OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


Mostrando postagens com marcador caráter. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador caráter. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 11 de outubro de 2022

PROVAÇÕES E ESPERANÇAS

"Cada ser humano experimenta algum tipo de angustia emocional e mental na vida. Podemos nos preocupar com nossa segurança financeira, ter dores em razão de um amor perdido, ter preocupações com o bem estar de nossos parentes amigos ou nós mesmos, ou experimentar muitas outras situações e eventos perturbadores, Seria ótimo se nossos problemas simplesmente fossem embora ou outras pessoas cuidassem deles para nós. Contudo, intimamente sabemos que devemos resolver nossos próprios problemas. Devemos mudar a nós mesmos, crescer, desenvolver-nos e tornarmo-nos fortes sem perder a compaixão. Mesmo assim, a maioria de nós só muda quando as fraquezas nos forçam a fazê-lo.

O processo é algo assim. Se não temos autoconfiança, podemos ser dominados pelos outros. Podemos até mesmo prover uma oportunidade para que pessoas sem ética tirem proveito de nós. Se permanecemos tímidos, não conseguimos expressar adequadamente nosso próprio potencial. A falta de autoconfiança resulta em frustração que eventualmente se torna mais do que conseguimos suportar. A dor emocional resultante pode então nos forçar a desenvolver nossa própria vontade e coragem.

As pessoas que usualmente estão zangadas logo se afastam dos outros e descobrem que não têm amigos. Dai pode resultar a solidão. Ao ser deixado de fora dos eventos sociais, esses indivíduos podem aprender a substituir a raiva pela paciência, tornarem se mais flexíveis e ate menos egocêntricos.

Se somos desorganizados, descobrimos que somos ineficientes. Nossos supervisores no trabalho também descobrem isso e, se não tomarmos uma atitude para mudar essa postura, podemos perder o emprego. Essas consequências kármicas podem os forçar a treinar nossa mente.

Esse processo de ser confrontado pelas consequências de nossas fraquezas e de nossas ações erradas gradualmente nos leva a um maior insight e ao desenvolvimento do caráter. Após uma extensão de tempo quase incalculável ao longo de muitas encarnações, esse processo eventualmente desperta o eu interior para a vida consciente, e eventualmente para a iluminação.

Há, no entanto, uma rota mais direta uma rota que somente poucos ousam seguir.

Assim como o processo evolutivo externo prossegue através de estágios ordenados, definidos, o mesmo se dá com o lado interno da evolução humana consciente. A maioria dos seres humanos viaja pela estrada ampla que serpeia sempre muito lentamente em torno da montanha rumo ao topo, Poucos seguem uma rota mais direta e árdua, às vezes chamada de 'senda'. Eles seguem essa rota difícil não com desejo de benefício pessoal, mas a partir de um anelo direcionado a servir a humanidade sofredora de modo mais eficaz. Cada passo nessa senda é marcado por uma grande mudança na consciência - um tipo de renascimento.

A rota mais difícil tem recebido vários nomes em diferentes tradições místicas. Na China, é o Tao; no Hinduísmo, 'a Senda da Iniciação; no Budismo, 'o Nobre Caminho Óctuplo'; no Judaísmo, 'o Caminho da Santidade'; no Cristianismo, 'o Caminho da Cruz'. Platão a descreveu em sua analogia da caverna, e, em A Voz do Silêncio, H.P. Blavatsky fala de seus estágios como 'portais'. Todas essas fontes indicam que a senda é difícil e perigosa, mas que, se o peregrino for bem-sucedido, traz uma recompensa inenarrável.

Para entrar na senda a pessoa deve estar consumida, como diz Blavatsky, 'por um inefável anelo pelo infinito'. Em termos bíblicos, 'tu deves amar o Senhor teu Deus, com todo teu coração, e com toda tua alma, e com toda tua mente, e ao teu próximo como a ti mesmo'. E a pessoa desejar enfrentar os perigos e as dificuldades no caminho que se estende adiante, desejosa de sacrificar a própria vida pelo bem do infinito, para encontrar a vida eterna.

Quando passamos por momentos difíceis, poderemos nos lembrar de cavar dentro de nós para encontrar os recursos, a força, o talento até então desconhecidos e profundamente ocultos dentro de nosso próprio ser. Crescemos ao enfrentar os problemas de frente e vencendo as resistências.

As árduas provações e as esperanças luminosas dessa senda mística para a paz interior estão sucintamente expressas por Blavatsky num curto fragmento intitulado simplesmente 'Há uma estrada': 'Há uma estrada, íngreme e espinhosa, assolada por perigos de toda espécie, mas ainda assim uma estrada. E ela leva ao coração do universo.
Eu posso dizer-lhe como encontrar aqueles que irão mostrar a passagem secreta que se abre apenas internamente, e que se fecha firmemente e para sempre atrás do neófito.
Não existe perigo que a coragem intrépida não consiga conquistar.
Não existe provação que a pureza imaculada não vença.
Não existe dificuldade que o intelecto forte não consiga superar.
Para aqueles que seguem adiante com esforço, existe a recompensa inefável: o poder de abençoar e salvar a humanidade.
Para aqueles que fracassam, existem outras vidas nas quais pode surgir o sucesso.'

Sob essa forma poética, Blavatsky fala das dificuldades, mas assegura também que não existem problemas insolúveis. Podemos ser bem sucedidos se dermos ouvidos a um de seus instrutores, que escreveu: 'Nós temos uma palavra para todos os aspirantes: tentai.'"

(Edward Abdill - A senda mística para a paz interior - Revista Sophia, Ano 12, nº 48, p. 32/33)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 19 de maio de 2022

SENSUALIDADE E SUA CORREÇÃO

"A sensualidade (uma dificuldade do segundo, quarto e sexto raio) é a falha mais difícil de suportar. Para quem aspira trilhar a Senda, a condescendência ao excesso, sob qualquer forma, é uma doença insuportável para o coração. Traz em seu bojo uma profunda humilhação, irreverência, desrespeito e remorso. 

Para escapar das agonias desses efeitos posteriores, a princípio tentamos muitas vezes justificar nossa tolerância como liberdade de expressão, o direito de viver como queremos e com nossa emancipação das convenções restritivas. Isso é fundamentalmente um mecanismo de defesa, uma forma de encobrir a verdade sobre nós mesmos. Tal atitude produz uma cegueira mental que nos permite continuar tolerando nossas falhas, desafiando sem a dor ou os autocorretivos valiosos da humilhação, desrespeito e remorso. Com isso, a vida precisa nos levar a lidar conosco pelo método longo e doloroso de tentativa e erro e seus resultados desastrosos para a psique e para o caráter. 

Mas, quando a doença da autoindulgência nos ataca e é vista e aceita pelo que é, o desejo ou falha de conduta tendo sua satisfação negada e a condição da doença suportada incansavelmente, então os corretivos da sensualidade que vasculham a alma podem iniciar sua função de cura. Pois todas essas agonias acabarão ocorrendo, não apenas depois ou durante a condescendência, mas, eventualmente, antes que ela ocorra e, assim, se tornarão um seguro preventivo. Essas agonias são os 'ingredientes' com os quais a força moral e a fibra são incorporadas ao caráter. O pensamento e o forte desejo de pureza devem ser concentrados diariamente e a cada hora, a fim de substituir o desejo por sua virtude oposta. 

Da mesma maneira, outras fraquezas dos Raios podem ser trabalhadas e substituídas pelas maravilhosas virtudes opostas. Pelo princípio de substituir o erro pela virtude oposta, construímos nossa natureza imortal enquanto ainda estamos no corpo."

(Geoffrei Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 147/148)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O CAMINHO ESTÁ NO INTERIOR

"Todo aspirante ao Caminho descobre, mais cedo ou mais tarde, que todo o processo é realizado em seu interior. O caminho está dentro dele. O poder do sucesso está dentro dele. Os obstáculos estão todos dentro dele, até mesmo, os kármicos; pois o efeito do karma é decidido por sua reação a ele. Eventos externos, mesmo os Níveis alcançados, são apenas externalizações do que se passa dentro dele. Todas as grandes realizações são interiores. Todas as grandes batalhas, derrotas e vitórias ocorrem em seu interior. A vida externa é apenas um reflexo da experiência e da condição interior. Portanto, o grande esforço deve sempre ser direcionado para dentro, para purificar e aperfeiçoar o caráter, refinar toda natureza e, acima de tudo, para desenvolver poder, sabedoria, compaixão e inteligência. É essencial que a mente seja mantida sempre no ideal. O aspirante deve dedicar seu coração e sua alma às mais importantes coisas da vida. Ele deve viver para essa dedicação." 

(Geoffrey Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 59)


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

DESENVOLVIMENTO DO CARÁTER

"... 'O que um homem pensa ele se torna, pense, portanto, no eterno', diz a escritura hindu. É assim. Estamos construindo o nosso caráter, o tempo todo, pela natureza de nossos pensamentos habituais. Se continuarmos repetindo determinadas linhas de pensamento, formaremos hábitos mentais, pois, em certo sentido, nossa personalidade é gerada por nossos hábitos. Mas a Teosofia diz que podemos mudar nossos hábitos e, quando o fazemos, mudamos a nós mesmos. Nós literalmente nos tornamos novas criaturas. Uma das descobertas mais encorajadoras da psicologia moderna é que a pessoa pode formas novos hábitos em qualquer momento da vida. 

O que um homem pensa, ele se torna, e essa é uma parte importante do caminho para a autorredenção, a autocura, a autocorreção, pelo exercício de seus pensamentos. Consiste em uma operação inversa do mesmo processo pelo qual o hábito original foi formado. Se acharmos que temos um mau hábito, que ele está ficando mais forte, que está nos incomodando e que  é um sinal desagradável no ser humano, então há uma maneira pela qual podemos curá-lo. Se é algo sério, como raiva repentina ou irritabilidade aguda, não se concentre no problema, mas no seu oposto. O contrário da raiva é o amor, o domínio próprio, o equilíbrio. Todos os dias você terá que dedicar um quarto de hora. Você precisa pensar neste caso no amor, um amor completamente impessoal, sem pensamento de retorno, de autodomínio e equilíbrio. 'Amor', você deve pensar. Diga a palavra se quiser. Continue e insista até você se sentir pleno com a palavra que você está usando. Dessa forma, você é modificado pela forma-pensamento que você criou.   

O que acontece fisicamente no cérebro e em nosso sistema nervoso à medida que aprendemos um novo hábito ou quebramos um antigo? Quando realizamos um ato, estabelecemos uma espécie de caminho cerebral ou nervoso, levando aos centros motores e à matéria dos corpos astral e mental. Assim, na próxima vez que o impulso ou o desejo da ideia de realizar o ato nos atingir, uma vez que o caminho já está marcado, um impulso ou desejo mais fraco percorrerá o mesmo caminho, levando-nos a agir, realizar o desejo, ou o impulso, ou a ideia. Isso pode continuar indefinidamente até que, conforme repetimos o processo, as células nervosas e a matéria dos corpos astral e mental se tornam tão bem-organizadas e integradas que o comportamento resultante se torna quase automático. 

Por esses processos e pelo pensamento constante ao longo das linhas desejadas, podemos reconstruir nossas personalidades e adicionar qualidades que até agora não eram aparentes. Você pode mudar a si mesmo. No entanto, gostaria de alertar sobre a preocupação excessiva consigo mesmo, com a introspecção mórbida e o interesse excessivo nos próprios estados mentais e emocionais. Em vez disso, pratique o desinteresse, o esquecimento e o serviço."

(Geoffrey Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 56/57)


quinta-feira, 22 de março de 2018

CLARIVIDÊNCIA

"Há muitos clarividentes sinceros mas não treinados, que transmitem mensagens e ensinamentos supostamente vindos dos Mestres de Sabedoria. Quando pela primeira vez encontrei clarividentes e médiuns, fiquei imensamente impressionada. Mas uma longa experiência ensinou-me desde então a ser extremamente cautelosa em relação a qualquer expressão psíquica ou visão. Uma sensitiva nata que eu conheci bem na África do Sul - e que, ao mesmo tempo, é dotada de considerável força de caráter e bom-senso, disse-me várias vezes ter, em sua própria experiência, descoberto que quase todas as aparições astrais são 'mentirosas'. O plano astral é o que H.P.B. chama 'o mundo da grande ilusão,' e diz que 'nenhuma flor colhida nessas regiões foi transportada para a Terra sem sua serpente enrolada em sua haste.' Ela comenta aqui as palavras de A Voz do Silêncio que chamam o plano astral de Sala do Aprendizado, e diz: 'Nela a Alma encontrará a floração da vida, mas sob cada flor, haverá uma serpente enrolada.' Somente pela compreensão dos planos espirituais mais elevados é que esses fenômenos podem ser corretamente entendidos e avaliados.

Isso requer treinamento longo e estrito, bem como uma iniciação que capacite quem vê a ver corretamente. Depende especialmente da pureza desinteressada do sensitivo. O Mestre escreve: 'Muitas das comunicações espirituais subjetivas - em sua maioria quando os sensitivos têm a mente pura - são reais; mas é bastante difícil para o médium não iniciado fixar em sua mente os quadros corretos daquilo que vê e ouve.' (C.M.) Mais uma vez ele escreve: 'Há aqueles que são voluntariamente cegos, e outros que o são involuntariamente. Os médiuns pertencem à primeira classe e os sensitivos, à segunda. A menos que iniciados e treinados regularmente - no que concerne à compreensão espiritual das coisas e supostas revelações feitas ao homem em todos os tempos desde Sócrates, passando por Swedenborg... nenhum vidente ou clarividente autodidata viu ou ouviu de maneira completamente correta.' (M.C.)

Facilmente se pode ver a razão disso. Consciente ou inconscientemente - estamos criando e espalhando incontáveis 'formas-pensamento.' Povoamos nossa corrente no espaço, como disse o Mestre, com criações de nosso pensamento, num mundo de memórias, esperanças, satisfação de desejos. É com este mundo, e através da janela colorida de sua condição psíquica, que o vidente não adestrado entra em contato. A mais leve satisfação do desejo aí toma forma. Tal 'forma-pensamento' pode ser animada por um espírito da natureza que não tenha senso moral ou sentimento de certo ou errado como nós temos, e assim aparece como anjo de luz, dizendo-nos exatamente o que desejamos ouvir. C.W.L. sempre nos advertiu que tomássemos cuidado com qualquer visão que nos bajulasse. (...)"

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios - Ed. Teosófica, Brasília, 1999 - p. 85/87)


quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

ESTA VIDA: O BARDO NATURAL

"Vamos explorar o primeiro dos Quatro Bardos, o bardo natural desta vida, e todas as suas muitas implicações; (...) O bardo natural desta vida compreende todo o período da nossa vida que vai do nascimento à morte. Seus ensinamentos deixam claro para nós porque esse bardo é uma oportunidade tão preciosa, o que realmente significa ser um ser humano e o que há de mais importante - o único essencial - a ser feito com a dádiva desta vida humana. 

Os mestres nos dizem que há um aspecto das nossas mentes que é seu terreno fundamental, um estado chamado de 'a base da mente ordinária'. Longchenpa, o destacado mestre tibetano do século XIV, descreve-o deste modo: 'É um estado não iluminado e neutro que pertence à categoria da mente e dos eventos mentais, e que se tornou a base ou fundação de todos os carmas e 'engramas' do samsara e do nirvana'.¹ Ele funciona como um armazém em que são estocados como sementes todas as impressões das ações passadas causadas por nossas emoções negativas. Quando surgem as condições propícias, elas germinam e manifestam-se como circunstâncias e situações da nossa vida.

Imagine essa base da mente ordinária como um banco no qual o carma é depositado na forma de impressões e tendências habituais. Se temos o hábito de pensar seguindo um padrão característico, positivo ou negativo, então essas tendências serão acionadas e provocadas muito facilmente, repetindo-se de maneira contínua e recorrente. Com essa repetição constante, nossas inclinações e hábitos entrincheiram-se cada vez mais e persistem, acumulando mais e mais poder, mesmo quando estamos dormindo. É dessa forma que chegam a determinar nossa vida, nossa morte e nosso renascimento.

Sempre nos perguntamos: 'Como será quando eu morrer?' A resposta a isso é que seja qual for o estado da mente que temos agora, seja lá qual for o tipo de pessoa que somos agora, assim seremos no momento da morte, se não mudarmos. Por isso é de importância tão absoluta usar esta vida para purificar nosso fluxo mental e, por decorrência, nosso ser e nosso caráter fundamentais, enquanto podemos."

¹ Tulku Thondup, Buddha Mind (Ithaca, Nova York: Snow Lion, 989), 211.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 152/153

terça-feira, 4 de julho de 2017

APRENDIZADO CONSTANTE (PARTE FINAL)

"(...) Os budistas acreditam que o caráter é a soma de nosso passado. Os ensinamentos teosóficos explicam essas ideias, dizendo que a memória é armazenada na parte superior de nossa natureza; ela é vislumbrada ocasionalmente e vista claramente no momento da morte. Livres dos embaraços terrenos, vemos em retrospectiva as causas, as inter-relações, o propósito e a justiça de tudo que ocorreu na vida. (...) 

Todos os seres vivos existiram antes de sua atual aparição na Terra. Orígenes, um padre da Igreja Primitiva, explicou que as almas humanas existiam no mundo espiritual dentro do ambiente divino, antes de encarnarem. Platão foi além, explicando que as almas não apenas existiam no universo antes de entrar neste reino de experiência, mas que, quando libertas dos vínculos de suas limitações, retornavam à morada anterior para repousar e assimilar as experiências terrenas. Depois de certo tempo, elas novamente seguem adiante, revigoradas e prontas para enfrentar as novas provações por meio das quais obtêm conhecimento da vida e visualizam as alturas que um dia alcançarão.

Quantas vidas vivemos? No livro Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, a sábia gaivota expressa um ponto de vista interessante: 'Você tem alguma ideia de quantas vidas devemos ter vivido antes de sequer termos a primeira ideia de que existe mais coisas com relação à vida do que comer, lutar, ou o poder do rebanho? Mil vidas, Jon, dez mil! E depois outra centena de vidas até que comecemos a aprender que existe algo chamado perfeição, e mais cem vidas novamente até adquirirmos a ideia de que nosso propósito para viver è encontrar essa perfeição e manifestá-la.'

A mesma regra aplica-se a nós; escolhemos nosso próximo mundo através daquilo que aprendemos neste. Se não aprendermos nada, o próximo mundo será semelhante, com todas as limitações e pesos para superar."

(Eloise Hart - Os mistérios da reencarnação - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 30/31)


quinta-feira, 1 de junho de 2017

NÃO SE OCUPE DO PASSADO

"Nunca se ocupe do passado. Quando a aflição o dominar, não rememore fatos similares em sua experiência de outrora, vindo assim a intensificá-la. Em vez disso, lembre-se daqueles incidentes quando a aflição não lhe bateu à porta e você foi feliz. Tire consolação de tais memórias, e se levante acima das águas crescentes do sofrimento. Dizem que as mulheres são fracas porque, mais facilmente que os homens, se rendem à raiva e à tristeza. Assim, a elas eu pediria que façam esforços extras para chegarem a vencê-las. Repetir o Nome de Deus e pensar em Sua Forma é o melhor antídoto.

Não faltam livros que lhes digam como se libertar da aflição. A Bhagavad Gita está em todas as línguas e a muito baixo custo o exemplar. O Bhavata e o Ramayana e todos os demais livros são vendidos aos milhares a cada dia, mas nada há que indique que eles tenham sido estudados e muito menos assimilados. O hálito na boca pode dar uma leve indicação sobre o alimento que foi consumido. Não é? Os hábitos, a conduta e o caráter dos leitores de tais livros, porém, não têm denotado quaisquer mudanças para melhor. O egoísmo e a ambição ainda estão desenfreados. O ódio não foi reduzido, e a inveja devora a vitalidade dos homens."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interios - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 173)


sexta-feira, 26 de maio de 2017

A AUTÊNTICA ESPIRITUALIDADE (2ª PARTE)

"(...) O desabrochar da espiritualidade requer atenção sustentada; ela não se manifesta rapidamente. É um empreendimento do tipo 'faça-você-mesmo', e não nos pode ser conferido por outra pessoa.

Quando o conhecimento é acompanhado por um sentimento da natureza interna da vida e uma vontade genuína de se autoexaminar, a espiritualidade emerge. O antigo aforismo grego 'conhece-te a ti mesmo', inscrito no frontispício do Templo de Apolo, em Delfos, é uma mensagem perene de sabedoria para a humanidade, e não algo específico de uma era ou de uma cultura.

A espiritualidade requer inteligência atenta, temperada com discernimento. Em algum estágio durante nossa jornada começamos a fazer grandes questionamentos a respeito da vida, com tanta certeza como a noite segue-se ao dia. Podemos começar a questionar os ensinamentos que cruzam nosso caminho e até mesmo buscar as assim chamadas autoridades espirituais para virem em nosso auxílio, ajudar a conhecer nosso lugar no cosmo. Durante esse processo há um natural crescimento do caráter e da força interior.

Espiritualidade significa a ativação de nossas mais elevadas qualidades, que emergem de dentro para fora. Entre essas qualidades estão a humildade e as mais nobres nuances do amor. São qualidades essencialmente abnegadas e altruístas. Não estão centradas no indivíduo, e sim no outro.

A espiritualidade torna-se cada vez mais proeminente quando descobrimos o significado da vida. Pois, sem significado, a vida permanece medíocre e até mesmo árida. A energia está focada tão somente em coisas materiais e um falso grau de importância pode ser atribuído às buscas do dia a dia. No livro The Conquest of Illusion, J. J. van der Leeuw escreveu: 'Quando compreendemos o eterno significado da vida podemos ver quanto coisa existe que é supérflua e até mesmo danosa; podemos ver quanta coisa existe que pode ser dispensada e deve ser eliminada, mas ao mesmo tempo podemos ver quanta coisa falta, o quanto precisamos.' (...)"

(Linda Oliveira - A renovação da sociedade - Revista Sophia, Ano 8, nº 31 - p. 33)


terça-feira, 18 de abril de 2017

O PODER DO PENSAMENTO E SEU USO (1ª PARTE)

"Uma das mais notáveis características dos dias atuais é o reconhecimento, em toda a parte, do Poder do pensamento, a crença de que o homem pode modelar o seu caráter, e, portanto, o seu destino, pelo exercício desse poder que faz dele um homem. Nesse ponto, as ideias modernas estão entrando na linha dos ensinamentos religiosos do passado. 'O homem é criado pelo pensamento' – é o que está escrito numa escritura hindu. 'O homem torna-se aquilo que ele pensa; portanto, pense no Eterno.' 'Tal como ele pensa em seu coração assim ele é', disse o sábio Rei de Israel, advertindo contra a associação com os homens maus. 'Tudo o que somos foi feito pelos nossos pensamentos', disse Buda. O pensamento é o pai da ação; nossa natureza se dispõe a materializar aquilo que é gerado pelo pensamento. A psicologia moderna diz que o corpo tende a seguir o pensamento, e liga a inclinação de algumas pessoas para se atirarem de uma altura ao fato de a imaginação deles retratar uma queda, e o corpo agir de acordo com esse quadro.

Havendo, então, uma apreciação do Poder do Pensamento, torna-se momentoso saber como usar esse poder da forma mais elevada possível e causando o maior efeito possível. A melhor forma de fazer isso está na prática da meditação, e um dos métodos mais simples – que tem, ainda, a vantagem de seu valor poder ser comprovado pessoalmente pela pessoa que o usa – é o seguinte:

Examinando o seu caráter, busque determinar algum de seus defeitos evidentes. Depois, pergunte a si próprio qual é a qualidade oposta a esse defeito, a virtude que seja a sua antítese. Digamos que o leitor sofre de irritabilidade; escolha a paciência. Então, regularmente, a cada manhã, antes de sair para o mundo, sente-se durante três ou cinco minutos e pense na paciência – no seu valor, na sua beleza, na sua prática sob provocação, observando um ponto por dia, e outro, e outro, pensando o mais firmemente que puder, chamando de volta a mente quando ela divagar, e pense em si próprio como sendo perfeitamente paciente, termine com um voto: 'Essa Paciência, que é o meu verdadeiro eu, sentirei e demonstrarei hoje.'

Durante alguns dias, provavelmente, não haverá mudança perceptível, e o leitor irá se sentir e se mostrar irritado. Continue com firmeza, a cada manhã. Bem depressa, cada vez que você disser alguma coisa irritadamente, o pensamento, sem ser solicitado, virá como um relâmpago à sua mente: 'Eu deveria ter tido paciência.' Continue assim. Logo o pensamento de paciência surgirá com o impulso para a irritação, e a manifestação exterior será contida. Continue assim. O impulso para a irritação irá ficando cada vez mais fraco, até que você perceba que a irritabilidade desapareceu e que a paciência se transformou na sua atitude normal diante das contrariedades.

Aí, temos um experimento que qualquer pessoa pode tentar, comprovando a Lei por si mesma. Uma vez comprovada, ela pode usá-la, e construir virtude após virtude, de maneira igual, até criar um caráter ideal pelo Poder do Pensamento. (...)"

(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento)
fonte: http://universalismoesoterico.blogspot.com.br/


quinta-feira, 30 de março de 2017

COMPREENDER, COMPARTILHAR E AMAR (1ª PARTE)

"Quando dizemos que compreendemos outra pessoa, o que realmente estamos dizendo? Talvez que compreendemos como ela pensa e o que diz. Mas quão profundamente compreendemos? A maioria de nossos problemas surge através do relacionamento com o próximo - quando não o entendemos. Podemos saber o que o outro está dizendo, mas não quais são seus motivos. Podemos entender intelectualmente, mas isso é realmente compreender?

Quando encontramos pessoas que conhecemos, geralmente já temos um quadro sobre elas na cabeça. Reagimos de acordo com nossas experiências prévias e com o quadro que formamos. Carregamos o passado conosco e compreendemos essas pessoas através do passado. Nossas opiniões influenciam nosso relacionamento e nossa compreensão. Mas quando vivemos no presente, e o passado não é parte da nossa visão, podemos realmente entender uns aos outros. A mente deve ser atenta e sem preconceitos.

A abordagem intelectual privou-nos de uma compreensiva visão da vida e também de um entendimento mais profundo das outras pessoas. Compreender os outros verdadeiramente significa compreender toda a pessoa, não apenas o que ela está dizendo, mas também seus pensamentos, valores, motivos, desejos e caráter. A verdadeira compreensão exige que amemos uns aos outros. Quando ouvimos com nossos corações, compreendemos melhor do que quando ouvimos com o intelecto.

Os preconceitos e o medo não nos permitem ver com clareza. Estamos sempre com medo dos fatos e da realidade. É necessário coragem para ver a pessoa sob uma nova luz, sem concepções prévias. Esperamos que nossos amigos ajam de uma certa maneira. Não queremos que eles mudem. Não os reconhecemos se mudarem muito. Isso nos faz ficar incertos. Os pensamentos e as concepções prévias obstruem nossa visão. Confiamos demasiadamente em nossa própria compreensão do que a outra pessoa está dizendo. Essa é a fundação da nossa educação e da nossa cultura, que não enfatiza outras formas de compreensão. (...)"

(Pertti Spets - Compreender, compartilhar e amar - Revista Sophia, Ano 8, nº 29 - p. 19)


terça-feira, 14 de março de 2017

A REENCARNAÇÃO E SUA NECESSIDADE (PARTE FINAL)

"(...) A glória da humanidade, do ponto de vista científico, parece estar fora da lei da causação. A ciência não nos diz como construir mentes robustas e corações puros para o futuro. Ela não nos ameaça com uma vontade arbitrária, mas deixa-nos sem explicação sobre as desigualdades humanas. Dizem que os ébrios legam a seus filhos corpos propensos à doença, mas não explicam por que algumas infelizes crianças são os recipientes de herança tão hedionda.

A Reencarnação devolve a justiça a Deus e poder ao homem. Todo espírito humano entra na vida humana como um gérmen, sem conhecimento, sem consciência, sem discernimento. Pela experiência, agradável ou dolorosa, o homem reúne material, como foi explicado antes, e o erige em faculdades mentais e morais. Assim, o caráter com que nasceu foi feito por ele, e marca o estágio que ele alcançou em sua longa evolução. A boa disposição, as excelentes possibilidades, a natureza nobre são o espólio de muitos e duros campos de batalha, são o salário de pesados e duros labores. O reverso indica um estágio mais recente de crescimento, o pequeno desenvolvimento do gérmen espiritual.

Todos caminham por uma estrada igual, todos estão destinados a alcançar a máxima perfeição humana. A dor é consequência dos erros e é sempre reparadora. A força se desenvolve na luta; colhemos, após cada semeadura, o resultado inevitável – a felicidade, que vem do que é correto, e o sofrimento, que vem do que é errado. Um bebê que morre logo depois de nascido paga com a morte um débito, uma dívida do passado, e retorna rapidamente à Terra, retido por breve espaço de tempo, livrando-se da sua dívida, para reunir a experiência necessária ao seu crescimento. As virtudes sociais, embora colocando o homem em desvantagem na luta pela existência, levando mesmo, talvez, ao sacrifício da sua vida física, constroem um nobre caráter para as suas vidas futuras, modelando-o para se tornar um servidor da nação.

O gênio chega a ser inerente ao indivíduo como resultado de muitas vidas de esforço, e a esterilidade do corpo que ele usa não roubará ao futuro os seus serviços, porque ele retorna maior a cada novo nascimento. O corpo envenenado pelo alcoolismo de um pai é usado por um espírito que aprende, com a lição do sofrimento, a guiar sua vida terrena sobre linhas melhores do que as que seguiu no passado.

Assim, em cada caso, o passado individual explica o presente de cada um, e quando as leis do desenvolvimento forem conhecidas e obedecidas, um homem poderá construir com mãos seguras seu destino futuro, modelando seu desenvolvimento em linhas de beleza sempre crescente, até que atinja a estatura do Homem Perfeito."

(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento)
fonte: http://universalismoesoterico.blogspot.com.br/


segunda-feira, 13 de março de 2017

A REENCARNAÇÃO E SUA NECESSIDADE (1ª PARTE)

"Há apenas três explicações para as desigualdades humanas, sejam de capacidade, de oportunidade ou de circunstância, 1: Criação especial por Deus, implicando que o homem é indefeso, seu destino sendo controlado por uma vontade arbitrária e incalculável. 2: Hereditariedade, conforme sugere a ciência, implicando igual impotência por parte do homem, sendo ele o resultado de um passado sobre o qual não teve controle. 3: Reencarnação, implicando que o homem pode tornar-se senhor do seu destino, o resultado do seu próprio passado individual, sendo, assim, o que fez de si mesmo. A criação especial é rejeitada por todos os que raciocinam, como explicação para as condições que nos rodeiam, a não ser na mais importante de todas elas, o caráter com o qual e o ambiente ao qual nasce uma criança. A evolução é tida como certa em tudo, menos na vida da inteligência espiritual chamada homem. Ele não tem passado individual, embora tenha um futuro individual infinito. O caráter que traz com ele – e do qual, mais do que qualquer outra coisa, depende o seu destino na Terra – é, segundo essa hipótese, especialmente criado para ele por Deus, e é imposto a ele sem qualquer escolha de sua parte, destino saído da sacola da sorte da criação, da qual ele pode retirar um prêmio ou um bilhete em branco, sendo este último a condenação ao infortúnio. Do jeito que for, ele deve aceitá-lo.

Se da sacola ele retirar uma boa disposição, ótima capacidade, uma natureza nobre, tanto melhor: ele nada fez para merecê-lo. Se tirar uma criminalidade congênita, uma idiotia congênita, uma moléstia congênita ou um alcoolismo congênito, tanto pior para ele: ele nada fez para merecê-lo. Se a eterna bem-aventurança está anexada a um e o tormento eterno a outro, o desafortunado deve aceitar sua má sorte como puder. O poder do oleiro não é maior do que o da argila? Isso pareceria triste, se a argila pudesse sentir.

Sob outro aspecto, a criação especial é grotesca. Um espírito é criado especialmente para um pequeno corpo que morre poucas horas depois de ter nascido. Se a vida na Terra tem algum valor educativo ou experimental, esse espírito será, para sempre, o mais pobre, ao perder a vida, e a oportunidade perdida jamais poderá ser recuperada. Se, por outro lado, a vida humana na Terra não é essencialmente importante e leva com ela a certeza de muitas ações más e de sofrimento, e a possibilidade de sofrimento eterno ao seu final, o espírito que vem para um corpo que dura até a velhice mal pode tratar dele, pois deve suportar muitas doenças que o outro pode evitar, sem qualquer vantagem equivalente. E pode ser condenado para sempre.

A lista das injustiças induzidas pela ideia da criação especial poderia ser ampliada ao infinito, porque tal ideia inclui todas as desigualdades. Ela faz miríades de ateus, que a consideram incrível para a inteligência e revoltante para a consciência. Ela coloca o homem na posição de inexorável credor de Deus, perguntando, estridentemente: 'Por que me fizeste assim?' (...)"

(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento)

quarta-feira, 1 de março de 2017

HABILIDADE PARA LIDAR COM A DOR (PARTE FINAL)

"(...) Annie Besant afirmou certa vez que, fazendo uma retrospectiva de sua vida, concluiu que poderia ter vivido sem todas as alegrias e prazeres, mas não sem as dores e os sofrimentos. Por meio dessas dores ela se tornou a grande mulher que foi. 'Muitos homens devem a grandeza de suas vidas às tremendas dificuldades por que passaram', disse Charles Spurgeon. (...)

Uma vida de tranquilidade traz decadência. Uma vida de dificuldades estimula o crescimento. Francis Bacon observou que 'a prosperidade revela melhor o vício e a adversidade revela melhor a virtude'. Ele escreveu também: 'A virtude da prosperidade é a temperança; a virtude da adversidade é a firmeza, que em termos de moral é a mais heróica virtude.'

Vencendo as adversidades comuns da vida - grandes e pequenas -, começamos a compreender o que está vinculado à busca daquela meta final de todo ser humano: a libertação total, a autorrealização; tornar-se um ser perfeito, livre da roda de nascimentos e mortes.

Não é de se admirar que os grandes instrutores não recomendem seguir o caminho estreito do discipulado a não ser que tenha chegado a hora em que o discípulo esteja pronto, tendo atravessado as dores e as lições da vida humana e sido aprovado. Somente então ele estará preparado para os testes finais da vida - testes tão formidáveis capazes de esmagar até mesmo homens de coragem e firmeza.

Numa carta a A. P. Sinnett, o mestre K. H. descreveu esse desafio em poucas palavras: 'Permitimos que nossos candidatos sejam tentados de milhares de maneiras diferentes, para extrair a totalidade de sua natureza interior e permitir-lhes a oportunidade de permanecerem conquistadores de uma maneira ou de outra. (...) Todos nós fomos testados assim. A coroa da vitória é apenas para aquele que prova ter valor para usá-la. (...) Não foi uma frase sem significado do Tathagata [Buda] que 'Aquele que domina o eu é maior que aquele que vence milhares de homens em batalha': não existe outra batalha tão difícil.'

Devemos, portanto, dar o valor devido a cada adversidade e a cada desafio por que passamos. Deixemos que sejam o fogo que forja o aço em nosso caráter, o polimento que é necessário à pedra preciosa de nossas almas."

(Vicente Hao Chin Jr - Oportunidades para crescer - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 34/35)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

HABILIDADE PARA LIDAR COM A DOR (1ª PARTE)

"Como desenvolver uma atitude positiva diante da adversidade? Antes de mais nada, vemos que o essencial na vida é o crescimento do eu verdadeiro em termos de sabedoria, maturidade, força e caráter, e não a expansão de nossas propriedades materiais ou da nossa fama. Nosso ambiente atual (família, negócio ou trabalho) é apenas uma escola por meio da qual nos aperfeiçoamos.

Assim como não nos afligimos quando uma criança tira nota baixa no exame escolar, do mesmo modo não precisamos nos afligir quando nos defrontamos com um fracasso temporário - pois, observando-se a vida como um longo processo de nascimento e renascimento, é uma certeza absoluta que todas as adversidades são temporárias.

Nossos automóveis, casas, contas bancárias e reputação, tudo isso desaparecerá e será esquecido daqui a cinquenta ou quinhentos anos. Se ficarmos excessivamente ansiosos em preservá-los, estaremos apenas buscanto pirita, que é o ouro dos tolos.

O que perdura são as qualidades interiores, não os corpos físicos ou as propriedades. Por isso, quando somos atingidos pela adversidade, não deveríamos perguntar 'o que eu perdi?', e sim 'como respondi a essa adversidade? Chorei e fiquei amargurado? Ou fiquei humilhado, porém fortalecido?'

Francis Bacon observou: 'Não conhece sua própria força aquele que não enfrentou adversidades.' Isso não quer dizer que devemos ficar entorpecidos e indiferentes às dificuldades. O próprio fato de perceber uma dificuldade significa que não estamos indiferentes, que somos emocionalmente afetados por ela. Negar a dor do infortúnio pode ser uma forma de escape ou de neurose - a falta de habilidade de lidar com a realidade.

Porém, embora reconheçamos e aceitemos a dor, não ficaremos subjugados ou desencorajados por ela. Na verdade, buscaremos a lição inevitável e o crescimento que ela traz. Procuraremos a pedra preciosa na cabeça do sapo venenoso. Ela estará lá. Sempre está. (...)"

(Vicente Hao Chin Jr - Oportunidades para crescer - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 34/35)

terça-feira, 29 de novembro de 2016

SOMENTE A FORMA MUDA

"(...) Nada consegue ferir-nos. Nada consegue assombrar-nos logo que compreendermos que o que muda é apenas a forma - a forma é que é passageira e temporária - e que somente a vida perdura. 'O espírito [poderíamos dizer 'a vida'] jamais nasceu; o espirito jamais deixará de ser'. Dito filosoficamente, o lótus individual estiola-se, mas um arquétipo, a ideia platônica do lótus é eterna, dando origem a outras formas de lótus. Dito de maneira teofófica, o lótus estiola-se, mas o perfume de sua vida retorna à alma-grupo para enriquecer as formas das gerações futuras de lótus. O corpo de nossa mãe, de nosso marido, de nossa esposa, de nosso filho, de nosso amigo morre, mas ele ou ela permanece como um ser vivo, assumindo outras formas, tal como a borboleta deixa pra trás a forma morta da lagarta que era. 'Morri como mineral e me tornei vegetal; morri como vegetal e me tornei animal; morri como animal e me tornei um homem. Quando fui diminuído por isso?'

Pois morte é transformação - é o cruzar a forma ou ir além dela. Reciprocamente, transformação é morte e é uma coisa grande e gloriosa quando ocorre naturalmente, quando a hora é chegada, quando a forma está gasta. Mas quem somos nós para julgar quando é o momento adequado; e quem somos nós para julgar quando a forma está gasta? A morte das formas faz com que soframos por nos identificarmos com essas formas. Dizem que a vida jamais existe sem a forma, ou a forma sem a vida. Onde há forma, há vida interior mesmo que seja tão sutil que seja invisível para nós. Mesmo na assim chamada matéria morta, a vida elemental está ativa. Uma vez que vida e forma, então, estão tão intimamente ligadas, às vezes é difícil traçar a linha divisória entre elas. Como no caso de tantos pares de opostos, não podemos dizer 'isto é vida' e 'aquilo é forma'. Podemos dizer, 'a vida parece predominar aqui' e 'ali parece predominar a forma'. O que num caso parece ser a sensibilização da vida é visto no outro caso como a forma externa. Se algo que pensávamos ser a vida desaparece na transformação, será que essa coisa não era forma o tempo todo? Ou não poderia, por meio de uma mudança sutil - uma retirada da vida -, ter-se tornado predominantemente forma?

O Dicionário Oxford define 'transformar' como 'efetuar mudança (especialmente considerável) na forma, na aparência exterior, no caráter, na disposição etc. de alguma coisa'. Nosso caráter e disposição também podem mudar, mas não pertencerão eles realmente em tal caso ao nosso lado forma em vez de ao nosso lado vida? Num ser vivo um princípio pode mudar sua função. Dizem que no momento da individualização a alma animal torna-se um corpo causal. Para citar Jinarajadasa em Fundamentos de Teosofia (Ed. Pensamento): 'Na individualização tudo que foi o mais elevado do animal torna-se agora simplesmente um veículo para uma descida direta de um fragmento da divindade, a Mônada [...]'."

(Mary Anderson - Transformação - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 31/32)


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

AS TRÍADES

"Heráclito (século VI a.C.) e Aristóteles (século IV a.C.) descrevem ambos o Caminho do Meio como a Senda de Ouro. De acordo com Aristóteles, a virtude ou excelência depende de julgamento claro, de autocontrole, de equilíbrio do desejo, de habilidade com os recursos. Não é posse de um único homem, nem recompensa da intenção inocente, mas a aquisição da experiência no homem plenamente desenvolvido.

Aristóteles organizava as qualidades do caráter em tríades, nas quais dois representam os extremos ou os vícios, e o terceiro é a virtude ou excelência. Por exemplo, entre os extremos da covardia e a temeridade encontramos a virtude da coragem, e entre a humildade e o orgulho está a modéstia.

Mas somente o homem plenamente realizado pode apreciar essa verdade. O extremista considera o Caminho Dourado como o maior dos erros. Por exemplo, o homem bravo é chamado de impetuoso pelos covardes e de covarde pelos impetuosos. Na política moderna 'o liberal' é chamado de 'conservador' pelos radicais e de 'radical' pelos conservadores. Os gregos, por outro lado consideram os extremos como as qualidades da pessoa ignorante. Também entendiam que todas as ações, quer fossem vícios ou virtudes, são causadas pela 'paixão', a força interior diretora da vida. Para os gregos, as paixões em si mesmas não eram vícios, mas constituíam a matéria-prima tanto da virtude quanto do vício, quer funcionassem em excesso ou fossem desproporcionais em medida e harmonia.

Esse conceito da harmonia dos opostos como o melhor meio de se atingir a maturidade espiritual é reconhecido por todas as religiões orientais. A essência do modo de vida hindu é ser resoluto no prazer e na dor, no sucesso e no fracasso, no ganho e na perda. Tais opostos devem ser aceitos como companheiros inevitáveis da vida, e a pessoa não deve ser levada ao desespero e à consequente inação devido ao fracasso, nem deve partir para a ação indiscriminadamente a fim de alcançar o sucesso. O Hinduísmo não advoga o estoicismo e nem exorta a pessoa a evitar o prazer e infligir-se penitências, seja pelo pecado dos outros ou de si mesma. Ao mesmo tempo, deplora o hedonismo, que, indiferente às buscas pelo mais elevado, pode afogar os sentidos da pessoa no oceano dos prazeres sensuais. Devemos viver em harmonia, trilhando o dourado Caminho do Meio, entre aqueles dois extremos, em vez de fazermos esforços frenéticos para banir um ou outro de nossas vidas."

(Ajaya Upadyay - A senda do equilíbrio - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 22/23)

domingo, 18 de setembro de 2016

KARMA ATIVO E KARMA PASSIVO

"Karma Ativo, ou Karmabhava, é o Karma que esta­mos formando agora com os nossos pensamentos, ações e nossa vida em geral, bem como o que nela há de bom ou de mau. Isso produzirá o que vai ser o Karma Passivo da próxima vida, isto é, seu ambiente e condições. Da mes­ma maneira, o Karma Ativo da existência passada produ­ziu o Karma Passivo desta vida.

Karma Passivo, ou como é chamado tecnicamente, Upapattibhava, refere-se ao ambiente, às condições e ao caráter com os quais nascemos: todas essas coisas que nos dão, na vida, a impressão de que exercemos controle sobre elas, levando-nos a cogitar porque temos tal ambiente e tais obstáculos ao nosso progresso. Há, no Mahâbhârata, uma estranha passagem que merece consideração, em­bora, recordem bem, não se trate de doutrina autorizada, mas de certas palavras ditas por Bhishma a Yudhisthira, para explicar que o fruto de um ato aparecerá no período correspondente da vida, na próxima existência. Pode haver, e provavelmente há, muita verdade nessa declaração, e é muito possível que ações bastante sérias e fortes tenham seu efeito da maneira assim exposta. É possível atribuir isso a acontecimentos inquietantes e inesperados de nossa vida? É possível contra-arrestar esses efeitos? Alguns en­tre nós andam sob uma nuvem durante anos, quando, de repente, a nuvem sobe e as coisas parecem tomar novo caminho e novo aspecto. Tudo pode ser atribuído a al­gum Karma passado e poderoso demais para ser anulado enquanto não se esgote completamente.

Há, aqui, um outro ponto. Seria de se julgar que o lado passivo de nossas vidas é bem projetado previamente (pelas nossas próprias ações, naturalmente) e que a Fata­lidade, o Destino, a Predestinação mostram-se, em parte ou na totalidade, verdadeiros. Se considerarmos melhor, todavia, vemos que não é assim, mas que o que quer que nos aconteça só acontece porque nós próprios o trouxe­mos para nós. Se o nosso Karma é poderoso demais para ser afastado, nós o chamamos de Destino. Quanto à Sorte, ela está, esteve e estará em nossas próprias mãos. Certa passagem do Vaishnava Dharmasastra, ou Sutra de Vishnu, vem-me à mente, agora. Ela diz: 'Um homem não morre­rá enquanto não chegar o seu tempo, mesmo que tenha sido traspassado por um milhar de flechas. Não viverá depois que seu tempo chegar, mesmo que tenha sido toca­do apenas por uma haste da era Kusa.' Isso precisa ser explicado. Embora seja verdade que a nossa vida, sen­do produto de causas passadas, deve ser 'fixada', certa­mente, como resultado lógico dessas causas passadas, ou 'projetada' em seus aspectos principais, ainda assim, devemos ter em mente que possuímos, a cada dia, o po­der de modificar ou mudar a chamada Sorte, ou 'Desti­no', que é nosso. Na prática, entretanto, deve ser muito raro, se é que chega a acontecer, que alguém viva a exata extensão de tempo que elaborou para si mesmo. O mes­mo livro diz: 'Quando expiram os efeitos das ações de alguém em existências passadas, e que levaram sua pre­sente existência a ser o que é, a morte arrebata essa pes­soa, energicamente.' Em conexão com isso, é bom recordar que um homem pode alterar a sua sorte, e se a ex­tensão dos dias forem resultado nítido de Karma passado, é bastante seguro dizer-se que novo Karma pode ser gera­do nesta vida, com o efeito de contra-arrestar os efeitos do Karma passado. Podemos fazer uma pedra rolar por uma colina abaixo e, pela lei do Karma, ela deve atingir o fundo. Todavia, ela poderá ser detida se corrermos à frente, se a segurarmos e lançarmos para um lado. O Ver­dadeiro Eu Imortal Interior é Senhor do Karma, e, pal­milhando o Caminho da União com esse Um Oculto, po­demos dominar o Destino, ou Sorte, ou, pelo menos, mo­dificá-lo. De outra maneira, ele nos dominará. Recorde­mos, portanto, estas palavras de Shu-King (Livro dos Anais): 'Não é o céu que corta cedo a vida dos homens; eles a conduzem ao fim por si próprios.' (IV, ix, I.)"

(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Editora Pensamento, São Paulo - p. 14/15)
www.pensamento-cultrix.com.br


terça-feira, 21 de junho de 2016

A ILUSÃO DA SEPARAÇÃO

"Dentre os motivos de sofrimento moral mais conhecidos, encontram-se algumas situações de 'separação'. No entanto, elas são apenas aparentes. Na verdade, não é possível dois seres estarem realmente separados - dado que cada Espírito individual é um pequeno prolongamento do Espírito Único, dentro do qual todos estão essencialmente unidos. Apenas nas dimensões físico-etérica, emocional e mental temos a ilusão da ausência do outro, quando este deixa de ser percebido pelos nossos sentidos corporais.

A experiência da 'separação', que tem inclusive importante função na formação do caráter, leva por fim o homem a reconhecer-se unido indissoluvelmente com tudo e com todos, e a saber que nada nem ninguém está dele ausente na realidade. Tal percepção é atingida através da correta compreensão e aceitação da dor trazida pela separação aparente.

As pessoas que têm a própria mente trabalhada transformam esse sentimento em motivo de reflexão. Através do raciocínio e do estudo sobre os vários aspectos de uma separação, sua capacidade de ponderação cresce e seu discernimento se depura, até que elas cheguem a um estado de consciência mais elevada, onde o amor desinteressado e altruísta é possível. O amor incondicional não seria nelas desenvolvido se o sentido de posse continuasse a ser confirmado. Tendo desenvolvido a ponderação e aperfeiçoado o discernimento, o homem verá sob um outro ângulo os impulsos, desejos e sentimentos, bem como os vários distúrbios que o afligem, e assim será levado a curar-se em diversos níveis."

(Trigueirinho - Caminhos para a cura interior - Ed. Pensamento, São Paulo, 1995 - p. 81)


terça-feira, 19 de abril de 2016

SUA CONSCIÊNCIA O AJUDARÁ A VIVER BEM CONSIGO MESMO

"Várias coisas são necessárias para saber como viver bem consigo mesmo. Primeiro: uma pessoa excessivamente emotiva ou inquieta, com maus hábitos, jamais conseguirá viver bem consigo mesma. Quando a consciência lhe diz o tempo todo que você está fazendo coisas erradas, como esperar uma boa convivência consigo mesmo? E ao conhecer outras pessoas, você verá que elas não lhe demonstrarão confiança nem boa vontade, pois um indivíduo que age contra a própria consciência desconfia de si mesmo, o que se reflete no seu caráter. A consciência do ser humano fala com ele o tempo todo e constantemente o incita a mudar e a se comportar corretamente. Logicamente é verdade que você pode calar a sua consciência, mas ela não ficará muda para sempre. No mínimo, as leis do país perturbarão a complacência dos que têm a consciência completamente embotada pelo abuso do livre-arbítrio. Os criminosos descobrem que seus atos sem consciência não compensam.

Portanto, ouça sempre a consciência, a voz de seu eu interior; ela está lá para ajudar você a viver bem consigo mesmo."

(Paramahansa Yogananda - Jornada para a Autorrealização - Self-Realization Fellowship - p. 140/141)