OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 30 de março de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 4

"Uma lição definida aprendida por todos aqueles que sofrem intensamente será de grande utilidade para a nossa consideração. Na dor intensa atinge-se um ponto em que ela é indistinguível do seu oposto, o prazer. Isso é verdade, porém, poucos têm o heroísmo ou a força para sofrer até um grau tão extraordinário. É tão difícil alcançá-lo como é pelo outro caminho. Apenas uns poucos eleitos têm a gigantesca capacidade para o prazer, que lhes permitirá viajar para o seu oposto. A maioria somente tem força suficiente para desfrutar e se tornar escrava do prazer. No entanto, o indivíduo tem indubitavelmente dentro de si o heroísmo necessário para a grande jornada; porém, como é que os mártires sorriram em meio à tortura? Como é que o pecador profundo que vive por prazer pode, finalmente, sentir em si mesmo a inspiração divina?

Em ambos os casos, tem surgido a possibilidade de encontrar o caminho; mas muitas vezes essa possibilidade é eliminada pelo desequilíbrio da natureza sobressaltada. O mártir adquiriu uma paixão pela dor e vive com a ideia de um sofrimento heroico; o pecador se torna cego pela ideia da virtude e a adora como um fim, como um objeto, uma coisa divina em si mesma; visto que somente pode ser divina como uma parte desse todo infinito que inclui tanto o vício quanto a virtude. 

Como é possível dividir o infinito - aquilo que é um? É tão razoável conceder divindade a qualquer objeto, como tomar uma taça de água do oceano e declarar que nela está contido o oceano. Você não pode separá-lo; a água salgada faz parte do imenso mar e assim deve ser; mas mesmo assim você não segura o mar na sua mão. Os seres humanos desejam tão ansiosamente o poder pessoal, que estão prontos para colocar o infinito em uma taça, a ideia divina em uma fórmula - imaginando possuí-la. Estes são apenas aqueles que não podem se levantar e se aproximar dos Portais de Ouro, pois o grande sopro da vida os confunde; são golpeados pelo horror ao descobrir quão enormes são esses Portais. O adorador de um ídolo mantém, em seu coração, a imagem de seu ídolo e sempre queima uma vela diante do mesmo. É o seu ídolo e se compraz com esse pensamento, embora se incline reverentemente diante dele. Quantos seres humanos virtuosos e religiosos não se encontram nesse mesmo estado? Nos recessos da alma, a lâmpada está queimando diante de um deus doméstico - uma coisa possuída por seu adorador e sujeita a ele. Os indivíduos se apegam com desesperada tenacidade a estes dogmas, a estas leis morais, a estes princípios e modos de fé, que são seus deuses domésticos, seus ídolos pessoais. Peça-lhes que queimem a chama incessante em reverência apenas ao infinito, e eles se afastam de você. Seja qual for a maneira como eles desprezam o seu protesto, dentro deles mesmos deixam uma sensação de doloroso vazio. Pois a nobre alma dos seres humanos, aquele poderoso rei que está dentro de todos nós, sabe perfeitamente bem que esse ídolo doméstico pode, em qualquer momento, ser derrubado e destruído - que em si mesmo carece de toda finalidade, sem nenhuma vida real e absoluta. E ele se contentou em possuí-lo, esquecendo-se de que tudo que é possuído só pode ser mantido, temporariamente, pelas leis imutáveis da vida. Ele esqueceu que o infinito é seu único amigo; esqueceu que em sua glória está seu único lar - que somente ele pode ser seus deus. Lá ele se sente como se fosse desamparado; mas, entre os sacrifícios que oferece ao seu próprio e especial ídolo, ele encontra um breve local de descanso; e por isso se apega apaixonadamente ao ídolo. (...)" continua...

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 99/102)
www.editorateosofica.com.br 


terça-feira, 29 de setembro de 2020

ATRAÇÃO E REPULSÃO

 "A natureza da matéria é atração e repulsão. A estrutura atômica se mantém pelo equilíbrio dessas duas forças: o positivo e o negativo. Também no espaço infinito os satélites e planetas formam sistemas sob o comando de uma estrela, graças à atração e repulsão. Na vida da natureza esse jogo está presente, significando harmonia. Somente no reino humano o equilíbrio se desfaz. Por quê? Graças ao livre-arbítrio.

Ao mesmo tempo em que a liberdade para agir eleva o homem na escala da natureza - desenvolvendo poderes divinos dentro dele -, pesa-lhe a condição de sofrer enquanto atuar menos racionalmente que seus próprios irmãos menores, os animais. 

O Budismo refere-se ao 'caminho do meio', que é a opção do equilíbrio, a ser alcançada pelo exercício da moderação em tudo que fazemos. Por essa razão, no texto conhecido como Óctupla Senda, Buda menciona uma das principais fontes de dualidade e sofrimento: o desejo, que é movido por atração e repulsão.

Ao entrar em contato com algo que nos desagrada, o que acontece? Buscamos imediatamente o lado contrário, à semelhança do vaivém do pêndulo de um relógio. Esse impulso se alimenta do desejo (corpo emocional) e também da reatividade (corpo mental), funcionando como 'almas gêmeas' dentro de nossa própria alma. Tudo aquilo que repelimos é o oposto que não queremos ver - mas obviamente continua a existir - e segue nossos passos. Temo algo que aprender ali. 

Fruto da mente em estado de excitação, apego e temor, a reatividade não deixa margem à reflexão. Nossa incapacidade de ouvir começa por aí, especialmente se o argumento do outro contraria a 'verdade' que é simplesmente o nosso interesse. Enquanto fingimos prestar atenção ao que o outro diz, estamos arquitetando a resposta. A grande dificuldade experimentada nos relacionamentos - sob o nome de 'incompatibilidade de gênios' - tem nessa característica mental sua principal origem. 

Quanto ao desejo, sua direção obviamente é o prazer. Nosso movimentos são baseados na expectativa do prazer, seja emocional ou mental - o que acontece no corpo físico é somente um reflexo. Por trás do prazer, no entanto, há o fatalismo da dor, assim como as duas faces de uma moeda: uma não existe sem a outra.

Na questão dos vícios que envolvem atos físicos (alcoolismo, tabagismo), o oposto do prazer é visível no corpo, que reage e adoece ao longo do tempo. O reverso do prazer está ali, mas não conseguimos vê-lo. E se por acaso vemos - mantendo o vício -, naturalmente achamos que o sacrifício compensa, não percebendo a real extensão da dor pelo bloqueio na consciência. Dentro do jogo de atração e repulsão, fechamos os olhos ao sofrimento em gestação, escolhendo o prazer fatídico de agora. 

Em outros tipos de vício, ligados ao pensamento e aos sentimentos, a dificuldade de enxergar o oposto ainda é maior. Sendo ações repetitivas fora de nosso controle, os vícios geram automatismos energéticos impostos à nossa maneira de sentir e de pensar, facilitando o retorno daqueles pensamentos e sentimentos com mais força.

O vício, portanto, não é só uma questão física. Pensamentos repetidos de inveja, maledicência, luxúria e mentira são comportamentos viciosos, cujo prazer tem como oposto a angústia, falta de autoconfiança, o vazio interior e outros reflexos da ausência de amor e de comprometimento em nossa vida. Às vezes chamamos isso de 'má sorte', ignorando que a sorte - seja ela qual for - é criação exclusiva de nossa mente, e está em nossas próprias mãos." 

(Walter S. Barbosa - Atração e repulsão - Revista Sophia, Ano 14, nº 59 - p. 9)


quinta-feira, 3 de outubro de 2019

CRESCIMENTO DA ESPIRITUALIDADE

"(...) Todas as coisas crescem em ciclos. Um dia segue outro dia, uma primavera segue outra primavera, uma vida na escola da Terra segue outra vida, até que o maior de todos os ciclos seja concluído, e o espírito volte para Deus que foi quem o deu. 'Quando aquele que o tirou da profundeza sem limite, volta mais uma vez para casa.' (Tennyson) De um estado primário de inocência, ele come o fruto da Árvore do conhecimento do bem e do mal, isto é, entre o contínuo jogo dos pares de opostos, desenvolvendo a autoconsciência e a automotivação e, chegada a hora, comendo da outra Árvore, a Árvore da imortalidade consciente.

A palavra sânscrita vritti significa aproximadamente 'comprimento da onda.' Todas as formas e os fenômenos da Natureza são 'comprimentos de onda' - o princípio da limitação - visível ou não para os olhos físicos. Talvez possamos agora compreender a definição de H.P.B. sobre espiritualidade: 'o poder de perceber essências espirituais sem forma.'

Penso que isso quer dizer também se erguer acima dos pares de opostos e, no fim, ficar imune a eles. Os pares de opostos não são reais. Eles existem para ajudar nossa autoconsciência a evoluir. No mundo do Real não há nem bem nem mal, nem sagrado nem profano, mas um poder forte, santo, glorioso e eterno, levando o homem para sua final bem-aventurança e realização.

Mas não podemos destruir nosso egocentrismo combatendo-o. O que apenas o acentuaria. É melhor 'transcendê-lo.' Desistamos de pensar tanto sobre nós mesmos, ou de nos preocuparmos com o que acontece a esse pequeno eu e em seu lugar pensemos mais sobre 'o grande, o sublime, o belo, que são a sombra de Deus na Terra' (Mazzini). A meditação clássica do Senhor Buda diz-nos: Antes de tudo ajustemos nossos corações, de modo que ambicionemos a felicidade e o bem-estar de todos os seres, incluindo mesmo a felicidade de nossos inimigos. Depois representemos vividamente para nós mesmos todos os desgostos e as incapacidades dos outros, até que uma profunda compaixão comova nossa alma. Outra vez pensemos sobre a alegria e prosperidade dos outros, regozijando-nos por sua boa fortuna. Por último, nos ergamos em pensamento acima do amor e do ódio, da fortuna e da necessidade, do sucesso e do fracasso etc, encorajando nosso próprio destino com calma e imparcial e tranquilidade perfeita.

Essa estrutura da mente, se nos for possível verdadeiramente alcançá-la, irá livrar-nos de muitos desgostos. Não cogitaremos quem é importante ou quem não é importante, ou se somos importantes, ou se não somos importantes. O Mestre diz que o crescimento da espiritualidade nos fará 'indiferentes ao fato de sermos fortes ou fracos, instruídos ou não instruídos.' Aos olhos do espírito não há pequeno em grande. Tudo é amado, tudo é importante. (...)"

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios - Ed. Teosófica, Brasília, 1998 - p. 142/143)
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quinta-feira, 20 de junho de 2019

POR QUE SOMOS NEGLIGENTES?

"O pensador raciocina mediante o hábito, a repetição, a cópia, produzindo ignorância e tristeza. O hábito não é uma negligência? A consciência cria ordem, mas nunca o hábito. As tendências acomodadas só produzem negligência. Por que somos negligentes? Porque pensar é doloroso, cria perturbações, oposição, pode fazer com que nossas ações sejam contrárias ao padrão estabelecido. Pensar-sentir de maneira extensiva, tornar-se conciente sem escolha, pode conduzir a profundidades desconhecidas, e a mente se rebela contra o desconhecido. Então, ela se move do conhecido para o conhecido, do hábito para o hábito, do padrão para o padrão. Tal mente jamais abandona o conhecido para descobrir o desconhecido. Entendendo a dor do pensamento, o pensador torna-se negligente mediante a cópia, ao hábito; temendo pensar, ele cria padrões de negligência. Quando o pensador está com medo, suas ações nascem do medo, e então ele encara suas ações e tenta mudá-las. O pensador tem medo de suas próprias criações, mas a ação é o agente, por isso o pensador tem medo de si mesmo. O pensador é a causa da ignorância, da tristeza. Ele pode se dividir em muitas categorias de pensamento, mas o pensamento é ainda o pensador. O pensador e seus esforços para ser, tornar-se, são a verdadeira causa do conflito e da confusão."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil, São Paulo, 2016 - p. 289)


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

CONCEITO DE OPOSTOS (PARTE FINAL)

"(...) O filósofo grego Heráclito, contemporâneo de Buda, insinuou que a verdadeira sabedoria consiste em conhecer a ideia que, por si mesma, irá provar tudo em todas as ocasiões. Ele almejava encontrar o Um por detrás dos muitos, a ordem, e a unidade que dá fixidez à mente, em meio ao fluxo caótico e à multiplicidade do mundo. Ele sentia que subjacente a tudo existe uma Realidade que, embora absoluta, não é estática, mas uma transformação contínua de uma em outra. 'Nada é; tudo vem a ser'. O âmago de tudo é a interação harmoniosa dos dois opostos, que perpetuamente fluem um para o outro. Heráclito acreditava que a harmonia não é simplesmente o fim dos conflitos, e sim uma tensão dos opostos na qual nenhum dos dois elementos ganha ascendência, embora ambos sejam indispensáveis à sua realização.

O Taoísmo enfatiza a naturalidade e a espontaneidade como o primeiro princípio da ação iluminada. A melhor maneira de agir é compreender que o processo de iluminação consiste simplesmente em nos tornarmos aquilo que já somos desde o início. No Taoísmo, a interação contínua entre os dois extremos não é a consequência de alguma força externa, mas uma tendência inata, natural, em todas as coisas e em todos os seres. Uma vez que a conduta humana é baseada nesse princípio, ela deve ser essencialmente espontânea e estar em harmonia com a natureza. Deve estar baseada na sabedoria inata da pessoa, que é uma manifestação da realidade onipenetrante.

Já que os opostos incluem todas as qualidades morais, o sábio não faz esforço para atingir o que é bom, mas tenta seguir o Caminho do Meio, mantendo um equilíbrio dinâmico entre 'bom' e 'mau', elevando-se acima deles. Mas uma palavra de cautela deve ser aqui interposta: o Caminho do Meio não é algo equivalente a um meio aritmético entre dois termos, nem é o princípio indiscriminadamente aplicável a todo evento ou ação. Pelo contrário, deve ser exercitado de maneira razoável e harmoniosa no nosso modo total de vida, não apenas em um ato individual. Pois a meta básica da religião e da filosofia é fornecer-nos uma visão coerente da vida, abrangendo todos os fenômenos da natureza e assim nos tornando capazes de ter consistência e clareza em nossos pensamentos e ações."

(Ajaya Upadyay - A senda do equilíbrio - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 24)

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

CONCEITO DE OPOSTOS (1ª PARTE)

"O Budismo e o Taoísmo também sustentam a supremacia do Caminho do Meio. Entendem que o mundo de aparências é impermanente. A Realidade Última consiste na interação cíclica da mudança entre os dois opostos de bem e mal, prazer e dor, certo e errado. Aplicam o conceito dos opostos (Yang e Ying) e macho e fêmea, céu e terra, e a todas as coisas concretas, assim como às ideias abstratas. Acreditam que os opostos estão dinamicamente entrelaçados no fluxo cósmico, que os combina na harmoniosa unidade da criação. Assim, a vida ideal é a mistura harmoniosa dos dois opostos. A realização dessa verdade última da criação é a meta final.

De acordo com Chuang Tzu: 'Os homens plenamente realizados, por suas ações, tornam-se reis, e por sua tranquilidade, sábios'.

Como a vida humana é um microcosmo, o fluxo de suas ações deve fundir-se com o fluxo cósmico e mover-se rumo ao ritmo do macrocosmo. Desse modo, a melhor ação harmoniza os opostos extremos e age em equilíbrio. De acordo com Lao-Tzé, o sábio evita o excesso, a extravagância e a indulgência. Quando um homem vive segundo esse padrão, os assim chamados opostos tornam-se complementares.

A Quarta Nobre Verdade do Budismo trata do fim do sofrimento e inclui a Oitava Senda do autodesenvolvimento, que leva ao Budado. As duas primeiras sendas são a Visão Correta e o Conhecimento Correto, que levam a uma mente iluminada. Ver não é a mesma coisa que olhar para as aparências externas; de modo semelhante, conhecer é diferente de simplesmente acumular informação ou coletar dados, pois consiste na compreensão e realização da verdadeira natureza das coisas. E assim a mente é despertada, e, quando aprecia a natureza última da Criação, age em conformidade com a verdade cósmica. (...)"

(Ajaya Upadyay - A senda do equilíbrio - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 23/24)

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

AS TRÍADES

"Heráclito (século VI a.C.) e Aristóteles (século IV a.C.) descrevem ambos o Caminho do Meio como a Senda de Ouro. De acordo com Aristóteles, a virtude ou excelência depende de julgamento claro, de autocontrole, de equilíbrio do desejo, de habilidade com os recursos. Não é posse de um único homem, nem recompensa da intenção inocente, mas a aquisição da experiência no homem plenamente desenvolvido.

Aristóteles organizava as qualidades do caráter em tríades, nas quais dois representam os extremos ou os vícios, e o terceiro é a virtude ou excelência. Por exemplo, entre os extremos da covardia e a temeridade encontramos a virtude da coragem, e entre a humildade e o orgulho está a modéstia.

Mas somente o homem plenamente realizado pode apreciar essa verdade. O extremista considera o Caminho Dourado como o maior dos erros. Por exemplo, o homem bravo é chamado de impetuoso pelos covardes e de covarde pelos impetuosos. Na política moderna 'o liberal' é chamado de 'conservador' pelos radicais e de 'radical' pelos conservadores. Os gregos, por outro lado consideram os extremos como as qualidades da pessoa ignorante. Também entendiam que todas as ações, quer fossem vícios ou virtudes, são causadas pela 'paixão', a força interior diretora da vida. Para os gregos, as paixões em si mesmas não eram vícios, mas constituíam a matéria-prima tanto da virtude quanto do vício, quer funcionassem em excesso ou fossem desproporcionais em medida e harmonia.

Esse conceito da harmonia dos opostos como o melhor meio de se atingir a maturidade espiritual é reconhecido por todas as religiões orientais. A essência do modo de vida hindu é ser resoluto no prazer e na dor, no sucesso e no fracasso, no ganho e na perda. Tais opostos devem ser aceitos como companheiros inevitáveis da vida, e a pessoa não deve ser levada ao desespero e à consequente inação devido ao fracasso, nem deve partir para a ação indiscriminadamente a fim de alcançar o sucesso. O Hinduísmo não advoga o estoicismo e nem exorta a pessoa a evitar o prazer e infligir-se penitências, seja pelo pecado dos outros ou de si mesma. Ao mesmo tempo, deplora o hedonismo, que, indiferente às buscas pelo mais elevado, pode afogar os sentidos da pessoa no oceano dos prazeres sensuais. Devemos viver em harmonia, trilhando o dourado Caminho do Meio, entre aqueles dois extremos, em vez de fazermos esforços frenéticos para banir um ou outro de nossas vidas."

(Ajaya Upadyay - A senda do equilíbrio - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 22/23)

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

SER HONESTO

"Não é fácil ser verdadeiramente honesto, especialmente em relação a nós mesmos. Os corpos mental concreto e astral - os veículos da consciência para pensamento e desejo - influenciam-se mutuamente. A mente produzirá sempre razões excelentes e plausíveis pelas quais deveríamos fazer o que nosso desejo natural nos incita a fazer. Diverte-me frequentemente observar meus próprios processos a este respeito. Assim, como diz H.P.B., estamos 'constantemente nos enganando.'

Ser completamente honesto é ser inteiramente verdadeiro, e não podemos atingir isto se formos demasiado emocionais, amarrados a nosso próprio exame e preocupados se somos bons ou maus, inteligentes ou estúpidos etc. Um dos efeitos do progresso espiritual é a diminuição do remorso e da ansiedade. Ambos indicam carência de energia no momento presente e para trabalho em pauta. Remorso indica escoamento da força da alma em relação a algum acontecimento no passado, e ansiedade significa escoamento em função de algum efeito imaginário no futuro. C.W.L. referia-se a isto com muita simplicidade. Ele citava o provérbio muito conhecido de não atravessar pontes antes de chegar onde elas estão, e o velho ditado 'isto não terá importância daqui a dez anos.' 'Bem', dizia ele, 'se não tem importância dentro de dez anos, não tem importância agora.'

A raiz do remorso, diz-nos H.P.B., é o egoísmo, e a raiz da anisedade é o medo de um desconhecido imaginário. Medo é o recuo da personalidade ante aquilo que não deseja ter, ou dúvida se irá receber aquilo que deseja. O sábio Patañjali, assim, diz que tanto desejo quanto aversão devem ser sobrepujados - outro dos 'pares de opostos.' No equilíbrio entre os dois está o 'Caminho.' Esta é a razão por que ele é descrito como sendo 'tão estreito como o fio de uma navalha' e 'caminho reto e estreito', porque nele o discípulo aprende aquela divina indiferença que o habilita a transcender a tirania dos pares dos opostos."

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios, O Discipulado na Nova Era - Ed. Teosófica, Brasília, 1998 - p. 149)


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

ESTAR NO MUNDO E VIVER EM PAZ (1ª PARTE)

"Nos tempos antigos, comparava-se a vida mundana ao girar de uma roda. Aquele que nasce como príncipe pode tornar-se escravo, dizia-se, e um serviçal pode se alçar a uma elevada posição. Ninguém pode ter certeza de que a felicidade de hoje existirá amanhã. A roda de samsara, de renascimentos e mortes, é um símbolo da incerteza em um mundo em constante mudança; ninguém está livre de perder o que possui. 

A condição mundana também é comparada ao oceano da vida (bhavasagara), cheio de perigos, sacudido por tormentas, habitado por tubarões e outras criaturas vorazes. Mas mesmo aqueles que concordam com essas imagens raramente levam a sério a necessidade de mudança, e continuam vivendo com as incertezas e os perigos como se eles não existissem. O perigo não é apenas perder posses ou status; é ser arrastado impotente pelas correntes do oceano, agindo mecanicamente, inconsciente do que está acontecendo, sem um rumo moral e espiritual. 

Uma terceira descrição da vida mundana são as palavras bhava-roga: uma doença grave. Assim como a doença enfraquece cada célula do corpo, fazendo-o perder a saúde e por fim produzindo a morte, pertencer ao mundo é uma aflição psicológica constituída de distorções mentais que levam à desintegração moral e espiritual. Apesar das incertezas, uma coisa é quase certa - a influência dos opostos, esperanças e medos, resultará em agitação mental e perda da paz.

Essa é a experiência, em maior ou menor grau, de quase todas as pessoas. A esperança de crescer, ganhar afeto, 'tornar-se alguém' e assim por diante é acompanhada pelo medo do fracasso e da perda. Oriundas dos opostos básicos (temor e esperança) surgem outras dualidades. A esperança realizada leva à exultação: não realizada, à frustração. A mente balança entre a exasperação e o gozo, e ignora os valores e os propósitos da vida. (...)"

(Radha Burnier - Estar no mundo e viver em paz - Revista Sophia - Ano 11, nº 41 - p. 27/28)


domingo, 4 de outubro de 2015

A LEI DA DUALIDADE

"'De que maneira Deus, a Realidade única, manifestou esse universo de aparências? Ele fez isso por via da lei da dualidade.

'Sua consciência única assumiu a forma dos opostos: do positivo e do negativo, da luz e das trevas, do prazer e da dor, e assim sucessivamente, até uma infinidade de ilusões contrastantes.

'Uma parte da Sua consciência se moveu. Como nos diz a Bíblia: '... e o Espírito de Deus pairava sobre a superfície das águas.'* Poderíamos comparar esse movimento ao movimento das ondas na superfície do mar. O nível do mar nunca muda, nem mesmo quando as ondas se alteiam, pois todo movimento ascendente num lugar é compensado por um movimento descendente num outro lugar. Como um todo, o nível da água continua sempre o mesmo.

'Ainda assim, Deus, o Oceano do Espírito, continua inalterado pela Sua criação. Na 'superfície' da Sua consciência, todavia, Seu espírito se move, e esse movimento, ou vibração, produz a dualidade, assim como as ondas do mar que se levantam e se quebram. 

'O Uno Infinito fez vibrar uma parte de Si mesmo a fim de se tornar dois, e depois muitos, e assim prosseguiu até que a vibração cósmica produzisse as estrelas, as galáxias e os planetas, as flores, as árvores e os corpos humanos. 

'A vibração cósmica é chamada de Aum. Trata-se do Amém do Apocalipse na Bíblia. Equivale ao Verbo no Evangelho de São João. É a 'música das esferas', dos antigos gregos. É o Amim dos muçulmanos, o Ahunavar dos zoroastristas. Tudo que é veio a ser a partir dessa grande vibração.

'A vibração gera a dualidade. Para vir a conhecer a Realidade Una por trás de todas as aparências, afaste-se mentalmente dos estados opostos da Natureza. Aceite tranquilamente o que quer que lhe aconteça na vida: o prazer e a dor, a alegria e a tristeza, o êxito e o fracasso.

'Viva apenas em função de Deus. Apenas seja o Seu servo. Apenas ame-O.'"  

* Gênesis 1:2.

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda, A Essência da Autorrealização - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 32/33) 


segunda-feira, 8 de junho de 2015

CAMINHO DA LIBERTAÇÃO

"Thithiksha significa equanimidade em face dos opostos, suportando serenamente a dualidade. É o privilégio do forte e o tesouro do bravo. Os fracos serão tão agitados como as penas de um pavão; estão sempre inquietos, sem um minuto de estabilidade. Oscilam feito pêndulo, de um lado a outro: uma hora, alegria; no instante próximo tristeza.

Thithiksha não é a mesma coisa que sahana¹, pois sahana significa suportar, tolerar, aguentar uma coisa somente porque não se tem outro jeito. Se você tem capacidade para vencê-la, mas, ainda assim, nega-lhe atenção, isto sim, é disciplina espiritual. 

Conviver pacientemente com o mundo externo da dualidade, combinando isso com uma vivência de equanimidade e paz internas, é o caminho da Libertação. Levar tudo com analítica discriminação é o tipo de sahana que conduzirá a bom resultado."

¹ Sahana - fortaleza, paciência.

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 116)


domingo, 14 de dezembro de 2014

O PRECONCEITO (PARTE FINAL)

"(...) Às vezes, se bem que menos frequentemente, o preconceito é em favor da pessoa, como no caso da mãe que não enxerga o menor mal no que faz o filho, embora este possa prejudicar seriamente os outros. Ora, quer estejam a favor, quer estejam contra uma pessoa, as duas atitudes são igualmente preconceitos, ilusões mentais que matam o real. A melhor maneira de ver autenticamente é procurar sempre, com determinação, o bem em todo o mundo, visto que os nossos preconceitos, em geral, estão do lado oposto, e nos inclinamos tristemente a ver o mal onde ele não existe. Diferimos das outras pessoas na cor, no vestuário, nas maneiras, nos costumes e em outras formas de religião, mas essas características são apenas externas, e tudo o que concorre para formar o homem real, por trás e além de tudo isso, é praticamente o mesmo em todos nós. Afinal de contas, não é tão difícil aprender a olhar por trás das cascas exteriores que as pessoas utilizam para esconder-se. Por esse meio, elas costumam mostrar-se piores do que são, já que os principais defeitos se encontram quase sempre na superfície, e o ouro verdadeiro se esconde amiúde com êxito. Quem aspira progredir precisa superar a cegueira diante do mérito alheio, a tendência a julgar pelas características superficiais.

Lembremo-nos de que a ninguém que deseja ficar do lado do bem, ou contra o mal, pode ser recusada essa oportunidade, por mais ignorante ou fanática que seja a pessoa. Os Mestres tomam sempre o bem e usam-no onde quer que ele apareça, ainda que haja, no mesmo homem, muito mal também; e o emprego que fazem da força para o bem favorece grandemente o homem que a gerou. Usam, por exemplo, a força devocional encontrável até num fanático assassino e, dessa maneira, lhe permitem praticar alguma boa obra e, consequentemente, ser ajudado.

Imitemos também os Grandes; tentemos sempre encontrar o bem em tudo e em todos. Não procuremos, tampouco acentuemos, o mal em quem quer que seja, mas escolhamos e demos ênfase ao bem. Continuemos a fazer o nosso trabalho da melhor maneira possível, e não nos preocupemos com o trabalho alheio, nem com a maneira com que outrem o executa. Ainda que as outras pessoas ergam dificuldades em nosso caminho, passemos por cima delas e não nos inquietemos; elas são o nosso carma, e, afinal de contas, as coisas de fora, na verdade, não têm importância. Não incorramos no erro de pensar que outros estão tentando prejudicar nossos bons propósitos. Todas essas pessoas são muito parecidas conosco; pensemos, pois, no seguinte: seríamos capazes de fazer deliberadamente uma coisa má como essa?"

(C.W. Leadbeater - A Vida Interior - Ed. Pensamento, São Paulo, 1999 - p. 100)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

EQUANIMIDADE

"Thithiksha equanimidade em face dos opostos, suportando serenamente a dualidade. É o privilégio do forte e o tesouro do bravo. Os fracos serão tão agitados como as penas de um pavão; estão sempre inquietos, sem um minuto de estabilidade. Oscilam feito pêndulo, de um lado a outro: numa hora, alegria; no instante próximo, tristeza.

Thithiksha não é a mesma coisa que sahana¹, pois sahana significa suportar, tolerar, aguentar uma coisa somente porque não se tem outro jeito. Se você tem capaciade para vencê-la, mas, ainda assim, nega-lhe atenção, isto sim, é disciplina espiritual. Conviver pacientemente com o mundo externo da dualidade, combinando isso com uma vivência de equanimidade e paz internas, é o caminho da Libertação. Levar tudo com analítica discriminação é o tipo de sahana que conduzirá a bom resultado."

¹ Sahana - fortaleza, paciência.

(Sathya Sai Baba - Palavras de Ouro - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 116)


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A MORTE E O ETERNO (1ª PARTE)

"Quando você anda numa floresta intocada, onde não houve qualquer interferência humana, vê muito verde exuberante, muita planta brotando, mas também encontra árvores caídas, troncos se deteriorando, folhas podres e, a cada passo, matéria em decomposição. Para onde quer que olhe, vai encontrar vida e morte.

Se prestar mais atenção, vai descobrir que o tronco de árvore em decomposição e as folhas apodrecendo não só dão origem a nova vida como estão cheios de vida. Há micro-organismos em ação. As moléculas estão se reorganizando. Portanto, não há morte em parte alguma dessa floresta. Há apenas a transformação da vida. O que você pode aprender com isso? Aprende que a morte não é o contrário da vida. A vida não tem oposto. O oposto da morte é o nascimento. A vida é eterna.

Sábios e poetas de todas as épocas reconheceram o caráter de sonho da existência humana - A vida, aparentemente tão concreta e real, é ao mesmo tempo tão fugaz que é capaz de acabar a qualquer instante.

Na hora da morte, a história da sua vida pode realmente lhe parecer um sonho que está terminando. Mas até no sonho há uma essência que é real. É preciso haver uma consciência para que o sonho aconteça. Do contrário, não haveria sonho. Mas será que é o corpo que cria a consciência ou é a consciência que cria o sonho do corpo? Por que será que a maioria das pessoas que estiveram à beira da morte perdem o medo de morrer? Pense nisso. (...)"

(Eckhart Tolle - O Poder do Silêncio - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2010 - p. 64/65)

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

SAMA BHAVA (1ª PARTE)

"Alguém que diga que não pode passar sem isso e que tem horror àquilo é um joguete das circunstâncias. Quando possui ou desfruta as coisas que 'adora', está feliz. Quando lhe faltam, fica triste e ansioso. Quando consegue estar distante e protegido contra aquelas coisas que 'detesta', se sente bem. Quando não, adoece. Uma pessoa assim, só conquistará sua mente e se sentirá realizado, quando desenvolver sama bhava (bhava, atitude psíquica; sama, igual). Só assim conhecerá satisfação, contentamento, equilíbiro e equidistância dos opostos da existência. É condição de maturidade. e, reciprocamente, gera maturidade. À medida que, por outros meios, a mente vai sendo conquistada, o homem vai deixando de ser um vinculado e um frágil, vai atingindo sama bhava ou equanimidade; vai triunfando sobre a dança das circunstâncias externas e ficando invulnerável, imperturbável, independente, incondicionado aos acontecimentos que lhe escapam ao controle.

O homem vulgar em sua imaturidade adoece dos nervos, porque é extremado tanto no sofrimento como no gozo. Quando as coisas são favoráveis, o sol brilha, o mundo sorri, os amigos o estimam, há aplausos, lucros, saúde, tudo vai de 'vento à feição', ele exulta, goza, festeja, dança, ri e chega até a ficar generoso e confiante.

Quando, no entanto, sobrevém o desfavor da sorte, quando há chuva miúda ou cerração escondendo o sol, se os amigos se afastam ou falham, quando recebe críticas e censuras e sabe de calúnias, se o filho vai mal na escola ou o movimento da bolsa é ruim, entrega-se ou ao abatimento ou à revolta; o desalento então cava-lhe rugas na testa e 'brechas na alma'. A personalidade imatura não  conhece meio-termo entre gargalhadas e lágrimas, desvarios de prazer e gemidos de dor, satisfações de orgasmo e pranto de desespero. Pessoas assim, levadas ao sabor das tempestades emocionais, precisam aprender a equanimidade dos sábios, que não se perturbam quando o destino lhes tira dos lábios a taça de mel e, em troca, dá uma de fel. O sábio sabe que na vida há noites frias e quentes, dias trágicos e venturosos, sins e nãos, saciedades e fomes, berços e esquifes, vitórias e derrotas, lucros e perdas, portas que fecham e portas que se abrem. O sábio não se deixa perturbar nem pelo dulçor nem pelo amargor dos frutos que lhe são dados. Não chora demais nem ri sem medidas. É sereno. É equânime. É igual. É invulnerável aos opostos. (...)"

(Hermógenes - Yoga para Nervosos - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2004 - p. 210/211)

quinta-feira, 31 de julho de 2014

OS OPOSTOS

"Diz-se que há dois lados para cada questão, mas apenas um lado certo. Você deve aprender qual é o lado certo, a fim de conhecer a Verdade. Emerson disse, em seu ensaio sobre Compensação: '...pois um inevitável dualismo divide toda a natureza, de tal forma que cada coisa é uma metade e sugere outra coisa para torná-la inteira; como espírito e matéria; homem e mulher; subjetivo e objetivo; dentro e fora; superior e inferior; movimento e repouso; sim e não.'

Há luz e escuridão, fluxo e refluxo, dentro e fora, amargo e doce. A escuridão é a ausência de luz. Há calor e há frio, mas do ponto de vista da Verdade absoluta não existe o frio. Todos os opostos se conciliam no Absoluto. Há saúde e há doença, mas no Absoluto tudo é saúde, beleza e perfeição. O valor positivo é luz, saúde e amor. Os opostos são representados em nossas experiências, a fim de que possamos aprender o significado dos positivos. Sem o oposto ou negativo para ressaltar o positivo, não seríamos conscientes deste em seu verdadeiro significado.

As pessoas de vez em quando perguntam: Por que Deus nos criou? Para que pudessemos errar? Para que cometêssemos equívocos? Para que ficássemos doentes? Por que o bem e o mal? Por que a dor e a doença? A resposta é o que foi mencionado antes. Conhecemos as coisas por contraste, por comparações. Como poderíamos saber o que era alegria se não nos escorresse pelo rosto de vez em quando uma lágrima de pesar?

Somos seres sensíveis e reconhecemos as cores por causa de suas diferentes vibrações de luz. A diferenciação infinita é a lei da vida. O verdadeiro conhecimento científico reconhece os opostos na vida. O bem tem o seu oposto, a fim de que possamos escolhê-lo e rejeitar o negativo. Escolher e compreender o bem na vida é o que se costuma chamar de sabedoria. A sabedoria é o certo e o que se conforma com a verdade universal." (...)

(Joseph Murphy - Sua Força Interior - Ed. Record, Rio de Janeiro, 1995 - p. 211/212)

sábado, 28 de junho de 2014

EQUILÍBRIO E JUSTIÇA (PARTE FINAL)

"(...) O equilíbrio é uma lei fundamental do universo. Se uma pessoa está ganhando de um lado, tem que perder do outro para que o equilíbrio seja mantido.

Na visão dos hinduístas, o universo é uma grande dança. Eles representam a contínua alternância entre os opostos como a dança de Shiva. Shiva é um dos deuses mais cultuados na Índia. Isso é curioso, porque ele é um deus associado à destruição.

Existe na Índia uma trindade muito conhecida formada por Brahma, Vishnu e Shiva; onde Brahma está associado à criação, Vishnu à preservação e Shiva à destruição. Quando se viaja pela Índia percebe-se que quase não existem templos destinados a Brahma; que existem alguns poucos destinados a Vishnu; e uma enorme quantidade de templos destinados a Shiva. Por que razão isso ocorre?

É que Shiva representa a renovação resultante da morte e da destruição. Para que o novo possa nascer, é necessário que as formas gastas sejam removidas. Ao mesmo tempo, Shiva inspira certo temor naqueles que não tiveram ainda a percepção de que a vida e morte são aspectos complementares de uma mesma realidade divina.

Essa dança de Shiva de criação e destruição é, na realidade, a base da existência. Nada pode existir estático na natureza. A nossa ignorância é que nos impede de ver a mudança como um elemento fundamental da própria existência. Nada permanece estático, nem por um breve momento. Tudo flui, tudo está em contínuo movimento. A folha da árvore que cai vira adubo para o crescimento de outras árvores. Na natureza nada se perde."

(Eduardo Weaver - Vida e morte na visão de Platão - Revista Sophia, Ano 5, nº 17 - p. 28/29)


quinta-feira, 26 de junho de 2014

EQUILÍBRIO E JUSTIÇA (1ª PARTE)

"De acordo com a sabedoria chinesa, os opostos se sucedem alternadamente. Depois de uma época de abundância necessariamente advém uma época de escassez. O apogeu sempre dá lugar ao declínio. Depois da tempestade, vem a bonança. Quando as trevas chegam ao máximo, a luz começa a crescer e vai gradualmente substituindo a escuridão.

O mesmo ocorre nas estações do ano. A partir do momento quando o verão chega ao seu auge, o calor começa a diminuir de intensidade e os dias vão progressivamente ficando mais curtos. Aos poucos o frio vai substituindo o calor. Quando, no clímax do inverno, o frio chega ao seu pico, mais uma vez ocorre a reversão do ciclo e, a partir daí, o tempo começa a esquentar novamente e o sol vai tomando o lugar das trevas. Vemos que um princípio sempre leva consigo o seu oposto complementar.

Por isso os chineses falavam que a vida é uma perpétua alternância entre os princípios Yang e Yin, o positivo e o negativo, o masculino e o feminino, o bem e o mal, a inspiração e a expiração. Segundo eles, dentro do Yin está contido o Yang e dentro do Yang está contido o Yin. Na realidade os dois princípios estão harmonicamente integrados no todo. A alternância cíclica entre esses dois aspectos é vista como parte essencial da expressão da vida na natureza.

É importante que estejamos cientes e preparados para observar este fato em nossas vidas. Sabemos que depois do dia sempre vem a noite, e que depois da noite sempre vem o dia. Basta observar a natureza. Isso ocorre porque, quando se chega a um extremo, surge uma tensão, uma força, que puxa no sentido oposto.

Essa tensão é criada pelo potencial que existe entre os pares de opostos. Os opostos se atraem. O homem atrai a mulher e a mulher atrai o homem. Na natureza, todos os pares de opostos se atraem: o positivo e o negativo, o bom e mau, a luz e a sombra, etc. (...)"

(Eduardo Weaver - Vida e morte na visão de Platão - Revista Sophia, Ano 5, nº 17 - p. 28/29)