OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

O QUE A NOSSA MORTE SIGNIFICA?

"A nossa morte é a separação permanente entre o nosso corpo e a nossa mente. Podemos experienciar muitas separações temporárias do nosso corpo e mente, mas elas não são a nossa morte. Por exemplo, quando aqueles que concluíram seu treino na prática conhecida como 'transferência de consciência' entram em meditação, a mente deles se separa do corpo. O corpo desses meditadores permanece onde estão meditando, mas a mente vai para uma Terra Pura e, então, retorna para o corpo deles. À noite, durante os sonhos, nosso corpo permanece na cama, mas a nossa mente vai para diversos lugares do mundo do sonho e, então, retorna para o nosso corpo. Essas separações de nosso corpo e mente não são a nossa morte, porque essas separações são apenas temporárias. 

Na morte, nossa mente separa-se permanentemente do nosso corpo. O nosso corpo permanece no local de sua vida, mas a nossa mente vai para os diversos lugares das nossas vidas futuras, como um pássaro deixando um ninho e voando para outro. Isso mostra claramente a existência das nossas incontáveis vidas futuras e que a natureza e a função do nosso corpo e da nossa mente são muito diferentes. Nosso corpo é uma forma visual que possui cor e formato, mas nossa mente é um continuum sem forma que sempre carece de cor e formato. A natureza da nossa mente é um vazio semelhante ao espaço, e ela atua percebendo ou entendendo objetos – essa é a sua função. Por meio disso, podemos compreender que o nosso cérebro não é a nossa mente. O cérebro é simplesmente uma parte do nosso corpo que, por exemplo, pode ser fotografado, ao passo que não podemos fazer o mesmo com a nossa mente. 

Podemos não ficar felizes ao ouvir sobre a nossa morte, mas contemplar e meditar sobre a morte é muito importante para a efetividade da nossa prática de Dharma. O motivo é que contemplar e meditar sobre a morte impede o principal obstáculo à nossa prática de Dharma – a preguiça do apego às coisas desta vida – e nos encoraja a praticar o puro Dharma agora. Se fizermos isso, realizaremos o verdadeiro sentido da vida humana antes da nossa morte." 

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno - Ed. Tharpa Brasil, 3ª edição, 2015 - p. 32/33


terça-feira, 10 de março de 2020

PROCUREM A COMPANHIA DE HOMENS SANTOS

Resultado de imagem para HOMENS SANTOS"No momento em que se dedicarem inteiramente à contemplação de Deus, experimentarão uma alegria sem limites. Passarão dias e noites de bem-aventurança, absortos na consciência de Deus.

Não comentem a respeito de suas sensações e experiências espirituais com ninguém, muito menos com pessoas de natureza mundana. Isso pode retardar seu desenvolvimento. Em contrapartida, trocar experiências com alguém de natureza semelhante, cujo temperamento encontra-se em harmonia com o seu, pode ajudar o progresso espiritual. Considerem-se viajantes que seguem pela mesma estrada. É bem possível que seu companheiro já tenha trilhado o caminho e conheça suas armadilhas. Beneficiados por suas experiências, vocês talvez sejam capazes de evitar esses perigos e dificuldades.

Vocês sabem por que devem procurar sempre a companhia de homens santos? Suas experiências são de grande ajuda para o aspirante espiritual. Se ao visitarem uma terra estrangeira tiverem a orientação de um guia confiável, sem demora verão tudo o que merece ser visto no lugar. Ele também os salvará de todos os perigos e dificuldades que um estrangeiro provavelmente irá enfrentar. De forma semelhante, na companhia de almas evoluídas vocês irão acumular muitas dicas valiosas e seus esforços serão simplificados.

A vida pode terminar a qualquer instante. Ninguém sabe quando isso vai acontecer. Por isso, nessa jornada, tratem de levar sua bagagem repleta de tesouros espirituais. Chegar de mãos vazias a um lugar desconhecido pode significar muito sofrimento e infelicidade. Nascimento e morte são coisas inevitáveis. Ao morrer, iremos para um lugar desconhecido, por essa razão, todos devem preparar-se para a jornada. Estejam sempre prontos para atender ao grande chamado."


(Swami Prabhavananda/Swami vijouananda - O Eterno Companheiro, Ed. Vedanta, São Paulo, 2011, p. 274/275)


terça-feira, 23 de julho de 2019

CONTEMPLAÇÃO

"No verdadeiro trabalho espiritual, a realização intelectual por si só é inadequada. A mente deve tirar as suas conclusões do coração, o local das emoções. As emoções, por sua vez, devem produzir atos reais. 

O estudo das escrituras pode nos trazer tanto satisfação quanto humildade. A sublimidade das palavras da verdade trará prazer e inspiração para as nossas mentes e corações. Seremos estimulados a continuar com o nosso estudo. A humildade virá quando compreendermos as limitações inerentes à tentativa do intelecto de integrar e compreender totalmente a Natureza da Verdade. A Palavra pode ser uma amostra, mas humildemente compreendemos que a 'palavra' não é a coisa em si. Nossas mentes ficarão continuamente inspiradas, humildes e desabrocharão à medida que avançarmos em nossos estudos.

Quando nos concentrarmos, sempre nos concentraremos sobre um objeto produzido pela nossa própria mente. Contudo, quando uma pessoa for calma o suficiente e pura o suficiente, o ato da concentração pode, como diz Aldous Huxley, mergulhar no 'estado de abertura e passividade alerta no qual a verdadeira contemplação torna-se possível'. A verdadeira contemplação é a oração verdadeira, um estado de união com o divino. A contemplação em suas formas inferiores é um pensamento discursivo. Não se percam nas forma inferiores. (...)"

(Ram Dass - Caminhos para Deus - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2006 - p. 295)


sexta-feira, 16 de março de 2018

FORME BONS HÁBITOS

"Passo a passo, você atingirá o fim da estrada. Um bom ato seguido por outro conduz a um bom hábito. Escutando, você é estimulado a agir. Decida agir; junte-se somente com pessoas boas; leia somente livros elevados; forme o hábito de namasmarana (repetição do nome do Senhor) - e, então, a ignorância (ajnana) automaticamente desaparecerá. Anandam (Bem-aventurança), que crescerá dentro de você, pela contemplação sobre Anandaswarupa (a forma divina que personifica a bem-aventurança), afastará toda aflição e toda preocupação.

Esta proximidade é ganha pelo bhaktha (devoto), o qual não pode estar firme, exceto após a anulação do 'eu' e do 'meu'. Quando um preso é conduzido de um lugar a outro, é escoltado por dois policiais. Não é? Quando o homem que é prisioneiro nesta cadeia² se move de um lugar a outro, é também acompanhado por ahamkara (egoísmo) e mamakara (possessividade). Quando ele se movimenta sem estes dois, esteja certo, ele é um homem livre, libertado da prisão."

² ',,,nesta cadeia...' - a cadeia de nascimentos e mortes, isto é, samsara.

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 52)


quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

O RIO DA VIDA (PARTE FINAL)

"(...) Temos nosso interesse na família, no trabalho, no dinheiro. Há pessoas que querem que suas famílias herdem não apenas seus bens, mas também seus interesses; um comerciante, por exemplo, quer que seu negócio seja interessante para seus sucessores. É a isso que chamamos de vida, mas essa vida, como assinala nossa metáfora, é apenas uma pequena poça ao lado do grande rio. Todos nós temos os mesmos tipos de interesses e os mesmos objetivos, mas poucas pessoas compreendem que suas vidas têm muita pouca importância. Mesmo que uma pessoa seja realmente importante durante seu período de vida, logo vai deixar de sê-lo. Perdemos esse senso de importância quando vemos que há coisas maiores, que são universais. 

Esse sentimento só surge quando, vida após vida, o sendo de 'egoidade' perde significado. Este é todo o propósito de nossas vidas - perder o senso de limitação. Então a pessoa atinge o estado de negar tudo que esteja no nível da divisibilidade. Na filosofia hindu há um caminho que leva à negação das coisas às quais somos apegados. Há uma questão de abstinência, mas não no nível físico, e sim do que acontece na mente. Isso é o que verdadeiramente significa samnyasa, porque internamente, mentalmente, a pessoa não está apegada a nada. É uma questão de existir sem apego. Isso é muito difícil, pois em relação à família, por exemplo, ou onde quer que haja afeição, a pessoa sente que deve haver apego. Mas não pode ser afetuoso apegando-se a alguém; ter afeição é deixar a pessoa livre.

Além da negação, também é importante a contemplação. Se a pessoa não contempla, não vai a lugar algum. A contemplação é necessária para perceber a vastidão do universo, sua profundidade e sacralidade. Não é o pensamento que leva à compreensão de que existe algo além de nós, algo pelo qual devemos desistir de tudo que desfrutamos.

Existe um caminho real que leva às profundezas da vida sobre a qual não sabemos muito. Através da negação e da contemplação, é possível alcançar algo que está além. Primeiro temos que negar todas as coisas que penetram em nosso cérebro. Quando todo esse tipo de pensamento termina, existe uma pura contemplação do que está além. Então, há uma nova vida."

(Radha Burnier - O rio da vida - Revista Sophia, Ano 15, nº 66 - p. 20/21)


sábado, 2 de dezembro de 2017

A SABEDORIA DA AUSÊNCIA DO EGO (1ª PARTE)

"Às vezes imagino o que sentiria o habitante de um vilarejo tibetano se, de repente, você o trouxesse para uma cidade moderna com toda sua sofisticada tecnologia. Ele talvez pensasse que havia morrido e que se encontrava agora no estado de bardo. Incrédulo, olharia boquiaberto para os aviões voando no céu acima dele, ou para alguém falando ao telefone com uma pessoa do outro lado do mundo. Pensaria estar testemunhando milagres. E no entanto tudo isso parece normal a alguém morando no Ocidente, no mundo moderno, tendo sido educado à maneira ocidental, que fornece as explicações científicas sobre essas coisas, passo a passo.

Do mesmo modo, no budismo tibetano há uma educação espiritual básica, normal e elementar, um treinamento espiritual completo para o bardo natural desta vida que dá a você o vocabulário essencial, o ABC da mente. A base desse treinamento são as chamadas 'três ferramentas da sabedoria': a sabedoria de ouvir e escutar, a sabedoria da contemplação e da reflexão, e a sabedoria da meditação. Através delas somos levados a despertar para a nossa verdadeira natureza, a descobrir a incorporar a alegria e a liberdade daquilo que de fato somos, que podemos chamar de 'sabedoria da ausência do ego'.

Imagine uma pessoa que subitamente acorda num hospital depois de sofrer um acidente de carro na estrada, e percebe que está com amnésia total. Por fora, tudo está intacto: ela tem o mesmo rosto, a mesma forma, os sentidos e a mente estão lá, mas não tem a menor ideia ou o menor vestígio de memória de quem é. Exatamente do mesmo modo, não conseguimos nos lembrar da nossa verdadeira identidade, nossa natureza original. Freneticamente e na realidade apavorados, procuramos e improvisamos outra identidade, uma em que possamos nos agarrar com todo o desespero de alguém que vai cair num abismo. Essa identidade falsa e assumida em ignorância é o 'ego'.

Desse modo, o ego é a ausência do conhecimento verdadeiro de quem somos, juntamente com o seu resultado: um malfadado apego, mantido não importa a que preço, a uma imagem remendada e improvidada de nós mesmos, um eu inevitavelmente charlatanesco e camaleônico que está sempre mudando e que precisa mudar para manter viva a ficção da sua existência. Em tibetano, o ego é chamado dak dzin, que quer dizer 'agarrado a um eu'. O ego é assim definido como um movimento incessante de agarrar-se em uma noção ilusória de 'eu' e 'meu', de si mesmo e de outro, e em todos os conceitos, ideias, desejos e atividades que sustentam essa falsa construção. Esse agarrar-se é fútil desde o início e condenado à frustração, uma vez que não tem nenhuma base ou verdade, e aquilo a que nos agarramos é, por sua própria natureza, impossível de reter. O fato de que precisamos nos agarrar e continuar agarrados a alguma coisa mostra que nas profundezas do nosso ser sabemos que o eu não existe inerentemente. Desse conhecimento secreto e assustador nascem todas as nossas inseguranças fundamentais e o nosso medo. (...)" 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 158/159


terça-feira, 28 de novembro de 2017

AMA AO TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO

"Jesus lançou essa exortação em oito palavras ao mundo como se fosse uma bomba. Lembro-me da primeira vez que descobri uma de suas implicações: que, para amar a meu próximo, devo antes de tudo amar a mim mesmo. Notemos isto: quando nos ensinou a amar, Jesus quis dizer que o amor é uma qualidade interior, a qual alimentamos dentro do nosso coração para em seguida deixar fluir em direção aos que nos cercam. Se tentamos amar ao nosso semelhante, mas deixamos de fomentar o amor por nosso  próprio eu, estamos perdidos. O primeiro passo no aprendizado do amor consiste em estabelecer uma conexão íntima entre o nosso coração e a fonte absoluta do amor. 

A solução final e muito simples da polaridade egoísmo/desprendimento encontra-se na injunção de Jesus para amarmos nossos semelhantes tanto quanto amamos a nós mesmos. Ele não disse 'Ama ao teu próximo mais que a ti mesmo' porque sabia que isso é impossível. Quando, pois, não há amor em nosso coração, não há amor para darmos ao semelhante. Mas se aumentarmos o fluxo desse amor, aumentaremos o fluxo de amor disponível para fluir em direção ao próximo. A despeito de diversas críticas que consideram a prática meditativa inerentemente egoísta, não podemos fugir ao fato de que, para amar aos que nos cercam, nossa primeira responsabilidade cifra-se em voltarmo-nos para dentro de nós mesmos e tornarmo-nos mais amorosos com relação ao nosso próprio ser.

Na meditação tal qual a estamos aprendendo, reservamos um tempo diariamente para contemplar nossos pensamentos, avaliar até que ponto os negativos geram emoções negativas... e, nesse ato, optar por não nutrir ideias capazes de nos magoar.

Somos criaturas que gravitam rumo ao prazer e evitam a dor. Quando percebemos que certas ruminações críticas causam-nos sofrimento grave e duradouro, afastamo-nos delas. Esse é o poder de cura da meditação. Ao vislumbrar com clareza a verdade, nós mudamos. Ao conhecer a verdade de nossos hábitos mentalmente danosos, nós nos livramos deles."

(John Selby - Sete Mestres, Um Caminho - Ed. Pensamento, São Paulo, 2004 - p. 117/118)


sábado, 2 de setembro de 2017

A RELIGIÃO DA BELEZA (PARTE FINAL)

"(...) A resposta à beleza transmuta a consciência. Quando vemos a luz do sol se derramando sobre as folhas ou sentimos a beleza do entardecer, algo se abre dentro de nós. Há um sentimento de alívio e deleite, pois a beleza nos libera, nos põe em contato com o eu, com a nossa natureza mais profunda, onde está o sujeito que não pode ser visto ou ouvido, mas que é todo percepção. A beleza é uma ponte entre o eu e a essência daquilo que vemos. A experiência da beleza nos transporta ao universal.

Tudo que é belo abre uma vereda para o sagrado e o santificado, porque é um fragmento manifestado das verdades divinas. Segundo Hugh l'Anson Fausset, 'pela visão espiritual daqueles que viram a beleza celestial, podemos descobrir a realidade à qual pertencemos e participar de seu mistério.'

Por isso, os Upanishades aconselham: aprenda a olhar, ouvir, penetrar em você mesmo e meditar, pois é assim que a consciência universal é conhecida. Krishnamurti também recomendou, com insistência, que as pessoas observassem e escutassem.

A verdade se mantém aberta a todas as formas de beleza. Beleza é ordem. Por isso há um sentimento de santidade na contemplação da ordem natural. Há uma beleza aterradora na progressão ordenada das estrelas e no crescimento de todas as coisas de acordo com sua natureza própria. Há uma grande beleza na ordem que não foi criada por nós. Isso cria uma sensação de confiança, de que tudo está bem; nos diz que existe justiça o tempo todo, porque a ordem celeste governa o universo."

(Radha Burnier - A religião da beleza - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 5/6)


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

RESISTÊNCIA À MUDANÇA (2ª PARTE)

"(...) O conceito de impermanência desempenha um papel crucial no pensamento budista, e a contemplação da impermanência é uma prática essencial. A contemplação da impermanência atende a duas funções de vital importância dentro do caminho budista. Num nível convencional, ou num sentido corriqueiro, quem pratica o budismo contempla sua própria impermanência - o fato de que a vida é frágil e de que nunca sabemos quando iremos morrer. Quando se associa essa reflexão a uma crença na raridade da existência humana e na possibilidade de se alcançar um estado de Liberação espiritual, de se estar livre do sofrimento e dos intermináveis ciclos de reencarnação, essa contemplação serve para aumentar a determinação do praticante para usar seu tempo com maior proveito, dedicando-se às práticas espirituais que propiciarão essa Liberação. Num nível mais profundo, o da contemplação dos aspectos mais sutis da impermanência, da natureza impermanente de todos os fenômenos, tem início a busca do praticante pela compreensão, pela dissipação da ignorância, que é a origem primordial do nosso sofrimento.

Portanto, embora a contemplação da impermanência tenha um enorme significado dentro de um contexto budista, surge a pergunta: será que a contemplação e compreensão da impermanência têm alguma aplicação prática no dia a dia também dos não budistas? Se encararmos o conceito de 'impermanência' a partir do ponto de vista da 'mudança', a resposta é um absoluto 'sim'. Afinal de contas, quer encaremos a vida de uma perspectiva budista, quer de uma perspectiva ocidental, permanece o fato de que a vida é transformação. E na medida em que nos recusemos a aceitar esse fato e ofereçamos resistência às naturais mudanças da vida, continuaremos a perpetuar nosso próprio sofrimento.

A aceitação da mudança pode ser importante fator na redução de uma boa proporção do sofrimento que criamos para nós mesmos. É muito frequente, por exemplo, que causemos nosso próprio sofrimento, recusando-nos a nos desapegar do passado. Se definirmos nossa própria imagem em termos da aparência que tínhamos no passado ou em termos do que costumávamos conseguir fazer e não conseguimos agora, é bastante seguro supor que não vamos ficar mais felizes quando envelhecermos. Às vezes, quanto mais tentamos nos agarrar ao passado, mais grotesca e deformada torna-se nossa vida. 

Embora a aceitação da inevitabilidade da mudança, como princípio geral, possa nos ajudar a lidar com muitos problemas, assumir um papel ativo, por meio do aprendizado específico sobre as mudanças normais na vida, pode prevenir uma proporção ainda maior da ansiedade rotineira que é a causa de muitos dos nossos problemas. (...)"

(Sua Santidade, O Dalai Lama e Howard C. Cutler - A Arte da Felicidade - Livraria Martins Fontes Editora Ltda., São Paulo, 2000 - p. 185/186)


quarta-feira, 19 de julho de 2017

EXPECTATIVA NEGATIVA (PARTE FINAL)

"(...) Para evitar o efeito da projeção negativa, é útil relaxar e aquietar a mente e os sentimentos durante algum tempo antes de alguma entrevista difícil. Durante essa pausa, as tendências condicionadas são reduzidas, de modo que há menos antecipações negativas. Essa atitude de não julgamento é essencial no encontro terapêutico.

Contudo, como relaxar e permitir que a mente e as emoções  entrem em harmonia? Provavelmente é mais fácil, em vez de tentar criar um branco na mente, permanecer sossegado e visualizar uma cena unificadora que simbolize um senso interno de totalidade, como uma árvore ou uma montanha. Essa mudança de atenção na qual a pessoa se identifica com as qualidades da totalidade é chamada de 'centramento'.

No processo de mudar a própria percepção para essa experiência unificadora, a pessoa pode perceber sua mente tagarela e um padrão no qual ela continuamente se mantém em contemplação. Os terapeutas ou os pais podem agora, conscientemente, passar de um sentimento negativo para um positivo a respeito do paciente ou do filho, o que produz uma empatia intensificada e permite o livre fluxo de energia entre as pessoas. Dentro de cada um existe um potencial humano ou uma natureza denominada buddhica, em sânscrito, que está relacionada com a intuição pura. Se mantivermos isso em mente, cada troca de energias positivas pode estimular esse potencial."

(Dora Kunz e Erik Peper - A ira e seus efeitos - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 37)

quinta-feira, 13 de abril de 2017

RUMO À TRANSFORMAÇÃO (2ª PARTE)

"(...) As pessoas religiosas também descobrem isso desistindo do conceito limitado de Deus em favor de um conceito mais amplo, até que alcançam aquilo que tudo abarca. É isso também que descobrem as pessoas ativas quando desistem de ações em benefício próprio em favor do serviço aos outros. Todos esses caminhos levam ao autoesquecimento e, portanto, ao novo - um novo dia, novas praias. Mas essa renúncia deve ser voluntária e espontânea; deve ocorrer somente quando o momento for propício. 

Não devemos nos restringir a um único caminho, pois nosso ser comporta diferentes possibilidades: ação, emoção, pensamento.

'O caminho não é encontrado apenas pela devoção, apenas pela contemplação religiosa, pelo progresso ardente, pelo trabalho autossacrificante, pela observação cuidadosa da vida. Nenhum desses, sozinho, pode levar o discípulo mais do que um degrau adiante. Todos os degraus são necessários para compor a escada' (Luz do Caminho).

Qualquer que seja o caminho pelo qual nos aproximemos das novas praias, o que lá encontrarmos não pode ser concebido nem descrito. São João da Cruz disse que 'aqueles que O conhecem mais perfeitamente percebem com muito mais clareza que Ele é infinitamente incompreensível.'

Mas os místicos, os verdadeiros sábios e os santos de todas as tradições afirmaram que as praias longínquas, os horizontes além de todos os horizontes não estão tão distantes: estão no aqui e agora, em nós, em nossas vidas. Compreender isso já é transformação. (...)"

(Mary Anderson - Para alcançar um novo dia - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 30)

terça-feira, 28 de março de 2017

A PRECIOSIDADE DA NOSSA VIDA HUMANA (2ª PARTE)

"(...) O que significa 'encontrar o Budadharma'? Significa ingressar no Budismo buscando sinceramente refúgio em Buda, Dharma e Sangha e, assim, ter a oportunidade de ingressar e fazer progressos no caminho à iluminação. Se não encontrarmos o Budadharma, não teremos oportunidade para fazer isso e, assim, não teremos oportunidade de obter a felicidade pura e duradoura da iluminação, o verdadeiro sentido da vida humana. Concluindo, devemos pensar: 
Agora eu alcancei, por um breve momento, o mundo humano, e tenho a oportunidade de obter a libertação permanente do sofrimento e a felicidade suprema da iluminação por meio de colocar o Dharma em prática. Se eu desperdiçar esta preciosa oportunidade em atividades sem significado, não haverá maior perda nem maior insensatez .
Com esse pensamento, tomamos a firme determinação de praticar agora o Dharma dos ensinamentos de Buda sobre renúncia, compaixão universal e visão profunda da vacuidade, enquanto temos esta oportunidade. Então, meditamos repetidamente nessa determinação. Devemos praticar essa contemplação e meditação todos os dias em muitas sessões e, desse modo, nos encorajarmos a extrair o verdadeiro sentido da nossa vida humana. 

Devemos nos perguntar o que consideramos mais importante – o que desejamos, pelo que nos dedicamos ou com o que sonhamos? Para algumas pessoas são as posses materiais, como uma casa grande com os últimos requintes de conforto, um carro veloz ou um emprego bem remunerado. Para outros é reputação, boa aparência, poder, excitação ou aventura. Muitos tentam encontrar o sentido de suas vidas em relacionamentos familiares e círculo de amigos. Todas essas coisas podem nos fazer superficialmente felizes por pouco tempo, mas elas também causam muita preocupação e sofrimento. Elas nunca irão nos dar a verdadeira felicidade que todos nós, em nossos corações, buscamos. Já que não podemos levá-las conosco quando morrermos, com certeza irão nos decepcionar se tivermos feito delas o principal sentido da nossa vida. As aquisições mundanas, tomadas como um fim em si mesmas, são ocas: elas não são o verdadeiro sentido da vida humana. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 29/30)
Fonte:  https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

AS TRÊS FERRAMENTAS DA SABEDORIA (PARTE FINAL)

"(...) Quando tento ouvir verdadeiramente, sempre me inspiro no mestre Zen Suzuki-roshi, que disse: 'Se sua mente está vazia, está sempre pronta para qualquer coisa; está pronta para tudo. Na mente do principiante há muitas possibilidades, na do homem experiente há poucas'.⁵ A mente do principiante é uma mente aberta, uma mente vazia, uma mente pronta, e se ouvimos com ela, podemos de fato começar a ouvir. Porque se ouvirmos com uma mente silenciosa, tão livre quanto possível do clamor das ideias preconcebidas, criar-se-á uma possibilidade para que a verdade dos ensinamentos nos penetre, e para que o significado da vida e da morte se torne progressivo e surpreendentemente mais claro. Meu mestre Dilgo Khyentse Rinpoche disse: 'Quanto mais você ouve, mais você escuta; quanto mais você escuta, mais e mais profundo se torna seu entendimento'.

O aprofundamento da compreensão, assim, dá-se através da contemplação e da reflexão, a segunda ferramenta da sabedoria. À medida que contemplamos o que ouvimos, os ensinamentos começam a penetrar nosso fluxo mental e a entrar na experiência interna da nossa vida. À medida que a contemplação revela e enriquece aquilo que começamos a entender de maneira intelectual, e leva esse entendimento da cabeça ao nosso coração, os eventos do cotidiano começam a refletir e a confirmar, direta e sutilmente, as verdades dos ensinamentos.

A terceira ferramenta sa sabedoria é a meditação. Depois de ouvir os ensinamentos e de refletir sobre eles, pomos em ação os insights que adquirimos e os aplicamos diretamente, através do processo de meditação, às necessidades da vida cotidiana."

⁵ Shunryu Suzuki, Zen Mind, Beginner's Mind (Nova York: Weatherhill, 1973), 21. [Traduzido para o português sob o título Mente Zen, Mente de Principiante (São Paulo: Palas Athena, 1994).]

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 165/166)


domingo, 8 de janeiro de 2017

AS TRÊS FERRAMENTAS DA SABEDORIA (1ª PARTE)

"O caminho para descobrir a liberdade da sabedoria da ausência do ego, segundo os mestres, passa pelos processos de ouvir e escutar, contemplar e refletir, e meditar. Eles nos aconselham a começar pelo ouvir repetidamente os ensinamentos espirituais. Ouvindo, eles nos recordarão uma e outra vez da nossa oculta natureza de sabedoria. É como se fôssemos aquela pessoa que pedi que imaginassem sofrendo de amnésia numa cama de hospital, e alguém que nos amasse e se importasse conosco estivesse nos sussurrando no ouvido o nosso verdadeiro nome, mostrando-nos fotografias de família e de velhos amigos, tentando trazer de volta o conhecimento da nossa identidade perdida. Gradualmente, ao ouvir os ensinamentos, certas passagens e visões interiores neles contidos farão vibrar um estranho acorde em nós, lembranças da nossa verdadeira natureza começarão a voltar pouco a pouco, despertando um profundo sentimento de alguma coisa despretensiosa e misteriosamente familiar. 

Ouvir é um processo muito mais difícil do que a maioria das pessoas imagina; ouvir realmente, da maneira que os mestres se referem, é abrir mão de si mesmo, de todas as informações, conceitos, ideias e preconceitos que enchem nossas cabeças. Se você de fato ouvir os ensinamentos, aqueles conceitos que são o verdadeiro obstáculo, a única coisa que se interpõe entre nós e nossa natureza real, podem lenta mas firmemente ser eliminados. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 165)


segunda-feira, 26 de setembro de 2016

ESFORÇO (PARTE FINAL)

"(...) Para compreendermos o 'estado de ser' em que não há luta, o estado de existência criadora, é claro que temos de investigar integralmente o problema do esforço. Por esforço entendemos a luta para nos preenchermos, para nos tornarmos alguma coisa, não é isso ? Sou isto e quero tornar-me aquilo; não sou tal coisa e devo tornar-me tal coisa. No vir a ser tal coisa há emulação, batalha, conflito, luta. Nesta luta, estamos necessariamente interessados no preenchimento pela consecução de um fim; buscamos preenchimento pessoal num objetivo, numa pessoa, numa ideia, o que exige uma batalha, uma luta constante, um constante esforço para 'vir a ser', realizar. Nessas condições, aceitamos o esforço como inevitável; e eu tenho minhas dúvidas sobre se ele é inevitável, se é inevitável essa luta para 'vir a ser' alguma coisa. Por que há essa luta? Onde há o desejo de preenchimento, em qualquer grau e em qualquer nível que seja, tem de haver luta. O preenchimento é o motor, a mola impulsora do esforço; quer se trate do chefe todo-poderoso, da simples dona de casa, ou do mendigo, há em todos esta batalha para 'vir a ser', realizar. 

Ora, por que existe esse desejo de nos preenchermos? Evidentemente, o desejo de nos preenchermos, de nos tornarmos alguma coisa, surge quando percebemos que nada somos. Porque sou nada, porque sou insuficiente, vazio, interiormente pobre, luto por 'vir a ser' alguma coisa; exterior ou interiormente, luto por me preencher numa pessoa, numa coisa, numa ideia. Preencher esse vazio — nisso consiste todo o processo da nossa existência. Tendo consciência de que estamos vazios, de que somos pobres interiormente, lutamos com o fim de acumular coisas, exteriormente, ou de cultivar riquezas interiores. Só há esforço quando há a fuga ao vazio interior, pela ação, pela contemplação, pela aquisição, pela realização, pelo poder, etc. Tal é nossa existência de cada dia. Estou cônscio de minha insuficiência, de minha pobreza interior, e luto para dela fugir ou preenchê-la. Esta fuga, este esforço para evitar, para tapar o vazio, acarreta luta, agitação, desgaste. 

Pois bem, se não fazemos esforço para fugir, que acontece? Ficamos 'vivendo com aquela solidão', com aquele vazio; e, no aceitar esse vazio, ver-se-á que surge um estado criador que nada tem a ver com a luta, com o esforço. Só existe esforço quando procuramos evitar a solidão e o vazio interior; mas se encararmos o fato, se o observarmos, se aceitarmos o que é, sem tentar evitá-lo, veremos surgir um 'estado de ser', em que cessou de todo a luta. Aquele 'estado de ser' é criação, e não resulta de luta. 

Quando há compreensão do que é, que é o vazio, a insuficiência interior, quando 'vivemos com essa insuficiência' e a compreendemos integralmente, surge a realidade criadora, a inteligência criadora, a qual, e só ela, pode trazer-nos a felicidade. 

A ação, por conseguinte, tal como a conhecemos, é, com efeito, reação, incessante 'vir a ser', quer dizer, negação, fuga do que é. Mas, quando temos conhecimento do vazio, sem escolher, condenar nem justificar, nesse entendimento do que é, há ação, e esta ação é existência criadora. Compreendereis isso, se observardes a vós mesmos, na ação. Observai-vos, quando agis, não só exteriormente, mas observai também o movimento de vosso pensar e sentir. Quando estiverdes cônscios desse movimento, vereis que o processo do pensamento, que é também sentimento e ação, está baseado na idéia de 'vir a ser'. A ideia de 'vir a ser' só se apresenta quando há sentimento de insegurança, e este se manifesta quando estamos cônscios do vazio interior. Se estiverdes cônscios desse processo do pensamento e sentimento, vereis que há uma batalha constante, um esforço contínuo, para transformar modificar, alterar o que é. é este o esforço de 'vir a ser', e o 'vir a ser' é uma maneira direta de evitar o que é. Pelo autoconhecimento, pelo constante percebimento, vereis que a luta, a batalha, o conflito de 'vir a ser', conduz à dor, ao sofrimento, e à ignorância. Só se estiverdes cônscios da insuficiência interior e 'viverdes com ela', sem tentardes fugir, mas aceitando-a inteiramente, descobrireis uma extraordinária tranquilidade, uma tranquilidade não arranjada, não ajustada, mas uma tranquilidade que vem com a compreensão do que é. Só nesse estado de tranquilidade é possível a existência criadora."

(Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 60/62)

terça-feira, 23 de agosto de 2016

VIVEKA (PARTE FINAL)

"(...) Então, o mundo em que vivemos é ilusório? Vamos então cair no platonismo? Vamos negar a realidade do que vemos e sentimos, sobre que agimos e reagimos?

O mundo não é inteiramente ilusório. Não é somente maya (ilusão). A cobra não é de mentira. É real. O mundo o é na medida e extensão em que consegue gerar medo ou apego. As reações somáticas do amedrontado emprestam realidade àquilo que lhe dá causa. E, enquanto a cobra for uma apavorante realidade, a corda não é vista e, portanto, não tem realidade, embora seja Real. Dessa maneira o mundo fenomênico, aquele que vemos e sentimos, é uma realidade, na medida e extensão dos efeitos que em nós provocam ou suas delícias ou suas misérias. E, enquanto tiver o poder de nos fazer sofrer ou gozar, a Realidade Divina é apenas como devaneio de místico. Somente viveka nos desipnotiza a mente para a contemplação do Transcendente, que se esconde atrás do imanente visível. É viveka que nos pode alcançar à visão do Uno, que a multiplicidade esconde, e conduzir-nos à vivência de Deus, que o processo mundano impede. 
Viveka é a luz da Sabedoria, que, enraizada no homem destaca-o da criação subumana. Não é a mesma coisa que intelecto, mas é algo de onde o intelecto se supre de forças. O intelecto é um mecanismo da natureza, enquanto viveka é a luz supramental iluminando-o. Assim como o sol é a fonte da luz elétrica e da luz de uma vela, assim viveka é a fonte de onde imana o poder do intelecto e dos sentidos. Viveka é a luz da Verdade, cujo raio se acha no mais profundo do escrínio do coração do homem e que leva o homem peregrino à percepção de seu Ser como uma imagem de Deus. (Varma, M. M., A Saint's Call to Mankind; Vasanta Press, Madras, Índia)"
(Hermógenes - Yoga para Nervosos - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2004 - p. 146/147)

segunda-feira, 30 de maio de 2016

O RENASCIMENTO DA ESPIRITUALIDADE

"Atualmente existe um crescente interesse na espiritualidade. No entanto, é preciso se observar a diferença entre espiritualidade e fundamentalismo, porque as questões do espírito podem causar polêmicas e produzir conflitos. Após os eventos de 11 de setembro de 2001, temos de ser muito cuidadosos quando falamos a respeito da espiritualidade, e diferenciar claramente entre as formas criativas e destrutivas de interesse espiritual.

Espiritualidade e fundamentalismo situam-se em lados opostos do espectro cultural. A espiritualidade busca um relacionamento com o sagrado que seja sensível, contemplativo, transformador, e é capaz de sustentar níveis de incerteza nessa busca, porque o respeito pelo mistério é sempre soberano (Tacey, 2000). O fundamentalismo busca a certeza, respostas fixas e o absolutismo como resposta temerosa à complexidade do mundo e à nossa vulnerabilidade como criaturas num universo misterioso. Em qualquer credo, a espiritualidade surge do amor e da intimidade com o sagrado; o fundamentalismo surge do medo e da possessão pelo sagrado. A escolha entre espiritualidade e fundamentalismo é uma escolha entre intimidade consciente e possessão inconsciente.

A espiritualidade é capaz de permanecer com as questões últimas, mas o fundamentalismo quer respostas: duras, rápidas e furiosas. O fundamentalismo pode surgir em qualquer tradição, seja cristã, islâmica, hindu ou até mesmo em modernas ideologias, como a psicologia freudiana ou junguiana (Tacey, 2001). A espiritualidade produz um estado mental que o poeta John Keats definiu como a capacidade de  um homem 'estar cheio de incertezas, mistérios, dúvidas, sem qualquer traço de irritabilidade ao tentar alcançar fato e razão'.

Certamente essa é uma condição a se aspirar em nosso mundo dilacerado e partido, especialmente porque o 'sagrado' está sendo invocado por partidos em guerra e forças hostis que têm certeza absoluta de que Deus está do seu lado. Se tivéssemos menos certeza de nossas crenças e fôssemos mais receptivos ao mistério e ao assombro, paradoxalmente estaríamos mais próximos de Deus, seríamos mais íntimos do espírito e mais tolerantes com os seres humanos nossos irmãos, com suas diferentes concepções do sagrado."

(David Tacey - O renascimento da espiritualidade - Revista Sophia, Ano 12, nº 47 - p.  24)


sábado, 16 de abril de 2016

SEJAM PUROS E BUSQUEM A PAZ EM DEUS (1ª PARTE)

"Dentro de um palácio de sete portões, vivia um rei a quem um homem pobre implorava uma audiência. O ministro do rei atendeu seu pedido e o conduziu à presença real através dos sete portões. Em cada um dos portões, havia um oficial de plantão ricamente vestido. A cada vez que passava por um deles, o homem pobre perguntava ao ministro se aquele era o rei. O ministro dizia sempre que não, até que passaram pelo sétimo portão. Finalmente, ali estava o rei em todo seu esplendor e beleza. O homem não fez mais nenhuma pergunta, pois reconheceu seu rei. Coisa semelhante acontece com o guru. Assim como o ministro do rei, ele conduz o discípulo através dos diferentes estágios do desenvolvimento espiritual até entregá-lo a Deus.

Saiba, porém, que não existe guru maior do que sua própria mente. Quando a mente tiver sido purificada pelas preces e pela contemplação, ela o conduzirá a partir de seu próprio interior. Até mesmo em seus deveres diários, seu guru interior irá guiá-lo e continuará a ajudá-lo até que sua meta seja alcançada. Sinta um intenso amor por Deus e a mente permanecerá tranquila e pura.

A maneira mais fácil de purificar e estabilizar a mente é retirar-se para um lugar solitário, controlar os desejos e praticar a contemplação e a meditação. Quanto mais ocupar sua mente com pensamentos sagrados, maior será seu desenvolvimento espiritual. Assim como uma vaca bem alimentada produz muito leite, assim também a mente nutrida com o alimento espiritual permanecerá imensamente tranquila. O alimento espiritual é constituído de meditação, preces, contemplação e japa.

Outro meio de estabilizar a mente é deixá-la vagar, mas manter um olhar firme sobre seu rumo. Depois de certo tempo, ela se cansa e volta a procurar a paz em Deus. Se você cuidar de sua mente, ela também cuidará de você. (...)" 

(Swami Prabhavananda e Swami Vijoyananda - O Eterno Companheiro - Ed. Vedanta, São Paulo - p. 226/227)


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A BUSCA MÍSTICA (1ª PARTE)

"Como essa iluminação interior deve ser obtida? Não pela fé cega, mas pelo livre uso da faculdade do raciocínio e da prática regular da oração, meditação e contemplação, sendo a última definida como uma oração científica. No seu livro com aquele título, a oração é definida pelo Dr. Alexis Carrel nestas palavras: 'Uma contemplação serena do princípio imanente e transcendente de todas as coisas. Uma elevação da alma a Deus. Um ato de amor e adoração a Ele de quem procede a maravilha que é a vida. O esforço do homem para comunicar-se com um Ser invisível. Um estado mítico quando a consciência é absorvida em Deus.'

A 'oração', continua o Dr. Carrel, 'encontra sua mais alta expressão em um voo do amor através da noite obscura da inteligência. A oração deixa o âmbito do intelecto, a fim de alcançar o sentimento imediato. Para orar somente é necessário fazer um esforço para atingir a Deus. A melhor maneira de comunicação com Deus é, sem dúvida, realizar integralmente Sua vontade.'

O método pelo qual um indivíduo pode conseguir o despertar espiritual direto, a consciência de Deus, será peculiar a si mesmo, embora certas antigas regras gerais tenham sido enunciadas. O salmista disse: 'Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus' (Sl 46:10).

Os ritualistas dizem que, através da participação nos sacramentos, o homem pode entrar em unidade consciencial com o Cristo vivo. Por meio do serviço amoroso pode também aprender a conhecer, amar e servir a Deus em tudo; por intermédio da beleza ele pode perceber, adorar, retratar e descobrir Deus como 'o princípio da beleza em todas as coisas' (Keats). Por intermédio da canção sagrada e da contemplação silenciosa, excluindo todos outros pensamentos, ele pode encontrar e conhecer o Deus interno, o soberano imortal interior 'sentado no coração de todos os seres.'¹ (...)"

¹ Bhagavad Gita.

(Geoffrey Hodson - A Sabedoria Oculta na Bíblia Sagrada - Ed. Teosófica, Brasília 2007 - p. 29)


quarta-feira, 30 de setembro de 2015

RENÚNCIA


"Renuncie à ideia de ser separado. Em todos os seres veja você mesmo, e sinta todos os seres em você. Esta é a mais alta renúncia, a renúncia do sentido do ego, o ego que o faz se apegar a esta sua temporária habitação, a este saco de ossos e carne, a esta casca que usa um nome e uma forma. De duas coisas consiste o exercício espiritual: a contemplação de Deus; e a descoberta da nossa natureza inata, ou seja, da Realidade.

Reduza suas necessidades, e viva com simplicidade - tal é o caminho da felicidade. Apego gera aflição em seu despertar. Ao final, quando a morte exige que tudo seja largado para trás e que abandone todas as pessoas, você é esmagado pelo sofrimento. Imite o lótus na água; ele pousa sobre ela, mas não dentro dela. A água é necessária a seu crescimento, mas ele não consente que nem uma gota o molhe."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 49)