando esta cruz presa à terra se desprender totalmente do seu calvário e flutuar livremente nas alturas do Tabor, como cruz cósmica, então o homem completou a sua realização existencial, querendo o seu dever, essencializando a sua existência.

Enquanto o querer do ego está em conflito com o dever do Eu, o homem é infeliz, e tenta sufocar a sua infelicidade com toda a espécie de prazeres e paliativos. Quando então a consciência atormentada se cala por algum tempo, narcotizada pelo prazer, o homem se julga ilusoriamente feliz, porque goza na sua periferia; mas, em breve, o seu centro profundo torna a bradar por uma felicidade verdadeira, porque nenhum prazer periférico pode substituir a felicidade central. E o homem chega ao ponto de se sentir existencialmente frustrado, porque não atingiu a sua realização existencial. A agulha magnética da sua consciência continua, porém, a apontar invariavelmente para o norte da verdade da sua natureza humana, por mais que o homem vire e revire a bússola da sua egoidade.

Em última análise, a verdadeira natureza do homem não é falsificável definitivamente, porque ela é a anima naturaliter christiana." 

(Huberto Rohdem - O Homem, sua Natureza, sua Origem e sua Evolução - p. 73/74)

terça-feira, 21 de novembro de 2017

A PERCEPÇÃO DA UNIDADE

"Como lhe será possível ir além? Vida após vida, ele aprendeu a identificar-se com o homem; vida após vida, aprendeu a responder a todo grito de dor. Pode, agora que é livre, prosseguir e deixar os outros acorrentados? Pode entrar na bem-aventurança deixando o mundo no sofrimento? Ele, a quem chamamos Mahatma, é a Alma liberta que tem o direito de prosseguir mas, em nome do Amor, regressa trazendo seu conhecimento para remediar a ignorância, sua pureza para absolver a infâmia, sua luz para afugentar a escuridão; aceita novamente o peso da matéria até que toda a humanidade seja libertada, e então prosseguirá, não sozinho, porém como o pai de uma grande família, levando com ele a humanidade para compartilhar do mesmo fim e da mesma bem-aventurança no Nirvana.

Esse é o Mahatma. Vidas sucessivas de esforço coroadas com a suprema renúncia; perfeição obtida através da luta e do trabalho, e depois o regresso para ajudar aos outros a chegarem onde ele chegou. Sua mão está pronta para ajudar a toda Alma que lhe estende as mãos à procura de ajuda. Seu coração responde à súplica de todo irmão que peça sua orientação; e eles estão lá, esperando o momento em que desejemos ser ensinados, dando-lhes a oportunidade de obter o Nirvana, ao qual renunciaram."

(Annie Besant - Os Mestres - p. 28/29)
Fonte: http://universalismoesoterico.blogspot.com.br/


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

SIMPLICIDADE

"Simplicidade não significa mero ajustamento a um padrão. Requer-se muita inteligência para sermos simples, e não apenas que nos ajustemos a determinado padrão, por mais nobre que ele se nos afigure, exteriormente. A maioria de nós, infelizmente, começa a ser simples nas coisas exteriores, é bem fácil ter escassas posses e estar satisfeito com poucas coisas; contentar-se com pouco e talvez dividir este pouco com outros. Porém, uma simples manifestação exterior de simplicidade, nas coisas, nas posses, não implica, por certo, simplicidade interior. Porque, nas condições atuais do mundo, estão-nos sendo impostas cada vez mais coisas, exteriormente. A vida se está tornando cada vez mais complexa. Para fugir de tal situação, procuramos renunciar às coisas ou desapegar-nos delas — de automóveis, casas, organizações, cinemas, e das inumeráveis circunstâncias que nos assaltam do exterior. Pensamos que, pela renúncia, seremos simples. Já houve muitos santos e muitos instrutores que renunciaram ao mundo; parece-me, no entanto, que tal renúncia, por parte de qualquer de nós, não resolve o problema. A simplicidade fundamental, real, só pode vir à existência interiormente, e daí manifestar-se, exteriormente, como expressão. Como ser simples — eis o problema: porque a simplicidade nos torna mais e mais sensíveis. A mente sensível, o coração sensível, é essencial, porque capaz de rápido percebimento, rápida receptividade.

Sem dúvida, só podemos ser interiormente simples, quando compreendemos os inumeráveis empecilhos, apegos, temores, em que estamos aprisionados. Entretanto, de modo geral, gostamos de estar presos a pessoas, posses, ideias. Gostamos de ser prisioneiros. Interiormente, somos prisioneiros, embora exteriormente pareçamos muito simples. Interiormente somos prisioneiros dos nossos desejos, das nossas necessidades, de nossos ideais, de inumeráveis impulsos. A simplicidade não pode ser achada, se não somos livres interiormente. Por conseguinte, ela deve começar de dentro, e não de fora."

(Krishnamurti, A Primeira e Última Liberdade, Ed. Cultrix, São Paulo - p. 75/76)


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

LIÇÕES A SEREM APRENDIDAS ATRAVÉS DO CONHECIMENTO DO KARMA (PARTE FINAL)

"(...) 7. A Renúncia aos Frutos da Ação. Aqui está a es­sência de toda a filosofia, encerrada numa casca de noz. É a Ação que nos mantém presos à Roda dos Nascimentos, Mortes e Renascimentos, porque Ação é Karma. Não importa que a ação seja física, moral ou mental; ela nos encadeia às esferas de atividades regidas pelo Karma. De­vemos, então, desistir de fazer alguma coisa, por causa disso? Não! Como, então, devemos agir sem deixar que a ação tenha qualquer força repressora sobre nós? Aqui está o segredo, e não há livro no mundo que exponha mais claramente a forma do que 'A Canção do Senhor', ou Bhagavad-Gitã. Ele nos ensina a trabalhar e a agir, ofe­recendo todas as ações ao Senhor Supremo e deixando as consequências para Ele. Se trabalharmos para ter recom­pensas na Terra, sim, mesmo que trabalhemos para ser­mos recompensados no Céu, os frutos amadurecerão onde a semente foi plantada. E a Terra e o Céu nos manterão fora do Nirvana, isto é, fora do que é imensamente maior do que o mais alto Céu — a União com o TODO-EU Su­premo. Céus, Terra e Infernos estão, todos, dentro da Roda da Existência, onde o Karma opera. 'Os que cul­tuam os deuses, vão para os Deuses, mas o que Me cul­tua, habitando em todos os seres, esse virá ter comigo, seja qual for a sua forma de existência' (Bhagavad-Gitã).

'Teu trabalho é só com a ação, nunca com os seus frutos. Portanto, não deixes que o fruto da ação seja o teu motivo, nem sejas ligado à inação' (ib.). 'Produze a ação, ficando em união com o Divino, renunciando a apegos, e equilibrando-te bem no sucesso como no fracasso' (ii, 47-48). 'Agindo sem apego, o homem alcança verdadei­ramente o Supremo' (iii, 19).

'O Eu disciplinado, movendo-se entre os objetos dos sentidos, com os sentidos livres de atração como de repulsão, dominado pelo EU, dirige-se para a Paz' (ii, 64). 'A afeição e a aversão pelos objetos dos sentidos residem nos sentidos. Que homem algum se deixe dominar por esses dois sentimentos, porque eles são seus adversários' (iii, 34).

'O que quer que faças, o que quer que ofereças, o que quer que dês, o que quer que faças com austeridade, faze como uma oferenda a Mim' (ix, 27). Como isto nos faz lembrar as palavras de São Paulo: 'Se, portanto, co­meres ou beberes, ou seja o que for que faças, faze tudo para a glória de Deus' (l Cor., x, 31).(...)

Nessas palavras inspiradas, a Voz do Mestre é ouvi­da, ensinando-nos o segredo da Ação e da Inação. E assim aprendemos quando as ações não têm força conectiva, e fugimos à teia Kármica para nos tornarmos 'unos com a Vida, embora sem viver'."

(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 40/41

quarta-feira, 14 de junho de 2017

ENTENDER A PAIXÃO

"Ter uma vida religiosa é uma autopunição? A mortificação do corpo ou da mente é um sinal de entendimento? O martírio é um caminho para a realidade? A castidade é negação? Você acha que pode ir longe mediante a renúncia? Você realmente acha que pode haver paz por meio do conflito? Os meios não importam infinitamente mais do que o fim?

O fim pode existir, mas os meios existem. O real, o que existe, deve ser entendido, e não abafado pelas determinações, os ideais e as racionalizações inteligentes. O sofrimento não é o caminho para a felicidade. O que chamamos de paixão tem de ser entendida, e não reprimida ou sublimada, nem é bom encontrar um substituto para ela. Independentemente do que você faça, qualquer dispositivo que invente, só fortalecerá aquele que não foi amado e entendido. Amar o que chamamos de paixão é entendê-la. Amar é estar em comunhão direta. E você não pode amar algo do qual se ressente, sobre o qual tem ideias e conclusões. Como você pode amar e entender a paixão se fez um voto contra ela? Um voto é uma forma de resistência, e aquilo a que você resiste finalmente o conquista. A verdade não deve ser conquistada. Não se pode atacá-la, ela vai escapar entre os dedos se tentar agarrá-la. A verdade chega silenciosamente, sem você perceber. O que você percebe não é verdade, é apenas uma ideia, um símbolo. A sombra não é o real."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 133)


sexta-feira, 12 de maio de 2017

A MIRAGEM DO GRAAL

"A procura do Santo Graal é uma das mais famosas histórias do Ocidente. Conhecida como 'a jornada da busca', essa peregrinação é um importante símbolo místico, que representa o esforço da mente humana em sua busca por Deus. Mas um símbolo é apenas um indicador, um sinal que pode levar ao sagrado ou santificado; como tal, ainda está aberto a interpretações individuais.

A lenda do Graal foi, muito provavelmente, inspirada pelas mitologias celta e clássica. O Graal ou cálice é apenas um entre muitos exemplos de recipientes, como chifres e caldeirões mágicos, capazes de restaurar a vida. No mito celta, a taça ou caldeirão devolvia a vida, provia saúde, sustento e coragem. Essas qualidades estavam ligadas à natureza e ao ciclo das estações do ano, com suas características de regeneração e fertilidade; faziam parte de um modo simples de vida.

Durante o século XIII, quando a religião cristã substituiu grande parte dos ensinamentos pagãos, um significado espiritual novo e mais austero foi dado ao tema do Graal. Ele passou a representar a cura, a totalidade e acima de tudo a pureza através do sacrifício. Se a busca pelo Graal simboliza nossa própria busca por iluminação, isso faz sentido. Certamente a iluminação trará a cura e o completo senso de unidade com a fonte da vida, onde não há mais separação.

A interpretação cristã da busca fez também surgir um novo herói, o cavaleiro Parcifal. Ele personaliza o fato de que somente um homem de coração puro e inocente poderia encontrar o Graal. Por causa do sacrifício de Cristo por toda a humanidade, o cálice que continha o Seu sangue tornou-se o mais poderoso símbolo de pureza e de transformação para os cristãos. Jesus estabeleceu o exemplo do homem perfeito; desse modo, o Graal passou a representar o objetivo último daqueles que estão na senda espiritual.

O significado do Graal, portanto, mudou da fertilidade e da fartura dos pagãos para a renúncia e o serviço que a vida de Cristo representou. Para os cristãos, ele passou a representar o desenvolvimento espiritual por meio de longas e árduas provações, sacrifícios e sofrimento."

(Christine Lowe - A miragem do Graal - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 11/12)


sexta-feira, 14 de abril de 2017

RUMO À TRANSFORMAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Podemos ver a transformação como crescimento ou aumento. Podemos também vê-la como decréscimo. 'Aquele poder que o discípulo cobiçar é o que irá fazê-lo parecer como nada aos olhos dos homens' (Luz no Caminho). Temos apenas que renunciar àquilo que de fato é inferior, embora possa, externamente, parecer superior. Então, o verdadeiramente grande surge. 

Ele surge por si próprio, quando é chegada a hora. Se tentarmos forçá-lo a se antecipar, podemos ser guiados na direção oposta, rumo à supressão de algo que, mais cedo ou mais tarde, aparecerá novamente e causará dificuldades. Mas, quando há uma certa maturidade, não conseguimos fazer outra coisa senão nos derreter com grande alegria no interior do Um, que é o nosso verdadeiro ser. 

O conhecimento direto do terreno não pode ser obtido senão pela união, e a união só pode ser alcançada pelo aniquilamento do ego e da autoimportância, que é uma barreira separando o 'tu' do 'Aquilo' (A Sabedoria Perene, A. Huxley).

Só quando o novo dia tiver verdadeiramente raiado em nossos corações é que as novas praias poderão acenar. Esse novo dia é responsabilidade nossa. Descobriremos então que as novas praias não são diferentes do novo dia, que somos aquelas praias e que elas estiveram sempre presente, mas permaneceram invisíveis até que o novo dia raiasse em nós."

(Mary Anderson - Para alcançar um novo dia - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 30/31)


quinta-feira, 13 de abril de 2017

RUMO À TRANSFORMAÇÃO (2ª PARTE)

"(...) As pessoas religiosas também descobrem isso desistindo do conceito limitado de Deus em favor de um conceito mais amplo, até que alcançam aquilo que tudo abarca. É isso também que descobrem as pessoas ativas quando desistem de ações em benefício próprio em favor do serviço aos outros. Todos esses caminhos levam ao autoesquecimento e, portanto, ao novo - um novo dia, novas praias. Mas essa renúncia deve ser voluntária e espontânea; deve ocorrer somente quando o momento for propício. 

Não devemos nos restringir a um único caminho, pois nosso ser comporta diferentes possibilidades: ação, emoção, pensamento.

'O caminho não é encontrado apenas pela devoção, apenas pela contemplação religiosa, pelo progresso ardente, pelo trabalho autossacrificante, pela observação cuidadosa da vida. Nenhum desses, sozinho, pode levar o discípulo mais do que um degrau adiante. Todos os degraus são necessários para compor a escada' (Luz do Caminho).

Qualquer que seja o caminho pelo qual nos aproximemos das novas praias, o que lá encontrarmos não pode ser concebido nem descrito. São João da Cruz disse que 'aqueles que O conhecem mais perfeitamente percebem com muito mais clareza que Ele é infinitamente incompreensível.'

Mas os místicos, os verdadeiros sábios e os santos de todas as tradições afirmaram que as praias longínquas, os horizontes além de todos os horizontes não estão tão distantes: estão no aqui e agora, em nós, em nossas vidas. Compreender isso já é transformação. (...)"

(Mary Anderson - Para alcançar um novo dia - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 30)

terça-feira, 28 de março de 2017

A PRECIOSIDADE DA NOSSA VIDA HUMANA (2ª PARTE)

"(...) O que significa 'encontrar o Budadharma'? Significa ingressar no Budismo buscando sinceramente refúgio em Buda, Dharma e Sangha e, assim, ter a oportunidade de ingressar e fazer progressos no caminho à iluminação. Se não encontrarmos o Budadharma, não teremos oportunidade para fazer isso e, assim, não teremos oportunidade de obter a felicidade pura e duradoura da iluminação, o verdadeiro sentido da vida humana. Concluindo, devemos pensar: 
Agora eu alcancei, por um breve momento, o mundo humano, e tenho a oportunidade de obter a libertação permanente do sofrimento e a felicidade suprema da iluminação por meio de colocar o Dharma em prática. Se eu desperdiçar esta preciosa oportunidade em atividades sem significado, não haverá maior perda nem maior insensatez .
Com esse pensamento, tomamos a firme determinação de praticar agora o Dharma dos ensinamentos de Buda sobre renúncia, compaixão universal e visão profunda da vacuidade, enquanto temos esta oportunidade. Então, meditamos repetidamente nessa determinação. Devemos praticar essa contemplação e meditação todos os dias em muitas sessões e, desse modo, nos encorajarmos a extrair o verdadeiro sentido da nossa vida humana. 

Devemos nos perguntar o que consideramos mais importante – o que desejamos, pelo que nos dedicamos ou com o que sonhamos? Para algumas pessoas são as posses materiais, como uma casa grande com os últimos requintes de conforto, um carro veloz ou um emprego bem remunerado. Para outros é reputação, boa aparência, poder, excitação ou aventura. Muitos tentam encontrar o sentido de suas vidas em relacionamentos familiares e círculo de amigos. Todas essas coisas podem nos fazer superficialmente felizes por pouco tempo, mas elas também causam muita preocupação e sofrimento. Elas nunca irão nos dar a verdadeira felicidade que todos nós, em nossos corações, buscamos. Já que não podemos levá-las conosco quando morrermos, com certeza irão nos decepcionar se tivermos feito delas o principal sentido da nossa vida. As aquisições mundanas, tomadas como um fim em si mesmas, são ocas: elas não são o verdadeiro sentido da vida humana. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 29/30)
Fonte:  https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com


quarta-feira, 22 de março de 2017

A VERDADEIRA RELIGIÃO

"Se uma religião não insistir em fazer de você um eficiente praticante da compreensão, da concórdia, da misericórdia, da pureza, da renúncia, da beleza, do amor, da compaixão, da verdade... não é religião coisa nenhuma.

A verdadeira Religião não tem um nome específico, nem um Deus com um nome especial e exclusivo.

Sua essência consiste em: amar universalmente; perdoar sempre; sempre servir e amparar; renunciar ao e vencer o fascínio dos sentidos; minimizar a ignorância e o egoísmo; superar o apego; a aversão e o medo; silenciar a mente para que Deus fale; ter Deus como objetivo supremo; orar e vigiar; cumprir de forma perfeita o papel ou tarefa que a Vida reserva a cada um; compadecer-se dos que sofrem; servir sem ideia de recompensa ou mérito; ... Que é isto senão o que devemos fazer como investimentos de Deus?

Só o Amor a Deus e ao próximo nos liberta."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p.127/128)


sexta-feira, 17 de março de 2017

AS MODIFICAÇÕES DA DOUTRINA DO KARMA E ALGUMAS CRENÇAS LIGADAS A ELAS (PARTE FINAL)

"(...) Sempre podemos desejar transferir nossas boas ações e pensamentos para o bem de outros. Mas não irá isso interferir com o Karma desses outros? Não, se compreen­demos como se faz isso. Na verdade, é quase impossível, e fica além do nosso poder interferir no Karma alheio. Ninguém pode receber o bem indiscriminadamente e, ao mesmo tempo, não podemos dizer quem está em condi­ções de receber ajuda e quem não está. Façamos uma comparação para saber como ajudar outros. Suponhamos um homem caminhando por uma estrada cansativa e carregando uma carga pesada; suponhamos também um outro homem, cheio de compreensão, que se apro­xima dele, fala com ele, atrai o seu interesse, de forma que o tempo passa rapidamente e, quando menos se es­pera, a viagem chega ao fim e a carga ficou meio esque­cida pelo mútuo interesse. Bem, nesse caso, o homem levava a carga que ele próprio criara para si. Não obstan­te, embora fosse Karma seu carregar a sua carga, seu com­panheiro, no verdadeiro sentido da palavra, ajudou a tor­nar mais leve aquele peso.

É assim que aprendemos a ajudar-nos mutuamente a carregar nossas cargas. É aprendendo como usar o jugo do Cristo, que leva o Cristo a suportar as cargas dos que tomam o seu jugo, isto é, aprendendo a maneira pela qual Ele carrega o peso. E a Sua maneira é a da paciência, da humildade e do amor. Amor verdadeiro, solidariedade e compaixão para com os outros, ajuda-os a suportar suas cargas e encurtam a jornada para a Meta. Inversamente, os deprimidos e não solidários afetam as condições de todos os que entram em contato com eles. Aqueles, por exemplo, que, não satisfeitos em suportar seus desgos­tos, acham que devem expor desnecessariamente suas mágoas a todos os que os rodeiam, também os tornam desencorajados. Ainda assim, é bom, de vez em quando, 'chorar com os que choram', porque a solidariedade acalma, e são muitos os que não podem suportar sozinhos os desgostos e precisam de toda a compaixão que puder­mos ter.

Dessa forma é que os Salvadores, os Budas, os Nirmanakâyas, estão sempre auxiliando, 'fazendo parivarta' pela salvação de outros. é essa a sua divina tarefa, é essa a Sua natureza — abrandar os desgostos da vida, se ao menos andarmos a Seu lado! Como é simples, não obs­tante, como é difícil recordar isso, porque não temos Fé. Eles estão sempre nos procurando — esses Senhores e Mestres - não no sentido metafórico, mas real e verda­deiramente. Procuram-nos, e fazem isso com incansável amor e compaixão. Os Budas, isto é, os Iluminados de todos os tempos, estão sempre conosco. Desde o grande Céu Akanishtha, onde moram os Arhats, até o mais baixo dos Infernos, Avitchi, os Budas da Compaixão estão co­nosco, esperando que falemos com Eles. Quem sabe quan­tos desastres Eles têm evitado? Quem sabe, mesmo quan­do vêm os desastres, que Mão os abrandou? Não há, por acaso, uma profunda verdade na declaração de que os Mestres podem suportar nossos desgostos e sentir o peso das nossas iniquidades? Por isso é que entre os budistas Mahayâna os piedosos sempre rezam para que os Nirmanakâyas, ou Budas da Compaixão, jamais nos deixem, para que Aqueles Grandes, que, ao alcançarem o Nirva­na, renunciam, com grande sacrifício, a gozá-lo, possam permanecer espiritualmente presentes para ajudar o mun­do - e fisicamente presentes, se for necessário.

Nos comentários acima, a respeito do trabalho interoperativo do Karma, não há fuga quanto à responsabili­dade implícita da pessoa, com o correr do tempo. Se rece­bemos algum Bem ou algum Mal de outros, isso tem um propósito, e o Mal pode aliviar um tanto dos nossos pró­prios erros, enquanto o Bem exteriormente recebido aju­da-nos no gozo do nosso próprio Bem, ou no poder de auxiliar outros. E, embora seja impossível penetrar no ambiente labiríntico das operações Kármicas, devemos compreender que jamais será possível que se faça injus­tiça contra nós, e que estamos completamente seguros nas mãos do Grande Brahma. Assim, devemos também recordar que tal, como o homem, no exemplo que demos acima, foi realmente auxiliado pela presença de um companheiro solidário, também devemos, forçosamente, car­regar nossa própria carga, de forma que também possa­mos ter nossos encargos aliviados, se andarmos ao lado do Senhor e Mestre, conversando com Ele, ouvindo a Sua Voz, que fala onde som algum pode ser ouvido, na profundidade inefável das nossas Almas."

(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 37/38)